Quem?!

1329 Words
Senti umas palmadinhas de leve na cara... -Estás bem? -AHM??? Estava meio azambuada, ainda a ver tudo a roda..ele insistiu.. -Hey, estás bem? Comecei a focar devagar concentrei-me na voz terna qe me chamava, dei por mim no colo dum homem, Moreno, alto, musculado, olhos pretos, e um sorriso deslumbrante. Sem planear comecei a falar... -És o meu moreno.. -O quê? Ele comeou a sorrir e eu rapidamente voltei a mim, provavelmente bem corada do que acabara de dizer, mas fiz-me de parva e fingi que não tinha dito nada... -Desculpa, não sei o que aconteceu... -Só te vi a cair ... não sabia que eras assim tão pesada, já estava a rasca dos braços.. Começou a rir , devia estar na brincadeira, mas, na verdade eu ainda não estava em mim, estava fraca, segurei-me no seu braço.. ele percebeu que não estava bem e segurou-me devagar... -Siga os meus dedos... Fiz o que ele me mandava, -O que comeu hoje? -Comer? -Sim.. comeu? Fiquei calada, foi ai que percebi que não tinha comido nada o dia todo, estive tanto tempo a tentar arranjar trabalho que não comi nada o sia todo.. -Eu..eu.. eu não tive tempo.. Ele olhou-me furioso, como se fosse meu dono e de momento fosse a pessoa mais irresponsável do mundo inteiro.. -Como não tiveste tempo? Mas estás a brincar ... vem.... Puxou-me com força, obrigou-me a subir na moto sem ter tempo de respirar, estava fraca demais para reclamar ou gritar ou até espernear. Estava cansada, talvez ficar longe dali por um tempo fosse bom.. Abrace-o, estava a segura-lo mas apenas concentrei-me no seu cheiro. Ele era diferente do pessoal do bairro, quem é que ele seria? Paramos no drive e de seguida num parquinho, sentamo-nos e m*l dei um golo no sumo parece que renasci... Ele não falou, apenas olhava para mim a comer e duma maneira que parecia que me estava a vigiar... -Obrigada (disse-lhe)... quanto é ? -Nada, não precisas de me dar nada..come.... -Mas... -Eu quis ... Acenei com a cabeça, não queria ter de pensar em mais nada para pagar.. fiquei calada e triste.. não se como o mundo pode ter pessoas tão mas como o patrão e tão boas como este rapaz.. -Vi a maneira que tratas-te os miudos... ele parecem gostar de ti... -Já os conheço desde pequenos e adoram gomas.. Rimos... continuei.. -E tu és de onde -De lá... -Nunca te vi... -Não sabes mesmo quem eu sou? -Não... deveria? -Não... mas... como todos no bairro se conhecem.. sei lá.. -Tu conheces-me?? -Não... -Eu sou a Maria... -Eu sou o Dani.. -Obrigada pela comida Dani... Ele sorriu e continuamos a comer, reparei que ele vestia-se bem , devia ser de alguma família com mais posses, por isso não o conhecia, falamos um pouco sobre os miúdos que ajudo todos os dias... -Eles parecem gostar de ti.. -Eu gosto deles Dani, adorava um dia dar aulas a crianças , mas não há muitas vagas, veremos para o próximo ano.. -Fizeste universidade? -Sim .. sim... e tu? -Também... medecina... -Uouu parabéns... e o que pensas fazer? Já te inscreveste, candidatas-te para algum sitio? -Não .. por enquanto estou a tratar dos negócios de família, o meu pai precisa que o faça e.. pah é complicado, .. Ele desviou a cara e virou-se para o lado oposto, percebi que não queria falar e não quis estar a incomoda-lo, ficamos com um ambiente pesado entre nós.. -Desculpa não devia ter perguntado, as vezes os pais pensam que nos estam a ajudar e no fundo não estão, mas eles amam-nos e fazem de tudo por nós.. -Não conheces o meu pai.. -Não pode ser um monstro... aliás no bairro só ha um homem que é o demónio, por isso o teu pai não pode ser assim tão mau.. -Quem?! O seu telemóvel tocou e fiquei a espera dele enquanto acabei de comer. Ele afastou-se e eu fiquei no meu canto.. Quando chegou. sentou-se, não falamos, apenas comemos. Quando acabámos sorrimos os dois e ele levou-me de volta ao sitio que desmaiei... -Obrigada pelo jantar, obrigada pela ajuda.. -De nada Maria... ve se te cuidas e come... Sorriu e saiu... caminhei todo o caminho até casa a pensar como é que nunca o tinha encontrado, é verdade que nunca fui miúda de sair a noite e enquanto a maioria do pessoal da minha idade andava em festas eu ficava em casa a estudar e a pedir que o meu pai não bebesse.. talvez por isso nunca tivesse isto Dani.. m*l abri a porta e p meu sorriso desapareceu... Olhei para cima da mesa, vários pacotes de vinho.. antigamente eu lembro-me que oo meu pai gostava de cerveja, outras de vinhos de garrafa mais caros, ouve meses que até digestivos dava para comprar.. mas desde que deixou de se controlar, compra os pacotes de vinho de cozinhar e bebe, bebe sem remorso, sem preocupações... Ali estava ele a rir-se para mim, falando de tanta coisa e eu sem perceber o que dizia, comia as palavras de tão embriagado que estava. Não o queria julgar, mas era difícil conseguir aceitar o seu comportamento.. Ele cantava e dançava sentado, como se recordasse um momento qualquer importante para ele , foi quando me puxou o braço e me disse.. -Tens os olhos dela... meigos, doces, cheios de esperança... -Eu não sou nem tenho nada de parecido com ela.. Levantei-me irritada, não sei como explicar que superei o abandono da minha mãe, mas nunca conseguirei perdoar.. como pode alguem deixar a sua filha bébé e sair pelo mundo fora e nunca perguntar como ela esta? Nunca ter querido saber noticias? Nunca me ter amado?As experiências da primeira infância são as mais importantes para o desenvolvimento sadio. Uma sequência de vivências negativas (maus-tratos, negligência, abandono) nesse período pode desencadear transtornos mentais em outras fases da vida. Eu considero-me que no meio de tanto que vivi consegui gerir emocionalmente as situações por que passo, mas é difícil quando me falam dela.Traumas formados na infância podem influenciar comportamentos, pensamentos, crenças, capacidade de gerir emoções, relacionamentos e até mesmo as conquistas dos indivíduos quando adultos. O que torna a sua identificação complicada é a repressão de memórias e a falta de consciência sobre a influência do passado no presente. Houve uma altura que achei que existia uma falha na minha personalidade ou na maneira de pensar, obrigando-me a agir de maneira inadequada. Também cheguei a pensar que não havia maneira de resolver as minhas falhas de caráter, fortalecendo a desesperança. Durante a primeira infância, literalmente tudo é importante.Os mínimos detalhes presentes na relação entre o bebê e os pais, especialmente a mãe por ser a cuidadora principal, podem interferir em seu desenvolvimento.A qualidade do toque, olhar, fala e proximidade entre pais e filhos é sentida profundamente pela criança. Quando percebi que a minha mãe me abandonou, aconteceu que eu, como criança não consegui compreender a intenção do que é ser mãe, ou entender os seus sentimentos em relação a mim. Assim, senti uma variedade de emoções negativas, que passaram a ser parte do meu ser. Pensei que fiz alguma coisa de m*l, pensei que a culpa tivesse sido minha, depois culpei o meu pai... mas conforme cresci, entendi que a culpa não é de ninguém... foi uma escolha dela.... apenas isso... Sai da cozinha a correr quando o ouvi a tossir.. m*l cheguei perto ele tentou empurrar-me mas já não havia nada a fazer, vomitou em cima de mim .. -Desculpa filhota... eu... eu... eu vou parar... Ficou quieto, como se arrependido... Deixei de chorar quando isto acontece, apenas peguei nele, limpei-lhe a cara, ajudei-o a tirar a camisola e depois do deitar fui limpar toda a confusão e tomar um banho para sair toda aquela sujidade de cima de mim... Não a queria culpar, mas enquanto o ouvia a sonhar, a chorar e chamar pelo seu nome era a ela, aquela que todos chamam de minha mãe que eu culpava...
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