Capítulo 2

1775 Words
♫ Dorme, dorme menininha  eu estou aqui... ♫ Malú desperta com a música muito conhecida por ela, ainda mais com a aquela bela voz. Olha ao redor e percebe que ainda está no quarto da mãe. Ela se vira e encontra o rosto sereno de Anna e sorri aliviada. A mãe sorri de volta e continua passando a mão nos cabelos da filha, calmamente.   — Eu tive um sonho h******l – comenta Malú se aconchegando em sua mãe. Ela deixa algumas lágrimas de alívio escorrem de seus belos olhos azuis — Eu sonhei... Sonhei... Que tinha partido... Para sempre  — Shhhh – diz Anna acalmando a filha. Ela passa o braço pelo ombro da filha e faz cafuné na cabeça de Malú, enquanto volta a cantar sua canção de Ninar preferida.  — Eu estarei sempre aqui... – sussurra Anna no ouvido da filha já adormecida. ***  — Eu moverei céus e terras se for preciso, mas a Malú não sairá de Belo Horizonte! Isso eu lhe garanto!  — Ela é minha filha e irá comigo para Curitiba.  — Só por cima do meu cadáver!  — Por favor, preciso que vocês falem baixo, se não terei de chamar a segurança. Não perturbem a paciente.   — Desculpa, mas esse homem nem deveria estar aqui.  — Quem não deveria estar aqui é você!  — Silêncio. Olhem, ela está acordando. Evitem qualquer discussão, irei chamar o médico. Malú abre os olhos, tonta. Olha para o lado de sua cama e encontra Aline com o rosto vermelho, pelo visto ela está muito brava com alguma coisa. Do outro lado está Thiago a encarando, preocupado. Fecha os olhos lentamente, enquanto sente a boca seca. Então encara Aline, tenta perguntar, mas sua voz não sai. Não foi um sonho, pensa Malú olhando desesperada para Aline que segura sua mão.  — Acalme–se Malú – pede Aline, séria — O médico já está vindo e logo saberemos o que aconteceu.  — Duvido muito que os médicos daqui conseguirão uma resposta – resmunga Thiago, recebendo em troca um olhar fumegante de Aline.  — De qualquer forma, nós NÃO sairemos daqui, até termos um diagnóstico. – comenta Aline, irritada.  — Bom dia – cumprimenta o médico entrando no quarto. Ele tem os cabelos grisalhos, demonstrando não ter mais que cinqüenta anos, olha para a ficha em sua mão e pergunta — Maria Luísa Braga de Almeida? Malú balança a cabeça confirmando.   — Sou médico Haroldo Benternianni, otorrinolaringologista do hospital e vim realizar os exames de rotina antes de encaminhá–la para os exames específicos que faremos a fim de descobrir o que a fez ficar afônica. A situação ainda é persistente?   — Sim – responde Aline prontamente. O médico se aproxima de Maria Luísa, abre a boca da jovem para examinar, passa a mão pelo pescoço, próxima às amídalas e ao final acena a cabeça, contrariado.  — Aparentemente, não há secreções que indiquem uma inflamação ou alguma doença que possa causar esse tipo de seqüela. – ele encara Aline e depois Thiago e continua — Encaminharei a jovem para exames mais precisos e peço, por gentileza, que os dois me aguardem aqui enquanto realizamos os procedimentos necessários. Malú encara Aline nervosa, ela não acredita que aquilo está acontecendo. Aline olha para Malú e segura em sua mão, apertando levemente, para animá–la.  — Tudo ficará bem – garante Aline, encorajando Malú — Vou esperar você voltar, prometo.  — Eu estarei aqui também... – diz Thiago, tentando chamar atenção de Malú. Mas ela nem ao menos vira o rosto em sua direção.  — Vamos, Maria Luísa? – pergunta o médico. Malú acena com a cabeça e se levanta da cama acompanhando o médico. Reza para que aquele pesadelo termine. *** Aline tomava seu café, quando Malú retornou para o quarto, acompanhada de uma enfermeira. A funcionária ajeita a jovem de cabelos pretos na cama e se vira para os dois dizendo:  — O médico pediu para informar que os resultados dos exames sairão amanhã e que poderão encontrá–lo em seu consultório. A senhorita Maria Luísa ficará em observação até o parecer dos médicos que acompanharão seu caso. No mais, foi pedido que a paciente repousasse – informa a enfermeira  — Tudo bem, eu passarei a noite com ela – afirma Aline. Ela se levanta da cadeira e vai até Malú.   — Eu também... Eu posso ficar também essa noite – alega Thiago, se levantando apressadamente — Tenho certeza que ela vai precisar do meu apoio.  — Sinto informar, mas somente um poderá acompanhar. Normas do hospital. – avisa a enfermeira.  — Tudo bem, eu fico – reforça Aline, encarando Thiago. Ela olha para Malú que está sorrindo para ela — Eu tenho certeza que é isso que a Malú deseja.  — O hospital permite que pessoas que não sejam parentes, a serem acompanhantes? – pergunta Thiago à enfermeira.  — Bom... Se os familiares derem a permissão, não há problema algum. – responde a enfermeira.  — Escutou Aline? – provoca Thiago — Você precisa da minha permissão para ficar com a minha filha.  — Você não impediria isso, não é? – questiona Aline, não acreditando na provocação de Thiago — Eu tenho mais direito do que você de ficar com a Malú. Uns dezesseis anos a mais.  — Só que legalmente, eu tenho direito. E eu ficarei com ela. – responde Thiago — Vá para casa. — Eu não irei! – recusa Aline irritada. Ela olha para a enfermeira — Olhe moça, esse homem nunca viu a filha, o maior tempo que passou com ela foram essas últimas semanas. Eu vi essa menina crescer, não é possível que por conta de um papel i****a, ele possa ficar aqui e eu não.   — É a norma, senhora – responde a enfermeira.  — Norma? Ele nem sabe quantas vezes ela teve de ficar em um hospital. Quantas noites m*l dormidas nós tivemos por conta da bronquite. Do esforço que tivemos de fazer quando ela machucou o pé. Eu passei por tudo isso e não vou deixar que você acompanhe a Malú.  — Pare de jogar na minha cara que eu não participei da vida da Malú. Eu fui impedido de conhecer a minha filha.  — Conta outra! Não venha se fazer de coitadinho, pois a mim, você não engana. Teve dezesseis anos para aparecer aqui e nunca veio. Nem sequer deu notícias... Malú se levanta da cama, segura o braço de Aline e depois o de Thiago. Ela os conduz para fora de seu quarto e fecha a porta. Não agüenta mais escutar nada daquilo. Era doloroso demais ter de lembrar–se de todos aqueles anos. Ela deita na cama novamente e fecha os olhos. ♫ Dorme, dorme menininha  eu estou aqui... ♫ ***  — Viu o que você fez? – grita Aline saindo do hospital — Por que você não volta para Curitiba, hein? Estamos melhores sem você! Nunca precisamos de você e mesmo que fosse o contrário, nunca iria aparecer.  — vocês podiam ter me contado! – explode Thiago — Mas nem sequer deram notícias! Vocês a esconderam de mim  — Não fale do que não sabe! Ela tentou! Todos esses anos, ela quis falar com você, mas a sua mãe nunca permitiu. Ela passou a vida toda querendo falar com você. Agora você , noivou , está entrando para a política e esse tempo todo nunca tentou falar com ela. Nem ao menos quis saber como elas estavam.  — Você não entende... – começa Thiago nervoso — Eu não sabia...  — Não sabia que ela estava grávida? – questiona Aline, revoltada — Engraçado, porque ela me disse que você sabia e foi embora ver seu pai. Ou melhor, usou essa desculpa barata para fugir do compromisso.  — Eu sabia que ela estava grávida! – reage Thiago — Eu só não sabia que... Que a Malú estava viva e que a Anna ainda morava em Belo Horizonte.  — Olha só, eu não acredito em você – recusa Aline apontando o dedo para ele — Eu vi o dia em que sua mãe a mandou sair do seu apartamento, por ordem sua. Eu sei do dia em que vocês fizeram um acordo com a Anna. Nada do que me disser, valerá.  — Claro. Você é uma cabeça dura! – esbraveja Thiago — E sempre será! Mas o que importa agora é a Malú e o que eu farei como pai dela!  — Qualquer um pode ser pai dela, hoje. Ela tem dezesseis anos, pode andar com as próprias pernas, se virar... É fácil ser pai da Malú. – ironiza Aline — Mas quando ela era bebê, quando as crianças eram más com ela por não ter um pai... Aí você não era... Nem quis saber. Você não formou o caráter dela, nós formamos. Ensinamos tudo para ela, sem você. Sua atitude é de um menino mimado que não sabe escutar um não. Você quer a Malú só para provar aos outros o quanto é um cara generoso, para usar a imagem dela na sua campanha. A sua máscara de bom moço caiu há muitos anos, Thiago. Aline gira o corpo e começa a caminhar em direção ao ponto de táxi, quando o Thiago comenta:  — Mas a máscara de bom moço do Ícaro ainda não caiu, pelo visto.   — O Ícaro não está aqui para se defender das suas acusações – reage Aline, sem se virar.  — Por que será que ele não está aqui? – questiona Thiago caminhando em direção a Aline — Onde estará o bom samaritano?  — Onde está querendo chegar? – pergunta Aline, se virando — Agora vai culpar o Ícaro por ter nos ajudado, enquanto você estava curtindo a vida?  — Ele não é tudo isso que você pensa, eu te garanto – alega Thiago.  — Nada que venha da sua boca a respeito do Ícaro, mudará a minha opinião sobre ele. – retruca Aline, encarando Thiago.  — Tem certeza? – provoca Thiago.  — Você não o conhece – responde Aline — Você não sabe nada sobre ele.   — Eu o conheço melhor do que você possa imaginar. – responde Thiago, enigmático.  — Você o contratou para nos vigiar? – questiona Aline chocada. Apesar de não querer acreditar, sabe que isso explicaria muita coisa. Sente uma raiva surgir dentro de si.— Foi isso né? Esse é o seu laço com o Ícaro, não é mesmo?  — Não – responde Thiago — Nossos laços não são profissionais. E o que depender de mim, agora não existe mais nenhum laço.  — Não estou entendendo... – comenta Aline, confusa. — O Ícaro é meu irmão – revela Thiago.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD