Capítulo 54 - Medo de contar a verdade

1759 Words
Durante o chá da tarde, as duas famílias continuaram a conversar animadamente sobre assuntos corriqueiros e preparativos de casamento. Naquele final de semana, Jesse e Victória Shang iriam se casar, finalmente. Uma festa que Lucian aguardava ansiosamente, já que iria acompanhar Magnus em outro evento social. Era sempre bom ir à festas com o seu noivo. Pouco antes do entardecer, Lucian e Magnus saíram para uma caminhada pela estufa. Os demais os dispensaram com sorrisinhos com um pouco de malícia, mas que combinavam perfeitamente com a intenção de Lucian em roubar a atenção do seu noivo. Caminhando sobre as pedras brancas que guiavam entre as árvores e arbustos, os dois rapazes aproveitavam o silêncio daquela região com um aroma perfumado. Só de estar ao lado do seu personagem preferido era o suficiente para deixar Lucian calmo e esquecer o outro pesadelo que teve naquela noite. Era como se confortado em seu silêncio. — Lucian, eu queria conversar com você sobre um assunto. A repentina fala de Magnus o pegou de surpresa, principalmente pelo tom sério. Lucian ergueu os olhos de diamante para o ômega, que o encarava friamente. Os seus dedos se apertaram levemente quando os seus olhos se encontraram. Um frio na barriga o deixou ansioso. — Sobre o que? — Ontem eu estive aqui, você deve saber disso, não? Como assim? Lucian piscou aturdido algumas vezes e franziu a testa. — Como é? Ontem? — Lucian baixou os olhos, lembrando os seus afazeres no dia anterior — Não me lembro de ter sido avisado sobre a sua visita. — Eu vim quando você estava dormindo — Magnus deu alguns passos a frente, desviando o olhar para algumas tulipas que estavam plantadas ali — Eu estava caçando rebeldes fora dos portões da cidade e descobri que eles tentariam invadir o seu palácio para te sequestrar. — O que?! — Calma, está tudo bem. Eu cheguei a tempo de impedir isso. — Minha nossa — Lucian estremeceu levemente. A sua mão ficou gelada. Um nó se formou na garganta. Ele não estava seguro. Nem um pouco seguro. Foi exatamente como imaginou. O duelo entre Cadec e Magnus abriria margem para o vilão se aproximar de Lucian. — Quando cheguei no seu palácio, encontrei uma mulher acompanhando o seu criado… Ela fez algo com ele, usou uma droga e o fez falar sobre algo de visão. — Continuou Magnus, voltando a encarar Lucian — Ela disse ser de uma guilda e que tinha negócios com você. Foi extremamente chocante eu descobrir que você comprou droga com ela para usar em mim naquele jantar. Lucian permaneceu… petrificado. Não piscava e a cor sumiu do seu rosto. Ele descobriu. Tum-tum. Tum-tum. Tum-tum. A mão foi até o seu peito inconscientemente, apertando os dedos como se esperasse poder agarrar o próprio coração e fazê-lo diminuir as batidas. Dentro de sua cabeça, infinitos pensamentos passavam por segundo, o entregando de um tudo e o deixando num nada. — Acho que já está na hora de você ser sincero comigo, Lucian. O problema era que ele simplesmente… não conseguia. Não que não quisesse, mas o seu corpo simplesmente enrijeceu de uma maneira que somente lhe permitia sentir o desespero. Era r**m Magnus saber a verdade? Talvez devesse confiar nele completamente e ser sincero? O problema não era esse. Lucian estava com medo da reação de Magnus. Enquanto Magnus falava, o ômega se mantinha frio o encarando como se avaliasse cada parte da sua alma. Era desconfortável ver Magnus suspeitando de si, principalmente se existia a chance dele não acreditar. Sabia bem que Magnus o olhava daquela maneira apenas para demonstrar que se tratava de um assunto sério. Mesmo assim era um incômodo. — Sinceridade? — Murmurou, por fim, o alfa. — Isso mesmo. Lucian estremeceu e respirou fundo tentando se acalmar. Não era o fim do mundo. Lembre-se que Magnus Grimwood era o único em quem poderia confiar. Ele era a sua salvação, enquanto Lucian tentaria salvá-los. Era apenas um personagem de uma história, que em algum momento Lucian abandonaria para regressar ao seu mundo. — Certo. Vamos por partes. — Lucian disse calmamente, ainda com a mão sobre o peito — Me pergunte o que deseja saber, e eu responderei com a sinceridade que me pedes. — Que assim seja. Primeiro, eu sei que você me drogou naquela noite, assim como eu te droguei. Como conseguiu a droga? — Com a guilda Nightshade. Eu pedi por um afrodisíaco leve. — Por acaso você sabia sobre a droga que eu ia usar naquela noite? — Sim… — Lucian respondeu em um sussurro sôfrego — Eu sabia que você pretendia drogar Stephen, por isso troquei as taças. Os olhos carmesins se estreitaram e Magnus deu um passo adiante, diminuindo a distância entre eles. — Como sabia? Não poderia contar a ele que sabe de muitas coisas porque tudo não se passava de um romance, um livro fictício que lia quando chegava do trabalho. Era tão absurdo quanto a ideia dele estar dentro do livro possuindo um personagem secundário. — E-Eu… Magnus continuou o encarando frio e silencioso. Aquilo fazia o seu coração acelerar no mais puro receio de perder o ômega. Lucian precisou conter o impulso de tocá-lo para impedir a sua partida, pois o ômega não se moveu um passo sequer e parecia não estar disposto a sair dali até ouvir a sua resposta. O que deveria dizer? É mesmo! Ele mencionou a visão! — Eu sonhei… com Stephen bebendo uma droga e tendo o seu ciclo de calor desperto. — Você "sonhou"? — I-Isso… — O que mais você "sonhou", Lucian? Magnus deu um passo à frente, parecendo intimidador. Lucian conteve a vontade de retroceder alguns passos, mas o seu tronco se inclinou ligeiramente para trás. — E-Eu tive vários sonhos, na verdade. Estou constantemente vendo informações do futuro. — Por acaso está me dizendo que você consegue prever o futuro? — A-Algo assim, apesar de ser… limitado. Poderia ir pra trás, por favor? — Não posso — Respondeu Magnus, com o rosto próximo do de Lucian — Segunda pergunta, que negócios você tem com a mulher da guilda? — Ethera? — Percebendo o sutil aceno de Magnus, Lucian engoliu em seco — E-Ela é a líder da Nightshade. Eu propus um negócio para ela. — Que negócio, Lucian Saint Richmond? Minha nossa, dizer o nome completo nunca era um bom sinal! Lucian se sentiu cada vez mais nervoso. — E-Eu sonhei com a morte dos seus homens na saída da cidade, e disse a ela que a sua guilda passaria por uma crise. Para evitar a crise, p-propus em ser o seu benfeitor. — Ser o benfeitor de uma guilda? Isso requer muito dinheiro, e você não iria gastar a sua fortuna em algo infrutífero. O que você quer deles, Lucian? Droga, o maldito era espero demais! — Uma lista das pessoas influentes do submundo. Os olhos arregalaram de surpresa, e Magnus também ficou petrificado, apesar de não conter a mesma ansiedade que o alfa. Respirando fundo, Lucian se manteve calmo e então contou toda a situação para Magnus. Que Argus o perdoasse, mas usaria a sua fanfic para enganar o pobre Magnus. Lucian se recusava a dizer que tudo o que sabia era de um romance, então usaria a fajuta história dele sonhar e ter visões com o futuro. Para dar mais incremento, Lucian foi sincero em dizer que isso começou depois dele ter se recuperado de uma forte gripe. Não era mentira, certo? Na medida em que Lucian contava a verdade para Magnus, ele sentia como se o peso do mundo tivesse sido tirado dos seus ombros, mas que tal peso foi realocado em seu peito. O silêncio do seu noivo em ouvir aquela história, que parecia ainda mais absurda quando dita em voz alta, alimentava as batidas aceleradas do seu coração. A falta de uma reação era como um vazio. Magnus era um homem racional que sempre pensaria pelo caminho mais fácil para obter o que quer. A sua ambição o levava a caminhos nem sempre éticos, alguns até mesmo sangrentos. Lucian basicamente estava trilhando o mesmo caminho, só que com cautela e por motivos de sobrevivência. O alfa contou sobre ter "sonhado" com Magnus se apaixonando por Maverick e das investigações que eles faziam sobre os rebeldes. Evitou contar em excesso. Não queria dizer que Magnus encontrava o contrabando e que isso o levaria à sua morte. Em contrapartida, Lucian deixou claro que ele conseguiu noivar com Maverick, mas que depois o noivado foi rompido. De maneira alguma queria dar a impressão de que ele conseguiria se casar com Maverick. Lucian se negava a dar essa esperança a Magnus. — Então, está dizendo que você arquitetou todo esse plano para que ficássemos noivos tudo por causa de uma possível "visão"? Isso me leva a te fazer a terceira pergunta, por acaso você viu algo relacionado à minha morte? Engolindo em seco, ele concordou com a cabeça. — E-Eu sonhei que você foi… assassinado. — Assinado? Eu? E quem seria a pessoa capaz de tal façanha? — Magnus questionou, abrindo um sorriso arrogante. — Eu. O sorriso aos poucos foi morrendo. — Você? Está me dizendo que nesse seu sonho, você me matava? Deve ser realmente apenas um sonho. — Nesse futuro que previ, eu e você jamais nos conhecemos pessoalmente. Por viver recluso no meu palácio, fui pego para ser feito de marionete nessa batalha ao trono. Usaram cada recurso meu, me usaram para colher informações, o meu nome para cometer atos horrendos. O semblante de Magnus ficou sombrio, e ele cruzou os braços na altura do peito. — Isso é algo que você vive falando, sendo o motivo de querer sair do Palácio Imperial. — Exatamente! — Lucian deu um passo próximo de Magnus, sentindo um fio de esperança — Se eu ficar do seu lado como o seu marido, mesmo sem o seu afeto, não irei lhe ferir. Contanto que eu jamais caia nas mãos daquela pessoa. — Que pessoa? Lucian negou com a cabeça. — Não irei revelar o teu nome agora, preciso de provas irrefutáveis primeiro. Não posso acusar a pessoa me baseando em sonhos. Preciso de provas, mas não é o que busco nessa vida. — O que você busca então? Apenas fugir nos meus braços? — Depois que eu te matava… eu era morto. — Lucian contou em um sussurro — O fim de tudo isso leva a minha morte. Estou me casando com você para poder sobreviver a esse horrível futuro, Magnus.
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