Tobias
Entramos e ela olhava tudo. As poltronas eram todas brancas e o espaço bem grande. Um lado tinha uma mesa e algumas poltronas em frente. Mais para dentro tinha uma maior e em frente a ela, um pequeno bar.
— Pode ficar à vontade e não precisa se preocupar, apesar de ser assustador, é muito seguro.
— Será? Quantos já não caíram?
Sorri com seu nervosismo.
— Garanto que tem mais acidentes de carro do que de avião.
— Se o senhor diz.
— Se acomode. Eu já volto.
— Tudo bem.
Fui dar uma palavrinha com o piloto e quando voltei, ela estava sentada toda tensa, ainda segurava sua bolsa e olhava ao redor com o semblante assustado.
Me aproximei e tirei a bolsa das mãos dela. Maíra sorriu sem graça e me sentei ao seu lado.
— Bebe alguma coisa?
— Não, obrigada.
— Não bebe?
— Não.
— Algum motivo especial?
Me servi uma dose de whisky enquanto ela parecia pensar em algo.
— Depois que o Alexandre começou a beber, tudo mudou.
Claro…
— Entendo. Mas tenho certeza de que você não abusaria.
— Com certeza não. Mas não é só por isso também, não gosto mesmo.
— Tudo bem. Então um suco ou refrigerante?
— Não quero nada. Obrigada. — Ela sorriu.
— Tá bom.
O piloto avisou que íamos decolar e nessa hora Maíra ficou um pouco pálida. Me aproximei e coloquei o cinto nela, pois ficou paralisada. Coloquei em mim também e puxei sua mão, segurando de maneira firme. Ela corou, mas não soltou minha mão.
E como de costume, foi tudo certo. Já no ar, Maíra pareceu relaxar um pouco. É tão fofo esse jeito dela.
— Viu? Tudo certo.
— Mas ele só começou a voar. Ainda tem muito caminho pela frente.
Dei uma risadinha e ela me olhou. Estava olhando a janela. Não dava para ver muita coisa, pois estava de noite.
— Posso perguntar uma coisa?
— Claro.
— O que disse ao seu marido sobre a viagem?
Maíra entrelaçou os dedos e apoiou em suas coxas.
— Disse que era muito importante e que alguns funcionários iriam.
— E o que ele disse?
— Fez um monte de perguntas.
— E?
— Aceitou.
— É mesmo? Fácil assim?
Não respondeu. Óbvio que não foi fácil assim, ela que não está me contando tudo. Não vou me preocupar com isso agora. Esse i*****l vai estar bem longe para acabar com o meu humor.
— A Renata me ajudou a convencê-lo.
— É mesmo? Achei que ela não conhecia seu marido.
Safada, mentiu pra mim!
— Eu pedi ajuda a ela.
— O que você acha que ele faria se a Renata não tivesse te ajudado?
— Provavelmente ficaria nervoso.
— E o que faria por ficar nervoso?
— Beber até desmaiar.
— Hum…
Maíra suspirou profundamente. Não tirava os olhos dela. Preciso arrumar um jeito de tirá-la desse cara. Ela não merece isso.
— Que foi? — perguntei quando parecia se esforçar para não dizer nada.
— Nada. Não quero aborrecer o senhor com meus problemas.
— Me chame de você. E não está me aborrecendo. — Tomei mais uma dose de whisky e ela me olhou. Era o último. Não sou alcoólatra como o marido dela. — Tem certeza que não quer nada? Nem água?
— Por enquanto não. Obrigada.
— Ok. Então, o que ia dizer?
— Não ia dizer nada. Só não quero te atrapalhar com essas coisas do meu marido.
— Entenda de uma vez, Maíra, você não me atrapalha em nada. Pelo contrário.
— O senhor está sendo simpático. Geralmente os chefes não se importam com os funcionários e seus problemas.
— Bem, fujo dessa regra escrota então. Quero saber tudo sobre você. E você não é só uma funcionária pra mim. Quero te ajudar.
— Me ajudar?
— Se quiser ajuda, é claro.
— Por que precisaria de ajuda?
— Não sei. Não precisa?
Maíra ficou pensativa me olhando. Tinha a testa levemente franzida. Será que ela não entende que esse casamento é super abusivo e tóxico?
— Não que eu saiba…
Suspirei, frustrado. Será que terá que acontecer algo grave para ela entender o grande problema que tem?
Maíra
Eu precisava ser bem criativa para não arrumar encrenca com o Alexandre por causa dessa viagem. E não fazia ideia do que fazer.
Fui o caminho todo para casa pensando em qual desculpa dar. Tenho certeza que ele surta de vez se souber que só vai nos dois. Espero que não esteja bêbado, preciso falar com ele sóbrio e com uma ótima desculpa. Mas ao chegar ele estava dormindo no sofá e isso é um indício fortíssimo de que tinha bebido todas. Suspirei e fui tomar banho. Tenho até amanhã para inventar qualquer coisa que não o faça surtar por algo que não existe.
No dia seguinte acordei bem cedo e ele ainda estava roncando no sofá. Fui até a padaria comprar pão fresquinho. Quando estava voltando, encontrei a Renata na rua.
— Oi querida! Bom dia.
— Bom dia.
— Está tudo bem?
— Mais ou menos. Você deve saber sobre a viagem do senhor Becker.
— Sim ele comentou que você vai com ele.
— Pois é. Eu disse que vou, não quero perder meu emprego, mas o que eu digo ao Alexandre pra me deixar ir em paz?
Renata ficou em silêncio me olhando de um jeito que odeio. Com pena.
— Pode dizer a ele que eu também vou.
— Mas você não vai, vai?
— Não.
— Então ele vai ficar furioso quando vir você por aqui.
— Não vai, pois vou para a cidade dos meus pais fazer uma visita. Vou aproveitar minha semana de folga. — Sorriu.
Poderia ser uma boa ideia…
— Talvez funcione. Mas acho que tenho que dizer que mais pessoas vão.
— É uma boa ideia. Mas ele ficaria irritado por você viajar a trabalho ou por você viajar a trabalho com o senhor Tobias?
De primeira pensei em não falar nada sobre o que o Alexandre disse, mas acho que não tem nada demais. Ele só é ciumento.
— Ele acha que pode vir a ter algo entre eu e o senhor Becker. Não sei de onde tirou uma coisa dessas. Um homem como ele nunca olharia pra mim.
Renata sorriu de um jeito esquisito, mas não dei importância.
— Entendi. Se quiser pode falar com ele para vir me perguntar. Confirmo tudo.
— Te agradeço! Não quero perder esse emprego.
— Fique tranquila, isso não vai acontecer.
— Obrigada.