A hesitação toma conta de mim por um instante, meus pensamentos voam imediatamente para Daniel. Até quando vou me deixar ser assombrada por lembranças do que não deu certo? Jason percebe minha dúvida e franze o cenho, preocupado.
— O que foi? — ele pergunta suavemente, tentando entender.
Fecho os olhos por um segundo, tomada por uma decisão. Dou uma pequena sacudida na cabeça, afastando os fantasmas do passado.
— Nada, está tudo bem. Pode ligar — respondo finalmente, forçando um sorriso.
Os olhos de Jason se iluminam, e ele sorri largo, visivelmente aliviado.
— Ótimo! — Ele diz, com uma expressão de alívio que se transforma em algo mais intenso.
Por um momento, sinto a tensão no ar. Ele olha para a minha boca, claramente querendo me beijar. Meu coração acelera, mas, instintivamente, viro o rosto, oferecendo a bochecha. Jason hesita por uma fração de segundo antes de depositar um beijo suave ali. Quando se afasta, vejo em seus olhos uma mistura de compreensão e desapontamento, como se soubesse que o espaço que ele deseja ocupar em meu coração ainda pertence a outra pessoa.
— Bye — digo rapidamente, sentindo meu rosto corar. Seguro a mão de Karen e a puxo para irmos embora, antes que eu mude de ideia.
Ao sair, não olho para trás. Não quero ver a expressão de Jason ou deixar que minhas dúvidas ganhem força. Esta noite foi divertida, mas meu coração ainda está distante de ser conquistado. E, por enquanto, isso é suficiente.
No dia seguinte, ao contar para meu pai sobre a festa, vejo a decepção em seus olhos quando menciono que Jake estava acompanhado. Ele m*l disfarça seu desagrado, desapontado por mais uma tentativa fracassada de me unir ao "partido perfeito". Eu quase respiro aliviada, cansada desse jeito dele de tentar me empurrar para os braços de alguém rico, sempre forçando situações.
Como prometido, Jason me liga no domingo à tarde. Admito que fiquei surpresa; achei que ele levaria uma semana ou até mais tempo para ligar. Combinamos de ir ao cinema. Meu pai, inicialmente resistente, muda de ideia quando conto que Jason é dono de uma fazenda de gado. Ele fica satisfeito, aprovando a saída. Não entendo essa obsessão dele por caras ricos. Não somos pobres, e eu sou jovem demais para pensar em casamento. Mas para meu pai, parece ser uma missão arranjar um bom partido para mim, como se isso fosse a solução de todos os problemas.
Jason chega pontualmente às seis da tarde, e eu sorrio ao ver sua pontualidade. Ele me deixa escolher o filme, e quando sugiro "Tubarão", ele dá de ombros, mostrando que o cinema era apenas um pretexto para passarmos um tempo juntos. A escolha é minha estratégia para evitar um romance, algo que poderia criar uma tensão desnecessária.
O filme é intenso. Nunca vi tanto sangue e dentes em uma tela. Quando a sessão termina, Jason me leva para comer um lanche. Entre mordidas no x-burguer, ele compartilha fragmentos da sua vida. Fala sobre o acidente de carro que matou seus pais, a responsabilidade de cuidar do irmão mais novo e o avô que vive com ele na fazenda. Por mais que eu ouça atentamente, sinto que ainda há uma barreira entre nós, como se ele quisesse me impressionar, mas não conseguisse abrir completamente sua guarda.
Já é tarde quando ele para o carro em frente à minha casa. O silêncio do bairro nos envolve, e por um momento, ficamos apenas nos olhando.
— Obrigada, Jason. — digo, sincera.
— Nada me deu mais prazer do que sua companhia hoje — ele responde, seus olhos fixos nos meus.
Jason me puxa para mais perto. Eu não resisto. Seus lábios úmidos tocam os meus, mas não há fogos de artifício. Meu coração não acelera como costumava fazer com Daniel. O beijo é doce, mas não desperta em mim a mesma emoção avassaladora.
Ele se afasta, claramente frustrado, mas tenta não demonstrar.
— Posso te ligar essa semana? — ele pergunta, ainda esperançoso.
Respiro fundo, sentindo um peso no peito.
— Sim, pode ligar. Ainda estou de férias da faculdade.
— Ótimo. Então, eu te ligo.
Abro a porta do carro e saio, mas algo me faz parar. Quando levanto o olhar, vejo um homem em cima de uma moto do outro lado da rua, olhando fixamente para mim. Meu coração dispara. Daniel? A figura é apenas uma sombra na noite, o capacete cobrindo o rosto. Tento focar, mas a iluminação fraca da rua não me permite distinguir detalhes. O homem permanece imóvel, como se me observasse.
Jason me dá um último aceno e vai embora. O motoqueiro, em seguida, acelera várias vezes antes de arrancar em alta velocidade, desaparecendo na curva da rua. Sinto um calafrio percorrer minha espinha. Entro em casa rapidamente, tentando convencer a mim mesma de que foi apenas coincidência, que não era Daniel. Mas a sensação de seu olhar em mim, mesmo à distância, foi tão intensa e familiar que é difícil acreditar.
Subo para o meu quarto, com a mente rodando em mil pensamentos. Me jogo na cama, encarando o teto. As lembranças de Daniel continuam me assombrando, como um fantasma que se recusa a ser exorcizado. Fecho os olhos, mas tudo o que vejo é o brilho dos faróis da moto desaparecendo na noite escura, levando consigo a certeza de que, de alguma forma, ele ainda está presente.