Jason é grande, assim como Daniel. Mas não é assim, másculo, intensamente viril e incrivelmente charmoso. Daniel tem uma postura corporal imponente, até mesmo na função simples de serviçal. Ele exala uma força animal, selvagem, algo que desperta em mim uma vontade incontrolável de tocá-lo, de sentir seus cabelos densos entre meus dedos, de beijar sua boca carnuda.
Ele tira a bandeja dos ombros com um movimento ágil e a abaixa até mim. Seus olhos permanecem fixos nos meus, mas a distância entre nós parece carregar uma tensão crescente.
— Oi. Aceita uma bebida? — Ele pergunta, sua voz seca e direta, quase desprovida de qualquer emoção.
Sinto um arrepio, e o ar parece pesando, tornando a conversa mais difícil do que já é.
Respiro fundo, tentando manter a calma, ao perceber o jeito hostil com que ele me trata.
— Não vim por causa de bebida. Vim para falar com você. — Minha voz sai um pouco mais baixa, carregada com o peso do que ainda está por ser dito.
Ele me observa por um momento, um olhar afiado, como se estivesse avaliando cada palavra minha. Então, a pergunta sai sem aviso, cortante.
— Seu namorado não acha estranho sua atitude?
A palavra "namorado" me faz dar uma leve risada interiormente, mas não dou espaço para isso. Não é hora de me distrair com isso.
— Ele não é meu namorado. Apenas um amigo. — Digo, mais firme agora, esperando que minha resposta dissipasse qualquer dúvida que ele ainda tenha.
Seus olhos mudam na mesma hora, uma mudança quase imperceptível, mas que eu percebo claramente. Seu olhar se intensifica, penetrante, e ao redor de nós, tudo parece desaparecer. As conversas, a música, a festa, nada mais existe. Só nós dois. Ele e eu, envolvidos por algo que não conseguimos controlar.
Eu noto quando seus olhos descem até os meus lábios, e uma onda de calor se espalha por mim. A atração entre nós nunca foi tão forte, tão visível. Sinto meu peito apertar e, instintivamente, busco ar.
Ele parece ter o mesmo impulso, mas se controla rapidamente.
— Preciso trabalhar. — Ele diz, a voz baixa, quase um comando. Ele se afasta um pouco, mas não consigo deixar de sentir que ele está resistindo a algo maior.
Eu assinto, mas as palavras que saem da minha boca são quase desafiadoras.
— Vai continuar fugindo de mim?
Daniel estremece. Eu vejo sua respiração ficar mais pesada, como se ele tivesse sido fisicamente atingido pela minha pergunta. O que é isso entre nós? Por que ele está fugindo?
— Depois nos falamos. — Ele responde, com um olhar que diz mais do que suas palavras. A promessa silenciosa de algo que ainda está por vir.
— Ótimo. Vou cobrar. — Digo, sem tirar os olhos dele. As palavras escapam da minha boca como uma provocação sutil.
Ele sorri de canto, e eu consigo ver que ele reconhece a sinceridade e a provocação no que eu disse.
— Sou um homem de palavra. — Ele diz, e eu não posso deixar de sentir uma onda de satisfação ao ouvir isso.
Eu sinto cada nervo em meu corpo se acender, como se estivesse sendo consumida por uma chama invisível. Só de estar perto dele, de ver seu olhar, já me sinto assim. E, no entanto, sei que isso ainda é apenas o começo.
Olho a bandeja com o prosecco e pego uma taça. O líquido borbulha suavemente, e parece me chamar, mas, de algum modo, não consigo tirar os olhos de Daniel.
— Agora eu quero um drinque. — Digo, minha voz tranquila, mas o sorriso no meu rosto é mais nervoso do que quero admitir.
Ele assente, seu olhar ainda fixo em mim.
— Beba só esse. Isso sobe rápido. — Ele alerta, como se soubesse o efeito que o álcool pode ter em mim, ou talvez apenas reconheça o turbilhão de emoções que eu tento controlar.
— Pode deixar. — Respondo, tentando esconder a inquietação que começa a surgir, mas ainda mantendo o sorriso no rosto.
Daniel assente mais uma vez, sua expressão se tornando mais fechada.
— Bem, vou trabalhar. Eu preciso desse emprego. — Ele diz, e suas palavras me lembram de que, apesar da tensão entre nós, ele tem obrigações e responsabilidades.
Eu me sinto novamente à mercê do momento. Não é o que ele diz, mas a forma como diz, o peso nas palavras, como se estivessem se tornando mais importantes a cada segundo.
— Você estava em frente à minha casa naquele dia, não estava? — Pergunto, de repente, sem pensar. As palavras saem sem filtro, e a verdade que sempre me perseguiu agora precisa ser confrontada.
Daniel para por um momento. Ele já estava começando a se afastar, mas sua expressão muda e, por um instante, a máscara de controle dele vacila. Ele me encara sério.
— Estava. Depois falamos sobre isso. — Ele responde, e algo na sua voz, algo na maneira como ele fala, me faz acreditar que ele sabe o que isso significa.
Eu sorrio, mais aliviada do que gostaria de admitir. Ele não negou. Ele não mentiu. Ele estava lá. E agora, tudo que resta é entender o que isso vai significar para nós.
— Está certo. — Digo, com um sorriso mais amplo agora, mas ainda sentindo a tensão vibrar entre nós, pronta para o que vem a seguir.