Capítulo 3

1199 Words
Os dias passaram correndo, o mês tinha passado voando e estávamos nos mês de junho, próximo do início das quermesse. Começariam nessa final de semana e eu estava ansiosa para sair um pouco da minha rotina de ficar vigiando meu irmão e suas vendas. Como se ele precisasse disso.  Meu irmão até agora não tinha sido pego, e eu rezava para que isso não acontecesse nunca, embora sabendo que ele estava fazendo algo errado eu não contei para minha mãe por que sabia que ela iria se sentir muito m*l. Minha consciência me acusava, dizendo que depois seria pior e que eu iria me arrepender disso, mas não era eu que estava fazendo aquilo, e sim meu irmão então por que eu me sentia tão culpada quanto ele deveria se sentir? Se bem que eu sabia que ele não se sentia nem um pouco culpado, pelo contrário, ele estava esbanjando dinheiro ganho com as vendas de drogas. Comprou uma bicicleta nova, um vídeo game, uma tv novinha e tinha a cara de p*u de falar para a nossa mãe que estava trabalhando em um bico.  A Biqueira, ele só esqueceu de falar o nome inteiro.  Meus pensamentos estavam cheios enquanto eu arrumava a mochila pronta para ir embora daquela escola, pular na minha cama e assistir filmes até cansar. O que eu sabia que não era possível, hoje era sexta feira, tinha baile nas ruas de Paraisópolis e nem todo o calmante do mundo podia me fazer adormecer enquanto as paredes da minha casa treme com tanta batida.  Não que eu não gostasse, adorava dançar e ouvir música até o último volume mas depois de um tempo isso se tornou solitário, eu sempre estava sozinha no meio de uma multidão, com um copo na mão e na frente de casa e por mais que eu me divertisse rebolando a b***a, fazer isso sem amigos era um tanto r**m.  Minha mãe não proibia a gente de sair, o baile era na rua inteira, então ela permitia e pedia pra gente ficar na frente de casa, que se alguma coisa acontecesse, estaríamos seguros. Ela nunca proibiu a gente de nada, sempre permitiu que a gente tomasse nossas próprias decisões, o que acarretou num Rafael teimoso e rebelde, talvez se ela tivesse sido um pouco mais rígida com ele as coisas teriam sido diferentes.  Ela era boa demais, Fael não merecia a mãe que tinha. E sabia que ele pensava o mesmo apesar de agir diferente. Suspirei enquanto andava devagar para fora da escola e observava os alunos conversando animadamente na saída com seus amigos. - Aow Gatinha. - Me assustei com Felipe, um dos amigos do meu irmão chegando ao meu lado e colocando o braço ao meu redor, no meu ombro. - 'Cê tá bem? - Estou indo, Lipe. - Respondi, dando de ombros depois de perceber que era ele. Felipe era gente boa, virou amigo do meu irmão assim que chegamos aqui, morava umas três casas pra cima e sempre estava lá em casa. Minha mãe tratava ele como filho sempre que almoçava com a gente. Apesar de andar sempre com os cara da boca ele nunca se envolveu com isso. - E você? - Ah, sabe como é né? Trampinho aqui, bico ali, a gente chega lá. - Respondeu divertido, e eu sorri. Fazia tempo que eu não o via. - Fael se afastou, sabe o que aconteceu com ele? - Ele tá traficando, Lipe. - Joguei assim na lata e ele me olhou espantado. Felipe entendia que as coisas no morro não eram fáceis, ele era um exemplo disso, não tinha nada mas nunca recorreu ao tráfico pra melhorar de vida.  - Esse moleque não sabe nem limpar o próprio r**o e já está querendo sair pro mundão. - Sua voz parecia meio desapontada, não o julgava, também estava decepcionada com Rafael e com sua decisão.  - Eu tentei falar com ele mas ele não tá mais nem ai pra nada. - Coitada da dona Rose. - Concordei com ele no mesmo instante lembrando como ela se sentiria assim que soubesse o que ele estava fazendo. - Ela não merece o filho que tem, uma mulher batalhadora. - Deu tudo na mão dele, agora ele tá ai revoltado com o pai e acha que é o machão. - Acrescentei, triste e brava com o meu irmão. Minha mãe sempre nos ensinou o bem, que nunca deveríamos recorrer a biqueira, mesmo que as coisas apertassem, por que aquilo não dava futuro. - Vou dar um papo com ele quando eu conseguir. - Disse, parando em frente a minha casa e abrindo os braços para me dar um abraço forte. Mesmo que ele morasse três casas acima parecia que eu nunca conseguia ver ele, desde que os dois pararam de ser falar as coisas ficaram mais solitárias, ele era o único amigo que eu tinha de verdade. - Vai sair hoje pro baile? - Não sei ainda. - Dei de ombros e encarando os olhos verdes do moreno na minha frente. Ele era um garoto lindo, n***o dos olhos verdes, um t***o de rapaz mas que não era pro bico de todo mundo, poucas foram as garotas que conseguiram ficar com ele. - Estou decidindo. Quando nos conhecemos eu até me apaixonei por ele mas depois de algum tempo percebi que nunca seria nada a mais que uma irmã mais nova para ele, e sempre foi assim. Ele me trata como sua menininha, como nunca teve irmã sempre me mimou, até parar de falar com Fael e sumir. - Qualquer coisa eu apareço ai. - Disse, piscando seu olho para mim e saindo fora, subindo a rua para sua casa. Nem me dando tempo de responder.  Eu apenas sorri em sua direção mesmo que ele não pudesse me ver.  - O quê ele queria contigo. - Me assustei ao ver meu irmão parado ao meu lado, encarando seu antigo amigo abrindo o portão da sua casa. Eu o olhei incrédula, ele estava me seguindo? - Nada que seja da tua conta. - Tratei de ser grossa com ele e segui caminho, abrindo o portão de casa para me esconder. Já não bastava o desgosto que eu tinha de vê-lo se acabando nas drogas. - Ele tá dando em cima de tu? - Perguntou, curioso, me seguindo até a porta do meu quarto. - Desde quando você se importa comigo, Rafael? - Murmurei rude, segurando a porta para não fechar na sua cara, embora eu tenha feito isso segundos depois de continuar o que tinha para falar. - Cuida da merda da sua vida e me deixa em paz. - Fica de olho aberto viu Gabriela!! - Gritou do outro lado da porta assim que eu fechei e eu revirei os olhos. Ele nunca se importou comigo e nem com quem eu conversava e agora queria vir dar uma de irmão protetor pra cima de mim? Ele não sabia proteger nem o próprio r**o quem dirá me proteger. Aliás, proteger de quem? A única pessoa que eu tinha consciência de que estava se metendo com traficante ele era. Se tinha alguém para quem eu deveria abrir o olho era ele. 
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