Meus homens são treinados para reagirem primeiro, perguntar depois.

1012 Words
Com certeza, é o menininho de uns dois anos que está no meu colo. Ele soluça um pouco, ainda assustado, enquanto eu tento acalmá-lo. Seguro-o firme contra mim, sinto seu corpinho tremer de medo. Olho em volta, procurando pela família dele. Eles estão todos alvoroçados, em estado de pânico. Quando dois homens me avistam segurando a criança, algo muda na expressão deles. Seus rostos se transformam numa mistura de raiva e desespero, e, de repente, começam a marchar na minha direção como touros enfurecidos. — Devo solo avere tra le mani quel bastardo! Molestatore di bambini! — Um deles rosna algo em italiano, os olhos me encarando com um ódio puro. Não entendo o que eles dizem, mas uma coisa é clara: querem acabar comigo. Eu dou um passo para trás, instintivamente, enquanto os homens avançam. Antes que cheguem mais perto, coloco a criança no chão. Ela corre de volta para um deles, que a pega no colo e a leva até outro homem, de sobretudo n***o, com um olhar severo. Ao lado dele, está uma mulher grávida, de longos cabelos negros, que segura a barriga em um gesto protetor. Um dos homens, o mais esquentadinho, avança para cima de mim. Ele vocifera, apontando o dedo na minha cara: — Gli dico Lei é uno schifoso molestatore di bambini! Lei si meriterebbe una bella strigliata! — Ele grita, e o tom de voz é carregado de desprezo. Embora eu não entenda as palavras, reconheço a expressão em seu rosto. Ele quer me bater. — Cara! Eu não sei por que você quer me socar, mas eu salvei essa criança! — tento explicar, me esquivando do golpe que ele tenta acertar. O cara está descontrolado. Seus olhos estão cheios de ódio, como se estivesse diante de um inimigo mortal. Ele tenta me acertar de novo, mas eu desvio. Conheço esse tipo de olhar, e ele não vai parar até me ver no chão. — Você não sabe com quem está se metendo! — Ele rosna, e avança com um direto. Dessa vez, sou mais rápido. Esquivo-me do golpe e acerto um soco firme em seu queixo, fazendo-o cambalear para trás. O homem fica possesso, seus olhos agora carregados de surpresa e raiva. Ele claramente não esperava pegar alguém que soubesse lutar. Antes que eu possa me preparar para o próximo golpe, outro homem, aquele que segurou a criança, volta e me agarra por trás, prendendo meus braços. — Solta! — Eu grito, tentando me desvencilhar, mas estou preso. Sinto o impacto quando o primeiro homem me acerta um soco direto no nariz. Vejo estrelas, e uma dor aguda atravessa meu rosto. Logo em seguida, ele me acerta um soco no estômago, que me faz dobrar de dor. Eu caio de joelhos no chão, tentando recuperar o fôlego, o sangue já escorrendo do meu nariz e manchando minha camiseta. Mas que m***a! Eles não têm o menor senso de justiça? Cadê a luta justa? A raiva cresce dentro de mim, e me preparo para levantar e revidar quando uma voz firme e autoritária corta o ar: — Enzo! Enrico! Parem, cazzo! Os homens se afastam imediatamente, como se fossem crianças repreendidas. Aproveito a oportunidade para me erguer, furioso, e acerto um último soco no queixo do cara que me bateu. Ele cambaleia, mas antes que possa revidar, o homem que deu a ordem se aproxima e me encara. Ele é mais velho, com um semblante sério e postura imponente. Os outros dois ficam em silêncio, parecendo constrangidos. — O que vocês estão fazendo? — Ele rosna para eles. — Esse cara salvou Marcello, p***a! Os dois homens me soltam imediatamente, e eu recuo, levando a mão ao nariz sangrando. Pego um lenço do meu bolso e pressiono contra a narina, tentando estancar o sangue. — Antony, nós não sabíamos... — um deles tenta justificar, a voz baixa. Eu olho para o tal Antony, que deve ser o chefe deles, a julgar pela forma como todos o respeitam. Ele me observa, avaliando minha expressão. — Seus homens são uns brutamontes! — reclamo, ainda irritado. — Agridem sem nem perguntar o que está acontecendo. Ele mantém o olhar firme, mas há algo de analítico na forma como me estuda. — Meus homens são treinados para reagirem primeiro, perguntar depois. Lamento pelo que fizeram. Eu estava mais afastado e vi quando Marcello correu para a cova. Vi também você o tirando de lá. — Quem são vocês? — pergunto, ofegante. — Parecem mafiosos italianos, tipo Al Capone! Um pequeno sorriso aparece no canto de sua boca, mas seus olhos continuam sérios. — Você não reconheceu a família, não é? — diz ele, inclinando a cabeça. Eu franzo a testa, sem entender. — Família? Que família? Ele suspira, parecendo satisfeito com minha ignorância. — Já vi que não lê jornais. — Não. Ele solta um pequeno riso. — Ótimo. Ótimo? O que isso quer dizer? Antes que eu possa perguntar, ele continua: — Você luta muito bem. Você faz isso profissionalmente? — ele pergunta, estudando-me como se eu fosse algum tipo de quebra-cabeça interessante. Seguro meu nariz que ainda sangra um pouco, sentindo a dor pulsar. — Não sou profissional. Luto para ganhar alguns trocados aqui e ali. Ele me observa por um instante que parece uma eternidade, avaliando cada detalhe meu, antes de falar: — Você tem trabalho? — Por que esse questionário? Vai me contratar por acaso? — respondo, sarcástico, tentando esconder o interesse real. Ele coloca a mão em meu ombro, um toque surpreendentemente firme. — Tome meu cartão. Me procure. Tenho trabalho para você. Olho para o cartão em sua mão, hesitante, mas a realidade de minha situação financeira fala mais alto. Sem pensar muito, pego o cartão e o enfio no bolso. — Vamos! — diz ele aos seus homens, que o seguem imediatamente em direção à família. Fico ali, com o lenço pressionando meu nariz e o cartão em minha mão. Olho para o nome impresso nele, sentindo um misto de curiosidade e apreensão. Quem são eles? E o que querem comigo?
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