•Prólogo•
Jack Gilinsky
25 de novembro de 2016
3:48pm
Olhei para o espelho, dando um nó na gravata, enquanto Johnson estava sentado na cama, atrás de mim. Eu tentava segurar o choro, por mais que fosse difícil.
Eu rezava para tudo isso ser apenas um pesadelo...
Não podia ser real... Isso não pode ter acontecido de verdade...
...Como eu fui errar tanto assim com ela? Como nós conseguimos errar desse jeito...
Sophia Esperanza... Me lembro como se fosse ontem do primeiro dia em que a conhecemos. Foram há exatos 4 anos atrás. Ela havia se mudado para os Estados Unidos alguns anos antes.
Ela era quieta e um pouco tímida... Não que tenha deixado de ser. Isso era uma das coisas que eu admirava nela. Sophia podía ser tímida em boa parte do tempo, mas quando precisava aumentar o tom de voz e se impor, ela não tinha nenhuma dificuldade. Era uma coisa que vinha naturalmente.
E o sorriso dela... A primeira vez que vi aquele sorriso, me lembro até hoje de que meu coração se acelerou de uma forma totalmente única... Ninguém nunca havia feito eu me sentir daquele jeito novamente, não até hoje...
Não demorou muito para que eu e os meninos fizéssemos amizade com ela. Nós sempre estudamos todos juntos e após um tempo, Sophia estava sempre andando conosco. Arizona sempre foi amiga de todo mundo, incluindo nossa amiga, então logo ela e Soph também começaram uma amizade.
Me lembro que elas estavam sempre juntas em todas as aulas, todos os trabalhos, todas as provas, apresentações... Sempre foi assim. No começo era algo que me deixava um pouco irritado, já que sempre que íamos pedir para ela fazer dupla com um de nós, Arizona já havia chegado na frente.
Sorrio de lado, soltando uma risada nasalada e balançando a cabeça.
Soph costumava dizer que Arizona era um raio de sol para todo mundo... Não que eu negue isso ou discorde, pois era verdade. Mas na minha percepção, Sophia era o verdadeiro raio de sol. Não acho que ela iria se lembrar, mas houve uma época que Arizona estava triste com alguma e não quis nos contar... Soph era a única que conseguia arrancar um sorriso sincero da loira. Sempre que Soph se aproximava de Arizona, ela se enchia de energia e alegria novamente. Isso foi um pouco antes de começarmos o ensino médio... Arizona nunca nos contou o motivo, mas acho que ela comentou uma vez que Soph era quem guardava aquele segredo dela.
Lembro da semana anterior. Quando Sophia estava em minha casa. Nós estávamos deitados no quintal, em cima de um lençol, encarando as estrelas.
"O que você faria se algum dia eu não estivesse mais aqui?", foi a pergunta que ela me fez. A encarei com o cenho franzido e confuso. "Isso nunca vai acontecer... Porque nós vamos estar sempre juntos.", foi minha resposta. Ela desviou o olhar do céu, me encarando, com uma expressão séria. Sua voz repetiu a pergunta.
Fiquei um tempo pensando na resposta. A verdade era que eu não via uma vida sem a Sophia. Me acostumei tanto com tê-la por perto, que mesmo daqui dez anos eu a via em minha vida.
O silêncio ponderou entre nós dois por um bom tempo. Porque eu não tinha resposta para aquela pergunta...
Me lembro de ela ter começado a chorar após alguns minutos. Eu não sabia o motivo naquela hora... Então apenas a abraçei, garantindo que independente de qualquer coisa, nós continuaríamos sendo amigos e que eu a queria em minha vida até o fim dela.
Eu deveria ter analisado melhor a situação... Eu deveria ter pensado um pouco mais, deveria ter enxergado o leque de possibilidades bem a minha frente... Mas tudo aconteceu tão rápido, que eu não pensei que chegaríamos nesse ponto que estamos.
Engulo em seco, encarando meu reflexo no espelho. Solto um suspiro, vendo de relance que Johnson havia abaixado a cabeça. Engulo em seco novamente, pressionando os lábios. Caminho até meu amigo em seguida, me sentando ao seu lado na cama. Ele segurava seu celular nas mãos. Elas estavam pálidas e tremiam um pouco.
- Sabe... - Começo a dizer, sentindo um nó se formar em minha garganta. Ele levanta o olhar, me encarando. Percebo que seus olhos azuis estavam vermelhos e um pouco inchados. - Nós... Nós não precisamos fazer isso agora... Se você não quiser... Nós podemos esperar... - Digo, com a voz um tanto trêmula e ele franze o cenho.
- Não tem o porquê a gente ficar adiando... - Ele responde, com uma voz de choro, desviando o olhar para suas mãos e encarando o celular. - Além do mais... - Percebo ele engolir em seco e faço o mesmo. - Acho que a gente não vai se atrasar por conta disso... - Diz, ainda encarando o aparelho em suas mãos, respirando fundo. - Ela não iria se importar se nos atrasássemos por isso... - Funga, pressionando os lábios e eu engulo em seco. - A gente vai precisar escutar a mensagem em algum momento... - Me encara. Percebo que seus olhos estavam cheios de lágrimas. Forço um sorriso de lado, concordando com a cabeça.
- Tá bem... - Digo, limpando a garganta. Respiro fundo, sentindo meus batimentos cardíacos aumentarem. Intercalo meu olhar entre os olhos do loiro e o aparelho em suas mãos. Após alguns segundos, ele respira fundo, tomando coragem.
Johnson me encara, como se pedisse permissão para tocar a mensagem de voz. Assinto com a cabeça, sentindo meu estômago embrulhar. Não sei se eu estava realmente preparado para o que seja que estivesse naquela mensagem... Mas creio que Johnson se encontrava na mesma situação que eu... Ou talvez até um pouco pior.
- Segura pra mim , por favor. - Diz, jogando o celular em minhas mãos e correndo para o banheiro. Escuto ele vomitar em seguida. Acho que estávamos competindo para ver quem estava pior...
Alguns minutos depois ele sai do banheiro, voltando a se sentar do meu lado.
- Pelo menos não sujou o terno. - Digo, o encarando e sorrindo de lado, tentando quebrar o clima tenso que pairava no ar.
- Por pouco... - Ele responde, com um sorrisinho. Johnson pega o celular de minhas mãos, desbloquendo o mesmo. Ele me encara novamente e eu concordo com a cabeça.
Em seguida, ele clica no correio de voz e abre a última mensagem que havia lá.
- Jack's... Hã... Oi... - Escutei a voz de Sophia e senti um aperto enorme em meu peito. - Bom, eu não sei o que dizer, mas... - Continuamos escutando a mensagem, e em algum momento, nós dois começamos a chorar.