Por que não estão juntos? Seu pai não permitiu?

1274 Words
Volto a trabalhar, servindo as pessoas, tentando manter um sorriso no rosto, mas minha mente está longe, cheia de imagens dela. Kate. Ela está linda, inebriante. O desejo de tomá-la em meus braços e beijá-la foi tão forte que chegou a doer fisicamente. Eu queria jogar tudo para o alto, esquecer de tudo o que está em jogo e me entregar ao que ela, só ela, desperta em mim. O alívio de ouvir da própria boca dela que o cara não era seu namorado foi quase palpável. Mas, ainda assim, um fogo ardente de ciúmes queima dentro de mim. Não consigo acreditar em amizades entre homens e mulheres. O cara pode até não ser nada, mas o que isso significa para mim? O que ele quer de Kate? A ideia de alguém, qualquer alguém, que não seja eu, próximo dela, mexe comigo de um jeito que eu não consigo ignorar. O mais difícil foi perceber que Kate ainda se afeta quando me vê. Eu vi no brilho de seus olhos, no jeito como sua respiração acelerou, como ela parecia perder o controle por um segundo. Seus lábios entreabertos foram um convite irresistível, um sinal de que ela também estava sentindo o que eu sentia. Foi um desafio imenso ficar firme, dar um passo para trás e recorrer ao autocontrole que tenho, forçando minha mente a se concentrar no trabalho, na necessidade de fazer algo e não me perder nesse abismo de desejos. Eu fiz uma promessa a mim mesmo. Vamos conversar. Eu vou ser honesto com ela, deixar claro tudo o que me assombra. Vou explicar a avalanche de tragédias que vem me acompanhando desde a morte prematura do meu irmão, como desde então minha vida se desfez e como, todos os dias, eu tenho me virado, lutado para me manter em pé, para não afundar. Eu não tenho nada para oferecer a uma garota como Kate. Não sou o tipo de cara com o qual ela sonha. Mas eu vou deixar isso claro para ela. E se, mesmo assim, ela quiser ficar comigo, se ela estiver disposta a seguir esse caminho cheio de buracos e pedras, então nada vai me impedir de estar com ela. Eu sei que, ao falar assim, estou me expondo, me colocando em uma posição vulnerável. Mas é o único jeito. Eu preciso que ela saiba a verdade. Só assim poderei viver com a decisão que ela tomar. E, se ela ainda me quiser, então não terei mais nenhum motivo para lutar contra o que já está escrito dentro de mim. Tomo todo o meu Prosecco e coloco na bandeja que o garçom estende para mim, ao ver minha taça vazia. O efeito de Daniel ainda pulsa no meu corpo, me deixando trêmula, com o coração agitado. Caminho até a mesa de Jake, onde Jason já está sentado ao lado dele. Jason se levanta rapidamente e puxa a cadeira para mim. Eu me sento, mas o silêncio entre nós dois é desconfortável, pesado. Jake, então, decide quebrá-lo: — Encontrou um amigo? — Sim. Uma feliz coincidência. — Respondo, tentando disfarçar o quanto minha mente ainda está ocupada com outra pessoa. Um garçom se aproxima, oferecendo canapés. Eu pego um, porque já sinto o efeito do álcool começando a tomar conta de mim. Sou fraca para bebidas. — E sua amiga? — Jake pergunta, aparentemente lembrando de Karen. — Está bem. Está namorando com um rapaz que conheceu em sua festa. — Digo, sem esconder o prazer de dar essa informação. Eu sei que Jake ficaria surpreso com isso. — Puxa! Ela não perde tempo. — Ele responde, com um sorriso que me soa mais arrogante do que simpático. Olho para ele, com uma leve ironia interior. "Olha quem fala!" Como se ele fosse exemplo de boa vontade. Como se esperasse que Karen aguardasse pacientemente a sua atenção. Eu me viro para Jason, em busca de distração. — Vamos dançar? — Ele sugere, aproveitando o momento para me tirar daquela conversa. Há um espaço aberto perto do som, onde as pessoas se entregam à dança, embaladas por "I Miss You" de Hadaway. Eu faço um aceno de cabeça, aceitando seu convite, mas é só uma maneira de me afastar dali, do desconforto, da tensão que sinto quando penso em Daniel. Jason se levanta e puxa minha cadeira, me acompanhando até a pista de dança. Durante o caminho, os meus olhos voltam-se, instintivamente, para Daniel. Ele está servindo uma garota, com um sorriso fácil, que não me agrada nada. Ela sorri demais, e isso só aumenta a sensação de ciúmes que começa a se espalhar por mim, uma sensação que sempre se acende quando ele está por perto. Desvio os olhos, tentando controlar o turbilhão de sentimentos. Daniel tem esse efeito sobre mim, um tipo de atração incontrolável que me mantém alerta, sempre em guarda. Quando chegamos à pista de dança, Jason me envolve com os seus braços, mas dessa vez, ele não me puxa contra seu peito. Dançamos distantes, quase como se ele soubesse que eu não estou realmente ali. A dança se torna um espaço entre nós, e o ar ao redor parece denso com a minha mente girando, focada em outra pessoa. — Percebi que aquele garçom é muito mais do que um amigo. Acertei? — Ele diz, e eu sinto um arrepio percorrendo meu corpo, só de pensar sobre isso. — Sim. Eu gosto muito dele. — Respondo, a voz baixa, tentando não revelar o turbilhão dentro de mim. — Por que não estão juntos? Seu pai não permitiu? — Ele continua, e eu vejo, pelo canto do olho, que sua expressão é de pura curiosidade. — Não. O meu pai não influenciaria na minha escolha. — Digo, mas as palavras saem mais duras do que eu esperava. Ele não precisa saber das complicações que envolvem Daniel. — Por que então? — Ele insiste, e sinto a pressão para falar mais, para dividir mais. — Acho que por insegurança dele. Ele tem medo de se machucar. A realidade dele é muito dura. Somos de classes sociais bem diferentes. Acredito que ele pensa que eu o vejo como uma aventura com final certo. — Respiro fundo, as palavras saem como se fossem espinhos. Jason me observa em silêncio, absorvendo o que eu disse, mas sua resposta me pega de surpresa. — E, não é assim? — Ele pergunta, e eu vejo uma leve dor no fundo dos seus olhos. Eu quase perco o controle por um segundo, mas olho para ele, enfrentando o seu olhar. — Não, eu gosto dele. Independentemente da sua condição financeira. — Digo com firmeza, sem encará-lo diretamente. Eu sei o que isso significa para mim, mas não quero que ele saiba o quão frágil sou por dentro. Jason olha para mim, sua expressão muda, mas há algo mais em seus olhos agora. Talvez uma dor. Ele não diz nada por um momento, até que a pergunta que me arrepia sai de sua boca. — Gostaria que tivesse me olhado do jeito que olhou para ele. — Sua voz está tingida de algo que eu não sei definir. Eu ergo os olhos, encontro seu olhar sério e vejo que ele está genuinamente magoado. Eu não consigo esconder minha sinceridade. — Eu acredito que, se Daniel não tivesse ocupado o meu coração, eu te olharia assim. — Digo, e sinto o peso da verdade nas palavras. Não há como negar isso. Jason se cala, e por um momento, o espaço entre nós dois se enche de um silêncio pesado, como se ele já soubesse a resposta que eu nem queria dar, mas já estava dita.
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