Eu ouço o suspiro de Jason do outro lado da linha, aquele som de resignação, como se ele soubesse que a situação estava além do que ele podia controlar, mas ainda assim parecia entender. Ele estava quieto por alguns segundos e, por um momento, pensei que iríamos terminar a conversa ali. Cada um seguiria seu caminho, como se nada tivesse acontecido. Mas então ele fala, o tom dele cheio de um último esforço.
— Você não quer ir à festa? — ele pergunta, quase como se fosse uma tentativa de mudança de assunto, de suavizar o fim da nossa conversa. — Vai ser divertido. Além disso, é uma festa de aniversário de uma amiga do Jake. Acho que vai ser legal.
A primeira reação que eu tenho é negar. Não tenho nenhuma ligação com essa garota, nem com as pessoas que estarão lá. A última coisa que eu quero é prolongar ainda mais esse clima de incerteza que ronda tudo. Eu sei o que ele está tentando fazer. Ele quer que eu vá, para talvez mais uma noite juntos, para dar alguma continuidade a esse “nós” que eu não consigo ver de forma clara. Não consigo fingir que tudo está bem.
Mas Jason sabe ser insistente. Ele começa a listar vários motivos bons para eu ir. Ele é convincente, de alguma forma. Fala sobre o fato de que eu posso me divertir, que será apenas uma noite e que, no fundo, ele não quer que essa despedida entre nós aconteça sem mais nem menos. Eu respiro fundo, hesito. Ele tem razão, por mais que eu não queira admitir. A ideia de passar essa noite de forma simples, sem promessas, sem confusão, acaba me convencendo.
— Tá, tudo bem. Eu vou. Mas só como amiga. — Minha voz sai firme, porque é o que preciso que fique claro. Não posso deixar nenhuma margem para mais ilusões. Não seria justo com ele.
Jason parece aliviado. Há um silêncio breve e, por um momento, posso ouvir o sorriso em sua voz.
— Ótimo. Vai ser divertido, eu prometo. Até quarta, então.
A conversa se encerra, e me sinto estranha, mas aliviada. Ao mesmo tempo, algo dentro de mim ainda se aperta, uma sensação de que nada do que eu faça será suficiente para apagar a imagem de Daniel da minha mente.
Daniel
O telefone vibra em meu bolso, mas não tenho pressa de atender. Meu olhar está fixo no horizonte, onde o sol está se pondo, tingindo o céu de um laranja intenso. A realidade tem sido um golpe de aprendizado para mim. As lutas continuam a ser minha única fonte de dinheiro, e embora eu tenha uma chance de sair desse ciclo, a dúvida ainda me persegue.
Recebo uma oportunidade de trabalhar como garçom para a senhora Montoy, uma organizadora de eventos. Um amigo me indicou. O trabalho parece promissor. Se ela gostar de mim, talvez seja o suficiente para eu finalmente largar as lutas. Não vou mentir: as lutas me deram algum prazer. O nome de “Gladiador” tem sido uma marca registrada, mas os ganhos nunca foram suficientes para dar a estabilidade que eu busco. Eu preciso de mais. A grana das lutas não paga as contas, e a única coisa que os tatames estão me oferecendo é um cansaço profundo.
Por mais que a ambição de ser visto por um olheiro ainda exista, a realidade me bate todos os dias. A verdade é que não posso continuar vivendo com sonhos. Eu preciso de algo mais concreto, algo que me tire da frustração de ver as contas se acumulando, algo que não envolva mais uma luta de sobrevivência a cada fim de mês.
Minha mente está em guerra, como sempre. As escolhas são complicadas. Eu sei que não posso continuar me apegando a algo que deixei para trás. A melhor coisa seja seguir em frente, para poder mudar de vida, não serei mais o “Gladiador”.