Pedido de desculpas

3558 Words
Na escuridão do seu quarto, Milles estava sentado em sua cama encostado na parede encarando a janela. Mais precisamente o próprio reflexo. Fazia um bom tempo que observava aquele sujeito tão estranho que parecia consigo mesmo. Reconhecia o corte de cabelo, a cor dos olhos e demais traços em seu rosto, porém o que transparecia era inédito. O tom acastanhado tinha um fio avermelhado que brilhava. Todo o seu rosto estava tensionado, como se tentasse arduamente conter algo. Milles sabia muito bem do que se tratava aquilo. Estava ardendo de desejo. Deveria ser algo rotineiro, já que os seus desejos passaram a lhe acompanhar desde o dia em que seu capitão o beijara. Porém, os eventos dos últimos dias trouxeram uma nova perspectiva sobre o que sentia. Milles se dava conta ser incapaz de resistir a Nicolas. O seu capitão era uma droga viciante, que precisava cada vez mais. Precisava tocá-lo. Senti-lo. Cheirá-lo. Ter por perto. Sempre no seu campo de visão. Ficar longe era enlouquecedor, mas ficar por perto era sua ruína. Aquele baixinho miserável sabia muito bem como provocá-lo, e o beijo que trocaram na enfermaria provava aquilo. Nicolas sabia seduzi-lo, deixar aquele alfa na sua mercê. E ainda fizera questão de provar para Milles que o tinha na palma de sua mão. Maldito ômega! Bagunçando os cabelos úmidos, Milles batia a cabeça na parede repetidas vezes. Agora que sabia o segredo de Nicolas, tornara-se impossível não se sentir atraído. Seu corpo tinha um ardente desejo de dominá-lo, principalmente quando se recordava do corpo frágil de Nicolas. Queria tocá-lo. Sentir o seu cheiro doce emanar de sua pele. Queria vê-lo fazer aquela carinha mais uma vez. Quando o beijara no ginásio, encontrando os olhos úmidos e cerrados transparecendo o quanto aquele alfa mexia consigo. Um sorriso surgia nos lábios daquele alfa. Ele também tinha algum controle sobre aquele ômega. O seu beijo teria sido bom o suficiente para deixar Nicolas naquele estado. Os dois eram, de fato, inimigos formidáveis um para o outro. A porta do quarto fora repentinamente aberta, tendo a luz do corredor iluminando aquele alfa corpulento. Milles espreitava os olhos incomodado com a repentina aparição da luz, percebendo que sua irmã o fitava irritadiça. — Qual é, sabe bater não? — Por que toda vez que entro no seu quarto você tá com esse cheiro horrível? — Estava prestes a b*******a e você quebrou o clima. — Suspirava o rapaz, inclinando-se para acender a luz do seu quarto. — O que rolou? — Você viu aquilo? No Orkut? — Não. O que tem? Sadie pisara forte até a cama do irmão, se sentando ao seu lado piscando os olhos amendoados. As sobrancelhas cerradas e os punhos acirrados eram claros sinais de sua raiva. Estava incomodada, isso era óbvio, porém Milles não tinha o menor interesse em saber o porquê. O que não poderia dizer o mesmo de sua irmã. — Alguém teve a coragem de publicar uma história na comunidade da escola. Uma história gay. — Respondia a garota irritada, ganhando a atenção de seu irmão. — Sobre o Gabi e... Aquele maldito... Arqueando a sobrancelha, Milles levantou-se da cama indo até à mesa de estudos onde estava seu computador. Por mais que desejasse despachá-la do seu quarto e retornar aos seus pensamentos libidinosos, conhecia Sadie o suficiente para saber que ela faria birra até que todas as suas queixas fossem ouvidas. Era melhor acabar com aquilo o mais rápido o possível, então. Deixando o computador ligar, sentou-se na cadeira ficando de frente para sua irmã. Era tão óbvio que ela gostava de Gabriel, que somente os mais idiotas iriam acreditar nela quando dizia o contrário. Geralmente sua irmã não perdia tempo em conquistar os rapazes das quais gostava, conseguindo namorá-los quanto antes. No entanto, com Gabriel ela estava sendo cautelosa. Fingia desinteresse parecendo esperar que ele viesse atrás dela. Certamente aquilo não acontecia, pois, Milles sabia muito bem a quem a atenção de Gabriel era direcionada. — Uma história? Não é apenas uma fofoca? — É uma história. — Então por que está pilhada com uma bobagem dessas? Sadie bufava e abraçava as próprias pernas, se recusando a encarar o irmão mais velho. — Gabriel é muito gentil com as pessoas, isso não o torna alguém facilmente influenciável? Eu sei que ele quer ser amigo de todos, mas aquele maldito do Theodore é um ômega... E se ele acabar seduzindo o Gabi para passar o cio com ele? Gentil? O Gabriel? Milles soltara um riso nasalado e incrédulo. Foram quantas vezes que o seu amigo lhe direcionou aquele olhar que arrepiava a alma? Duas? Talvez houvessem mais vezes. Era só mexer com Theodore, ameaçar tocá-lo ou até mesmo beijá-lo que Gabriel lançava aquele olhar. Poderia ser um assassino se desejasse. Era incrível que Sadie usasse gentileza para definir Gabriel. Gentil ele não era. E se Sadie comprasse briga com Theodore... Bem, ela enxergaria o demônio que se esconde atrás daquela máscara. Seria melhor poupá-la. — Isso não seria um problema seu, Sadie. — Reclamava o mais alto, cruzando os braços ao se recostar na cadeira. — Gabriel tem o direito de decidir com quem fica. — Sabemos muito bem o tipo de pessoa que é Theodore. Ele fez aquilo com nosso primo, não seria certo a gente evitar que aconteça algo parecido? Milles suspirava mais uma vez. — Você já o alertou, e eu também fiz isso, mas Gabriel insiste em ser amigo de Theodore. Então não há nada que possamos fazer. — Seria mais fácil se aquele estrume já tivesse algum parceiro. — Resmungava Sadie sem dar ouvidos ao seu irmão. Então, repentinamente, ela olhara para Milles com os olhos brilhando. — Ele deveria ficar com aquele beta maldito, não acha? — Beta maldito? — É, aquele capitão sarnento. O corpo de Milles enrijecera no mesmo instante. Parecia incrédulo que aquelas palavras saíssem da boca de Sadie, apesar de ele saber da sua inocência. Ora, sua irmã não sabia que Nicolas era um ômega, muito menos que seu irmão mais velho estava tendo uma disputa sedutora com seu capitão. Mesmo sabendo que não era culpa de sua irmã, Milles se enfurecera. Pois, a imagem de Theodore do lado de Nicolas era, no mínimo, repugnante. — Eles estão sempre próximos, então deveriam ter algum tipo de relacionamento, não acha irmão? Eu deveria mexer alguns pauzinhos para unir aqueles dois? Os dedos apertavam em punho, chegando a tremer de raiva. Milles não piscava para a sua irmã, suas pupilas se dilatavam em puro ciúme da própria imaginação. Como ela ousaria se meter na sua disputa? Ainda mais para unir Nicolas com Theodore? Ela nem fazia ideia de que os dois eram incompatíveis por serem ômegas. Nicolas teria de ficar com um alfa. Um alfa. Alguém que conseguisse tirar aquela máscara m*l-humorada e enxergar sua fragilidade. Um alfa como ele. Não poderia ser qualquer pessoa. De maneira alguma. Pois, o que havia escondido naquele mau-humor e palavras ásperas, somente uma pessoa poderia enxergar. Nicolas teria que ser desmascarado por Milles. O cheiro do alfa exalava mais uma vez. A sua presença se tornara ameaçadora mediante a raiva crescente. Pela terceira vez Sadie notava que seu irmão mais velho mudava de postura repentinamente. Sem nunca compreender abertamente o motivo. — O que foi? Está passando m*l? — Não fode, Sadie. — Murmurava Milles entredentes, contendo a súbita fúria que seus instintos sentiam. — Nem pense em fazer alguma merda com o capitão. — Ah, é... Vocês estão focados nas eliminatórias. — Suspirava a garota, sem perceber as entrelinhas de seu irmão. — Mas se algo acontecesse com aquele baixinho seria bom pra você, porque aí se tornaria o capitão... Milles ficara em silêncio por alguns instantes, sob os olhos curiosos de sua irmã caçula. Queria gritar, repreendê-la por ousar juntar aquele capitão com outra pessoa. Mas sua consciência berrava questionando o motivo de tamanha fúria? Seria por considerá-lo sua alma gêmea? Ou por querer uma disputa limpa sobre quem iria cair sobre o outro? Milles não conseguia compreender a si mesmo. Precisava se conter. Sua irmã não precisava ser puxada por sua confusão. Respirando fundo para abrandar sua raiva, o rapaz piscava algumas vezes tentando transparecer calma. Um sorriso forçado surgia em seu rosto, apesar de manter a cabeça baixa sem ter coragem de encarar Sadie. — Por que tanto esforço por uma mera história? Já tentou conversar com o Gabriel sobre isso? — Ele não entrou ainda no MSN. Estou pensando em dar mais um aviso... — Por mais que você goste do Biel, você tem que ter algo em mente, Sadie. — Suspirava Milles ao erguer a cabeça para olhar diretamente a sua irmã. — É dever dos Mckenzie proteger dos nossos, e como Jake é nosso primo cumprimos com nossa parte. Mas Gabriel não é da nossa família. Não temos o direito de interferir na sua vida. — Não me diga que concorda que ele seja amigo... — Ele é meu melhor amigo! E eu irei respeitar as merdas que ele faz, da mesma forma que ele respeita as minhas. Não cruze essa linha, Sadie, porque você estará errada. E eu não poderei te proteger nesse caso. Sadie ficara sem palavras. Talvez chocada por ver seu irmão se posicionar tão fortemente sobre aquele assunto. Mais uma vez Milles não a culparia. Até pouco tempo ele também era abertamente contra a aproximação de Gabriel e Theodore. Mas devido a um baixinho miserável, tudo mudou. Milles estava disposto a ajudar o seu melhor amigo, mesmo que isso signifique ir contra a própria família. Tudo porque somente Milles conseguia compreender Gabriel. Pois, ambos passavam pela mesma ponte em direção a dois garotos ômegas. Com a conversa encerrada e Sadie fora do seu quarto, Milles pode respirar aliviado. Virando-se para o computador ligado fora direto para a rede social buscar a tal história. Dependendo da repercussão que ela teria, seu amigo poderia estar em maus lençóis. E seria necessária alguma ajuda sua. Era pra isso que servem os amigos, não? Milles não tivera dificuldades em encontrar a tal história. Fora interessante perceber que o autor anônimo parecia conhecer alguns detalhes que não deveria. Milles só saberia de algumas coisas por Gabriel ter lhe contado. E duvidava muito que Theodore, ou até mesmo Nicolas, tivessem coragem de expor isso em uma comunidade do Orkut. Após ler a história, Milles acariciava a própria testa com as pontas dos dedos. A escola estaria um inferno no dia seguinte, isso era certeiro. Será que Gabriel teria noção do que estava prestes a vivenciar? Infelizmente não seria por falta de aviso. Milles o alertara de que se associar a Theodore era um problema. Batucando os dedos sobre a mesa, o alfa loiro suspirava pesado. Já havia se decidido ajudar seu amigo, dado que ele era o único a ouvir suas reclamações. Gabriel era a única pessoa que Milles poderia confiar, e se isso não seria um sinal de que a amizade era verdadeira, então Milles não saberia o que mais seria. E se o seu amigo estivesse sendo sincero em gostar de Theodore... Bem Milles teria de rever os próprios conceitos sobre o ômega loiro. Até pelo bem de si mesmo. 「 • • • 」 Na terça-feira Milles estava ansioso para ir à escola. Geralmente não se sentia daquela maneira, mas haviam duas coisas das quais precisava averiguar. Primeiramente, seu amigo. Se Sadie ficara irritada com a maldita história sendo publicada na comunidade do orkut, quem dirá o que os demais estudantes pensariam de Gabriel. Cochichos, rumores infundados, brincadeiras das quais Milles já havia feito com Theodore poderiam ser feitas com o aluno novo. Gabriel provavelmente não estaria preparado para lidar com tamanha atenção. Seguidamente, queria ver Nicolas. O capitão havia desmaiado no dia anterior sabe-se lá o porquê. Estava febril e parecia cansado. Apesar de toda fragilidade o baixinho ainda fizera questão de beijá-lo daquela forma na enfermaria. Só pra mostrar ao alfa que aquele ômega não seria domado com tanta facilidade. Ainda assim, Milles estava preocupado. Descendo do skate assim que chegara nos portões da escola para passar pelos inspetores, Milles procurava em volta uma figura conhecida. Até subira no skate novamente para deslizar pelo pátio escolar a procura do sujeito que era capaz de intermediar as duas pessoas. Dera várias voltas pelo pátio, cumprimentara alguns conhecidos sem dar muita atenção a eles, e nada de encontrar o dito cujo. Passando por frente de uma janela, pudera ver a cabeleira loira seguindo o corredor. Imediatamente Milles saltara do skate e correra para dentro do prédio escolar, alcançando Theodore até segurá-lo pelo ombro. — Milles? — Theodore arregalava os olhos diante do alfa ofegante. Segurando o pulso do ômega, o puxara para fora onde pudessem ter privacidade para conversarem. Certamente se alguém o visse conversando com o garoto, provavelmente pensariam que estava o azucrinando como sempre. Seu objetivo era ter uma conversa clara e particular. Theodore não rebatia o alfa, o seguindo silenciosamente até atrás da escola. Depois de verificar que mais ninguém estaria por perto, Milles voltara a encarar o ômega loiro percebendo seus ombros levemente encolhidos. Ele sempre ficava curvado quando estava sozinho com Milles, como tentasse se proteger. Mas dessa vez o alfa não tinha nenhuma intenção de fazer alguma maldade. Talvez fosse o seu nervosismo aparente que fizera Theodore relaxar sutilmente os ombros. — O que quer comigo? — Uma conversa franca. Vamos nos resolver aqui e agora. Theodore se encostou na parede parecendo aliviado. Milles continuou parado na sua frente, atento para o caso do ômega tentar fugir de si. Tentara organizar seus pensamentos, precisava ser claro com Theodore. — Não sou bom de briga... — Relaxa. Quero pedir desculpas. Os olhos claros do ômega se arregalavam em surpresa. O alfa estava diante de si com a cabeça baixa sem transparecer toda sua aura carismática que era rotineira. Um tanto quanto inédita aquela visão. Milles havia sido claro com sua irmã na noite anterior sobre apoiar o amigo. Gabriel gostava de Theodore, então o mínimo que poderia fazer era levantar uma bandeira branca. No entanto, apenas cessar fogo não seria o suficiente para Milles. — Você... Me pedindo desculpas? — Sei que fui um grande filho da p**a nos últimos tempos. — O nervosismo agora crescia no peito de Milles. Não era capaz de encarar Theodore nos olhos, e buscando um refúgio seus dedos se enroscavam nos próprios cabelos apertando os fios. — Te culpei por ter destruído a vida do Jake, por ter afastado um cara que eu amo pra c*****o. Provavelmente eu estava apenas te usando pra cuspir essa... Coisa... Sei lá como posso chamar esse sentimento. Se é que seria um sentimento. É tão... — Frustrante. — O sussurro de Theodore soava como uma brisa gentil e quente de primavera. Milles erguera os olhos para encará-lo surpreso, encontrando um singelo sorriso gentil naquele ômega. — É frustrante quando queremos ajudar alguém que nos é importante, mas nos deparamos com a própria impotência. Que sensação era aquela? Tão quente e acolhedora. Ah... Milles era capaz de compreender o motivo de Gabriel ter se afeiçoado a Theodore. — É... É uma bosta me sentir assim. Queria ter feito mais por Jake. — Não consigo imaginar como Jake deve ter lidado com sua família depois daquele dia. Mas ficou bem claro que você e sua irmã não gostaram de ele ter se mudado pra capital. — Fomos proibidos de conversar com ele. Então... — Entendo. Mesmo que não tenha sido a minha intenção machucar os Mckenzie, minhas atitudes trouxeram consequências mesmo assim. Nesse caso, também devo pedir desculpas para você, Milles. Theodore abaixara a cabeça levemente pra frente, levando a destra ao peito. Milles percebera a honestidade em seu gesto, chegando a se sentir levemente emocionado. No final das contas, aquele ômega era bem diferente do que imaginara. Aquele ômega era completamente diferente do que achava. Parecia tão óbvio o motivo de seu amigo ter se encantado por Theodore. Havia uma aura nele que reluzia como um sol da manhã, simples e fraco, mas quentinho. Como o acalento amável. — Considero Gabriel o meu melhor amigo, e por ver que ele realmente ta afim de você, estou disposto a assumir os meus erros. Porque eu sei que agora iremos ter essa ligação por causa dele. Quando Theodore erguera a cabeça novamente, Milles já estava mais confortável em conversar consigo. Até mesmo sorria, mesmo que tivesse um leve rubor em suas bochechas. — Algo me diz que não é só por Gabriel. — O sorriso gentil de Theodore pegara Milles desprevenido. O alfa tentara desviar os olhos, mas o ômega rira baixo sabendo muito bem o motivo de sua vergonha. — O que vocês estão fazendo aí? A figura do alfa moreno aparecendo naquele lado afastado da escola assustara os dois loiros. Estavam tão imersos na própria conversa, que m*l teriam notado a presença de Gabriel. Desconfiado, o moreno aproximou dos dois. — Bom dia Gabriel. — Bom dia Theo! — Sorria o alfa, afagando os cabelos do ômega loiro. — Estou atrapalhando? — Estamos pondo os pingos nos “is”. Gabriel arqueara a sobrancelha olhando de canto pro ômega, que concordara com a cabeça. Milles até revirava os olhos diante de tamanha desconfiança do seu melhor amigo. Apesar de não culpá-lo. — Isso significa que vocês estão de bem agora? Milles e Theodore se olharam e sorriam concordando. Gabriel parecera feliz com aquilo, dando um ligeiro tapinha no ombro de seu melhor amigo. Bem, seria a primeira vez que Milles passava por cima de seu orgulho pra assumir seus erros. Ainda mais por um amigo. — Estou feliz por vocês. Meu amigo e o meu cara se dando bem. Gabriel segurara a mão de Theodore o deixando envergonhado. Milles percebera o rubor no rosto do ômega, e o quanto Gabriel parecia se divertir em deixá-lo daquele jeito. Suspirando, o alfa cruzava os braços. — Não to aqui pra ficar de vela pra vocês não. — Se o capitão estivesse aqui, não ficaria de vela. Pela primeira vez Milles sentira vontade de apertar o pescoço de Gabriel só pra fazê-lo calar a boca. Theodore piscara algumas vezes olhando de canto para o alfa, sendo que Milles não tinha coragem de encará-lo. Não fazia a menor ideia de até que ponto da história ele saberia. Será que Nicolas teria comentado alguma coisa? Duvidava muito. Seu capitão era orgulhoso pra caramba. Não contaria para Theodore que fora surpreendido por Milles no vestiário no domingo. Ou que eles teriam se beijado na enfermaria na segunda. Milles deixara a mão no ombro de Gabriel, abrindo um sorriso engessado enquanto rosnava entredentes. — Biel, cala a boquinha hm? — Nico não vai vir por alguns dias. — Respondia Theodore olhando a mão de Gabriel que ainda estava sobre a sua. Passando a ponta do indicador sobre a pele do atleta, o ômega parecia falar ocasionalmente uma informação preciosa. — Ele está com febre por causa dos adesivos. — Pensei que o soro que ele tomou ontem fosse o suficiente. — Nunca é o suficiente. — Suspirava Theodore encarando os dois rapazes alfas. — Nas partidas ele geralmente usa um monte de adesivos ao mesmo tempo, e isso meio que o deixa nesse estado depois. Nico deve dormir por um bom tempo enquanto estiver com febre. — É perigoso usar tanto assim. Mas ele deve estar sendo bem cuidado, não? — Na verdade Nico deve estar sozinho agora. Só mora com a mãe dele, e ela trabalha o dia todo. Então ele meio que aprendeu a se virar. Na cabeça de Milles só conseguia imaginar o seu capitão de olhos fechados deitado e um ladrão entrando na casa. Se estava com febre, provavelmente não seria capaz de lutar pra se defender. Na verdade, sua guarda estaria completamente baixa. Era o momento oportuno para se atacar. Um sorriso malicioso surgia em seu rosto, na medida em que mais e mais ideias ridiculamente infantis serpenteavam seus pensamentos. — Podemos ir visitar o capitão depois da escola, então. Theodore olhara de canto para o atleta que estava calado. Estranhara o sorriso em seu rosto, porém os dedos do alfa estavam apertados em punho. Comprimindo os lábios tentando encontrar uma saída, o rapaz rolara os olhos fingindo ocasionalidade. — Ah, seria bom que alguém de confiança ficasse com ele até a gente chegar. Ficar sozinho pode ser muito perigoso, e Nico não teria força alguma pra se virar... Milles era incapaz de opinar alguma coisa naquela conversa, sua mente estava ocupada demais trabalhando arduamente para torturá-lo. E se alguém do time resolvesse visitá-lo e percebesse o charme que era aquele ômega? E se sentisse seu cheiro, que deveria estar forte por causa da febre, e tentasse algo com o capitão? De maneira alguma isso deveria acontecer. Absolutamente ninguém poderia participar daquela deliciosa e excitante batalha que ele e o capitão travavam em segredo. Somente ele poderia tirar vantagens de Nicolas Howard. Se outra pessoa tentasse... Bem, Milles saberia esconder um corpo se necessário. — Vou matar o treino hoje, me dê cobertura! Arrumando a mochila nas costas ao subir no skate, Milles já deixava para trás o casal para fugir da escola. Ainda assim fora capaz de ouvir o grito de Theodore mais atrás. — Gabriel vai mandar o endereço por mensagem!
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