Capítulo 61 - Sensação estranha

1452 Words
Um arrepio subiu pela espinha de Lucian, fazendo ele estremecer levemente com aquelas palavras. Skyler o encarava tão profundamente que parecia desvendar os seus segredos com facilidade. Contudo, o príncipe não podia reagir tão descuidadamente. Por esse motivo ele tratou de inclinar a cabeça e erguer a sobrancelha. — Do que está falando, sacerdote? Skyler o avaliou silenciosamente por alguns instantes e então retrocedeu alguns passos e sorriu novamente. — Nada demais. Venha, a sala de orações está por aqui. Skyler voltou a guiar Lucian por aquele extenso e misterioso lugar. Apesar dele saber que tem um dever a cumprir, Lucian não conseguiu se livrar da sensação que teve ao encarar aquela esfera. Na verdade, da outra vez em que veio, ele também ficou desconfortável. Contudo, agora não era o momento oportuno para se preocupar com tais sensações. Empurrando essas preocupações desnecessárias para o fundo da mente, Lucian focou no aqui e agora, onde Skyler abriu uma porta mostrando uma ampla sala repleta de água. Era como uma enorme fonte de água cujo centro encontrava-se a estátua da deusa. O ambiente escuro só podia ser iluminado pelo sol do teto abobadado, fazendo Lucian arregalar os olhos em admiração pela beleza do lugar. — Você fará suas orações aqui, e não precisa se preocupar com a sua segurança, ninguém é capaz de invadir este lugar. Lucian ergueu os olhos para Skyler, que parecia orgulhoso com a reação do príncipe. — Bem, obrigado. Segundo a agenda que me enviaram, devo ficar em oração o dia todo e somente durante as refeições alguém me trará algo, isso? — Isso mesmo, um outro sacerdote te trará uma sopa e roupas quentes. Também coloquei uma cama ali no canto para você poder descansar à noite. Por mais que a intenção seja ficar em meditação, não é como se precisasse seguir a risca. — Considerativo da sua parte. Obrigado — Lucian sorriu alegre, principalmente ao ver a cama atrás de um biombo em um canto recluso — Nesse caso, devo começar? — À vontade, mais tarde venho fazer a minha parte. Se precisar basta me chamar, espero estar acordado para ouvir algo. Skyler acenou despreocupadamente e fechou a porta ao sair daquele cômodo. Agora sozinho, Lucian olhou em volta e aproveitou a solidão para explorar. Antes dele entrar na fonte, Lucian caminhou em volta dela, percebendo que por perto havia bancos de madeira e até mesmo alguns armários com utensílios ritualísticos. Um espaço amplo e sem muitos móveis. E na medida em que entardecia parecia se tornar mais escuro e assustador. — Não sou do tipo religioso — Lucian murmurou ao cruzar os braços e encarar a estátua no centro da fonte — Mas tenho a impressão de que serei assombrado a qualquer hora. Haa… eu deveria começar logo com isso? Tirando as sapatilhas, ele entrou descalço na fonte e se aproximou da estátua. A água cobria o seu tornozelo, e foi uma sensação estranha sentir a sua calça ficar molhada quando ele se ajoelhou perante a estátua. Ainda assim, Lucian juntou as mãos e começou a fazer a oração que decorou. — Graciosa mãe, pedra brilhante que guia os perdidos, guia-me na vasta escuridão até o meu farol e me agracie com tua sabedoria… Lucian fez a oração silenciosamente, apenas se concentrando nas palavras e esperando um nada. Era uma deusa de uma história fictícia, é claro que Lucian não iria esperar por nenhum tipo de milagre ou visão. Aquilo era apenas um procedimento para as pessoas que vivem dentro da história, importante para elas e não para ele em específico. Por isso, ficar horas e horas rezando para uma estátua de pedra foi uma tarefa difícil e incômoda. Houve momentos em que Lucian sentiu sono, em outros ele ficou entediado cansado de repetir as orações que pareciam não ter fim. Quando a lua iluminou a estátua, Lucian desistiu e foi descansar na cama, tirar um cochilo apenas para espantar aquele tédio. E como era de se esperar… Lucian sonhou com a morte do oitavo príncipe de novo. Tão vívido e assustador que parecia enraizar na sua alma. A sensação de estar no próprio palácio e fugindo nos infinitos corredores no pleno desespero, com as mãos estendidas para frente ansiando chegar na saída para se ver livre. Sempre correndo, sempre ofegante e cansado. Sempre… fugindo. — "Venha, pobre criança, ao calor da morte para o frio da vida". A voz suave e melódica sussurrou em seus ouvidos. Lucian deixou de se ver correndo nos escuros corredores do seu palácio para se ver ajoelhado com a lâmina cravada em seu peito. Doía, a dor era tão real que Lucian se via ofegante e se retorcendo para tentar sobreviver. O pulmão parecia explodir de calor, o fazendo se afogar no próprio sangue enquanto tentava respirar. Erguendo a cabeça, ele se via de frente para a estátua da deusa que o olhava como se tivesse pena da cena lamentável. Lucian se sentiu patético por sonhar com a estátua, mas também se sentia ansioso e irritado por sentir a dor real que o verdadeiro oitavo príncipe sentiu. Naquele sonho maluco, a estátua derramava lágrimas como se lamentasse a morte do oitavo príncipe, cuja vida se esvaía lentamente com aquela espada cravada em seu peito. Lucian acordou do sonho com um engasgo ofegante. Ele suava ao ponto do travesseiro ficar molhado e a sua pele se arrepiar de frio quando o vento gelado bateu em sua pele úmida. Olhando em volta, Lucian suspirou e se levantou da cama, andando um pouco para tentar dispersar o maldito pesadelo. Mesmo que usasse o toalete para lavar o rosto e lavabo se acalmar, Lucian se viu andando por aquele quarto indo até a janela mais afastada daquela estátua. A sombra da preocupação nunca abandonando o seu semblante. Lucian ainda podia sentir a sensação da espada contra o seu peito, o que fez acariciar suavemente a região com as pontas dos dedos. Tão real. Tão assustador. Ele já havia mudado a história. O que mais lhe restaria? Por que ele estava tendo aqueles malditos pesadelos? — Como eu pensava, parece que estou sendo assombrado. — Problemas para dormir? A voz que soou como um sussurro assustou Lucian, que virou-se rapidamente vendo Magnus apoiado na janela. — Magnus? O que diabos está fazendo aqui? Espera, como chegou até aqui? O Grão-duque sentou na janela e deu de ombros como se não fosse grandes coisas ele ter saído do quarto dele para invadir o de Lucian. Contudo, o príncipe percebeu que havia uma árvore em sua janela, o que dava a******a para um certo ômega ficar pulando ficando um animal para alcançá-lo. — Te vi com aquele sacerdote metido a b***a. Então dei um jeito de seguir vocês e descobrir onde estavam. — Espera… e o sacerdote que está responsável por você? — Tirando uma soneca bem longa. Lucian afogou a surpresa com as próprias mãos, fazendo Magnus abrir um sorriso arrogante e orgulhoso como se gostasse da sua reação. Magnus com certeza deve ter golpeado o pobre coitado para deixá-lo inconsciente, mas que safado! Rindo baixo, não demorou para Lucian ficar entre suas pernas e abraçá-lo pela cintura. — Você é impossível, sabia? — Eu disse que viria te checar mais tarde — Magnus comentou casualmente, envolvendo o braço na cintura de Lucian — Então, já está morrendo de tédio? — Demais. Estou ficando assustado de ter a companhia de uma estátua — Lucian riu baixo, olhando o ômega com uma expressão carinhosa — Mas já fiz um pouco de oração hoje. E você? Magnus se arrepiou e fez uma careta, como se o assunto fosse completamente desagradável a ele. Lucian riu baixo, tentado a continuar provocando o seu noivo mais um pouco só para ver mais daquele rosto azedo. — Eles sabem que não devem esperar nada de mim. Mas é surpreendente que você esteja flautiando. — Não diria que estou flautiando… é só — Lucian olhou sobre o ombro e observou a estátua — Tive um sonho agora a pouco, com a minha morte. E eu vi essa estátua na minha frente. Acho que estou enlouquecendo. — Definitivamente está. Isso que dá ficar rezando igual aquelas pombas — Magnus deixou Lucian sentar sobre a sua coxa e ambos encararam as costas da estátua com certo desconforto —Deveríamos quebrar? — A menos que seja sua vontade dar margem para uma guerra civil. — Tsk. Apesar dele soltar um riso, achando engraçado a resposta de Magnus, Lucian ainda estava incomodado. Aquele santuário era desconfortável e parecia fazer ele ter sonhos mais estranhos e surreais. Uma coisa é sonhar com uma história que você gosta, outra é sonhar com uma divindade que raramente foi mencionada nesta história.

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