Daniel
Cheguei em casa estalando de ciúmes. A raiva me corria nas veias e eu tive que me segurar para não explodir, para não fazer algo que eu fosse me arrepender depois. Fiquei nas sombras, ali, observando, quase fora de mim, vendo Kate na calçada, olhando na minha direção, tão linda que me fazia esquecer de tudo ao redor.
Acho que ela não me reconheceu. Estava longe o suficiente, na escuridão da rua, para que ela não soubesse que eu estava ali. Mas o que mais me irrita é o fato de que estou fora de controle. Sempre fui uma pessoa decidida, alguém que sabe o que quer, que age sem hesitar. Mas com ela… com Kate, tudo isso desaparece. O desejo de tê-la é maior do que qualquer coisa, e isso me consome. Ver ela ali, com aquele cara, me fez perder totalmente a calma. Quem era aquele sujeito com ela? Eu era só uma aventura para ela, algo passageiro? Algo que ela rapidamente substitui por outro?
A ideia de ela estar com ele me devasta. Mas se é isso que ela quer, quem sou eu para impedi-la? Será que agora, finalmente, consigo esquecer Kate? Eu tentei… tentei de todas as formas. Mas sempre que penso que vou conseguir, ela aparece na minha mente de novo, com a mesma força, o mesmo poder que sempre teve sobre mim.
Agora é tarde demais para eu voltar atrás. Ou talvez, quem sabe, seja o momento de deixá-la ir de uma vez por todas.
Kate
Eu estou completamente desorientada. O coração ainda bate forte e, por mais que tente, não consigo encontrar meu equilíbrio. Meus pensamentos estão uma bagunça, mas eu preciso me acalmar. Fecho os olhos, tento respirar fundo, como se o ar fresco pudesse levar embora essa raiva que não faz sentido, essa confusão que tomou conta de mim.
Claro que era ele! Daniel. Quem mais poderia ser? O calor da raiva só aumenta em mim, porque tudo o que ele causou, todos os sentimentos não resolvidos, tudo o que eu nunca consegui entender, me invade com força. O que ele estava fazendo ali, em frente à minha casa, se ele tinha sido tão claro sobre o que queria? Se ele deixou claro que não quer nada comigo? Se ele estava decidido a me afastar?
E, ainda assim, ele estava ali, me observando. Para perturbar minha noite, talvez. Ou será que ele se arrependeu de sua decisão? Não, não pode ser. Se fosse assim, ele teria esperado Jason sair e teria se aproximado, teria feito algo, não teria ficado ali, parado, debaixo de um capacete, com aquela moto. Ele não fez nada. Não se aproximou. Ele apenas olhou, como se fosse um estranho.
Essa dúvida me consome, me deixa brava e profundamente incomodada. Como ele pode mexer tanto comigo? Como ele pode continuar sendo o centro de tudo, mesmo depois de tudo que aconteceu? O pior é que a atração, a necessidade de estar perto dele, de sentir a sua presença, é inegável. Não é só atração. É mais. Muito mais. Eu me sinto perdida.
Será que ele se arrependeu? Mas, se fosse o caso, ele teria agido, teria dito algo, não teria ficado ali, observando de longe, sem fazer nada.
Respiro mais algumas vezes e tento deixar a tensão de lado. Entro na sala, ela está vazia. Dou graças a Deus por meu pai não estar me esperando com um interrogatório.
No dia seguinte, o aroma das ervas frescas e do alho fritando na panela tomavam conta da cozinha. Eu estava ali, ajudando Rose a preparar o almoço, mas minha mente estava longe. O som do celular vibrando me trouxe de volta ao presente. Era Jason. Ele me convidava para passar o dia com ele ao redor da piscina, garantindo que Jake não estaria em casa, que ele teria que trabalhar. A proposta era tentadora, mas a dúvida me consumia.
Eu tinha passado a noite inteira refletindo sobre tudo, sobre minha relação com Jason, tentando entender o que eu realmente sentia. E a resposta, embora amarga, foi clara: não. Não podia seguir alimentando as esperanças dele, não podia ser o tipo de pessoa que dá falsas expectativas. Jason é um bom garoto, mas eu não sentia o mesmo por ele. Não de verdade.
O garoto disfuncional — Daniel — ainda povoava meus pensamentos, de maneira perturbadora e constante. Ele era como uma sombra, me seguindo em todos os meus momentos de tranquilidade, de incerteza. E isso me consumia.
Eu percebi que, se Jason fosse realmente a chave para que eu esquecesse Daniel, isso já teria acontecido. Mas não aconteceu. Por mais que eu tentasse, o vazio deixado por Daniel ainda permanecia em mim. Eu não podia mentir para mim mesma e, muito menos, para ele. Não podia continuar alimentando algo que não era recíproco, não podia começar um relacionamento com uma mentira.
Respirei fundo, sentindo o peso da decisão que tomava. Peguei o celular e discando para Jason, comecei a explicar a situação. Eu estava sendo honesta, mesmo que isso fosse difícil.
— Jason, eu… Eu realmente gosto de passar tempo com você, mas não me sinto pronta para um relacionamento agora. Não posso fazer isso com você, não é justo. Não sinto o que você sente e, sinceramente, ainda não superei o que aconteceu. Não seria certo.
Fui clara, sem rodeios, sem promessas. Apenas a verdade nua e crua.