A festa
Os dias se arrastaram sem novidades. Sem nenhuma novidade, na verdade. A única coisa que mudou foi o meu comportamento: paranoica.
Passei a semana inteira indo até a janela da sala, olhando para o outro lado da rua, esperando ver Daniel. Fui em horários diferentes, mas em todas as vezes que olhei, ele não estava lá.
Agora, estou pronta na sala, esperando Jason. Meu pai chegou do trabalho, mas já saiu. Ele anda tão estranho ultimamente, com aquela expressão cansada, preocupada. Posso ver que ele não tem dormido à noite pelas olheiras profundas embaixo dos olhos. E, como sei que ele tem um vício perigoso em um jogo de cartas, sempre imagino o pior.
Afasto esses pensamentos, tentando me distrair. Pego uma revista, mas não consigo me concentrar. Cinco minutos depois, ouço a buzina de um carro. Vou até a janela e vejo a Mercedes preta de Jason. Aliso o meu vestido preto, com detalhes prateados nas bordas. Ele é um pouco acima dos joelhos.
Depois de trancar a porta, cruzo o jardim até o portão. A grama está bem aparada, agora que um senhorzinho faz esse serviço. Suspiro, um suspiro pesado, me lembrando de Daniel.
Jason está em pé ao lado do carro, vestido como um cowboy. Calça marrom-escuro e uma camisa preta com franjas. Eu desvio os olhos dos dele e olho para a rua, na esperança de ver o homem que faz meu coração bater mais rápido. Só ele pode causar esse efeito em mim.
Mas não há sinal dele. Então, volto a encarar Jason.
— Você está linda — ele diz, passando os olhos pelo meu vestido. Como um verdadeiro cavalheiro, ele abre a porta para eu entrar.
— Obrigada, você também está muito bonito — respondo, antes de entrar no carro.
Ah, como eu gostaria de estar apaixonada por esse homem... Como os sentimentos humanos podem ser complicados!
Jason dá a volta e assume o volante.
— Estou feliz que tenha aceitado meu convite — diz ele, com um sorriso doce, quase ingênuo, o que me faz questionar se fiz a coisa certa em sermos apenas bons amigos.
Meu Deus! Como posso estar pensando assim? Acabei de pensar em Daniel! Não! Eu agi corretamente com ele!
— Eu estou feliz por ter aceitado — digo, e minha voz soa mais sincera do que eu esperava. Sempre é bom sair, espairecer um pouco, conhecer novas pessoas.
Ele sorri e liga o carro.
— Amanhã vou para o Texas — diz ele, movendo o carro pela rua.
— É, você falou. Está feliz de voltar para a fazenda?
Ele me lança um olhar rápido antes de responder.
— Sim e não.
Eu o olho, esperando que ele complete a frase, mas ele se cala. Compreendo o que ele quer dizer, mas prefiro não perguntar mais.
— Não vai me perguntar o porquê do meu "não"? — ele insiste, com uma leveza na voz.
Eu dou um sorriso sem graça.
— Por que o "não"? — pergunto, quase num sussurro.
— Porque não iremos mais nos ver.
O jeito suave com que ele diz essas palavras me faz sentir um calor nas bochechas. Eu desvio os olhos dele, tentando esconder o que estou sentindo.
— Sua companhia é muito agradável — digo, olhando para o lado, sem conseguir encará-lo. — Sentirei falta de sua amizade. Podemos nos falar por telefone. O que acha?
O semáforo fica vermelho, e ele para o carro.
— Você pode me visitar na fazenda — ele diz, observando atentamente minha expressão.
Meu peito dispara, o constrangimento tomando conta de mim.
— Quem sabe um dia eu vá te visitar.
— É, quem sabe...
Depois dessa conversa, nada leve, o silêncio preenche o carro. Cada um preso aos seus próprios pensamentos. Logo chegamos a uma mansão, tão linda e grande quanto a de Jake. Jason entrega sua identidade ao segurança, que a checa numa lista, pega a placa do carro e permite nossa entrada.
Já há muitos carros estacionados. Jason estaciona ao lado de uma Ferrari vermelha. Ele pega um presente grande atrás do banco, uma caixa com papel branco e laço vermelho.
— Eu nem sei o nome da aniversariante, e não trouxe presente — digo, de repente constrangida, lembrando disso.
— Não tem importância. Você está comigo.
— Você a conhece?
— Não, só sei que ela tem a sua idade. Jake disse que eu viria com você e que sou o primo caipira que está na casa dele.
— Você está sendo muito pejorativo, para o meu gosto. Você é um lindo cowboy, isso sim. O que comprou para ela?
— Sacode a caixa e veja se consegue adivinhar.
Eu sorrio e pego a caixa. Ela é leve. Dou uma ligeira sacudida.
— Um chapéu de cowgirl?
— Sim, exato.
Eu sorrio e lhe entrego a caixa.
— Ela não esquecerá quem lhe deu esse presente, jamais.
— Verdade — ele diz, com um sorriso satisfeito.
— Percebi que tem muito orgulho de quem é.
— Sim. Seria muito mais fácil eu andar com as roupas do meu primo, não me passando por esse primo do interior. Mas estaria enganando as pessoas e a mim mesmo, me mostrando uma pessoa que não sou.
— Eu admiro isso.
Ele sorri, e eu sinto o peso do olhar dele.
— Sério?
Eu desvio os olhos, desconfortável com a intensidade dele.
— Sim — digo, finalmente. — Vamos?
— Vamos!
Caminhamos pelo chão de paralelepípedos, rodeados por árvores de um verde espesso. Na entrada da casa, um rapaz nos cumprimenta e nos indica um caminho lateral iluminado. Entendemos que a festa será nos fundos da casa.
Agradecemos e seguimos. De onde estamos, já podemos ouvir a música "The Man Who Sold the World", de David Bowie, tocando em volume agradável.
Imaginei um lindo jardim, a piscina no centro, pessoas conversando ao ar livre. Prefiro isso, muito mais descontraído do que dentro da casa.
E, de fato, quando chegamos, encontramos um enorme espaço aberto, todo gramado. Cadeiras brancas e mesas de linho branco se espalham em volta de uma grande piscina iluminada. Convidados circulam, dançam, conversam, enquanto garçons uniformizados servem a todos.
Uma garota linda, da minha idade, nos vê e se aproxima. Tudo indica que ela é a aniversariante. Jason a cumprimenta com um beijo e estende o presente para ela.
— Parabéns — ele diz.
— Oh, obrigada. Jason, amigo de Jake, não é? E essa deve ser sua namorada.
— Sim. Acho que com esse vestido e chapéu, não tem como não perceber.
Elar ri, e eu, mais constrangida, resolvo me apresentar.
— Oi, sou Kate Johnson. Amiga de Jason e Jake.
— Ah, desculpe.
— Tudo bem.
— Fiquem à vontade e divirtam-se.
Ela se afasta para receber outros convidados. Jason coloca a mão nas minhas costas e me conduz.
— Vem. Acho que vi Jake. Vamos falar com ele.
Seguimos até a mesa onde Jake está sentado sozinho. Por que não me surpreende isso? Com certeza está à caça.
E então eu o vejo. Daniel! O reconheço de imediato e paro abruptamente. Ele está com uma bandeja, servindo um casal, a poucos metros de nós. Nada me preparou para vê-lo aqui, nesta festa. Me sinto completamente nocauteada com sua presença.