MIA
Estava tão calor que cometi um erro terrível ao dormir com a janela aberta. Às sete horas da manhã o sol começou a clarear meu rosto e eu não tive escolha a não ser levantar para fechá-la. Não que adiantasse muito, afinal meu sono já havia se espalhado. Então fiquei apoiada janela com os olhos semi abertos observando as pessoas irem trabalhar.
O céu estava lindo, em uma cor azul bem claro. O sol brilhava em uma área não muito e a brisa suave da manhã matinha o frescor da manhã. Peguei uma toalha que se encontrada estendida na poltrona do quarto e meu roupão no guarda roupa. Em seguida, fui para o banheiro planejando um relaxante banho de banheira. Coloquei nela meu sabão líquido com cheiro de rosas e espalhei com a ponta dos dedos. Tirei minhas vestes as coloquei no cesto de roupa suja. Após prender os cabelos em um coque firme, pego um algodão, umedeço-o com demaquilante e o passo no rosto para retirar o resto da maquiagem da noite anterior. Ao entrar na banheira sinto os músculos de meu corpo se acalmando e fecho os olhos, querendo absorver cada sensação de paz que aquele banho me trazia.
Descansei meu corpo por longos vinte minutos, quase cheguei a cochilar. Sai da banheira, me sequei com a toalha e vesti meu roupão. Fui para cozinha e peguei uma garrafinha de água na geladeira, dei alguns goles na mesma e a coloquei em cima da mesa. Peguei uma maça e parti ao meio, guardei uma parte na porta da geladeira e subi para meu quarto comendo a outra metade. Escolhi uma roupa simples, uma calça legging preta, uma camisa branca e uma sapatilha. Prendi meu cabelo em um r**o de cavalo e peguei um Fuzil M16 com luneta de longa distância + bandoleira adaptada, coloquei nas costas, coloquei meu celular em minha bolsa e desci para a cozinha. Preparei um misto quente e um suco de laranja pra mim, comi, em seguida escovei os dentes e fui pro cabo.
MATHEUS
Acordei com uma p**a dor de cabeça no Domingo, e pra piorar a Camila não parava de me ligar pedindo pra ir ficar com ela, ou reclamando da minha "irmã" que quase matou ela noite passada. Mas a menina também é burra, vai mexer com uma favelada que só anda armada, tem que tomar tiro mesmo. Meu celular tornou a tocar, acho que era a quinta vez desde que cheguei em casa, olhei no visor e adivinha? A Camila de novo. Estressei com essa menina. Atendi e mandei ela ir pro quinto dos infernos. Levantei da cama e fui para o banheiro, escovei os dentes, lavei o rosto e desci para cozinha. Meus avós estavam tomando café e conversando algo que eu não podia saber, porque assim que entrei na cozinha eles pararam de falar, dei bom dia para eles e me sentei, pedi a empregada que me servisse um suco de abacaxi com hortelã e um croissant de frango, enquanto ela me servia peguei algumas uvas no cacho e coloquei na boca. Depois de tomar meu café da manhã liguei pro Brian e chamei ele pra ir no shopping comprar um celular novo comigo, ele concordou e eu desliguei. Fui pro meu quarto, separei uma calça jeans e uma camisa branca, escolhi um nike pra calçar e fui tomar banho. Depois de vinte minutos eu já estava pronto e descendo as escadas, meus avós disseram que iriam almoçar fora e a tarde estariam aqui, me despedi deles e peguei meu Honda Civic na garagem. Ele era maravilhoso, mas comparado ao carro daquela favelada ontem eu fico até com vergonha, onde será que ela roubou aquele? Passei na casa do Brian e fomos pro shopping. Chegando lá a primeira coisa que encontrei foi a Camila e a Sabrina, mas eu tenho uma sorte do c*****o né? Passei rápido antes que elas nos vissem e entrei na loja da Samsung, comprei um Galaxy S5 branco e o Brian e eu saímos da loja indo na direção contrária da Camila.
O Brian não conseguia parar de falar na Mia, que aquela mina era chata, irritante e em como ela era gostosa ou como ele a odiava. Tava ficando de saco cheio já, mandei ele calar a boca que já tava parecendo que ele tinha apaixonado com a favelada. Para minha infelicidade a Camila e a Sabrina nos encontraram. O Brian, que ficava com a Sabrina, foi embora com ela pra casa dele, dá para imaginar o que os dois foram fazer né? Enquanto isso a Camila ficou atrás de mim falando quinhentas mil chatices a cada cinco minutos e eu só entendia umas duas. Passei com ela em algumas lojas de roupas e deixei ela comprando, pelo menos em quanto ela gastava não enchia meu saco. Liguei meu celular novo, coloquei o chip, adicionei alguns contatos, coloquei crédito pelo número do cartão de crédito e baixei w******p. A Camila logo terminou as compras e fomos comer alguma coisa na praça de alimentação, eu peguei um milkshake apenas e ela foi comer sushi. Ela não calava a boca nem quando estava comendo, Jesus me ajuda...
Fomos embora e deixei ela em casa, a danada pediu para eu ajudar ela a levar as sacolas para dentro e foi o que eu fiz. Coloquei as sacolas na cama dela e me virei em direção a porta, foi quando ela agradeceu e colocou os braços em volta do meu pescoço, começou a me beijar e a tirar suas peças de roupa. Eu já sabia o que ela queria e estava pronto para atender todos os seus desejos. Peguei ela no colo e a segurei pela cintura, girei cento e oitenta graus e a joguei na cama, me deitei por cima dela e fui a beijando enquanto contornava seu corpo com as mãos.
[...] Mais tarde fui para minha casa, enquanto dirigia fiquei pensando naquela história toda da Mia ser minha irmã e de sermos filhos de um dono de favela. O que eu achava mais estranho era minha mãe largar o nosso luxo todo pra ir morar na favela com um traficante. Mas de certa forma era compreensível porque meus avós nunca me disseram nada de meus pais, minha mãe saiu de casa pra viver com um bandido, que tipo de exemplo é esse ? O pior nessa história era que eu nem havia conhecido meus pais e eles morreram, eu precisava saber essa história direito. Cheguei em casa às três da tarde, meus avós estavam na sala de televisão assistindo ao jornal atentos, fiquei olhando antes de fazer perguntas, o jornal dizia sobre um morro que foi invadido, espera, o que?
"Faz uma semana e dois dias que os soldados de Carlos Eduardo, mais conhecido como Cabeção, ex dono da Rocinha invadiram a favela do Mandela e mataram o dono Ryan Divine e sua esposa Alice Sampaio, deixando o morro de herança para sua filha, a qual ainda não sabemos o nome. O ex dono da Rocinha também acabou sendo morto no conflito e a polícia está averiguando a situação para saber se ambos os morros poderão ser pacificados. Agora fiquem com o tempo [...]"
Fiquei azul, branco rosa, verde e comecei a respirar fundo, foi quando meus avós se deram conta de que eu estava ali.
— Matheus, meu querido. Nós não sabíamos que você estava aí! - Minha avó me olhava com certa tensão.
— Então, é verdade? Eu sou filho de bandidos. Minha mãe saiu de casa pra morar na favela?
— Não é bem assim meu neto. É que... — a voz de meu avô falhou — como você descobriu Matheus? — Perguntou minha avó.
— Uma garota veio aqui ontem pela tarde e disse que era minha irmã. Contou uma história maluca sobre ser dona de um morro que nossos pais deixaram pra ela, veio me conhecer. Ah, não importa.
— Mia esteve aqui? — Os olhos dele brilharam. — Ela está bonita? Parecida com a mãe?
— Como vou saber? Nunca vi minha mãe. E agora ela está morta. — Fiz uma pausa e respirei fundo. — Porque mentiram pra mim? Eu tinha o direito de saber quem eram meus pais.
— É complicado meu querido. Não falamos nada, para o seu próprio bem.
— E por acaso está tudo bem agora?
E naquele momento eu entendi tudo que Mia dissera, passei pelo mesmo sofrimento que ela passou. E o pior de tudo é que eu nunca tinha visto meus pais e nunca teria a oportunidade. Algumas lágrimas escorreram do meu rosto e fiquei sem saber o que fazer, então sai apressado de casa e entrei no carro, comecei a dirigir com um gosto amargo na boca procurando um rumo.