Noah
Meu nome é Noah, tenho 19 anos nasci em Santos - SP, mas meus pais são ingleses. Eles são donos de uma grande rede de indústrias têxteis com várias filiais espalhadas pelo mundo.
Desde criança escuto meu pai dizer que eu e minha prima Bella, filha de seu irmão gêmeo, seremos seus sucessores.
Pode-se dizer que ele sempre me controlou com mãos de ferro. Escolhia desde a roupa que eu usaria até o colégio que frequentaria, além de não perder a oportunidade de me comparar com a minha prima.
Bella que é dois anos mais nova que eu, sempre foi a boa menina que acatava todas as ordens. Já eu era considerado o rebelde que vivia se metendo em confusões.
O que meus pais nunca perceberam é que tudo o que eu fazia era pra chamar a atenção. Eles sempre estavam ocupados demais com trabalho e vida social.
Nunca tinham tempo pra mim.
Minha única companhia no colégio era a minha prima que me ouvia e era uma irmã pra mim. Porém quando meus tios faleceram,Bella foi viver com a avó materna e estudar em Oxford.
Eu sentia muita falta da minha prima e buscando fazer mais amigos pra me distrair, acabei me descuidando dos estudos. O resultado veio a curto prazo. Fui reprovado duas vezes seguidas no nono ano e com isso acabei sendo expulso do colégio.
Meu pai ficou furioso e só não me colocou em um colégio militar fora do país porque minha mãe o convenceu a me dar outra chance.
Com isso, fui matriculado no melhor colégio de Santos e meu pai passou a controlar mais ainda as minhas notas.
Quando cheguei, me senti um pouco deslocado. Afinal era o único garoto de dezesseis anos em uma sala de Ensino fundamental.
O primeiro amigo que fiz foi o Gustavo que logo me apresentou ao resto da galera.
Foi aí que eu conheci a Luna. Confesso que a primeira coisa que me chamou a atenção foi seu rosto angelical com aqueles olhos verdes e expressivos. Até pensei em torná-la minha nova conquista, mas quando vi que ela era diferente, desencanei. Não estava afim de me apaixonar.
Começamos a conversar após fazermos juntos um trabalho de Língua portuguesa que salvou o meu bimestre.
Além de gata ela era muito inteligente. Comecei a sentir um frio na barriga cada vez que pensava nela, mas negava esse sentimento a mim mesmo. Não podia me apaixonar por ela. O meu pai do jeito que é, nunca me aceitaria namorando uma garota pobre.
Fiz de tudo pra esquecê-la, até tentei ficar com uma garota da festa da Vick, uma colega da sala, mas fiquei de coração partido quando soube que ela me viu.
Certo dia, cheguei triste ao colégio depois de uma discussão f**a que tive com o meu pai. A Luna me ouviu, me confortou e aconselhou. Foi aí que percebi o quanto estava apaixonado por essa garota. Mas nunca tive coragem de me declarar. O medo de levar um fora, era grande. Então resolvi ficar na minha. Ficamos durante todos esses anos sendo apenas bons amigos.
Há alguns dias decidi que iria me declarar Já se aproximava o fim das aulas e eu tinha planejado tudo,desde a compra das flores até o pedido oficial.
Porém ao chegar em casa, meu pai comunicou que após a formatura, nós nos mudaríamos para Oxford. Segundo ele, a universidade de lá é melhor do que a do Brasil e ele queria retornar ao seu país Natal. Nem preciso dizer o quanto essa notícia me abalou. Eu insisti que meus pais me deixassem ficar, mas além da minha mãe alegar que não conseguiria ficar sem mim, meu pai jogou na minha cara que enquanto eu fosse sustentado por ele, teria que obedece-lo. Tentei falar sobre Luna e ele retrucou dizendo que não criou filho pra namorar garotas de baixo nível.
Resolvi então me calar e não falar com Luna sobre os meus sentimentos mesmo isso partindo o meu coração.
Agora estou aqui sentado em um dos bancos do anfiteatro do colégio.
Hoje é minha formatura e amanhã vou embora para Oxford.
Meu pai não quer que eu passe nem mais um minuto no Brasil.
Na cabeça dele, eu posso desistir da viagem se me aproximar novamente de Luna.Errado ele não está. Se dependesse somente de mim, eu nunca sairia de perto dela mas meu futuro está em jogo.
Olho tudo a minha volta com um filtro de saudade.
Um filme passa pela minha cabeça e eu relembro todos os anos que estudei aqui.
A cerimônia de formatura será no anfiteatro e em seguida iremos para o baile no salão principal. Eu sei que não deveria nem pisar nesse baile, mas quero passar um último momento com meus amigos e com a Luna.
Vejo Alexia chegar com seus pais e irmão. Gustavo se aproxima da namorada e o casal se cumprimenta com um selinho. Me faz bem ver meu amigo feliz. Olho em volta e vejo todos os meus amigos com suas respectivas famílias. Só eu estou sozinho. Bella não pôde vir devido as suas provas finais e meus pais, viajaram ontem para organizar a nossa mansão de Oxford.
Já me acostumei com a ausência deles em datas importantes. Sempre quem comparecia aos meus eventos escolares eram as inúmeras babás e funcionários que passaram pela minha vida e agora com 19 anos, tenho que me acostumar com a solidão.
Me lembro que preciso me preparar também mas me detenho ao avistar de longe o par de olhos verdes que roubou meu coração.
Luna entra acompanhada dos pais. Ela está incrivelmente linda. Este vestido verde-esmeralda, combinou perfeitamente com a cor de seus olhos.
Infelizmente não sou o único a reparar. Aquele tal de Alex está quase arrancando o vestido dela com os olhos. Certeza que agora com o caminho livre, ele vai querer tentar algo.
Vejo Luna se dirigir ao toalete enquanto seus pais vão para a arquibancada. Resolvo me aproximar:
- Oi - Digo sem graça.
- Oi - Responde séria.
- Você está linda - Digo sorrindo fraco.
- Obrigada - Luna encara o chão e vejo que faz um esforço enorme pra não chorar.
Eu me aproximo e seguro sua delicada mão:
- Está tudo bem? - Pergunto suavemente.
Luna me olha com os olhos marejados.
- Eu ... - Suspira - eu preciso ir ao toalete. - Sai apressada.
Ela está me evitando e isso me deixa frustrado.
Tudo seria tão diferente se eu não fosse tão covarde. Meus olhos se enchem de lágrimas, mas me contenho, pois não posso chorar aqui na frente de todos.
Respiro fundo e sinto uma mão no meu ombro.
-E aí, cara? - Gustavo se aproxima dizendo - Vamos?
Percebo todos os formandos se preparando para a entrada e me junto a eles auxiliado pelo meu amigo.
Luna
Entro apressada no banheiro e após encarar o espelho, começo a chorar desesperadamente.
Por que, meu Deus? Por que tenho que ama-lo tanto? Preciso arrancar esse sentimento do meu coração. Amanhã o Noah vai embora e nunca mais vamos nos ver.
Choro como se minha vida dependesse apenas disso.
Sinto uma mão tocar meu cabelo. Me viro e encontro uma Alexia me olhando com compaixão.
- Amiga... - A loira diz - Eu te vi entrar correndo e fiquei preocupada. É o Noah né? - Assinto e ela me puxa para um abraço - Vem cá.
Nos braços da minha amiga, choro mais e mais. Ela pega meu rosto colocando-me em sua frente e seca minhas lágrimas com as mãos dizendo:
- Você está linda demais pra ficar trancada em um banheiro chorando. Vem, vou procurar a Vick e pedir pra ela retocar sua maquiagem. Você vai voltar para a cerimônia. Faz um esforço,vai. É o nosso momento.
Sem conseguir falar, eu assinto e após Vick me maquiar, ela e Alexia me levam de volta ao anfiteatro.
Chegando lá, encontro meus pais e a família da Alexia apreensivos nos procurando:
- Luna... onde vocês estavam,filha? Só faltam vocês pra cerimônia começar - Meu pai me olha preocupado.
- Ela ficou indisposta com o calor e nós a levamos lá fora um pouco para tomar um ar - Alexia explica lançando um olhar cúmplice para Vick e eu.
- Obrigada, querida... - Minha mãe sorri para as duas que retribuem.
Agradeço aos céus por ter me dado amigas como elas.
Alex se prepara para filmar e fotografar a cerimônia enquanto as meninas e eu, nos juntamos às nossas outras amigas: Janine e Chiara.
Todos se posicionam em seus respectivos lugares.
Olho de relance e vejo Noah me fitando. Ele está tão distraído me olhando que no momento da entrega dos diplomas, não ouve quando chamam: Noah Smith.
O diretor repete seu nome duas vezes até que com um cutucão do nosso colega Rafael, ele volta a si.
Em outra situação, eu estaria rindo,mas não hoje. E o motivo é muito simples: Conforme as horas passam, fica mais próxima a partida dele.