Capitulo 2 - Mudanças

2535 Words
Hoje completa seis meses que estou aqui e o cheiro não sumia, já me acostumei com ele, quando ficava forte sabia que alguém ia morrer e não podia fazer nada. A Psicóloga de lá, Ana Paula, tinha consulta com ela todo dia às quatro da tarde, uma vez falei sobre esse tal cheiro, os pressentimentos e os sonhos e ela disse que era só coisa da minha cabeça e perguntou se escutava e via pessoas que mais ninguém via, eu simplesmente levantei a voz e disse que não era nenhuma louca. Ela pediu para me acalmar e pediu desculpas e a consulta acabou por ali. Neste mesmo dia no jantar eu sentei do lado de um homem com cara de vinte cinco anos, acho que o nome dele era Felipe, sofria de esquizofrenia, ele é super legal, mas o cheiro estava fortíssimo, me incomodou e nem consegui terminar de jantar e fui para o quarto e não sai mais de lá. Quando adormeci, tive outra previsão, olhei para o relógio que fica em cima da porta do meu quarto e eram três da manhã, vi Felipe se matando enforcado, falando que estava cansado os caras de preto os pressionando a falar umas senhas, que ele não sabia disso. Eu senti o enforcamento e acordei sem ar e, suando frio, logo percebi um tumulto no corredor, era três e dez da manhã, levantei e fui olhar e vi duas pessoas levando uma maca com um pano branco em cima de um corpo e logo percebi que meu sonho tinha virado mais uma vez realidade, A partir deste dia chamei esse cheiro em Cheiro da morte. Em maio de 2014, já estava melhor da minha depressão havia sido controlada, tive alta do hospital, consegui me conformar que tinha chegado a hora dele e não tinha como ser evitado, como todos os outros que morreram aqui, nunca consegui salvar. Desde então eu comecei a mudar, não gostava mais de coisas coloridas, muito menos rosa que era minha cor favorita, queria só cores escuras, minha cama não tinha mais bichinhos de pelúcia, doei todos, sinto que não sou a mesma de antes. Continuei a dançar e tocar piano e no hospital descobri meu gosto por desenho, então continuei praticando. … Amanhã eu vou completar quinze anos, não sentia cheiro da morte só sentimentos bons, a primeira vez, desde que comecei a sentir isso, minha mãe quis fazer uma festa simples, para me divertir e que me apresentasse uma coreografia que estava montando, e aceitei. Já estava bem. A festa foi um sucesso depois da minha dança, todos amaram e ficaram muito felizes por mim. Me diverti tanto, que nem parecia tudo que tinha passado. Na hora dos parabéns, quando soprei a vela, quando deu meia noite, tudo parou e tinha uma pessoa esquisita, não parecia humano, usava uma roupa cinza, cabelo espetado e tinha uma asa estranha, logo me assustei, mas não conseguia me mexer até ele ficar apavorado e falar: -Calma, não vou te machucar, você não pode se mover quando eu paro o tempo com várias pessoas olhando assim. A voz dele era calma e sexy, não combinava nada com seu jeito: -Isso é um sonho? Estou louca? O que está acontecendo? - Não é um sonho, não é loucura, sou seu guardião, como pode ter reparado você sabe quando alguém vai morrer e como isso vai acontecer isso é um dom que você recebeu, o último que teve falava que era uma maldição. Quando ele morreu, com seus cinquenta anos, esse dom passou para você. -Foi a primeira vez que senti isso? -Sim foi. Eu só pude aparecer quando completasse quinze anos, ele morreu antes do esperado. A primeira vez que sentiu a morte eu já estava com você, a protegendo de qualquer coisa, e os pensamentos de se m***r, Eu fiz diminuir as previsões que tinha foi muito difícil. -Mas porque eu? - Não sei. Nunca sabemos. Tem algumas regras que tem que saber. A primeira é que quando eu paro o tempo você não envelhece, só posso parar quando eu quero, mesmo você pedindo. Bom eu sou o seu guardião, um anjo da guarda, e nada de r**m, relacionado com sua morte, vai acontecer com você. Ao menos que seja sua hora de partir. -Só tem isso? Seu nome pode me falar? -Não tem só isso, você pode falar comigo no seu pensamento e eu posso te responder, você vai receber alguns presentes, acho que já tem um em cima de sua cama. Aliás, eu nome de Charlie. Tenho uns dois milênios, cheguei à minha adolescência, têm outros guardiães como eu, mas fazem só papel de anjo da guarda, você só pode me ver. Não pode comentar sobre seu dom com as pessoas, tipo prever a morte de alguém com segundas intenções, o último que fez isso foi banido, e morreu lá. Nunca queira ir para lá é insuportável lá. - Aonde é ? -Digamos que é tipo um purgatório, limbo, chamamos o mundo dos banidos. Mas na verdade é mais uma prisão, onde não é nem no meu mundo e nem no seu. Mas conversamos sobre isso depois, tem mais coisa que precisa saber. Quando menos percebi as pessoas voltaram ao normal e Charlie estava encostado na parede me olhando. Depois de cortar o bolo logo corri para meu quarto e vi uma caixa em cima da minha cama e ele disse: -Feliz aniversário! Eu abri a caixa tinha uma carteira preta um pouco pequena, no começo achei estranho até ele falar de novo: - Bom a carteira sabe ela é um pouco mágica, você vai ter dinheiro nela quando sempre precisar, não funciona "a eu quero cem reais para comprar uma roupa" só quando realmente precisar, e você não pode roubar, fazer nenhum m*l, sabe ser fria, grossa e brigar com alguém não conta. -Filha sua festa não é aqui, vamos voltar para o salão de festa? que presente são esses? -Já vou mãe. Ganhei de um amigo. No meu pensamento eu disse obrigado para ele. Voltei para a festa, meio confusa se era realmente verdade, todos os convidados foram embora quase quatro da manhã, quando dormi parecia que tinha apagado um século, fui acordada com minha mãe me mexendo para saber se estava viva: -Acorda! Está bem? Meio sonolenta eu respondi: -Estou, que horas são? - Três dá tarde. - Não dormi muito. - Faz quatro dias que você está dormindo. Acordei assustada e falei: - Foi tudo um sonho? Todos estão vivos? Minha mãe confusa, uma voz masculina respondeu antes dela: -Não foi um sonho. Tudo aconteceu. Olhei para o lado e vi Charlie e perguntei: - Por que dormi tanto? - Não sei o certo, mais acho que você estava cansada daqui para frente pode ficar assim, cada vez que salva alguém da vida e da morte. - Mas não salvei ninguém. - Sim salvou. Sua festa quando parou uma amiga de sua mãe. Ela poderia ter morrido. Eu logo me espantei e escutei uma voz lá no fundo, era de minha mãe perguntando se estava com fome, não conseguia fala e só balancei a cabeça, ela me deu um beijo na testa e saiu: - Você tem que ser treinada. Hoje vamos ao hospital, vou te ensinar a dominar suas habilidades, em duas semanas vai estar dominado, fique sabendo que não tem liga e desliga, vai controlar os sonhos e se que pessoa tem chance de viver, coisas assim. - Vou tomar banho. Vê se fica ai. - disse me levantando e indo para o banheiro. Ele me seguiu até a porta do banheiro e me esperou do lado de fora, demorei um pouco para me arrumar e quando percebi estava com um vestido meio curto preto, meio dark, nunca vira esse vestido antes e nem me lembrava que tinha buscado uma roupa preta. Quando sai fui para cozinha e ele me esperava lá com uma lata de refrigerante: - Demorou muito. Gostei do vestido!- Charlie estava sentado na cama. - Me sinto estranha e gostei de me vestir assim. Sinto-me forte. - Roupas escuras fazem isso com você. Só vai mudar sua força e agilidade. Indo para a cozinha minha mãe tinha preparado algo para eu comer: -Filha está aqui sua comida. Me sentei e comi e conversei com Charlie pelo meu pensamento, perguntei como tomava refrigerante de um mortal, ele me respondeu que gosta muito de comer e ninguém via a lata ou comida flutuando só quando soltar, vai estar vazia. Quando terminei falei que iria sair para um shopping, era a primeira vez que mentia para ela, coloquei um salto fino preto e peguei minha mochila azul de couro, dentro estava a capa e a carteira que tivera ganhado. No caminho até o hospital eu e ele conversamos muito aprendi algumas coisas que podia fazer, as habilidades dele, também disse que os objetos que ganhará vão aparecer em qualquer bolsa, mochila minha que usar, se alguém descobrir o que eu faço e porque ele pode apagar a memória deles, no começo me espantei mais comecei achar divertido. Chegando lá, o cheiro que sentia estava h******l, fiquei enjoada e corri para algum banheiro para vomitar. Charlie disse que era um pouco normal, pois muitas pessoas iam morrer ali e outras estavam na vida e na morte, descobri então que hospitais e cemitério eram os piores lugares, sabia que nada Tiraria aquele cheiro ou diminuir, respirei fundo e saí do banheiro. Primeiro fui na ala onde os pessoas precisavam de transplantes diversos, coração, fígado, rim, pulmão, tinham muitas pessoas que precisavam, achei um absurdo tinham pessoas esperando algum órgão a mais de seis meses, poderia ter o que ele precisava faltava cirurgião para isso, e essas pessoas tinham mais forte o cheiro da morte: - Pare, olhe no olho dele e se concentre e veja como é que dia vai morrer. - disse Charlie cruzando os braços. Fiz o que ele pediu, quando me concentrei, vi ele morrendo de parada cardíaca fulminante e faltava cinco minutos, sabia que não dava para salva-lo. Eu só falei adeus para ele, no começo não me entendeu, até que começou a sentir que seu coração ia parar, ele me olhou espantado e perguntou quem eu era, simplesmente virei as costas e sai. Fiquei lá o dia todo, depois fui ao shopping comprar roupas escuras e sombrias para mim. Os dias iam se passando e mudei completamente, estava fria, só usava roupas escuras, mais preto e vermelho sangue, parecia que ninguém perceberá meu jeito, Charlie falou que isso não iam reparar, acham que fiquei assim por causa do meu padrinho falecido. Minhas habilidades ficaram melhores que antes, não me importava mais com o cheiro, conseguia controlar meus sonhos, na escola continuava falando com minhas amigas, tirava notas boas, quase tudo voltou ao normal. Charlie e eu éramos ótimos amigos, minha vida tinha voltado ao normal, não ficava mais triste, a morte não era Algo que me dava mais medo, sabia lidar com isso. No último dia de aula, fora já da escola vi uma menina que nunca tinha visto antes, senti o cheiro da morte, que não estava forte como de costume, era a primeira vez que senti ele mais fraco tão perto de alguém que ia morrer, tive uma visão acordada dela tendo overdose, porém se ela parasse ia sobreviver, cheguei perto dela e a chamei: -O que você quer garotinha mimada? Não está vendo que estou com meus amigos? - Disse virando para mim. O rosto dela tinha sardos, olhos meio caídos, dentes amarelos, mais alta que eu, super magra, estava com uma blusa e calça rasgada: - Preciso falar com você, sozinha. - Se quer falar comigo, pode falar, não vou sair daqui. Olhei para Charlie e virei as costas e sai, não valia apena eu salvar ela. Mais pelo jeito ela não gostou o que eu fiz, tentou puxar meu cabelo, mas virei antes, me defendi e a empurrei no chão e disse com uma voz fria: - Está entre a vida e a morte, se quer viver mude seu jeito, você é estúpida fica se drogando para se divertir? Vai morrer de overdose, sou quatro meses mais nova que você, fica na sua. A não vai conseguir me atingir então nem tente. Ela me olhou assustada e falou com tom de arrogância: - Como sabe de tudo isso? Andou me vigiando? É isso está apaixonada por mim, só que eu gosto de homens, você não tem do que eu gosto, não vou parar de fazer o que eu gosto, não vou morrer de overdose. O cheiro dela mudou para morte e ia morrer as nove e quarenta da noite desse mesmo dia, dei um sorriso irônico de felicidade virei levantei a mão e disse: - Aproveite suas últimas horas, não tem como voltar atrás, vai para seus homens e se divirta. Os amigos dela me olharam espantados e foram até ela. Cheguei em casa um pouco cansada, almocei e fui dormir. Acordei a noite sufocada eu senti como era ter uma overdose, não é nada legal, uma sensação h******l, prefiro o cheiro da morte a isso. Charlie estava deitado no chão com braços e pernas cruzadas: - Viu como aquela menina morreu? - Eu senti isso sim. - Deve ter entrado no corpo dela, temos que controlar isso. Isso acontece quando você vê como a pessoa vai morrer ou quando está morrendo. - Vou me acostumar com isso? - Talvez, vou te ensinar a não acontecer isso. Primeiro não fique pensando muito na pessoa. Segundo muito menos na morte dela. - Depois? - É só isso. Ri um pouco e voltei a dormir. Passou alguns dias, treinei bastante já estava boa nesse lance. ... Já era natal, como esse ano passou rápido, eu ia mudar de escola, minhas amigas iam continuar no Le Blanc. Após a ceia de natal era hora de abrir os presentes, ganhei uns livros, várias mochilas, todas dos doramas que eu gosto, um tênis alado lindo preto, algumas roupas com cores escuras e um IPhone 5S. Sabe acho que foi a primeira vez que ganhei tantos presentes. Será por que motivo? Perguntei para Charlie e ele disse por que ficaram com medo da minha reação com a mudança de escola. Realmente não tinha gostado, mas sei que é para melhorar meu futuro, afinal estava indo para a melhor escola do Brasil. No dia seguinte minha mãe teve que viajar para Paris por causa de sua nova coleção. Ia voltar em fevereiro, meu pai tinha que viajar para Miami para uma reunião de um projeto. Ia voltar em Janeiro. Eu ia ficar um mês sozinha em casa. Nunca fiquei tanto tempo sozinha em casa, não tinha ninguém para ficar comigo. No começo não me importei. No ano novo fiquei em casa sozinha naquele apartamento grande, como controlava meus sonhos e não sai de casa desde quando meus pais viajaram então o cheiro da morte não estava presente. Percebi que não contava mais tudo para minha mãe virei uma caixinha de mistérios, não era a mesma Alice de antes. Charlie me trazia comida, ficávamos conversando, se tivesse sem ele, não sei o que faria.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD