Capitulo 8
Nick segura meus ombros e olha dentro dos meus olhos. Meu coração palpita
tão forte que m*l posso ouvir sua voz. Tem algo acontecendo comigo. Meus
lábios formigam junto com minhas mãos e minhas pernas.
Aperto minhas mãos. Estão geladas. Agora metade do meu rosto inteiro formiga
e não sei se posso me manter em pé.
-Ei, eu vou garantir que essa foto não seja postada no inside.-Nick diz e ele usa
um tom tão convincente que o formigamento vai sumindo. Ele pega minhas
mãos e elas vão esquentando. A única coisa que não muda, é meu coração.
Continua acelerado.
-Como?-Pergunto. Minha voz sai mais doce que o normal
Vejo suas expressões faciais relaxarem.
-Eu vou dar um jeito, nem que eu tenha que hackear esse perfil.-Ele solta
minhas mãos e sai correndo na direção que Guto seguiu.
Encosto na parede e abraço meu corpo. Passo minutos que parecem horas
pensando no que aconteceria se aquela foto for postada. Vou ser a p*****a do
colégio.
Então me dou conta que estou no banheiro masculino e tenho aula. Saio do
banheiro e uma mulher está limpando a sujeira que as bombas fizeram.
Me sinto culpada. Foi só uma brincadeira, mas o estrago está aí, e sobrou para
ela limpar.
-Quer ajuda?-Pergunto me aproximando dá senhora que está limpando.
Ela me analisa.
-Você não tem aula agora?-Ela pergunta.
-Nenhuma importante.-Falo já pegando um pano e limpando a parede.
Minha mente vagueia somente no inside. Quem dera eu tivesse trazido meu
celular para poder checar.
Então o celular dá senhora faz um barulho de notificação.
Após alguns segundos ela me cutuca.
-Você acabou de aparecer no inside, Júlia.-Ela diz e todo meu corpo treme. Será
possível que todo mundo nessa escola, até os funcionários, seguem o inside?
Apanho o celular e leio. Uma foto minha limpando a parede com a legenda:
"Olha só, a princesa do bonde é humilde, ajudando os mais velhos, estamos de
olho, Júlia."
E só. Nada de foto no banheiro.
Meu coração para duas vezes de emoção. Nick conseguiu.
Devolvo o celular e continuo a limpar.
-Princesa do bonde. Cuidado, o apelido pode pegar.-A senhora diz.
-Não sei porque as pessoas seguem isso, é doentio falar dos outros assim.-
Comento.
-As pessoas gostam do ódio. É natural. Até eu me deixei levar.-Ela diz
balançando o celular e eu dou uma risada. -Já está bom.-Ela diz se referindo a
parede.
Coloco o pano no balde aos seus pés.
-Vou voltar pra aula então.-Falo.
-Sabe, quem sabe você não muda um pouco essa elite, afinal é a primeira vez
que o culpado dá brincadeira vem ajudar a limpar a bagunça.-Ela diz, pega o
balde e sai andando.
Aquele pessoal está perdido há muito tempo. Não tem salvação. A não ser a
Bruna e o Nick. Eles mostraram ser diferentes.
Volto a sala, mas no caminho a professora de inglês me vê enquanto troca os
horários. Ela logo percebe que não fui a diretoria e dessa vez me acompanha
para ter certeza que não vou desviar o caminho.
Levo uma pequena bronca e sou liberada.
Ao entrar na sala, meus olhos caçam Nick. Ele me dá um pequeno sorriso, como
se dissesse que está tudo bem.
Na sala está a professora de geografia. Me sento rápido e logo Bruna vem
cochichar no meu ouvido.
-Outra social na casa do Nick amanhã depois dá aula, geral vai.-Ela diz e se
afasta.
Outra? Minha mãe não vai gostar nada. Sem falar que o intuito dessas sociais é
ficar bêbado e t*****r.
Eu nem contei pra minha mãe a dolorosa situação que perdi minha virgindade.
Ela não vai aceitar fácil isso. Tenho 16 anos e perdi minha virgindade com um
garoto que havia conhecido há uma semana e eu estava um pouco bêbada. Não
é uma boa história. Nem sei onde eu estava com a cabeça, mas não foi a
situação e sim a pessoa. Nick me encantou desde a primeira vez que o vi.
Não me orgulho disso, mas tenho uma necessidade interior de passar um
tempo com Nick que eu faria qualquer coisa.
Após a aula, vamos todos direto pra casa e no caminho vou pensando em como
vou convencer minha mãe a me deixar ir.
Quando passo pelo portão, ela me vê. Pelo menos parece estar de bom humor.
-Chegou cedo.-Ela comenta.
-Vim direto pra casa.-Falo e vou direto pro meu quarto.
Tomo um banho rápido e fico no celular até ela me chamar pra jantar. Meu pai,
além de cirurgião, também trabalha no hospital público dá cidade como
pediatra. Ele se especializou nas duas áreas e tenta dividir seu tempo na sua
clínica e no hospital. Não é à toa que ele tem mais de 40 anos, pois isso não é
rápido. Hoje ele está de plantão no hospital, então seremos apenas eu, minha e
a Duda.
Na cozinha, Duda está brincando com os enlatados fingindo que são pessoas ou
algo assim. Minha mãe está lavando a louça.
Tínhamos uma empregada, mas quando minha mãe largou o emprego, a
empregada não aguentou trabalhar aqui com minha mãe em casa e se demitiu.
Desde então tem sido uma luta para conseguir empregada e como minha mãe
não faz nada, resolveu fazer o trabalho doméstico ela mesma. Menos lavar
minha roupa, isso se eu não fizer, fico se roupa.
-Fiz uma sopa.-Minha mãe diz.
Alguém deveria dizer a minha mãe que sopa não é janta. No máximo um
aperitivo antes dá janta de verdade.
-Ta certo...Ahn, mãe?-Vou aproveitar que ela está de bom humor.
-Diga.
Respiro fundo.
-É que amanhã todos meus amigos vão pra casa daquele meu amigo, pra se
divertir depois dá aula e eu queria ir.-Falo meio sem jeito.
-De novo? Eu tenho que conhecer esses seus amigos que você tanto fala.
-Então, posso ir?
Ela se vira para mim. Seu cabelo marrom está preso em um r**o de cavalo. Ela
já está vestida numa camisola rosa pronta pra ir dormir, nós pés um chinelo
grosso que custou mais que minha mochila dá Louis Vuitton.
Mas seus olhos, me examinam como se lembrasse de algo. Talvez dela na minha
idade. Ela parece compreensiva. Talvez ela até deixe.
-Não.-Curta e grossa. Então volta a lavar a louça.
-Mae, por favor! -Imploro quase desesperadamente.
-Dia de aula não é dia de chegar 4 dá manhã em casa.-Ela diz.
-Eu volto cedo! Não tem problema! Por favor, papai não deixaria, só você.-Apelo
para seu lado competitivo. Ela tem uma séria rixa com meu pai sobre as
permissões que eles me dão.
Ela me encara.
-Esteja em casa às nove.
Já é alguma coisa.
•••••••••••
-Nove? Mas é muito cedo!-Bruna diz após eu contar dá hora do meu toque de
recolher.
-Foi o que eu consegui.-Digo.
Ela suspira.
-Bom, então temos que começar cedo.-Ela diz abrindo a mochila. Dentro está
uma garrafa que parece ser de vodca.
A aula a acabou de terminar e estamos no banheiro da quadra para trocarmos
de roupa. Demos um sumiço no resto das meninas para eu poder contar isso a
ela e agora estamos aqui sozinhas.
-Não é nem seis horas.-Digo.
Ela tira a garrafa e abre.
-Ou seja, temos um pouco mais de 3 horas pra aproveitar.-Bruna toma um gole
e faz uma tremenda careta.
Ela oferece a garrafa pra mim e eu pego.
Tomo um gole e devolvo a garrafa a ela.
-Como comprou isso?-Bruna é de menor ainda. Ela só faz 18 daqui alguns
meses.
-Digamos que eu não sou a única alcoólatra lá de casa. Guto mesmo bebe todo
dia praticamente.-Ela explica.
-Sinceramente, até eu to virando uma alcoólatra andando com vocês.
Nós rimos juntas.
Bruna encosta na pia do banheiro e suspira.
-O que vou fazer sem você quando for embora?-Ela pergunta dando mais um
gole e passando a garrafa pra mim.
Encosto no seu lado.
-Isso acontecia antes de eu chegar. Faz o que você sempre fazia.
Ela olha pra baixo. Dá outro suspiro e encosta a cabeça no meu ombro. Ela tem
que se inclinar já que é mais alta que eu.
-Aí é que tá. Aquelas garotas, eu pensava que eram minhas amigas, mas você
chegou e me mostrou o que é amizade, sabe. Tenho medo de voltar a andar
com elas e voltar a ser como antes. Por incrível que pareça, nossa amizade me
mudou.-Ela faz uma pausa e dá uma risada.-Eu era explosiva. Já me meti em
tantas brigas que perdi a conta. Você lida com as coisas sem violência, calada e
dá o troco na surdina. O que tá fazendo com o Lucas...Eu já teria reunido um
bando de maconheiro forte pra me ajudar a acabar com ele.
É meio triste. Se formos olhar pra esse lado, eu nem tinha amigos. Na minha
antiga escola, tinha apenas três amigos e desde que fui expulsa, eles nunca me
mandaram uma mensagem me perguntando como estou.
-Eu tô aqui, Bruna. Sempre estarei pra você. Nossa amizade vai ser pra sempre.-
Falo e tomo um gole.
Ouvimos um barulho no lado de fora. Parece que a turma dá educação física
chegou.
Eu já fui há duas aulas no máximo, não gosto muito de exercícios.
-Melhor a gente ir.-Bruna diz guardando a garrafa na mochila.-Obrigada.
Sorrio pra ela e saímos juntas. Leva um tempo pra reunir todo mundo pois as
outras meninas foram se arrumar no banheiro. Assim que estamos juntos,
vamos andando até a casa de Nick.
Os meninos vão na frente e Edson e Lucas desviam para comprar bebidas e
algum lanche. Bruna me disse que Lucas já tem 18 anos completos.
Enquanto converso com Bruna, não consigo tirar os olhos de Nick. Noto que a
garota de longos cílios, Sabrina, não para de me olhar.
-Quem é ela?-Cochicho a Bruna.
Ela segue meu olhar e estreita os olhos.
-A Sabrina. Ela deve tá com ciúmes. Tem uma quedinha pelo Nick desde o
primeiro ano, eles ficaram uma vez, mas aí o Edson começou a gostar dela e o
Nick parou de falar com ela.
Então apesar dos apesares, esses garotos valorizam uma amizade.
Chegamos à casa de Nick. Está vazia. Me pergunto onde o prefeito da cidade
está.
Quando entramos na sala de jogos, Nick cochicha no meu ouvido.
-Se quiser já pode indo pro meu quarto.-E sai.
Confesso que não gostei desse comentário. Quero dizer, eu não estou
esperando declarações ou algo do tipo, nos conhecemos há pouco tempo, mas
algo mais delicado seria bom.
-O Nick me...
-Sério mesmo? Vai me deixar sozinha?-Eu havia começado a falar com Bruna e
ela sacou tudo e me interrompeu.-Vai sumir com o Nick e eu vou ficar com as
cobras?
Dou uma risada.
Gosto quando as pessoas demostraram que gostam de mim.
-Eu volto logo, prometo. Vai terminando aquela garrafa por mim.-Digo a ela e
ela me libera.
Vou até o matadouro e passo pela porta. Entro no quarto de Nick e deito na
cama esperando ele.
Ele demora. Já deve ser quase oito horas. Então nem percebo quando caio no
sono.
Acordo com uma mão no meu braço. Desperto rapidamente e me acalmo
quando vejo que é apenas Nick.
-Você demorou. Que horas são?-Pergunto.
Ele olha no relógio.
-Quase nove. Desculpa, culpa dos meninos.-Ele diz mas já estou fora dá cama
em um pulo.
-Meu Deus, eu tenho que ir.-Falo um pouco alto demais.
Nick fica sem entender.
-Ta cedo ainda.
-Foi m*l, prometi pra minha mãe que chegaria às nove.-Dou um beijo no seu
rosto e saio apressada, mas Nick segura meu braço.
-Por que não me avisou? Que d***a.
-Opa, calma esquentadinho, fica pra próxima.-Me dá uma pena de ver ele assim,
mas simplesmente não posso ficar mais.
-Foi m*l, vou pedir pro Guto te levar, meu pai deixou o carro.-Ele diz.
-Guto não é muito novo?
-Ele pega sempre o carro do meu pai, não esquenta. Se quiser vou com vocês.-
Ele pega na minha mão e saímos juntos.
E então tenho a plena visão de Bruna completamente bêbada. Ela me vê e vem
correndo.
-Vou falar com o Guto.-Nick sussurra e vai até Guto, que está jogando vídeo
game e virando uma garrafa na boca ao mesmo tempo.
-Julia! Você disse que ia ser rápido! Você mentiu! É a pior amiga desse mundo e
dos outros mundos.-Bruna diz com a voz relaxada.
Não consigo evitar sorrir.
-Acho bom você parar de beber. Eu já vou, Guto vai me deixar.
Ela arregala os olhos.
-Como assim? Não, eu vou com você.-Ela entrelaça o braço no meu e sai me
puxando pra fora.
Não tenho tempo nem de protestar e já estou na rua de Nick.
Bruna reclama várias vezes dá demora até que Nick aparece.
-Guto tá tirando o carro.-Ele avisa.
-Cala a boca, você roubou minha amiga, você e ela, são pessoas horríveis! Pior
amiga do mundo!
-Bruna pelo amor de Deus, os vizinhos vão ouvir!-Nick diz furioso.
-Bruna, para de gritar.-Digo calmamente.
-Dane-se vocês. Júlia, você é uma amiga r**m!-Ela diz e sai andando no meio dá
rua.
Olho pra minha esquerda. Um carro vem vindo na direção de Bruna. Não penso,
só ajo.
Saio correndo pra empurra-la é até toco nela, mas caímos as duas no chão e o
carro para bruscamente. Guto sai do carro assustado e vê nós duas no chão. Ele
começa a rir.
Me levanto e Bruna também. Meu joelho está ralado mas Bruna parece estar
sem nenhum arranhão. Ela olha pra mim pasma.
-Você ia me salvar.-Ela reflete. -Você não é uma amiga r**m! Aí meu Deus!
Entramos no carro e o caminho todo Bruna se desculpa e chora por eu ser uma
boa amiga. Não vou negar que gostei. Eu gosto quando as pessoas
demonstram. Gosto quando insistem.
Chego em casa, me despeço do pessoal e vou tomar um banho. Olho o inside e
vejo que mais uma vez citaram meu nome.
"Um novo ano, uma nova enquete. Quem é garota mais bonita do EM (ensino
médio)?
Lola 35%
Júlia 28%
Nanda 12%
Sabrina 10%
Amanda 8%
Yasmin 7%"
Me surpreendo por estar em segundo lugar.