Kate
Jason está olhando para mim, a expressão triste e resignada no rosto. Eu tento afastar a sensação de culpa, mas é impossível ignorá-la.
Então, um grito corta o ar:
— Mas que d***a! — Uma garota grita. — Não vê onde anda? Você arruinou o meu vestido!
Eu me viro rapidamente, tentando entender o que está acontecendo. E então, vejo a cena: Daniel, com a bandeja, de frente para uma garota com um vestido branco, agora manchado de vinho.
Deus! Aquilo é vinho? O que está acontecendo?
Daniel parece completamente calmo, mas há uma tensão no ar. Ele encara a garota, sua expressão imperturbável, mas as palavras que ele diz são mais tranquilas do que o ambiente exige.
— Foi sem querer. Não precisa fazer esse escarcéu todo. Eu pego seu telefone e te ligo. Você me fala a conta do tintureiro e eu p**o seu vestido.
Eu sinto uma dor no coração ao vê-lo naquela posição. Só eu sei o quanto ele já sofreu, o quanto sua vida é difícil, e ele não merece estar sendo tratado assim. Essa garota não entende o que ele passa, e isso me consome por dentro.
— Você é um i*****l! Sabe quanto custou o meu vestido? Nem com o seu salário de um mês você poderia pagá-lo.
Agora, isso me dá raiva. Sinto uma onda de revolta, mas tento me controlar.
Uma senhora, provavelmente a anfitriã da festa, caminha até eles, falando algo para a garota, e depois se vira para Daniel, dizendo algumas palavras. Ele coloca a bandeja numa mesa e começa a sair, cabeça erguida, mas eu vejo a dor nos seus passos.
Ele passa perto de nós, ainda distante, indo em direção à saída. Eu olho para Jason, aflita.
— Eu sei o que fazer. Pode ir, eu vou entender.
— Obrigada.— Eu respondo, e eu me apresso a sair.
Caminho rapidamente pelo corredor da mansão, em busca de Daniel. Encontro-o na parte de trás, prestes a sair.
— Daniel! — Quase grito, e ele para de imediato, virando-se para mim com um olhar confuso, cansado.
— Não fica assim. Você arruma outro emprego logo. — Eu tento acalmá-lo, mas a tristeza nos olhos dele me atinge de uma forma que eu não consigo explicar.
Ele solta uma risada baixa, desdenhosa.
— Kate, é bom ser otimista como você, eu realmente admiro isso em você. Mas, você está fora da realidade, minha linda. Não está fácil conseguir emprego como você pensa.
Eu queria tanto ter palavras de conforto para ele, mas, por mais que eu queira ajudar, ele parece distante demais para ouvir.
— Olha, estou cansado. Hoje trabalhei o dia inteiro lavando pratos antes de vir para cá. Volta lá com o seu namorado. Como você viu, eu não tenho nada a oferecer a uma garota como você.
— Pare, Daniel. Já disse que ele não é meu namorado.
Ele me olha por um momento, um sorriso cansado no rosto, como se estivesse lutando contra si mesmo.
— Tudo bem. Eu vou indo. Ele começa a se afastar, mas eu não consigo deixar ele ir tão facilmente.
Eu seguro o seu braço com firmeza.
— Espere, você me prometeu uma conversa.
Ele engole em seco, olhando fixamente para mim, sem desviar os olhos.
— Já estamos tendo uma conversa. E, depois de tudo o que aconteceu, não há mais nada a ser dito.
Eu não aceito isso. Não assim. Ele precisa entender que as coisas não são tão simples.
— Daniel, você está tão preso ao passado e focado no futuro, que não percebe o que está acontecendo agora. Relaxa. Eu te peço o presente, o futuro veremos. Entende?
Os olhos dele me analisam, vasculham o meu rosto, e então ele baixa a cabeça. Quando olha de novo, a sua expressão é diferente. Ele parece vulnerável, algo que eu nunca imaginei ver nele.
— O que você viu em mim, hein?
— Eu gosto de você.
As minhas palavras saem com sinceridade, e vejo o impacto que elas causam nele. Ele parece atordoado, como se não acreditasse.
— Deus! Você gosta realmente de mim! — Ele diz, mais para si mesmo do que para mim.
Eu assinto com um sorriso suave, tentando dar-lhe alguma segurança.
Daniel respira fundo, seus olhos queimam os meus. Nunca o vi assim antes, tão exposto, tão aberto. Meus batimentos aceleram.
Num movimento rápido, ele me envolve nos seus braços, e, sem hesitar, sua boca encontra a minha com uma intensidade que me tira o ar. Eu derreto-me nos seus braços, a sensação do seu toque, da sua boca, consome-me por completo. Ele me beija freneticamente, como se quisesse apagar toda a dor e o medo que ele carrega.
Quando ele finalmente se acalma, me abraça com força, e eu quase perco o fôlego.
Ele então me afasta gentilmente, e eu sinto um arrepio percorrer minha espinha.
— Vem, eu vou te levar para casa.
Eu assinto, um sorriso feliz se formando no meu rosto. Sinto uma sensação de alívio. Ele vai ficar. Ele vai estar comigo.
Ele me envolve pela cintura, e juntos caminhamos até o estacionamento, em direção à moto.
— Eu só tenho um capacete. Use o meu.
— Não! Eu fico quietinha agarrada a você.
— Coloque! — Ele insiste, e eu não discuto. O importante é estar com ele.
Pego o capacete das mãos dele e o coloco, sorrindo.
Ele liga a moto, e o barulho do motor me faz sorrir ainda mais. Subo na garupa, meu vestido subindo ligeiramente, revelando minhas coxas. Mas não ligo. Só quero estar perto dele. O vento frio bate na minha pele, mas o calor do corpo de Daniel ao meu redor é mais do que suficiente para me aquecer.
Ele estaciona em frente à minha casa, e eu sinto uma pontada de relutância ao descer da moto.
— Você quer entrar? — Pergunto, hesitante, esperando sua resposta.
— Eu não acho que é uma boa ideia. Depois do que eu te contei? Seu pai não aceitará assim nosso namoro.
Ele olha para mim, avaliando minha expressão.
— Meu pai só chega de madrugada.
Há uma leve decepção em seus olhos, como se ele esperasse que eu fizesse mais, que eu lutasse mais por ele. Mas ele vai entender. Não é o momento certo.
— Tudo bem. Eu entro.
Eu sorrio amplamente, aliviada. Isso é tudo o que eu queria ouvir dele.
— Coloque sua moto no quintal de casa...