Eu aperto meus lábios com raiva e marcho para o interior da casa. E foi o que fez, tão logo ele estaciona, entra na sala e agora me olha como uma fera ferida.
—Eu não acreditei em meus olhos quando vi você com aquele marginal! Então é isso que você anda fazendo! — Grita e caminha na minha direção, parando na minha frente para olhar para mim da cabeça aos pés. — Você está pulando na cama de um bandido, do outro lado da cidade, sem instrução, que vende drogas?
—Quem disse que ele vende drogas? Ele é um homem direito.
—Mas você é muito ingênua mesmo! Você com esse cara é um desgosto. Olha o tipo de gente que você está se metendo. Ele não tem nada de bom para passar para você.
—Ele tem me ensinado muito. Ser uma fortaleza em momentos difíceis. Ser direito e trabalhador mesmo que surjam várias oportunidades de dinheiro fácil.
Meu pai cerra os dentes.
—Quanto tempo vocês estão juntos?
—Quase um mês!—Digo com o nariz empinado.
—Deus! Você tem me enganado todo esse tempo?
—Pai, eu amo Daniel.
—Esse cara não tem onde cair morto.
—Eu o amo mesmo assim! Não me importo de estar com ele em suas condições. Vamos ter as coisas juntos, batalhar juntos.
—Você acha que vou sentar sossegadamente enquanto sei que você está indo naquele bairro violento se encontrar com aquele miserável!
Eu cruzo os braços.
—Sinto, mas é o que terá que fazer.
— Você está se rebelando? —Ele pergunta, seu rosto se contorcendo. —Deus! Eu sempre te dei conselhos em relação aos rapazes, sempre esperei o melhor para você. Onde falhei como pai? Santo Deus!
—Não, pai. O senhor não falhou.
— Então por quê?
—Sempre gostei dele. Essa é a verdade. Desde o dia que ele colocou os pés nessa casa.
—Eu sabia que aquele m***a estava de olho em você!
—Daniel? Não pai, ele sempre enxergou um abismo entre nós. Eu fui atrás dele! Eu! —Eu digo com os olhos lacrimejando. —Ele não saía da minha cabeça. Eu tinha que ver como ele estava.
O meu pai se senta nervoso no sofá.
—Você? Deus, estou desapontado com você. Eu realmente pensei que você tinha acatado os meus conselhos quando saiu com aquele fazendeiro, mas percebi que vai jogar fora seu futuro por um bosta. Um cara que nunca será nada. Um Zé Ninguém.
As minhas lágrimas agora caem com abundância.
—Não importa pai. O futuro é meu.
— Tudo o que se relaciona a você tem a ver comigo!
—Pai, sinto muito. Mas eu continuarei vendo Daniel.
—Veremos! —Meu pai diz em tom de ameaça.
Ele se levanta e sai da sala.
Eu fico parada, tentando processar o que acabou de acontecer. As p************s do meu pai ecoam na minha cabeça, machucando como golpes. Meu coração bate acelerado, uma mistura de raiva, tristeza e frustração me consome.
Nunca pensei que seria tão difícil enfrentar meu pai dessa forma, mas sei que preciso ser firme. Meu amor por Daniel é real, é algo que cresce dentro de mim de uma forma que eu nunca senti antes. Mas, ao mesmo tempo, a dor de ver meu pai, aquele homem forte que sempre admirei, se decepcionando tão profundamente, é quase insuportável.
Enxugo as lágrimas rapidamente e corro para o meu quarto. Preciso de um momento para respirar, para colocar meus pensamentos em ordem. Deitada na cama, sinto o cheiro dele ainda em minha pele, uma lembrança recente de nossos momentos juntos, e isso me traz uma sensação de consolo.
Aquele amor que compartilhamos, mesmo tão recente, é mais profundo do que qualquer coisa que eu já tenha experimentado. É como se, por mais que o mundo tentasse nos separar, meu coração soubesse exatamente onde pertencer.
Seguro o celular nas mãos, ponderando se devo ligar para ele. Não quero parecer fraca, nem criar mais problemas para ele, mas sinto uma necessidade desesperada de ouvir sua voz, de saber que ele está bem depois da forma que meu pai o tratou.
Eu respiro fundo, fechando os olhos. "Ele precisa saber que estou ao lado dele, apesar de tudo", penso.
Então, finalmente tomo coragem e disco o número. Meu coração quase salta pela garganta enquanto espero ele atender.
— Kate? — a voz de Daniel soa do outro lado, baixa e preocupada.
— Daniel... — minha voz sai trêmula. Tento controlar as lágrimas que ameaçam voltar. — Me desculpe por tudo isso. Eu não queria que você passasse por isso.
Ele suspira, e mesmo sem vê-lo, posso sentir a tristeza e a dor em sua voz.
— Não precisa se desculpar. Eu sabia que seu pai reagiria assim. Só me dói ver você no meio de tudo isso.
— Eu faria isso mil vezes por você. Eu só... — engasgo com as palavras. — Eu só quero que você saiba que eu te amo. Que nada do que meu pai disse muda isso.
Do outro lado da linha, há um momento de silêncio, mas posso ouvir sua respiração pesada, e quando ele fala novamente, sua voz está mais suave.
— Eu também te amo, Kate. Eu nunca disse isso a ninguém antes, mas com você... com você tudo é diferente. Eu só quero te proteger, e parece que ao estar comigo, você só se machuca mais.
— Não fale assim. Eu estou exatamente onde quero estar, e não me importo com as dificuldades. Prefiro enfrentar tudo isso ao seu lado do que viver uma vida sem você.
Ele fica em silêncio por alguns segundos, então ouço seu suspiro pesado.
— Vamos superar isso juntos. Eu prometo. — Sua voz é firme, mas cheia de emoção.
— Sim, juntos. — Respondo, sentindo um calor reconfortante preencher meu peito.
Desligo o telefone, me sentindo um pouco mais calma. Sei que o que enfrentaremos não será fácil, mas o amor que sinto por Daniel me dá forças. A única coisa que importa agora é que estamos unidos, mesmo que o mundo esteja contra nós.
E com essa certeza, adormeço, desejando que nossos corações permaneçam entrelaçados, não importa o que venha pela frente.