Não tenho nada para te oferecer...

1011 Words
Eu sinto a pressão das suas mãos na minha cintura, seu toque possessivo me conduzindo até a casa dele. Os caras atrás de nós ficam em silêncio, me observando, e uma sensação de respeito inconfundível paira no ar. Eu percebo que Daniel, com sua postura firme, conquistou esse respeito. De algum modo, sei que tudo foi difícil, que ele teve que brigar e se impor para chegar até aqui. Quando entramos na casa de Daniel, o cheiro de produto de limpeza invade minhas narinas, e me pergunto se ele fez questão de deixar tudo impecável para mim ou se ele é assim, naturalmente cuidadoso. Antes que eu possa pensar mais sobre isso, ele fala, mas não termina. — Não tenho nada para te oferecer... Mas não deixo que ele termine. Pego sua camisa e o beijo, fechando os olhos, completamente entregue ao momento. Ele responde na mesma intensidade, suas mãos agora se movendo por minha pele, uma deslizando nas minhas costas, a outra segurando minha cabeça, me puxando para ele. O beijo se aprofunda, um turbilhão de sensações e desejos. Quando nos afastamos, meus olhos encontram os dele, e sinto meu coração bater forte no peito. — Vem, sente-se aqui. — minha voz sai quase sem querer, mas é como se a casa fosse minha, um reflexo da confiança que estou começando a sentir. Meu rosto fica quente, mas não me importo. — Quero saber tudo sobre você, Daniel. Ele se senta, e eu me aproximo, sentindo uma conexão crescente, mas ele, de repente, se afasta, como se precisasse de um espaço, e então se vira para me olhar. O calor do corpo dele ao meu lado me faz tremer. Cada movimento dele me provoca de um jeito que eu não esperava. — Não tenho muito o que contar. — Ele diz, quase em um sussurro, tentando desviar do olhar. — Como não? Claro que tem! — insisto, me recusando a acreditar que ele não tem histórias para dividir. Ele olha para mim, os olhos nublados de algo que não consigo identificar. — Minha vida não é muito boa para ser ouvida. Eu seguro suas mãos, meu toque suave, tentando trazê-lo para mais perto, para que ele me veja como alguém que quer entendê-lo, não julgá-lo. — Não precisa entrar em detalhes, só me fala um pouco de você. Seus gostos... Ele balança a cabeça, como se aquilo fosse uma perda de tempo. — Não cresci cultivando gostos. Isso para mim é luxo. Sempre me virei com o que tinha. Eu paro por um momento, sentindo uma pontada de arrependimento por não ter feito a pergunta certa. Talvez eu não entendesse ainda a gravidade da vida dele. — Está certo. Então me fale, como você acabou sozinho, sem família? Fale-me do seu pai, da sua mãe. Ele solta um longo suspiro e eu vejo o peso daquela lembrança em seus olhos. Quando ele começa a falar, a dor que transborda de sua voz é quase palpável. — Meu pai não se comportava como um homem responsável. Ele trabalhava, mas m*l conseguia dar o básico. Vivia mais na rua do que em casa, sempre brigando com minha mãe por causa da falta de dinheiro. Eu era pequeno, não entendia muito o que acontecia. Mas meu irmão, que era seis anos mais velho, teve que amadurecer rápido. Então, um dia, meu pai simplesmente foi embora. Encontrou uma mulher rica e foi viver com ela. Minha mãe, que já trabalhava como faxineira, teve que dobrar a carga de trabalho. Fui criado pelo meu irmão. Quando minha mãe adoeceu, ele teve que começar a trabalhar. As coisas melhoraram, mas meu irmão, ele... herdou do meu pai o gosto pela noite. Bebida, amigos. Em uma dessas noites, houve uma briga, e ele morreu, atingido por uma faca. Eu fico sem palavras, o choque me impede de reagir de imediato. O relato dele é tão pesado que eu me vejo paralisada, sem saber como responder. — Viu? Eu sabia que você ficaria assim. Não é uma história bonita de ouvir. Eu engulo em seco, tentando controlar o nó que se forma na minha garganta. Desvio o olhar, para esconder a dor que sinto por ele, e então volto a encará-lo. O silêncio entre nós é pesado. Ele me olha com uma expressão solene, e eu decido abraçá-lo. Sinto que ele precisa disso, e, em uma tentativa de aliviar o peso que ele carrega, digo: — Foi bom saber disso tudo. Isso faz parte de você. Explica muito do que você é hoje. Ele permanece em silêncio, os olhos fixos em mim, e eu começo a questionar se ele sequer escutou o que eu disse. Mas, finalmente, ele dá um leve aceno de cabeça, como se tivesse digerido, ao seu tempo, o que eu falei. Sem aviso, ele estende a mão e, de forma possessiva, segura meu queixo, forçando-me a olhar diretamente nos seus olhos. A intensidade no olhar dele faz meu coração acelerar. — Você vê romantismo em tudo. Tudo parece colorido para você. Quero ver até quando isso vai durar. Eu sinto a tensão em seu tom, o medo de se entregar a algo mais, e sei que tenho que conquistar a confiança dele, aos poucos. Com a voz suave, respondo: — Talvez eu seja assim porque eu gosto de você. Ele não responde. Ao invés disso, sua expressão se torna ainda mais intensa, e sem aviso, ele me puxa para mais perto. Seus lábios tocam os meus com uma força inesperada, e eu tremo com o calor do seu corpo. Seus lábios, surpreendentemente suaves, forçam os meus a se separarem, enquanto o seu corpo quente me envolve por completo. Sinto sua ereção contra minha barriga, e um arrepio percorre minha espinha. Eu me perco no beijo, sem reservas. Minha respiração se acelera, e o desejo cresce, intenso, dominador. As mãos dele exploram cada parte de mim, e de repente me vejo gemendo, completamente entregue a ele, como se já não houvesse mais espaço entre nós, como se ele fosse o único que importasse nesse momento.
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