Sossô Narrando
Como imaginávamos, amanhecemos o dia na piscina. As meninas ficaram por aqui, mas as tias meteram o pé, assim como a Imperatriz e a Barbie, que foram praticamente raptadas pelos maridos. As solteiras, que não devem explicação para homem nenhum, ficaram. Brincamos, rimos, choramos mais um pouquinho, porque não bastava a família ter contado tudo na frente de geral, e nós termos que explicar. Porque família é isso: chorar com os que choram, alegrar-se com os que se alegram, e o resto é balela.
O despertador toca. Eu me espreguiço sem querer abrir os olhos, olho e percebo que estou atravessada na cama, com a Samira do outro lado, abraçada ao travesseiro. O semblante dela dormindo me partiu o coração. Quem a viu ontem e vê hoje, com o olhar pequeno e triste, não conhece o mulherão da porrä que existe por trás dessas lágrimas, que ela não deixou ninguém ver.
Abro a janela, ajusto o ar, entro no banheiro já tirando toda a roupa e tomo aquele banho dos pés à cabeça, com direito a hidratação. Porque, só porque sou loira de nascença, não significa que sou desleixada. Todo loiro exige hidratação e cuidado. Tomo um banho gostoso, deixo o corpo relaxar, passo um óleo para hidratar, escovo os dentes e amarro uma toalha para ajudar a secar o cabelo.
Sossô – Que que foi agora? – saio do banheiro e vejo que ela está pálida com o telefone na mão.
Sassá – O que a gente temia. O vovô tá convocando a gente para uma reunião com ele – ela joga o telefone na cama e já começa a dobrar os lençóis.
Sossô – Você já esperava, né? Porque eu já imaginava que a vovó contaria pra ele. Eles nunca guardaram segredo um do outro, então não vai ficar chateada com ela, vai? – Ela dá um sorriso pelo nariz, balança a cabeça negando e sai correndo para o banheiro.
Vou atrás dela, sabendo que vem uma sessão de vômitos. Na última consulta, ainda em Roma, a médica disse que era normal. Mas eu percebi que, quando ela fica muito triste, especialmente sobre o bebê ou o que aconteceu, os enjoos são mais frequentes.
Sassá – Agora me diz? Vai durar quanto tempo? Difícil saber, né? Como diz a médica, pode ser um mês, quatro meses, ou até o parto – estendo os braços e ajudo ela a se levantar.
Sossô – É por isso que somos duas e andamos juntas: para quando uma fraquejar, a outra estar de pé; quando uma cair, a outra ajudar a levantar. E assim seremos até ficarmos velhinhas – falo, arrancando um sorriso dela.
Sassá – Só faltam seis meses, né? Então eu aguento – Ela tira o pijama e eu ligo o chuveiro.
Sossô – É como esperar pelo inverno. Temos que passar por duas estações antes – começo a filosofar, e ela revira os olhos.
Ela ficou lá, largada debaixo do chuveiro. Quando percebi que ela estava bem, fui para o closet me vestir. Como chegamos ontem e estamos as duas solteiras, resolvemos ficar na minha casa.
Sassá – Como estamos? – pergunta, mostrando a roupa: um cropped soltinho e um short de material leve.
Sossô – Tá linda, como sempre. Quer comer alguma coisa? Vou só comer uma fruta – ela faz cara de nojo e balança a cabeça dizendo que não.
Sassá – Vou só tomar uma H2O e tô bem na fita – fala, abrindo a geladeira e pegando o H2O. Meu telefone vibra com uma notificação da coroa, perguntando se íamos pra base do comando ou pra casa dela.
Sossô – O que o vovô falou na mensagem? Pra gente ir pra casa dele ou pra base?
Sassá – Ele mandou ir pra base. É uma conversa só pra nós duas, ele, a vovó, a Barbie e o Master – Ela balança a cabeça e saímos, eu com uma maçã e uma pera, e ela com a garrafinha de H2O sabor limão.
Descemos as duas e a maneira como o pessoal olha é incrível, como se fôssemos de outro mundo. Alguns franzem a testa, como se tentassem lembrar quem somos.
Mateo – Isso é que é mulher bonita, sem filtro e sem maquiagem – ele chega todo grandão, de braços abertos, abraçando nós duas de uma vez só.
Sassá/Sossô – Fala, irmãozão – falamos juntas, recebendo cada uma um beijo na testa.
Imperatriz – Vamos entrando, meus amores – ela diz, assim que nos vê, fazendo sinal para entrarmos.
Barbie – Como você passou, meu amor? – O olhar dela é preocupado, o que faz o coração acelerar, mas estamos tranquilas quanto a esse assunto.
Master – Samira, quero te perguntar um bagulho – a voz grossa dele me faz apertar a mão dela, que se solta, coloca a mão na cintura e se aproxima dele.
Sassá – Pode perguntar o que quiser, nunca neguei voz e não vai ser agora – fala de peito aberto.
Barbie – Miller – Minha mãe chama por ele, tentando conter o que ele vai dizer.
Mateo – Desculpa, Samira, mas tive que deixá-lo a par de tudo. Sentamos, eu, ele e a coroa pra conversar. Como a coroa já sabia, só quero que saiba que não foi para te prejudicar, mas pra ele não ouvir da boca de outra pessoa, porque Sofia gritou no camarote e não estávamos só nós lá – Samira passa a mão no nariz várias vezes e balança a cabeça, semblante fechado.
Sassá – Preferi contar primeiro pras mulheres, porque precisava desabafar com minha mãe, vovó e minhas primas. Mas esse teste aqui com o grande Imperador e o Master ia ter, porque não dá pra esconder uma gravidez. Foi a primeira coisa que vocês viram quando desci do avião. Estamos aqui, vamos lá – Ela abre os braços e bate as mãos na lateral das pernas.
Ele aponta para as duas cadeiras e sentamos lado a lado. O jeito que a vovó coloca os braços em cima da mesa e nos olha, é como se ela se desculpasse por ter contado.
Sossô – Vovó, fique em paz. Já esperávamos isso, e por isso fiz questão que a senhora e a dona Barbie soubessem, porque, se não conseguíssemos nos abrir, teríamos vocês como apoio – falo, piscando para ela, que manda um beijo. O grande Imperador limpa a garganta.
Master – Ele sabe que você está grávida? – Ela balança a cabeça, negando.
Imperador – Sabemos que o Boa Noite Cinderela pode ter uma composição variada de drogas. Quanto tempo você ficou nas mãos deles? – O jeito que os dois perguntam e nos olham parece que vão explodir a qualquer momento.
Sassá – Preciso ser exata? Não sei, a desintoxicação durou 15 dias no hospital – ela fala, e o grande Imperador já se levanta, dando um murro na mesa.
Bebezão – Então foram várias dosagens – o tio Bebezão entra com sua voz grossa, igualzinha à do vovô, com a regata exibindo todas as tatuagens.
Barbie – Só Sofia pode responder isso. Como Sassá ficou inconsciente, quem a encontrou foi ela – todos me olham.
Sossô – três dias – falo, já esperando ouvir tiros ou rosnados deles.
Barbie – Putä que pariu, você não morreu por sorte – diz, repetindo as palavras da médica no dia em que cheguei com a Sassá no hospital.
Imperador/Master – NÓS VAMOS PRA ROMA HOJE – os dois esbravejam juntos.
Barbie/Imperatriz – Vocês não vão a lugar nenhum...