Capítulo seis

1230 Words
Maíra Agora estava no jatinho do senhor Becker morrendo de medo. Apesar de ele dizer que é seguro, ou que há mais acidentes de carros, nada acalma minha ansiedade. Por um momento pensei em dizer a verdade sobre o meu atraso, mas resolvi não fazer isso. Ele não tem nada com meus problemas e apesar de dizer que se importa, acho que só está sendo simpático. — Por que tão tensa? — Ainda falta muito? Ele riu abertamente e me fez sorrir. Apesar de estar morrendo de medo, conversar com ele estava me acalmando. — Só umas nove horas e quarenta minutos, mais ou menos — falou olhando o relógio no pulso. — Santo Cristo… Riu mais uma vez quando resmunguei. — A Renata trabalha com o senhor há quanto tempo? — Caramba, você não consegue me chamar pelo nome ou de você, não é? — Desculpe. É automático. — A Renata está comigo há uns cinco anos se não me engano. — Bastante tempo. — Sim, ela e o marido são ótimas pessoas. — Verdade. Ela é muito gente boa e parece ser muito feliz. — Você não é? — O que? — Feliz? Desviei o olhar com a pergunta. Com tanta coisa acontecendo, não parei mais para pensar nisso. Parece que liguei o automático e sigo assim há muito tempo. — Maíra? — Oi. Sim, acho que sim. — Acha? Isso não é certeza e se não tem certeza, é porque não é. Eu sinceramente compreendo não ser. — O que quer dizer? — Como ser feliz com aquele marido que você tem? O encarei com os olhos arregalados. Já tinha notado que ele é super direto quando fala com as pessoas, mas não pensei que falaria algo do tipo comigo. — Ele não foi sempre assim. — Aposto que não. Todos são adoráveis no começo. Fiquei quieta olhando o rosto dele. Me encarava sério. — Se eu pudesse…. — Pudesse o que? — Te tirava de perto dele hoje mesmo. Quer dizer, te tirava de vez de perto dele. Não encontrei resposta. O que isso quer dizer? O que está acontecendo? Fiquei pensativa e as coisas que a Renata falou vieram à mente. Assim como tudo o que ele estava falando. Será que vivo com um tipo de monstro e não sei? Porque do jeito que eles falam… — O Alexandre é ciumento, mas não é má pessoa. — Ciumento? — É. — Só isso? — O que mais poderia ser? — Um homem abusivo? — Por que acha isso? Só o viu naquele dia… — Justamente. E ele fez um escândalo por algo normal da vida. A esposa trabalhar. Não posso discordar disso. Realmente foi uma vergonha por algo tão natural. — Está certo. — Acha mesmo? — Sim. Vendo por esse lado, ele não precisava ter ido até lá e feito aquele escândalo. Que vergonha. — Não sinta vergonha por algo que não foi você quem fez. — Não foi, mas é constrangedor de qualquer forma. Ele mudou de assunto logo em seguida, o que foi ótimo. Deve ter notado meu desconforto. Conversamos um pouco até que ele disse que tinha que resolver uma coisa e começou a mexer no notebook. Peguei meu celular e tinha várias mensagens do Alexandre. Em nenhuma delas ele perguntava se estava tudo bem comigo. Só tinha coisas como: "Está com a Renata?", "Não sai de perto dela de jeito nenhum." "Não quero saber de você sozinha com esse riquinho metido a b***a" Suspirei e guardei o celular sem dar resposta. Essas coisas me irritam! Se preocupa que eu não faça isso e aquilo, mas não tem a capacidade de perguntar se estou bem. *** Quando finalmente chegamos, eu estava acabada. Tentei dormir no voo, mas não consegui. Só cochilava. — Vamos. Precisamos descansar. Concordei e o acompanhei. Entramos no carro e em pouco tempo chegamos ao hotel, que era muito chique. Esperei o senhor Becker falar com a recepcionista e ali me dei conta de algo muito importante. Eu não sei falar inglês! Pra que ele me trouxe? Não vou conseguir ajudar, não se tiver que falar inglês. — Vamos? — perguntou. — Sim. Apesar de ter notado que sou inútil aqui, resolvi deixar para perguntar no dia seguinte. Preciso de umas horas de sono antes de perguntar qualquer coisa. Entramos no elevador e eu fiquei abismada com a vista. Ele era de vidro e dava para ver o lado de fora perfeitamente. Chegamos ao andar e segui ele até que parou em frente a porta. — Aqui é o seu quarto. Se precisar de qualquer coisa, o meu é esse em frente. Tenha um ótimo descanso. — Obrigada. Você também. Ele sorriu. Um sorriso largo e contagiante. — Finalmente falou você. Ri com isso. Nem percebi, deve ser o cansaço. — Estou bastante cansada. — Então só disse por estar cansada? — Pareceu ofendido. — Quis dizer que não percebi. — Pois então continue não percebendo. — Vou me esforçar. — E eu vou cobrar isso — disse me fazendo rir. — Pode cobrar. Então ele fez algo realmente inesperado. Se aproximou e beijou meu rosto. Quando fez isso, senti seu perfume e me crucifiquei por gostar do que ele fez. — Até amanhã. — Até. Entrei no quarto e me encostei na porta. Toquei a bochecha que ele beijou e sorri. Logo balancei a cabeça e me preparei para dormir. Não me venha com pensamentos desses de novo, Maíra! Ele é um homem inalcançável e você é casada! Tobias Esperei ela entrar no quarto e então fui para o meu. Suspirei já lá dentro. Queria ela aqui no quarto comigo, mas não para o que vocês estão pensando. Queria cuidar dela, mimá-la um pouco. Mostrar que pode sim ser feliz e que tudo o que o traste do marido faz é crueldade. Mas preciso ter paciência. Enquanto ela não perceber sozinha, nada do que eu disser vai fazer efeito. *** No dia seguinte, tomei um banho e me preparei para tomar o café da manhã. Bati na porta do quarto da Maíra e não demorou a abrir. — Bom dia. — Bom dia. Descansou? — Dormi como um anjo. — Claro. Não é muito difícil pra você, não é? Ela me olhou em dúvida. — Vamos comer? — mudei de assunto rápido. — Sim. Tomamos café da manhã sem muita conversa. Eu precisava me preparar para a reunião daqui a duas horas e precisava conseguir fechar o negócio. O único que vim aqui fazer. Sim, poderia ter vindo sozinho e voltado em dois dias, mas fiz questão de trazer a Maíra. E ainda vou aproveitar essa semana de folga. — Terminou? — Sim. Já tem algo pra fazer agora? — Sim, a reunião é em duas horas. Vou voltar para o quarto e me preparar. — E o que o senhor quer que eu faça? — Primeiro que pare de me chamar de senhor e segundo, que espere no quarto. Ou se quiser, pode aproveitar a piscina. Maíra franziu a testa, ficou pensativa e tinha uma expressão muito fofa de dúvida. — Mas não preciso te ajudar? — Ainda não. — Tá bem… — Aproveite essa manhã de folga. A piscina é muito boa aqui. Maíra concordou e seguimos cada um para o seu quarto. Espero que a reunião não demore muito e que tudo saia bem.
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