– Antes que ela mate todos nós

1006 Words
Nossas aulas nos dias seguintes foram tão tranquilas como poderiam ser no momento em que estamos vivendo. A rotina é a mesma, as pessoas são as mesmas, mas há algo pairando no ar. Uma espécie de tensão e receio que não deixa o ambiente, não importa o quanto você sorri ou conta piadas, ela simplesmente não se vai. – Quero voltar ao mundo de antes. – Digo chegando a sala de aula e me sentando ao lado de Sarge e Tristan. Gosto de dividir aulas com eles por que os professores sempre permitem que nós façamos dupla de três. Isso não existe, mas faz sentido na minha cabeça. – Qual mundo de antes? Defina. – Sarge pergunta com a cara enfiada num livro. Ele está sempre devorando algum livro. – Onde não existia essa ameaça pairando acima das nossas cabeças. Alguém precisa fazer alguma coisa. – Digo pondo as mãos para o céu. Dramático, eu sei. – Tipo quem? – Tristan pergunta cético. – O conselho, o Ministério da Magia, qualquer pessoa. – Digo pensando sobre isso. – Não é tão simples assim, entenda. A diretora disse que o Ministério está cuidando disso, portanto não há motivo para nos preocuparmos. A alguns dias você mesmo disse para não nos metermos nesse assunto, por que mudou de ideia? – Tristan pergunta e Sarge baixa o livro querendo ouvir minhas palavras também. – É só que estou cansado. Quero ir lá fora, ir até a cachoeira, andar livremente sem ameaças. Vocês também não sentem saudades? – Eu pergunto e eles se entreolham antes de responder. – Claro que sentimos saudades. Eu adoro ler em paz lá fora. – Sarge diz voltando a pegar o seu livro. – E eu sinto saudade de voar no tapete e na vassoura. Saudades de praticar esportes. – Tristan pratica esportes desde que éramos muito novos. Ele puxou essa grande paixão do nosso pai, mas também faz por necessidade. Como primogênito, ele é o sucessor do trono e deve estar pronto para todos os tipos de situações. Portanto, ele domina muitos tipos de autodefesa e também tira notas boas na escola, que não posso dizer o mesmo de mim. Pelo menos a minha nota em alquimia vai ser boa dessa vez, eu tenho certeza. Eu mandei bem naquela poção, impossível que eu tire uma nota r**m. – Pois é. Quando será que a vida vai voltar ao normal? – Pergunto mais para mim mesmo do que para eles e não tenho a oportunidade de perguntar mais nada devido à chegada do professor Vicente na sala de aula. Nos primeiros minutos de aula vejo que não vou conseguir prestar atenção, então, decido fazer o que eu faço de melhor na minha vida: dormir. Durmo a aula inteira e meus irmãos me acordam quando os alunos já estão saindo da sala. – Vamos, dorminhoco. – Tristan diz dando um tapinha no meu ombro. – Se queria dormir era só ter procurado uma cama. – Sarge é contra dormir na aula. – Vão na frente, já vou. – Digo debruçado na cadeira e eles se vão. Permaneço de olhos fechados ainda por alguns instantes até a necessidade de ir embora bater. Logo os outros alunos vão precisar usar a sala e eu não posso estar aqui quando eles chegarem. Me levanto e ando até a frente da sala esticando os braços. Dormir em cadeiras escolares já virou uma ciência pra mim, já estou tão acostumado que meu corpo nem dói mais. – Ate a próxima, Professor. – Digo saudando o professor Vicente, que está mexendo afobado nos papéis. Ele parece atarefado. – Ah, Sr. Macgiver, eu não sabia que ainda estava aí. Desculpe-me. – Ele diz desgrudando-nos olhos dos papéis por alguns segundos mas logo volta à sua atenção aos papéis. – Tudo bem, estava apenas… aproveitando a aula da melhor maneira possível. – Não sou tão cara de p*u a ponto de dizer que estava dormindo. – Ah, certo. Boa aula pra você. – Ele diz organizando pilhas de papéis. – Obrigado. – Agradeço e caminho até a porta para ir embora mas, de repente, um vento forte sopra da janela e espalha todos os papéis que estão em cima da mesa. É papel voando para todo lado e a expressão que se vê no rosto do professor é de partir o coração. – Não acredito. Vou demorar horas para organizar de novo. – O professor se lamenta e começa a catar os papéis pelo chão. Me solidarizo pelo acontecido e me abaixo para ajudar a pegar os papéis, a próxima aula pode esperar um pouco. – Dois são melhores do que um. – Digo enquanto o ajudo. Não é como se eu nunca tivesse me atrasado para uma aula e essa, com certeza não será a a última vez que isso acontece. Enquanto recolho os papéis, um deles me chama atenção e eu, sem querer, leio o que está escrito. “Ataques de prófugos são registrados no mundo humano e depois que os ataques começaram, foi relatado as autoridades que muitos humanos estão sumindo.” Estou lendo ainda quando o professor puxa o papel das minhas mãos com brutalidade. – Obrigada, Sr. Macgiver. Melhor ir para a sua aula, você já está atrasado. – Ele fala me dando um sorriso tenso e eu lhe dou um aceno de cabeça antes de sair da sala. Pela sua expressão, eu li algo que não deveria. Há alguns dias eu fui o primeiro a dizer que deveríamos deixar isso como está, mas agora depois de ler isso vejo que não é a decisão certa. Se os prófugos continuarem a atacar o mundo humano, eles podem vir a saber da nossa existência e isso é uma ameaça tanto para nos quanto para o nosso mundo. Não podemos deixar que isso aconteça, precisamos unir forças e lutar pelo nosso bem-estar. Precisamos encontrar logo a raiz do problema (a mãe de Matt) e controlá-la e isso precisa ser antes que ela mate todos nós. – Preciso contar isso aos outros.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD