Emily narrando
Eram muitas sensações ao mesmo tempo, a dor no meu tornozelo, a agonia no meu peito, aflição, e ansiedade, encontrar o coringa pra mim, era como encontrar o Hugo, e aquilo me deixou apavorada, eu não sabia nem o que fazer, estava assustada
Ele me levava no colo, eu não conseguia pisar no chão, e aquela situação me incomodava, eu estava desconfortável, eu não sou mais uma criança, eu cresci, e o coringa me carregando daquele jeito, me deixava sem graça
Ele comprou todos os meus remédios, entrou na minha casa, me colocou deitada no sofá e ficou me questionando até que eu falasse tudo o que eu passei com seu filho
Era uma situação horrível, poxa, era filho dele, eu estava detonando o seu próprio filho, e eu não sei qual é a reação deles hoje, eu não sei como o Hugo está hoje, então eu me senti pessima, mas ele não me deixou outra escolha a não ser falar tudo
Mas, o que mais me surpreendeu foi ele querendo me dar proteção, me mudar de casa, e várias coisas ao mesmo tempo, ele não tem obrigação comigo, eu não quero vínculo com ele, estar próxima dele significa risco pra mim por causa do Hugo
- coringa, eu te agradeço por tudo o que fez por mim hoje, mas eu espero que não me interprete m*l, eu não quero nenhum tipo de contato com você- eu falo e ele me olha sério franzindo os cenhos - você querendo ou não, é um risco do seu filho se aproximar de mim- eu suspiro frustrada - eu vim pra cá porque ganhei uma super oportunidade, e eu estou aqui porque é próximo de onde eu preciso estar, mas eu não quero nenhum contato com o alemão, a não ser os meus pais, eu tomei essa decisão a anos atrás, e isso não mudou, eu quero distância de todos de lá - falo e ele n**a
- você não vai se ver livre de mim- ele fala sério olhando nos meus olhos de forma firme - a minha palavra é uma só, e eu não vou voltar atrás- ele fala decidido e eu me vejo mais uma vez encurralada- se eu souber que você fugiu de novo, eu vou atrás, eu não quero ver você atrasando a sua vida por medo de nada, é muito menos de alguém como o Hugo - ele fala e se levanta
Observo ele ir até a cozinha, ele pega gelo e coloca numa sacola, enrola num pano e vem na minha direção, ele coloca sobre o meu tornozelo e eu sinto o alívio na hora, ele observa atentamente a minha reação, e torna a se levantar indo até a cozinha pegando um copo de água e separando os medicamentos para mim
- toma - ele fala me entregando os comprimidos e eu tomo tudo e pego a água da sua mão e tomo também
- obrigada - falo entregando o copo a ele que deixa na cozinha de volta
Eu estava tensa, sua presença me deixava nervosa, eu estava aflita ali no mesmo espaço que ele, ele voltou na minha direção, olhou bem nos meus olhos e tornou a se sentar na minha frente
- eu preciso voltar pro morro- ele fala olhando o seu celular - vou te deixar na cama para voce ficar mais confortável - ele fala sério e eu n**o
- eu consigo ir sozinha, você já fez muito, obrigada - eu falo e ele n**a
- eu fiz o mínimo, Emily - ele fica em silêncio me encarando
Ele se põe de pé, me pega no colo de supetão, mais uma vez, e me leva pro quarto, ele me coloca deitada e pega o gelo colocando no meu tornozelo de volta, e um travesseiro por baixo
- tá bom assim ?- ele pergunta e eu concordo sem graça - eu volto pra te ver - ele fala sério e eu só fecho os olhos vendo que não tem como lutar contra - onde está seu celular ?- ele pergunta e eu puxo do meu bolso mostrando a ele a tela toda quebrada da hora da batida - fui eu que quebrei né ?- ele perguntou tá e eu dou de ombros
- tá tudo bem, ainda funciona perfeitamente- eu falo e ele n**a
- adiciona o meu número caso precise de algo - ele fala e eu o encaro - não adianta você dizer que não - ele fala e eu respiro fundo
Desbloqueio o celular entregando a ele que salva seu próprio número, e dá um toque para o seu celular e salva o meu
- descansa, eu volto pra te ver- ele fala perto de mim e eu sinto o seu perfume forte misturado com o cheiro de bebida - me desculpa novamente pelo ocorrido, e se precisar de qualquer coisa, me liga - ele dá um beijo na minha testa e sai sem esperar a minha resposta
Eu fico ali com os pensamentos fervendo, ouço ele fechar a porta da minha casa e ele deixou a casa toda no escuro, só com a luz do abajur do meu lado, eu havia ficado hipnotizada na cena dele saindo sobre aquela luz fraca, suas costas largas, me deixaram ainda mais sem palavras
Eu não sei o que fazer, pelo visto ele vai ficar em cima de mim, mas não tem o porque, foi uma queda boba, nada grave, como essa semana não tem nada muito importante na faculdade, vou conseguir fazer o repouso como deve ser, ou pelo menos tentar
Não vou falar para os meus pais que foi o coringa que me atropelou, isso os deixaria nervosos pelo mesmo motivo que eu estou, mas eu não sei porque, eu senti que o coringa não falaria para o Hugo sobre mim, eu não sei porque, mas a relação deles, e a forma como ele falava sobre o Hugo, ele não parecia muito contente
Eu custei a dormir, tirei a minha roupa ficando só de lingerie, fui pulando pro banheiro e consegui me despir e tomar um banho para tentar aliviar tantos pensamentos que me atormentavam
Quando saí do banho eu passei um gel de arnica que tinha no meu tornozelo, coloquei um baby doll branco, e me deitei na cama, estava procurando o sono quando chegou uma mensagem do Bernardo
- vai passar o gelo mesmo ? Desce aí pô, tá bom demais o pagode - ele manda e eu n**o rindo, agora nem se eu quisesse
- hoje eu te abandono, mas outro dia eu aceito, já estou indo dormir - falo com ele que manda uma carinha triste
De repente meu celular vibra, e aparece o nome do coringa na barra de notificações, meu peito gela na hora e eu abro a sua mensagem
- ainda acordada ? Não conseguiu dormir ? Está sentindo dor ?- ele manda todo preocupado
- fui tomar um banho, passei uma pomada pra ajudar, e vou tentar dormir agora - falo com ele sem jeito
- tenta dormir, e não força o pé - ele fala sério mandando áudio com a sua voz grossa que chega a arrepiar a alma
- boa noite coringa- eu mando pra ele e bloqueio o celular sem querer ver sua resposta
Começo a girar de uma lado para o outro até conseguir dormir, e a lembrança das suas mãos firmes no meu corpo me carregando, invadiam a minha mente me impedindo o sono, e me deixando ainda mais inquieta