Capítulo 42 - Desespero

1778 Words
Em os nobres levavam muito a sério a sua posição social, ao ponto de que nada poderia manchar a sua honra. Por esse motivo, se um nobre quisesse algo considerado arriscado para a sua honra, ele o faria por debaixo dos panos. Os híbridos têm uma volúpia considerada incontrolável, o que torna impossível manter a "puridade" por muito tempo. Somente uma pessoa reclusa em um castelo longe da sociedade conseguiria se manter virgem até atingir a maioridade, de fato. Sendo assim, os nobres começaram a estrear os seus filhos antes do tempo. Jovens de quinze anos já poderiam ser tratados como adultos e buscar por um casamento ideal, pois nessa idade eles emitem feromônios impossíveis de serem ignorados. Claro, cada família escolhia a hora certa da estreia de suas crianças. De toda forma, aquela história sempre retratou que o sexo só deveria ser feito depois do casamento, pois assim diminui as chances de uma pessoa ser marcada em um caso efêmero. Só deve ser marcado pelo seu parceiro, dedicando sua vida a ele/ela fazendo com que o casamento funcione. E se o seu parceiro for um ômega, então se dedique nem que seja necessário vender a alma ao d***o. E implore para que este ômega te marque. Não precisamos ser adivinhos para saber que a realidade não funciona de tal maneira, certo? Muitos híbridos aproveitam a libertinagem para saciar a volúpia. Principalmente alfas, cujos ímpetos são os mais difíceis de controlar. No entanto, tudo deveria ser mantido como segredo. Sempre em segredo. Ninguém deve saber de nada. Se soubesse… era um escândalo. Luciano sempre achou que o autor de se baseou em fatos históricos de séculos passados para compor aquele mundo híbrido. Romances de época retratavam tais duelos e costumes que abominavam o sexo antes do casamento. Parecia um clichê bem ridículo. Mas agora era preocupante. O salão de festas do Palácio do Sol foi tomado por sussurros e olhares cada vez mais curiosos com a fala repentina de Cadec. Agora, toda a alta sociedade descobriu que Magnus não tinha interesse romântico em Lucian, mas que ainda assim o levou para a cama e tirou a sua pureza resultando naquele casamento. Socialmente falando, isso não mancharia a reputação de Magnus, afinal… é surpreendente que ele tenha tomado a iniciativa de dormir com um alfa de sua escolha. E mais surpreendente ainda que apesar de não ter sentimentos, Magnus ainda assim dormiu e agora noivou com Lucian. Isso faria os fofoqueiros de plantão se questionarem: "O que o oitavo príncipe tem que atraiu a atenção do Grão-duque?". Se antes a notícia do noivado parecia uma surpresa misteriosa, bem, o mistério foi resolvido de uma maneira bem polêmica. Agora, politicamente falando… aquilo era um grande problema. Não apenas para Magnus, como também para Lucian. Cadec não afastou a lâmina de sua espada prateada do pescoço de Magnus. Os dois continuavam a se encarar friamente como se a amizade deles estivesse por um fio. A situação parecia sair do controle e Lucian não fazia a menor ideia de como poderia intervir. Até mesmo as suas mãos tremiam e o seu coração acelerava por estar diante de algo não planejado. — Ha… muito bem — Magnus abriu um sorriso arrogante e inclinou a cabeça expondo o seu pescoço para a lâmina, sem nenhum medo de ser ferido por Cadec — Apesar de você ser o meu amigo e o príncipe deste império, saiba que sou um ômega e que não pretendo abrir mão do alfa que me foi escolhido. Cadec estreitou os olhos claros. — Que assim seja. Que o duelo ocorra agora mesmo, então. O primeiro príncipe deu as costas e saiu marchando entre os convidados sem se incomodar a olhar para ninguém. Lucian desviou a atenção para o seu noivo, que também deu as costas e foi para outro canto sendo guiado por um criado do palácio. — Mas que merda tá acontecendo agora? — Murmurava Lucian, cerrando os punhos. Ele ergueu a cabeça para o Imperador e o Consorte, percebendo que eles conversavam com o mordomo — Por que não estão intervindo, droga? Não estava no original nenhum duelo. Em momento algum aqueles dois duelaram, muito menos por causa de Lucian. Sim, ele sabia muito bem que ele estava agindo por conta própria e isso mudaria a história, só que não esperava que fosse para tanto! Sem pensar duas vezes, Lucian foi atrás de Magnus ao invés do seu irmão, o seguindo pelos corredores do salão até chegar em uma sala de descanso onde os criados pareciam prepará-lo para o duelo. O paletó caro era retirado e trocado por um mais confortável, assim como suas botas e luvas foram trocadas. Assim que viram Lucian parado na porta, os criados se retiraram silenciosamente, deixando o casal sozinho. Encarando o seu noivo, Lucian não encontrava nenhum sinal de nervosismo ou ansiedade. Magnus era a calma em pessoa como se não estivesse prestes a lutar contra o seu melhor amigo. — Magnus, por que você aceitou este duelo? — Eu já esperava isso de alguma forma. A Sua Majestade foi muito benevolente ao tratar o assunto diretamente e pular essas firulas. — Justamente por isso você poderia apenas rejeitar! — Lucian se aproximou o olhando exasperado — Poderia ter dito que foi decisão tomada junto de Sua Majestade, Cadec seria obrigado a retirar o pedido do duelo. — Isso colocaria o seu pai numa posição comprometedora, já que ele sabia do assunto e preferiu se manter em silêncio para manter a boa reputação da família imperial. — As pessoas irão questioná-lo de qualquer forma! — Lucian se irritou com a calmaria de Magnus e segurou os seus ombros o fazendo olhá-lo nos olhos — Pelo amor de deus, Magnus! Será que dá para você ao menos parecer nervoso? O ômega ergueu a sobrancelha. — Por quê? Acha que vou perder? — Uma luta de espadas contra o primeiro príncipe? Não quero saber quem será o vencedor ou perdedor… eu só… Magnus suspirou baixo e afastou as mãos de Lucian de seus ombros. — Pare de choramingar feito um bebê. Apenas sente e aprecie a luta. Afinal, você é o motivo disso acontecer. Sim, Magnus sempre foi confiante em sua habilidade na esgrima. Não seria por isso que ele era o comandante do exército? Se Magnus era capaz de se manter calmo durante uma batalha numa guerra, cravando a sua lâmina no peito do inimigo sem nenhuma piedade, por que ele ficaria nervoso ao lutar contra o seu melhor amigo? Mesmo sabendo que não havia motivos para ser contra, Lucian não conseguia se acalmar. Aquela cena… ela simplesmente não existia no original. Nunca existiu uma cena onde Cadec e Magnus tiveram um duelo. Na verdade, o único duelo que ocorria era entre Magnus e Stephen, que apostavam a mão de Maverick em casamento. Tirando isso, Cadec e Magnus jamais brigam! Cadec parecia realmente irritado, o que fez Lucian temer ainda mais. O seu corpo ainda tremia pelo efeito do feromônio do primeiro príncipe. E se… aquele duelo resultasse na morte de Magnus? Isso significava que todo o seu esforço foi em vão? Ele falhou em proteger o seu personagem preferido? Partindo do pressuposto que manter ele e Magnus vivos era o único motivo dele ter entrado dentro da história, obviamente aquilo seria uma falha. Se Magnus fosse morto… Lucian cairia nas mãos do vilão e seria feito de marionete de novo. A trágica morte do oitavo príncipe se manteria intacta, e Luciano teria falhado em sua missão. Cerrando os punhos, Lucian sentiu o peito apertar e o desespero crescer. Como ele deveria impedir aquilo? Como ele poderia evitar a morte de Magnus? E pelas mãos de Cadec ainda por cima! Deveria se ajoelhar e implorar por perdão? Deveria jogar fora a reputação da família imperial e colocar a responsabilidade nos ombros do Imperador? Deveria apenas se jogar entre os dois e impedir que brandem suas espadas? Pense! Pense! Uma mão tocou os seus cabelos, fazendo Lucian encostar a testa em um peitoral. O cheiro de vinho surgiu o acalmando minimamente, e Lucian só podia arregalar os olhos. — Quando foi que você aprendeu a fazer essa cara de desespero? Surpreso, Lucian se dava conta do quão agitava ele estava. Ah… sim, ele estava desesperado. A situação saiu do seu controle de uma maneira absurda que o deixou em pânico. Mas, era para tanto? Que cara ele estava fazendo para Magnus achar aquilo? De toda forma, Lucian cerrou os dentes e se deixou ser confortado por Magnus e os seus feromônios. A sua mão enluvada se agarrou à camisa branca do Grão-duque, o apertando levemente trêmulo. Percebendo o silêncio do oitavo príncipe, Magnus baixou os olhos carmesins para os fios dourados que escondiam o rosto de Lucian como uma cortina. — Eu te disse, Lucian. Você será o meu marido, então será a minha prioridade. Droga, ele realmente precisava dizer aquelas palavras naquele tom de voz tão calmo? Parecia uma represália disfarçada de conforto. Fechando os olhos levemente, Lucian se acalmou um pouco. Ainda existia aquele medo de Magnus realmente morrer com aquela luta s*******o, só que ele também queria confiar no ômega. Afinal, Magnus Grimwood era um vilão astuto e arrogante. Erguendo a cabeça, Lucian encarou Magnus com mais determinação, o que surpreendeu o ômega. — Não se segure. Use a seu favor todos os pontos fracos de Cadec, e vença este duelo! Piscando aturdido, Magnus o encarava ainda segurando a sua cabeça. Então, o ômega abriu um sorriso divertido. — Pode deixar, rato. Lucian suspirou em alívio ao notar aquele sorriso. Inclinando-se em sua direção, o alfa depositou um beijo na bochecha de Magnus. — Boa sorte. O ômega ficou surpreso com o beijo na sua bochecha, o que era engraçado considerando todos os beijos quentes e momentos íntimos que tiveram. O leve rubor que surgiu em sua bochecha foi adorável, apesar dele se desfazer de qualquer sinal de vergonha para voltar à sua arrogância usual. — Vossa Graça, o campo de treinamento foi preparado para o duelo — Avisava um criado ao bater na porta. — Estou indo. Quando Magnus afastou a mão dos cabelos dourados de Lucian, ele deixou para trás um vazio. O oitavo príncipe o observou lhe dar as costas e sair daquele quarto de ombros erguidos vestindo o seu orgulho. Ah… não vá, queria sussurrar. Ficando para trás, Lucian só podia torcer pela sua vitória em silêncio e na ansiedade. — Vai ficar tudo bem — Lucian sussurrou para si mesmo — Se a situação escalar… irei invadir o duelo. Isso… Lucian ergueu os olhos frios para a porta. — Mas não deixarei Magnus morrer hoje.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD