Prólogo
Monalisa
Desci as escadas do meu quarto quando meu pai gritou meu nome pela milésima vez. Eu não queria parar de falar com Alex, mas sabia que se não descesse logo eles viriam até meu quarto.
— Até que enfim apareceu, mocinha! — minha mãe reclamou com as mãos na cintura. — Não vai dar um beijo nos seus pais?
Revirei os olhos e terminei de descer as escadas; era um dramalhão sem necessidade aquilo, mas o que eu podia fazer.
— Vocês só estão indo para uma noite romântica, como fazem toda semana. — bufei, deixando que meu pai beijasse o topo da minha cabeça, antes de me virar para minha mãe para ela me beijar também. — Não é como se eu nunca mais fosse ver vocês.
— Deixe de ser malcriada! Só porque é uma adolescente não precisa ser tão chata. — ela falou, como sempre culpando minha idade pelo meu comportamento, mas a culpa era toda deles por serem chatos e protetores.
— Nós voltamos de manhã, a Nona está em casa e qualquer coisa é só chamar; ela vai passar aqui no fim da noite pra ver vocês. — meu pai avisou, o que não era nenhuma novidade, mesmo que eu não fosse mais criança, Nona sempre vinha nos olhar quando eles estavam fora.
— Não sei porque ela tem que vir aqui, já tenho dezesseis anos, tenho certeza que posso cuidar do Brian sozinha! — afirmei, meu irmão tinha três anos; eu era capaz de cuidar dele, não precisava de ajuda.
Os dois se entreolharam, sorrindo, daquela forma apaixonada que eu achava nojenta para a idade deles.
— É só para nos tranquilizar, filha. — ela segurou meu rosto e me puxou para um abraço. Mesmo a contragosto, eu acabei relaxando e aproveitando o momento. — Nós amamos vocês e só queremos mantê-los seguros.
Eu sabia disso, mesmo que fosse um porre ser mantida sempre em segurança. Papai se juntou ao abraço e eu senti mãozinhas agarrando minhas pernas, e quando olhei para baixo vi Brian agarrado a mim sorrindo, como um grande abraço em família.
Mamãe plantou um beijo em meu ombro, deixando a marca do batom vermelho ali, talvez só para me irritar, mas eu relevei naquele momento.
— Agora vão embora antes que percam a noite de vocês! — resmunguei, empurrando-os porta a fora, antes de pegar Brian no colo.
Enquanto eu observava eles irem embora, um frio esquisito subiu por minha coluna e uma sensação de tristeza encheu meu coração.
— Desenho! — meu irmão gritou, me tirando daqueles pensamentos, e eu entrei em casa com ele.
Passei a meia hora seguinte falando no telefone enquanto meu irmão assistia desenho, e quando deu a hora, fui colocar o pequeno na cama. Ia mostrar que eu podia fazer isso sem ajuda; quem sabe na próxima eles não me deixassem sem supervisão.
Sai de mansinho do quarto quando o garoto finalmente pegou no sono e fui até o banheiro, mas parei em frente ao espelho encarando a marca de batom no meu ombro nu, os lábios cheios marcados na minha pele.
Mas o som da porta se abrindo me chamou a atenção e eu saí de lá rápido; precisava alcançar Nona antes que ela gritasse e acordasse o pequeno.
— Oi, Nona! — a alcancei no pé da escada. — O Brian já comeu e dormiu agora; acabei de deixar ele no berço...
Ela segurou meus braços, me calando, e só então eu percebi o olhar dela triste, o nariz vermelho, as bochechas molhadas. Ela estava chorando? O que podia ter acontecido para fazê-la chorar? Nunca a vi assim.
— Oh, menina, eu sinto muito. — um vinco se formou na minha testa e ela voltou a chorar, me confundindo totalmente. — Sinto muito que isso tenha acontecido.
— O que aconteceu, Nona? — perguntei de uma vez, não aguentando mais quando meu coração se apertou.
— Seus pais, minha linda, sofreram um acidente de carro e...
— Não! É mentira! — gritei, já não me importando com Brian, eu só queria que ela parasse de mentir. — Não pode ser verdade, eles estão bem, só iam jantar e ir ao cinema, passar a noite em um hotel e chegar pela manhã.
Me afastei dela, pegando meu celular e ligando para meu pai, mas só deu desligado ou fora de área. Meu coração disparou no peito e eu entrei em desespero; não podia ser, não podia ser verdade.
Liguei para minha mãe e a mensagem foi a mesma, me fazendo desabar no chão chorando.
— Sinto muito, querida. — ela se abaixou ao meu lado e me abraçou com força, tentando me consolar enquanto meu chão era arrancado de baixo dos meus pés.
— Não pode ser... Meus pais...
Mil e uma coisas passaram na minha mente; meu mundo estava sendo destruído, o que ia ser de mim e do meu irmão, eu tinha perdido tudo. Mas a pior de todas foi quando as minhas palavras se repetiram: "Não é como se eu nunca mais fosse ver vocês", eu não podia estar mais errada.
Minha vida toda mudou naquela noite; tudo o que eu tinha planejado teve que ser mudado e moldado para minha nova realidade.
Luke
— Tudo bem, estou indo trabalhar e o que vocês têm que fazer? — questionei, olhando para os meus irmãos, não me importando de ser repetitivo.
Os cinco estavam no cômodo que era dividido entre a sala e a cozinha, e eu conseguia ver todos da porta. Nik tinha um ano e estava no colo de Stella. Kevin estava na cozinha terminando de comer o macarrão com queijo; mesmo com dez anos, ele ainda era o mais devagar para comer.
— Trancar a porta, não abrir para ninguém. — Stella, a mais velha que ficava com eles quando eu saía para trabalhar, tinha apenas treze anos e eu detestava ter que deixá-la com essa responsabilidade, mas não tinha outro jeito.
— Escovar os dentes antes de dormir. — foi Ava quem respondeu; ela tinha acabado de fazer seis anos e estava brincando de boneca com Mia, que tinha sete anos e eram inseparáveis, provavelmente pela idade próxima.
— E o mais importante? — olhei para todos, pois essa era a parte mais difícil de fazê-los responder.
— Não abrir a porta para ninguém, nem mesmo para a mamãe! — todos responderam de uma vez, e eu respirei fundo, sabendo que ficariam bem por mais uma noite.
— Amo vocês. Tranquem a porta quando eu sair. — falei, já abrindo a porta e saindo de casa direto para a boate; hoje era sexta-feira e seria uma noite cheia.
Agora que eu tinha completado dezoito anos e meio, tinha me tornado legalmente responsável por eles. Não foi fácil fazer isso clandestinamente desde pequeno, enquanto minha mãe, Karen, vivia sumida com suas recaídas com as drogas, e eu tinha que aguentar a barra sozinho.
Mas pior era quando ela aparecia grávida ou com algum maldito namorado que só queria usá-la para comprar drogas. A gravidez era um verdadeiro inferno, porque eu nunca sabia se o bebê nasceria bem ou se ela se mataria enquanto eu tentava mantê-la sóbria e presa dentro de casa.
É merda demais para um garoto aguentar, você deve estar pensando, mas era isso ou chamar a polícia e deixar que todos os meus irmãos e eu fôssemos parar no sistema, dividido em casas, onde eu não saberia o que acontecia e nem poderia protegê-los.
Por isso eu engoli toda a merda dela, até que um ano atrás ela simplesmente desapareceu, depois de dar à luz Nik ela saiu um dia e nunca mais voltou. E eu não podia dizer que não me sentia aliviado, aos dezoito já tinha cinco vidas para cuidar, não precisava dela aparecendo por aqui.
Mas se tem uma coisa boa que aquela mulher me ensinou foi sobre quanto dinheiro se pode ganhar com o próprio corpo.
Parei em frente à XXL pensando em como tinha sido difícil convencer Bella a me aceitar com dezesseis anos. Foi um sacrifício, mas ela acabou cedendo e me deixando dançar.
Até que eu comecei a ter meu próprio show e então as mulheres começaram a querer mais, e eu não perdi a oportunidade. Sim, fazia programa para ganhar a vida, e que se dane qualquer um que tenha um problema com isso.
Eu não era um santo e estava longe de ser um bom partido para alguém, mas não tinha problema porque já tinha largado mão dessa coisa de relacionamento e amor. Acho que algumas pessoas simplesmente não nasceram para isso, e eu sou uma delas.