7- Ana Clara

3261 Words
Meu pai não apareceu em casa o dia todo, ele sempre faz questão de vir almoçar em casa com a mamãe mas hoje nem ela foi trabalhar e nem ele veio almoçar em casa, as coisas não podem ficar do jeito que estão, eles precisam se entender de novo e eu preciso fazer alguma coisa para concertar essa situação, eles estão brigados por minha culpa e eu estou me sentindo m*l por isso, não é justo a maneira que o meu pai me trata mas também não é justo eles ficarem brigados por minha causa. Hoje pela manhã minha mãe me levou até a delegacia para prestar queixa formalmente contra Joshua, ainda está me doendo muito me lembrar do que ele me fez pois eu acreditava que o amava, e acreditava que ele também me amava mas tudo não passou de ilusão, ele me iludiu com o seu falso amor e eu me iludiu acreditando em um sentimento que eu criei dentro de mim, apenas pelo desejo de ter um namorado e ter uma vida normal como todas as garotas, mas acabei decepcionado o meu pai fazendo ele e minha mãe brigarem, e ainda fui atacada por aquele cretino mulherengo que tentou abusar de mim. — Filha...? Ana Clara eu estou falando com você querida, você ainda não se arrumou porquê...? Já está quase na hora do jantar e você sabe que teremos visita hoje, seu pai convidou Gabriel para jantar conosco você se lembra? — Me alerta mamãe me tirando dos meus pensamentos, mas ouvir o que ela disse era tudo que eu não queria nesse momento. — Eu não me esqueci mamãe, é por isso que eu ainda não me arrumei, mas não quero descer para o jantar... Papai está muito magoado comigo e eu não quero ter que ver o Gabriel depois de tudo que ele presenciou, estou envergonhada pois ele deve estar pensando horrores de mim... Não quero vê-lo mamãe. — Desabafo pensativa jogada na minha cama ainda vestindo o meu roupão de banho, evitando ter que me arrumar para vê-lo. — Você não tem que se envergonhar de nada filha, você não fez nada de errado meu amor, fizeram com você... Eu defendi tanto aquele garoto para no final ele fazer o que fez? Quem está envergonhada sou eu... O seu pai me acusou na hora da raiva mas no fundo ele tem sim uma certa razão, eu não devia ter acobertando tanto esse namoro de vocês sem conhecer bem aquele garoto, e eu quero que saiba que eu não farei mais isso filha. — Ela segura a minha mão com carinho me encarando atenta. — Nós duas já arrumamos problemas demais com o seu pai, nós duas o amamos muito e não podemos decepcioná-lo ainda mais... Não quero que você perca o respeito do seu pai e nem eu quero perder o respeito do meu marido... Eu sempre lutei por você e sempre vou lutar Ana Clara, mas dessa vez sem mentiras filha, sem esconder nada do seu pai porque não estamos fazendo nada de errado, nós estávamos escondendo dele o que estava acontecendo mas não podemos mais fazer isso... A partir de hoje nada de mentiras, se você precisar se encontrar com alguém ou conversar com alguém, até mesmo se quiser namorar alguém, nós duas vamos sentar e conversar com o seu pai, até ele concordar em pelo menos conhecer o rapaz, acho que agora ele vai aprender que te proibir não é a melhor opção, não queremos que o que aconteceu se repita, então seremos mais cuidadosas e precisamos conhecer muito bem os seus pretendentes antes de vocês se envolverem, está bem? Não podemos confiar às cegas em ninguém que chegue na nossa vida assim de uma hora para outra, e com o Joshua foi exatamente assim, não é? — Diz ela naquele seu tom amoroso que me desarma completamente. — Eu te amo tanto mamãe... Você sempre sabe como lidar comigo, como conversar e me fazer entender as coisas... Você é a melhor mãe do mundo e eu sinto muito por ter te causado problemas com o papai, eu sinto muito mesmo... Me perdoa? — A abraço apertado e ela rapidamente retribui. — Não peça desculpas filha, não foi sua culpa eu e seu pai termos brigado, Christian quando cisma com uma coisa e essa coisa o estressa, já sabemos como ele fica... Dessa vez ele passou sim dos limites pois ele nunca havia gritado comigo daquela maneira, nunca havia me acusado de algo tão grave, mas as coisas vão se resolver não se preocupe, nós só precisamos de um tempo sozinhos para pensar e logo estaremos bem outra vez, ok...? Agora vá se arrumar, precisamos receber aquele belo rapaz que te salvou... Eu reparei como ele olhou pra você lá no hospital, acho que ele ainda tem interesse em você, mas por enquanto é melhor você nem ficar de muita conversa com ele, ou o seu pai pode surtar de novo então precisamos ir com calma para não... — Diz ela empolgada me arrastando para fora da cama me deixando perplexa com as suas insinuações, mas a interrompo. — Meu Deus mamãe você não tem jeito... Nós m*l saímos de uma confusão e você já está pensando em nos meter em outra...? Eu não acho que o Gabriel ainda tenha interesse em mim, ele está na cidade a dias e não me procurou, por anos ele não me deu notícias mas talvez ele tenha me esquecido, assim como eu o esqueci... Eu segui a minha vida e ele com certeza seguiu a dele também, e agora a gente se reencontra naquela situação... Ai mamãe aquilo foi constrangedor. — Comento enquanto entramos no meu closet e ela vai direto nos meus vestidos, escolhendo algo para eu usar no jantar. — Concordo que foi constrangedor para vocês se reencontraram daquela maneira, mas eu sou muito grata ao Gabriel por ter aparecido a tempo de te salvar, foi Deus quem enviou esse rapaz, e eu não estou querendo nos meter em confusão não senhora! Vocês podem se tornar amigos depois de tanto tempo sem se verem e sem se falarem, acho que isso o seu pai não vai impedir, já que ele parece empolgado com a chegada do Gabriel... Vamos com calma e vamos dar tempo ao tempo que tudo vai se resolver conforme tem que ser, está bem? Agora vista isso, você vai ficar linda filha. — Mais uma vez ela diz empolgada me entregando um vestido e se apressa para pegar os sapatos. Respiro fundo não acreditando que as coisas vão se resolver para min, ainda estou muito triste por perder as minhas amigas e ver os meus pais brigados, e ainda vou ter que encarar Gabriel depois de tudo que aconteceu ontem. Na delegacia eu fui informada de que ele seria chamado para testemunhar a meu favor, mais tudo que eu mais queria era sair desse pesadelo e esquecer que tudo aconteceu, mas infelizmente isso não será possível. Depois de me ajudar com a roupa mamãe também me ajuda com a maquiagem, ela viu o quanto eu estava desanimada para esse jantar, mas como sempre ela conseguiu me animar um pouquinho mais, mas logo foi ver a minha irmã que não queria largar as suas tintas por nada nesse mundo. Depois de pronta descemos até a sala mas meu pai ainda não havia chegado, será que ele desistiu do jantar? Será que ele se atrasou e não nos avisou? Bom, a minha pergunta acaba ser respondida com ele entrando em casa com um semblante bastante cansado e abatido, sei que isso se deve ao fato dele ainda estar brigado com a minha mãe. O encaro ainda sem jeito pelo que aconteceu e por ele ainda estar decepcionado comigo, ele olha para todos os lados e para no meio da sala encarando minha mãe de longe, ajeitando a roupa de Wendy. Ele me encara vindo na minha direção e eu me sinto trêmula, nervosa e receosa, com medo de vir mais uma bronca por algo que eu tenha feito e não me lembro, mas ao invés disso ele me abraça me dando um beijo no alto da cabeça. — Oi querida... Está tudo bem? Como vocês passaram o dia...? Sua mãe ainda está zangada comigo não é? — Pergunta se afastando brevemente para me encarar mas encara minha mãe mais uma vez. — Sim papai, está tudo bem... Mas porque você não pergunta pessoalmente a mamãe como foi o dia dela? Vocês precisam conversar, precisam se entender logo porque eu estou me sentindo muito culpada por ver vocês brigados. — Sugiro ainda sem graça e ele me encara atento. — Você errou muito filha, mentiu e me escondeu coisas que não deveria, você me decepcionou bastante mas o único culpado para essa minha situação com a sua mãe, sou eu... Eu não devia ter falado com ela daquela maneira, eu errei mas vou concertar o meu erro, não quero ficar nesse clima chato com a minha esposa. — Ele me encara fixamente mas encara minha mãe que sorrir abertamente para minha irmã. — Papai, você vai se importar se eu não ficar nesse jantar...? Não quero ver o Gabriel depois de ter nos afastado por tanto tempo, além do mas, acho que o senhor não vai me querer perto dele, certo...? Eu posso me isentar desse jantar? — Pergunto receosa e ele me encara atento e até mesmo surpreso. — Você precisa estar nesse jantar filha, afinal eu só o convidei para agradecer por ele ter intercedido por você... Quanto a afastá-lo de você, creio que não será mais preciso fazer isso, certo Ana Clara? Você já entendeu o porque eu faço isso, não é? — Diz em um tom firme me encarando sério e eu abaixo a cabeça respirando fundo. — Sim papai... Eu já entendi. — Afirmo me dando por vencida mesmo não aceitando essa situação. — E então papai? Me colocou em uma universidade nova ou em um convento? Quando eu começo as minhas aulas? Já contratou novos seguranças pra mim? — Pergunto em um tom de sarcasmo já me imaginando vestida de freira mas a sua expressão continua séria e ele esfrega as mãos no rosto. — Na segunda você começa as suas aulas na nova faculdade... The University of Chicago, a mesma faculdade que Gabriel, e você vai ficar no período da noite, assim você não terá tempo para pensar em festinhas fora de hora... Vou me arrumar para o jantar, depois falamos mais sobre isso. — Revela me deixando perplexa com essa novidade. Isso não pode estar acontecendo, vou estudar no mesmo lugar que Gabriel? Meu Deus eu já não me envergonhei o bastante? E agora mais isso? Corro até minha mãe e conto a ela sobre a nova faculdade e ela fica tão surpresa quanto eu em saber que estarei tão perto do Gabriel, eu não queria mais vê-lo depois de tudo aquilo, e agora descubro que vou estudar no mesmo lugar que ele. Saio da sala indo para biblioteca tentando assimilar o que meu pai disse, mas ainda estou apreensiva por ter que ver Gabriel de novo e já está quase na hora dele chegar, o que será que ele está pensando de mim? Será que vamos conseguir sermos amigos? Talvez não porque logo ele termina a faculdade e volta para o Brasil, e com certeza ele tem alguém e não vai querer assunto comigo, mas por mim tudo bem, vai ser melhor assim porque quero evitar mais conflitos com o meu pai. Depois de alguns minutos ali pensativa eu saio da biblioteca decidida a subir de volta para o meu quarto, já que o meu pai está me punindo eu vou colaborar com essa punição e ficar quieta no meu canto, não estou afim de vê ninguém e não vou vê. Volto para sala e vou direto para as escadas, mas quando subo os primeiros degraus ouço alguém me chamar. — Ana Clara? — Ouço sua voz rouca me fazendo paralisar onde estou, não consigo me mover pois estou com receio de encará-lo. — Você está bem? Será que podemos conversar um pouco? — Ouço mais uma vez a sua voz se aproximar ainda me deixando tensa. Me viro lentamente de cabeça baixa ainda evitando encará-lo, mesmo sabendo que não vou conseguir fazer isso por muito mais tempo, então levanto a minha cabeça e ele está ali, na minha frente, tão lindo que me falta o ar. — Gabriel...! Se quer que eu te agradeça mais uma vez por sair em minha defesa, tudo bem... Obrigada, serei eternamente grata a você por... — Digo com a voz trêmula ainda parada aqui no pé da escola, mas ele me interrompe. — Não estou aqui para você me agradecer, aliás, não tem necessidade alguma para você fazer isso... Eu só quero saber como você está, se está bem, como tem passado todos esses anos sem nos falarmos... Eu quero muito conversar com você. — Diz enquanto se aproxima ainda mais e eu não resisto em admirá-lo um pouco mais. — Acho que não temos muito o que conversar... Fomos afastados um do outro, você seguiu a sua vida e eu a minha, você não procurou por mim e esqueceu a minha existência... Eu estou bem não se preocupe, eu sobrevivi todos esses anos sabendo que o primeiro garoto por quem eu me apaixonei, não se importava tanto assim comigo, do contrário você teria tentado falar comigo mas você não o fez, mas tudo bem, vida que segue. — Digo inquieta e me viro para subir as escadas, mas sinto sua mão segurar a minha me fazendo parar. — Então é isso que você pensa de mim...? Você acha mesmo que eu não tentei falar com você em todos esses anos? Acha que eu te esqueci e por isso você resolveu me esquecer também? É isso Clara? — Pergunta em um tom firme me encarando surpreso, e até mesmo chocado, eu não esperava por essa sua reação. — Foi você quem sumiu da minha vida, você não quis mais falar comigo e foi você quem se afastou de mim! Se arriscou contra o seu pai para arrumar um namorado mas não se arriscou para falar comigo! — Rebate irritado mais uma vez me pegando de surpresa com a sua reação. — Você não sabe o que aconteceu para eu não falar mais com você! Você não pode me fazer cobranças e nem me acusar dessa maneira Gabriel...! Naquela época o meu pai surtou quando me pegou falando com você no Skype, ele tomou o meu telefone e quebrou o meu chip o substituindo por um novo, eu tentei conseguir o seu número pedindo a minha mãe para falar com a sua, mas o meu pai a proibiu de me ajudar... Por isso eu não consegui mais falar com você então não diz o que você não sabe...! Eu tentei procurar por você na internet, tentei descobri o seu número mas não achei nada sobre você, parecia até que estava se escondendo para eu não te achar, e foi por isso que eu decidi esquecer você, porque você não procurou por mim como eu procurei por você! — Retruco irritada descendo os dois degraus da escada o encarando séria. — Você não sabe o que está dizendo Ana Clara, eu procurei por você, por alguns poucos meses a minha mãe me dava notícias suas através da sua mãe, e quando eu consegui ligar para falar com você o seu pai me proibiu de ligar novamente... Ele ameaçou mandar você para um internato se eu insistisse em procurar por você, eu não queria que você se prejudicasse por mim culpa e foi por isso que eu deixei você em paz! Foi por isso que eu desisti da garota por quem eu estava apaixonado! Apenas para não te prejudicar! — Revela em um tom tão magoado que doeu em mim, eu devia ter imaginado que meu pai tinha falado com ele. "Espera! Ele disse que estava apaixonado por mim?" — Desistir de você foi um erro, mas descobrir que você enfrentou o seu pai para ficar com outro cara e não comigo, foi uma imensa decepção. — Diz com um pesar na voz me fazendo sentir uma imensa dor martelar no meu peito. — Pelo visto temos muito em comum, principalmente a decepção... Tentaram nos colocar um contra o outro e parece que deu certo, nos afastaram um do outro e cada um seguiu a sua vida... Bom, eu já te agradeci por me salvar, então tenha uma boa noite Gabriel... Com licença! — Tento ao máximo segurar as lágrimas que se formam rapidamente em meus olhos, me viro para subir para o meu quarto mas me deparo com o meu pai descendo as escadas. — Gabriel! Que bom que chegou, o jantar será servido logo mas acho que podemos conversar um pouco antes de irmos para mesa... Venha! Vamos nos sentar um pouco... Você também filha, precisamos conversar um pouco mais sobre a faculdade e como vocês vão estudar praticamente juntos, eu quero esclarecer algumas coisas. — Diz meu pai se aproximando e abraça a minha cintura me guiando de volta para sala e Gabriel o encara surpreso. — Ana Clara vai cursa na The University of Chicago...? Por essa eu não esperava. — Comenta tão perplexo quanto eu, se antes eu pretendia ficar longe dele, agora não vou conseguir nem que eu quisesse muito. Não consigo dizer nada a respeito pois sei que meu pai vai me contradizer, ele está empenhado em me castigar pelas minhas desobediências e ele está conseguindo. Me sento ao seu lado e Gabriel a nossa frente, estou vermelha de vergonha e m*l consigo olhar na sua direção, de repente minha mãe e meus irmãos aparecem na sala se juntando a nós e como sempre ,ela me salva. — Filha eu preciso que me ajude em uma coisa, você pode vir comigo até a cozinha um minuto? — Antes mesmo dela terminar de falar eu já estou de pé concordando. — Sim mamãe vamos! Eu estou mesmo com a garganta seca e preciso beber algo... Com licença. — Vou em direção a minha mãe e seguro a sua mão a arrastando para longe dali. Tenho certeza de que todos perceberam a minha aflição para fugir logo dali, eu não aguentava mais esse clima e minha mãe sempre percebe quando estou pedindo por socorro silenciosamente. Apenas quando saio da sala eu posso respirar aliviada fora da presença de Gabriel, não estou me sentindo bem com essa situação, não estou me sentindo bem em saber que vou ter que cruzar com ele todos os dias na faculdade, depois da breve conversa que tivemos eu fiquei confusa, ele disse que era apaixonado por mim assim como eu disse que era apaixonada por ele. Ainda estou chocada em saber que meu pai o chantageou para que ele se afastasse de mim, e para piorar Gabriel pensa que eu não desafie o meu pai por me afastar dele, ele não sabe o inferno que eu vivi para conseguir notícias dele, sobrou até para minha mãe pois era através dela que eu sabia que Gabriel estava bem, até o meu pai a proibir de falar o nome do Gabriel nessa casa, eles brigaram por isso mas no mesmo dia fizeram as pazes, diferente dessa vez pois eles estão desde ontem brigados e dormindo longe um do outro, isso tem que mudar, as coisas nessa casa precisam voltar ao normal.
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