Capítulo 23 - Conforto vindo do Imperador

1503 Words
Já era noite quando o Imperador entrou no quarto e encontrou o seu esposo sentado na penteadeira. Como era de se esperar, o seu semblante parecia preocupado enquanto encarava o nada, coisa que ele fazia quase todas as noites desde que eles "retornaram". A sua mente poderia estar divagando nas margens dos lugares mais longínquos carregando um barco de preocupações que pesariam em seus ombros, deixando transparecer em cada traço de seu rosto. Silenciosamente, o Imperador aproximou por trás e acariciou os ombros largos do esposo, que acordou do devaneio e virou-se para trás e abriu um sorriso. — Oh, vejo que já voltou. — No que estava pensando? Fiquei sabendo que passou a tarde com Lucian, pensei que estaria mais contente. — Sim… O consorte desviou o olhar e soltou um suspiro cansado. — O que foi, Cass? Aconteceu algo? — Eu não sei dizer ao certo. Receio que Lucian tenha profundas mágoas, principalmente a meu respeito. — Por quê? Cassander ergueu os olhos escuros para o esposo e então segurou as mãos para que ambos fossem para a cama. Sentados um do lado do outro, Cassander permaneceu com os dedos entrelaçados ao do Imperador e contou a ele como foi a sua tarde com Lucian, não se esquecendo - é claro - das palavras que o oitavo príncipe lhe disse antes de ir embora. — Ele disse isso mesmo? — Rehael questionou, arregalando levemente os olhos claros — Não imagino Lucian bravo com algo, ele sempre foi quieto. Muito menos que ele ansiasse sair do Palácio. — Não deixo de me preocupar com ele. Cometemos o erro de acreditar que o nosso filho realmente estava bem por conta própria, e sabemos que erramos. Mas agora… — Devemos pensar que acertamos em fazê-lo se casar com o Grimwood — Respondia Rehael, passando o braço em volta do esposo e o abraçando em conforto — Se ele disse isso, então estamos certos em pensar que o melhor lugar para ele é fora daqui. Estamos no caminho certo. — Haa… francamente, Rehael. Eu só queria poder ter sido capaz de ajudar aquela criança. — Eu sei. Os meus filhos não são crianças, eles já são adultos que sabem o que querem, e estão batalhando para conquistarem seus objetivos. Infelizmente também preciso olhar para eles como Imperador, então cometo muitos erros como pai. Se pudesse, protegeria todos eles. Apesar de ser um homem encarregado de governar todo o Império de Roveaven, ele também era um pai falho. A sua libertinagem quando mais jovem acarretou em ter filhos antes do casamento, apesar de nunca ter se arrependido de ser pai de tantos jovens maravilhosos. Só que ele sabia como era perder um filho. Rehael já havia enterrado três filhos seus, que foram vítimas da batalha pelo trono. Foi então que ele compreendeu o peso da coroa que tinha em sua cabeça, e de como o seu brilho dourado era capaz de cegar as pessoas e seduzi-las pelo caminho da ambição, ao ponto de fazerem coisas que jamais deveriam fazer. Certamente ele já ouviu falar de outros reinos que tiveram histórias sangrentas, onde filho assassina o pai apenas para obter o poder. Infelizmente, todo governante tinha que saber o peso do trono. Ao mesmo tempo em que há a glória de governar, há uma espada apontada em seu pescoço, esperando pelo momento perfeito para fazê-lo cair em ruínas. Depois de passar por tamanho sofrimento com a perda de seus filhos, e de enxergar a falha que ele mesmo cometeu, Rehael fortaleceu a sua postura como governante, mesmo que fossem com os demais filhos. A sua frieza e inexpressividade de carinho gerou o afastamento afetivo entre eles, sendo tarde demais para corrigir isso. — Também vimos Raven e Dáhlia hoje. — É mesmo? — Sim — Cassander comentou, também mostrando o quão surpreso ele ficou — E Lucian mencionou que Raven poderia estar interessada no filho mais novo dos Sageclaw. — Raven sempre foi uma garota que se apaixona facilmente pelos rapazes, mas agora ela já deveria procurar por um marido que a ajudasse a fortalecer a sua posição… Haa, francamente não faço a menor ideia do que essas crianças pensam. — Haha, você acabou de dizer que eles são adultos — Sussurrou Rehael, conseguindo arrancar um fino sorriso do rosto estóico do seu esposo — De toda forma, sinto que as coisas estão muito diferentes dessa vez. Isso me deixa ansioso por não saber se estamos acertando ou errando. — Devo concordar, Cass. Só que não será isso que nos impedirá de proteger quem deve ser protegido, não é mesmo? — Tem razão. Dessa vez nós conseguiremos. A quem deve ser protegido… isso desencadeou a lembrança mais amarga de Rehael. As lembranças do sangue escorrendo pelo corpo do seu filho, e de Cassander o abraçando apertado enquanto gritava na chuva… Aquela cena nunca sairia da mente de Rehael, que se via incrédulo naquele palácio vazio e abandonado enquanto os cavaleiros gritavam do lado de fora sobre uma invasão. Por várias noites ele sonhou com aquele momento, revivendo a dor e a angústia, a frustração de ter falhado em proteger um dos seus filhos. Até quando ele teria que continuar perdendo o que era precioso, por causa de um trono? Jamais em sua vida ele imaginou que passaria por tamanho sofrimento. Tampouco imaginou que arrastaria alguém tão puro como Cassander para tal inferno. As delicadas mãos de Cassander seguraram o rosto de Rehael e o trouxeram de volta à realidade. O doce beijo depositado em seus lábios e os feromônios que ele liberava acalmavam o Imperador. A mordida em seu ombro formigou, a conexão entre eles continuava forte compartilhando suas emoções. — Por favor, não faça essa cara. Nós iremos encontrar uma maneira. Para isso, faremos o que queremos, não é? Como poderia dizer não às doces palavras do seu esposo? Cassander era tão gentil e puro que nem parecia um alfa. Rehael apenas sorriu e concordou com a cabeça, envolvendo os braços na cintura de Cassander e o abraçando apertado. — Sim, faremos o que queremos. No dia seguinte, Rehael estava no seu escritório lidando com alguns documentos que precisavam ser assinados o quanto antes. O silêncio naquele cômodo era o ideal para ele se concentrar, ao mesmo tempo que era agonizante já que os seus pensamentos insistiam em reviver aquela amarga memória. Por um momento ele parou de escrever, deixando a caneta sobre a mesa e massageou as suas têmporas que insistiam em doer. — Gostaria de fazer uma pausa, Vossa Majestade? — Sim, Hector. E por favor, me traga um chá para acalmar os nervos. — Como desejar. O assistente beta se curvou e se retirou do escritório do Imperador, o deixando sozinho com os próprios sentimentos. Rehael abriu uma das gavetas de sua mesa e retirou um pequeno medalhão de prata com a imagem da Deusa Kronosis, e a deixou entre suas mãos enquanto ele orava silenciosamente. — Graciosa mãe, pedra brilhante que guia os perdidos, guie-me na vasta escuridão até o meu farol e me agracie com a sua sabedoria, que assim seja e assim se faça. Quando ele terminou de sussurrar a prece, Rehael soltou um riso abafado ao perceber que depois de velho é que começou a ser mais religioso. Quando era jovem, ele costumava apenas ver aquilo como uma extensão política que ele precisava dominar. Mas agora… Era a sua última esperança. Se nem mesmo a Deusa das Almas e do Tempo poderia confortar o seu coração, Rehael poderia simplesmente quebrar e desistir de tudo. Alguns minutos depois, o assistente voltou com uma bandeja de chá e serviu o seu Imperador. Rehael bebeu um gole do chá quente e suspirou se sentindo mais calmo, até mesmo percebeu que Hector carregava algo debaixo do braço. — São cartas? — Isso mesmo, Vossa Majestade. Eu pretendia separá-las antes de entregar ao senhor. — Não é necessário, me entregue. Hector entregou as cartas ao Imperador, que começou a separar apenas ao ler o nome do remetente. Um deles lhe chamou a atenção, sendo o único envelope a ser aberto e seu conteúdo lido. — Eu tinha me esquecido desse detalhe. — Algum problema, Vossa Majestade? — Precisamos da aprovação do templo para o noivado de Lucian e do Grão-duque. — Pensei que tivesse cuidado disso pessoalmente quando visitou o templo na última vez, por isso não me atrevi a mencionar a respeito. Suspirando cansado, o Imperador deixou a carta sobre a mesa. — Não, eu me esqueci por completo. A última vez que tivemos o casamento foi o meu, e já se passou muito tempo. Por favor, Hector, me traga alguns papéis de carta, preciso avisar a Lucian e o Grão-duque deste compromisso. — Como desejar, Vossa Majestade. Depois que os papéis foram entregues, o próprio Imperador escreveu uma carta aos dois rapazes comprometidos. Apesar de ter sido breve em suas palavras, deixando claro que se tratava de um dever real, Rehael não deixava de pensar no alívio que sentia em seu peito.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD