Capítulo três

1883 Words
Maíra Há três anos que minha vida mudou totalmente. Me casei com o Alexandre e tudo ficou diferente. No início do namoro, ele era um homem carinhoso, companheiro e amoroso, mas depois que começou a beber, nada mais foi normal na minha vida. Tentava de tudo para ele parar com aquilo, mas era em vão. Já não sabia mais o que fazer para ajudá-lo. A cada dia ele definhava e se acabava e eu não podia fazer nada. Até porque teve um dia que ele chegou tão bêbado, que tive que ajudar ele a tomar banho e não sei o que aconteceu, mas depois do banho ele melhorou um pouco e começou a me culpar por tudo aquilo que estava passando. Que eu tinha o levado para o fundo do poço. Quando eu respondi que ele foi sozinho e porque quis, porque não amarrei as mãos dele e o forcei a beber, ele me deu um tapa fortíssimo na cara. Por dois segundos tudo ficou preto e eu só soube encarar ele, perplexa. Esperava qualquer coisa, qualquer insulto, menos uma agressão. E depois desse dia as coisas só pioraram, antes ele bebia todo fim de semana, agora é todo santo dia. Tentei conversar, mas ele começava a gritar, dizendo que eu não tenho nada com a vida dele e eu simplesmente desisti. Ele chegava tarde e eu fingia estar dormindo. E pelo menos meu sono ele respeitava. Por ele estar desse jeito, as contas começaram a acumular. Se a gente não pagar a prestação da casa, vamos ficar na rua. Pelo menos ele ainda tinha emprego, só não sei por quanto tempo ainda vai ter. Ele trabalha o dia todo e quando sai, vai para o bar gastar o dinheiro da prestação da casa. Eu precisava fazer alguma coisa, pois não posso perder esse lugar. Ele também é meu. Então conversando com a Renata, uma vizinha minha, fiquei sabendo que o empresário que ela trabalha na casa, estava precisando de secretária e não perdi tempo pedindo para me indicar. Não tive tanta expectativa de que ia conseguir, afinal, não tenho experiência nisso, mas ele me chamou para entrevista e isso já foi muita coisa pra mim. Ao entrar na sala dele, fiquei surpresa com sua juventude e sua beleza. Esperava encontrar um senhor de meia idade sentado naquela cadeira, mas não. Achei que nem ia querer saber de mim, ou que me mandaria embora quando dissesse que não tenho experiência, mas felizmente ele me deu um voto de confiança, então vou fazer de tudo para ficar. E estava indo tudo bem, até que o Alexandre descobriu que estava trabalhando e veio dar piti. Quando nos casamos, ele insistiu que eu não trabalhasse, que ia cuidar de mim e de tudo. Não sei porque aceitei isso… Mas agora é diferente, preciso pagar aquelas prestações, já que ele gasta o dinheiro todo. Achei que o senhor Becker ia me colocar na rua depois daquele show do Alexandre, mas isso não aconteceu. Graças a Deus! Só que ele notou alguma coisa errada no Alexandre. Ainda mais depois do escândalo. Não queria contar a ele sobre aquele tapa que levei, mas ele insistiu e contei meia parte da história. Eu não queria nem ir para casa depois disso, mas não tinha opção. Quando cheguei ele estava sentado no sofá. Estranhei porque era dia de trabalho e nesse horário ele deveria estar trabalhando. — Saiu cedo? Ele me olhou de um jeito que quis sair de casa e não voltar nunca mais… — Fui dispensado hoje. — Entendi. Fui para a cozinha, pois não queria ficar no mesmo ambiente que ele. Não naquele estado. Comecei a lavar a louça e escutei ele se aproximar. — Por que diabos arrumou um emprego? — Porque precisamos pagar as parcelas da casa. — Eu disse que vou pagar tudo e você concordou! — Sim, concordei, mas você não pagou mais. Está dois meses atrasado. Daqui a pouco não conseguiremos mais controlar e vão tomar a casa. — Eu vou pagar! Você não precisa trabalhar naquele lugar de gente metida. — Preciso sim. A multa pelo atraso é absurda, Alexandre. Você não vai dar conta. Maldita hora que falei isso… Ele arregalou os olhos e fez uma expressão de fúria horrorosa. Segurou meu pulso, apertou com toda a força e gritou: — Está me chamando de frouxo? — Eu não disse isso! Só disse que os juros são muito altos e só com seu salário não vai dar pra pagar. — Puxei o braço, em vão. — É claro que vai! Você está dando essa desculpa pra ficar perto daquele cara. Pensa que sou i****a? — Do que está falando? Ele riu alto. Estava de um jeito que nunca vi. Uma fúria enlouquecida. O que ele dizia não fazia nenhum sentido. Estava distorcendo a situação. Acho que o álcool já está afetando o cérebro… — Me engana! Trabalhando com um cara daquele? Só trabalhando? Não acredito em você. — O que quer dizer com um homem daquele? Ele é só meu chefe. — O cara tem dinheiro, Maíra! É milionário. Qualquer mulher se interessaria e se eu descobrir que você tem um caso com ele, eu juro que te mato! Fiquei quieta olhando o rosto dele. Estava ficando louco! Só podia ser isso. Tudo bem que o senhor Becker é um homem lindo, educado e gentil, mas Deus me livre de arrumar mais problemas para minha vida! — Eu só quero pagar a casa, mais nada. — E eu já avisei o que vai acontecer se você me colocar chifres. — Soltou meu pulso finalmente e saiu de casa, batendo a porta com força. Fiquei parada tentando entender esse surto. Mas nada que vinha dele fazia sentido ultimamente… Ele está com ciúmes porque estou trabalhando. Mas a decisão de trabalhar foi a melhor da minha vida. Em casa eu só pensava nos problemas do Alexandre e ficava depressiva pela vida de merda que eu tinha. Agora trabalhando com o senhor Becker, me sinto útil e viva finalmente. Parece que me ver bem, deixa o Alexandre nervoso… *** Bati na porta e entrei quando falou. Estava organizando a agenda quando o senhor Becker me chamou na sua sala. — Precisa de algo? — Sim. Sente-se. Fiz como pediu e me sentei de frente para ele. — Preciso que me ajude a organizar a viagem da semana que vem. — Claro. Estava agora mesmo organizando a agenda. Ele sorriu e eu desviei o olhar. Deus me livre o Alexandre saber que o sorriso do senhor Becker mexe comigo de um jeito estranho. Mas é um estranho bom. — Você não decepciona. Mas eu vou precisar que você vá comigo a essa viagem. — Ir com o senhor? — Sim. — Mas por que? — Vou estar muito ocupado e preciso que você vá comigo para me ajudar a dar conta de tudo. Fiquei em silêncio. O Alexandre não vai gostar nadinha disso… E agora? Não quero perder meu emprego, mas se eu for, o que não acontecerá comigo na volta para casa? — Algum problema? — Não… eu não sei se poderei ir… — Por que não? Se eu não fosse viajar, você viria trabalhar, não viria? Fiquei quieta de novo. Como vou fugir disso sem perder meu emprego? — Eu não tenho como pagar uma viagem dessa… — Eu que vou precisar de você, então eu p**o tudo. Mordi o lábio. Não sabia mais que desculpa dar para não ir nessa bendita viagem. Não que eu não queira ir. Apesar de ser a trabalho, ia ser incrível conhecer aquele lugar, mas o que o Alexandre não vai fazer? Ou melhor: o que eu faço? — Então? — Se eu não for, vou ser despedida? — falei baixo. — Teria algum motivo especial para não ir? Droga! Não tenho como negar isso. Só preciso pensar no que dizer ao Alexandre. — Tudo bem. Se o senhor precisa de mim, eu vou. — Que maravilha! Assim fico menos tenso. Não ia dar conta de tudo sozinho. Voltei para minha mesa e fiquei longos minutos apenas sentada na cadeira encarando a tela do computador. O que vou fazer? O que posso dizer ao Alexandre sem que dê chilique e me impeça de ir? Vai ser impossível! Se ele acha que tenho ou posso ter um caso com o senhor Becker, vai ter um troço se souber que vou viajar com ele sozinha. Talvez a ideia seja por aí, vou ter que dizer que várias pessoas da empresa vão ter que ir. Será que funciona? Tobias Apesar de ver o pavor no olhar da Maíra ao responder que ia comigo, fiquei muito feliz. É claro que o medo dela é daquele traste. Eu espero que ele não arrume problema com essa viagem, pois se ela voltar atrás eu vou caçar esse filho da p**a. Passei o resto do dia com um ótimo humor. E no final, fui até a Maíra falar da viagem. — Prepare tudo para viajarmos depois de amanhã. Ficaremos uma semana por lá e espero que dê tudo certo. — Vai dar tudo certo. O senhor é um ótimo negociador. Sorri quando ficou vermelha ao dizer isso. Sim, sou um ótimo negociador e não deixaria ela sair da minha sala sem dizer que iria viajar comigo. Voltei para casa e mandei a Renata preparar minhas bagagens. Sinto que essa viagem vai ser ótima. *** Finalmente chegou o dia. Nunca fiquei ansioso para uma viagem de negócios antes. Mas acho que talvez não seja o negócio em si que está me deixando assim… — Tem certeza que ela está vindo? — Sim, senhor. Mandou avisar que estava a caminho — Jorge respondeu. É o meu motorista. Ele é casado com a Renata e os dois trabalham para mim. Maíra deve ter mandado mensagem para a Renata e a Renata para o Jorge. Eu tenho o número da Maíra, mas não quero entrar em contato, pois se o marido ver que sou eu, sei que vai fazer um escândalo e aí não vou me conter mais… Não sei como ela vai conseguir vir sem que ele venha atrás. Vinte minutos se passaram e eu comecei a ficar nervoso. E se ela não conseguiu vir nada? Se ele agrediu ela porque pedi para viajar comigo? Que agonia! Ia pegar o celular e ligar, mas ela apareceu. Que alívio! Está sozinha. — Perdão pelo atraso. Teve um acidente no caminho e o trânsito ficou terrível. — O importante é que veio. — Sim. — Olhou pelo vidro. Nem piscava olhando para o lado de fora. O jatinho estava parado lá. — Está tudo bem? — Está sim. — Continuou encarando. — Já viajou alguma vez de avião? — Não. Está explicado então esse olhar de medo. — Não se preocupe, é muito tranquilo. — Mas é um voo longo, não é? — Sim. Umas dez horas mais ou menos. — Nossa… — Mas não tenha medo. Vai passar bem rápido. — Tudo bem. Esperamos alguns minutos e finalmente pudemos entrar. Na passagem curta até o jatinho, notei que Maíra ficou muito tensa. Entendo isso, nunca andou de avião antes e parece mesmo aterrorizador, mas já estou tão acostumado a viajar que para mim já é tudo muito natural.
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