Capítulo 36 - Desejo de ficar mais

1935 Words
O assombro tomou conta do seu corpo quando Lucian encarou as próprias mãos manchadas de sangue. O tremor que seus músculos sentiam fizeram suas pernas falharem em sustentar o seu peso, o obrigando a cair no chão agonizando a dor que sentia. Baixando a cabeça, ele tentava assimilar a ponta da lâmina que atravessou o seu peito com o "como" aquilo havia ocorrido. O seu peito subia e descia desesperadamente tentando se manter vivo. Como se estivesse enferrujado, o seu pescoço demorou para virar e fazer Lucian encarar o seu assassino. O sorriso malicioso era nítido enquanto aquela pessoa acenava para si, como se despedisse de alguém que foi embora de uma mera festa do chá. Por quê? Por que aquela pessoa fez aquilo consigo? O seu pulmão ardia e sua boca tossia o sangue coagulado enquanto o seu corpo caía no chão. O tremor e o frio que o abraçava junto com o pavor de estar enfrentando a própria morte não eram nada saborosos. Em um rompante Lucian se sentou na cama ofegando. O suor escorria de sua testa e seu peito ardia assim como a garganta parecia prender o grito. Olhando em volta, o oitavo príncipe se sentiu desnorteado com a mudança brusca de cenário, inclusive sua mão descansava sobre o seu peito onde jurava ter sentido uma lâmina fria e afiada penetrando sua carne. Os olhos de diamante avaliavam os dedos de sua mão, se surpreendendo em perceber a própria nudez e calor. A confusão aumentou quando ele não se lembrava exatamente do que tinha acontecido consigo mesmo, pelo menos até ouvir uma voz. — Ah, você já está acordado. Magnus estremeceu levemente ao acordar. Os olhos carmesins pareciam confusos e sonolentos antes de se erguerem para Lucian. Como se trocasse de lugar com outra pessoa, Lucian sorriu levemente. — Acordei agora também. Como está se sentindo? — Estou perfeitamente bem, mas e você? Deve estar exausto. — Questionava Magnus apoiando a cabeça nos joelhos e abrindo aquele sorriso prepotente, apesar dele parecer preguiçoso ao bocejar. Ah, lá estava ele dando aquele sorriso de novo. Com aquela expressão arrogante justamente para provocar Lucian e fazê-lo revidar. Ora, se era isso o que ele queria, então o entregaria de bom grado. Lucian revidou com um sorriso inocente, imitando a sua pose na cama. — Como poderia estar m*l depois de alguns dias dormindo com você, Magnus? — Hah, seu rato maldito. — Não foi isso o que você gemeu por três dias, Magnus… O ômega estreitou os olhos e virou o rosto, soltando um resmungo baixo. Lucian riu ao entrelaçar os dedos nos cabelos de Magnus, já acostumando com esse grau de i********e entre eles. Além de ser simplesmente sensacional observar o contraste da sua mão naqueles cabelos escuros, sem ser xingado. Os fios eram tão macios ao toque. Lucian estreitou os olhos e suavizou a sua expressão ao se perder naqueles cabelos bagunçados e macios. Os dedos de Lucian foram para o pescoço de Magnus, tocando suavemente as marcas de mordida espalhadas em sua pele, em especial uma atrás de sua orelha onde estava ligeiramente inchada. Só de dar um leve apertão, o príncipe viu Magnus estremecer e lançar um olhar afiado ao segurar o seu pulso com firmeza. — Onde pensa que está tocando? — Hm? Tinha uma marca de mordida ali. — Eu sei, por isso fique longe desse lugar. — Está com medo de que eu te marque? Magnus bufou e soltou o pulso de Lucian. — Como se você tivesse coragem de me marcar. — Oh, o gatinho tem garras — Lucian sussurrou, abrindo um sorriso inocente ao ser alvo do olhar mortífero. — Pare de falar besteiras e levante esse traseiro da cama — Magnus o repreendia, jogando as cobertas sobre o seu rosto — Os criados já devem estar quase invadindo o quarto para poder começar os preparativos. Puxando a coberta do seu rosto, Lucian olhava curioso para Magnus. — Preparativos? — Sim, hoje é o banquete do nosso noivado. Eita, ele havia se esquecido completamente daquele detalhe. Não era culpa sua que algo muito importante atraiu a sua atenção completamente. Tal como Magnus havia dito, os criados do Palácio do Sol estavam alinhados na frente da porta do quarto, esperando pela permissão dos rapazes para entrarem. Somente quando Magnus abriu a porta e tirou a gravata da maçaneta é que aquela linha de pessoas betas entraram e começaram a trabalhar, deixando Lucian aturdido com súbito movimento tão cedo pela manhã. Enquanto o casal vestia um robe grosso para esconder a nudez, os criados rapidamente se dividiram entre fazer a cama e preparar a mesa do café da manhã deles. Era vergonhoso ter tantas pessoas cuidando deles sabendo o que aconteceu nos últimos dias, Lucian não estava acostumado com aquilo. — Que cara é essa? Lucian piscou algumas vezes e se inclinou levemente na direção do ômega. — Você acha que eles sabem o que aconteceu nesse quarto? — Hã? É claro que sabem. Os criados sempre sabem quando seus mestres estão no cio e se preparam para cuidar do pós-cio. Foi impossível ele não imaginar aquelas pessoas paradas na porta ouvindo os gemidos pela porta, o que só piorou a sua vergonha. As cortinas e janelas foram abertas, o ar circulava dissipando o cheiro intenso de feromônios de Magnus e Lucian. Os dois rapazes se sentaram para tomar o café da manhã juntos, o que por si só era inédito. Lucian olhava de um lado para outro, absorvendo uma atmosfera tão diferente. Quando foi que ele teve companhia para tomar café da manhã? Lucian tinha Magnus falando algo com ele enquanto passava geléia na torrada. E não tratava-se apenas de ter um homem bem vestido falando elegantemente sobre política, mas sim de um homem usando apenas um robe, com os cabelos bagunçados e reclamando que Lucian deveria comer mais por ele ser magro demais. Ah… Lucian sentia cócegas em seu peito. Magnus ergueu os olhos vermelhos para Lucian, percebendo o rubor nas bochechas de Lucian e a expressão carinhosa que ele tinha. — O que foi? Lucian apenas inclinou a cabeça e sorriu docemente. — Eu só estou feliz por te ter aqui comigo. Foi a vez do ômega em arregalar levemente os olhos de surpresa, talvez embasbacado por sentir a sinceridade vindo dele. — Você é definitivamente irritante, Lucian. — Sou? — Lucian ria, percebendo as orelhas de Magnus ficarem vermelhas enquanto ele desviava os olhos para a torrada em mãos. Tudo bem ele ser egoísta e desejar ficar naquele corpo por mais tempo? Depois de terem tomado café da manhã juntos, os criados separaram o casal para começar os preparativos do grande evento daquele dia. Lucian foi arrastado para o banheiro, onde ele recebeu o banho que tirou não apenas os fluidos secos entre suas pernas e abdômen, como também tirou o cansaço do seu corpo. Foi a primeira vez que Lucian recebeu uma massagem no corpo, um banho digno da realeza que deixaria a sua pele macia e perfumada. Coisa que ele jamais cogitou em ter nem mesmo na outra vida. Mas lá estava ele, sendo paparicado como nunca foi. Depois do banho, Argus o ajudou a se vestir impecavelmente, escondendo as marcas de mordidas e chupões que Magnus deixou em sua pele. Somente deram uma pausa para Lucian almoçar, e foi demorado porque ele precisou dar pitacos sobre os últimos arranjos da festa. Ainda bem que se tratava de coisas insignificantes, ou então ele estava ferrado por estragar tudo o que o pai do príncipe tinha decidido. E falando no dito cujo, Cassander visitou Lucian somente no entardecer, quando colocava os últimos arranjos do seu traje. Como esperado, o tecido branco combinava muito bem com a elegância de Lucian, realçando os acessórios que ele precisava usar como príncipe do Império. — Muito bem, está impecável. Ora essa, é claro que estava impecável, Lucian era exuberante. Os seus longos cabelos dourados estavam perfeitamente tratados e alinhados, caindo sobre os seus ombros. Ninguém se atreveria a associá-lo à sua antiga imagem de príncipe renegado. Lucian virou-se na porta encontrando Cassander também arrumado. Ele se surpreendeu quando percebeu o manto real que só tinha visto em pinturas antigas ou filmes na outra vida, com aquele tecido vermelho e plumagem branca em volta. Cassander estava majestoso, usando a coroa em sua cabeça e várias medalhas em seu peito. Ah… aquele homem era, de fato, um consorte imperial. Ao entrar no quarto, Cassander ergueu a mão em um pedido silencioso para que os criados os deixassem a sós, pedido esse que foi atendido prontamente. Uma vez sozinhos, o alfa parou na frente de Lucian e o olhou de cima a baixo. — Obrigado, Vossa Majestade. Você também está bonito. Cassander sorriu docemente e inclinou a cabeça. — Obrigado. Eu já ansiava por esse momento várias vezes, mas agora que irei vivenciar isso junto com você e Rehael… haha, me sinto nervoso. Eram em conversas como aquelas que Lucian sentia a sua guarda baixar para o Consorte, ele tinha um tom de voz tão suave e calmo que chegava a ser relaxante. — É compreensível, eu também estou um pouco ansioso. — Vai ficar tudo bem, só precisa se divertir ao lado do seu noivo e agradecer os convidados por terem vindo — Cassander afagou os ombros de Lucian e sorriu docemente. Estava realmente se acostumando com a presença de Cassander. Cassander repassou com Lucian sobre alguns nobres que ele deveria cumprimentar por etiqueta, em especial seus irmãos que provavelmente viriam acompanhados de parentes de suas famílias maternas. O objetivo era evitar qualquer problema político, apesar de ainda assim precisar manter a guarda alta para qualquer surpresa. Então, depois daquela conversa, Cassander deixou Lucian sozinho para ir se encontrar com o Imperador. Respirando fundo, aquela era a primeira vez que ele se via nervoso por algo. O primeiro grande evento que não fazia parte da história original. Lucian se olhava na frente do espelho e suspirava sem desviar os olhos do próprio rosto. Havia se acostumado a ser Lucian, mas agora ele estava vivendo uma história completamente diferente do seu personagem. Apesar de ser uma noite de festividades no palácio imperial, Lucian não deveria baixar a guarda. No salão do Palácio do Sol estaria o verdadeiro vilão da história, ansiando para roubar a atenção de Lucian e pôr as mãos no poder político que ele iria adquirir nesta noite. A mudança na história abriria um caminho novo com consequências inimagináveis. Além disso, Luciano não fazia a menor ideia de quando ele deixaria de ser o oitavo príncipe. Da mesma forma que era uma incógnita o como ele veio, o quando voltaria também era um mistério. A porta do quarto foi aberta, Lucian observava pelo reflexo do espelho Magnus usando o traje impecável no tom vinho e os cabelos arrumados para trás. Lindo e estonteante ao ponto de Lucian estar disposto a se casar naquele mesmo instante. Arrumando as luvas pretas, Magnus entrava sem parecer incomodado ou nervoso com o evento. Pelo contrário, ele esbanjava confiança como se estivesse acostumado a ser a estrela da noite. — Está na hora, Lucian. Respirando fundo, o príncipe deu as costas ao espelho e se aproximou estendendo o braço para Magnus, que prontamente o segurou. — Estamos ficando acostumados a isso, você não acha? — Isso é ainda mais irritante — Magnus rosnou. Assim, Lucian caminhava pelos corredores do seu pequeno palácio ao lado do seu noivo. Seja lá o que foi que trouxe ele até aqui, por favor… permita que ele possa viver mais um pouco ao lado daquele ômega.
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