Capítulo 13 - Irmãos Grimwood

2030 Words
Assim que passou pela enorme porta da mansão Grimwood, Magnus retirou o seu sobretudo pesado e entregou ao mordomo beta. Estando livre o suficiente para respirar fundo, o ômega atravessou a sala e seguiu o corredor da mansão escura, tendo o mordomo em seu encalço. — Como foi a sua reunião com o oitavo príncipe, Vossa Graça? — Esclarecedor e irritante. O que temos por aqui? — Chegaram algumas cartas para a Vossa Graça e alguns documentos que o Barão pediu para que você revisasse. — Mais trabalho… e quanto aos meus irmãos? — Saíram para o centro comercial. Acredito que estejam procurando um estilista para fazer o terno do mestre Jesse. — Ótimo, terei paz por algumas horas. Magnus entrou em seu enorme escritório, deparando-se com uma pilha de documentos sobre a sua mesa. Respirando fundo, ele se sentou atrás da pilha e começou a ler os documentos e a separá-los antes de começar a trabalhar em cima deles. Como sempre, o Grão-duque tinha que cuidar dos assuntos do seu território ao leste. Toda vez que ele começava a trabalhar, esquecia por completo do que acontecia em sua volta. Nem mesmo notava quando o mordomo lhe serviu uma xícara de café quente e deixou um prato de biscoitos amanteigados por perto, ele apenas comia e bebia enquanto os olhos carmesins seguiam as finitas e tortuosas linhas nas folhas. — Aqui estão as correspondências do dia, Vossa Graça. Quando Magnus ergueu a cabeça, ele sentiu uma veia saltar na sua testa. A bandeja de prata estava cheia de cartas. — Muito bem, vamos ver o que temos de útil. Daquela pilha com cerca de vinte correspondências, apenas cinco foram consideradas úteis. Aquelas cinco foram lidas atentamente, e Magnus as deixou separadas por se tratarem do seu trabalho como Grão-duque. As outras sete eram convites para festas e banquetes, que provavelmente Magnus empurraria para o seu irmão ir no seu lugar. O restante… — O que devo fazer com os presentes que vieram junto das cartas, milorde? Não foi necessário Magnus ver quais eram os presentes. Sempre era a mesma coisa, os mesmos buquês de flores, caixas de chocolates ou então par de luvas e canetas. Os alfas que estavam ávidos para conquistar o posto de consorte do Grão-duque não poupavam recursos para enviar presentes caros juntos com as suas cartas cheias de gracejos. — Queime, coma, jogue fora. Faça o que quiser. — Como desejar. Ah, certo, e se algum convidado indesejado aparecer para vê-lo? Magnus bateu o indicador sobre a mesa enquanto pensava. Então ele encarou a única carta que estava separada no lado direito na sua mesa. A que continha o selo real e uma caligrafia elegante que ele jamais deveria ignorar. Então, ele pegou um papel de carta e começou a escrever, sendo cuidadoso na escolha de palavras e garantindo que fosse objetivo e claro. Depois, ele esquentou a cera e envelopou a carta com extremo cuidado e a entregou para o mordomo, que ainda esperava pela resposta de sua pergunta. — Diga que não estou recebendo visitas. Estou esperando a Sua Majestade me conceder uma audiência. — Uma audiência com a Sua Majestade? — Sim. Por isso, apenas receba a visita do mensageiro do palácio imperial. Mas caso esses visitantes irritantes persistirem em esperar, você tem a permissão para chutá-los para fora. — Isso não seria muito adequado, milorde. — De fato não é, mas sou o Grão-duque — Magnus suspirou apoiando a cabeça na palma de sua mão, em uma pose entediada enquanto encarava aquela bendita carta — E talvez o futuro genro do Imperador, provavelmente isso me dê algum tipo de licença poética para desprezar esses alfas inúteis. O mordomo arregalou os olhos de surpresa, mas sabiamente não teceu comentários a respeito. Ele deixou Magnus continuar a separar as cartas, e queimou todas as que continham o cortejo de homens nobres e alfas. Magnus continuou trabalhando depois de ignorar as cartas, e mesmo quando alguns convidados indesejados realmente apareceram na mansão, Magnus nem saiu do seu escritório. Tampouco se preocupou com isso, afinal o seu mordomo sempre soube cuidar bem desses assuntos. Quando já era tarde, a porta do seu escritório foi aberta, os curiosos Jesse e Eugene adentraram no escritório quando Magnus apenas ergueu a cabeça em sua direção. — Vejo que voltaram do seu passeio. Como foi? — Divertido, irão trazer o terno do Jesse para o baile da Baronesa Vaugh ainda essa semana. — Pensei que fosse escolher o terno do seu casamento. — Também tirei medidas, já que estou fazendo no mesmo ateliê — Jesse comentou calmamente. Os dois irmãos mais novos se sentaram no estofado bordô e logo o mordomo entrava no escritório servindo alguns lanches. Magnus deixou eles à vontade e continuou o seu trabalho, apesar de parte da sua atenção estar direcionada a eles. — A dona da loja nos deu alguns doces enquanto esperávamos pelas medições. Ela comentou que todos estão ansiosos pelo casamento de Jesse. — É natural, considerando que dentre nós três, eu estou me casando primeiro. Jesse e Eugene olharam de canto para Magnus, que apenas suspirou apesar de encarar o papel sobre a sua mesa. — Por acaso vocês tem algo a me dizer? — É necessário que digamos algo, meu irmão? — Não. — O Carsen disse que você foi ao palácio hoje, foi visitar o primeiro príncipe de novo? — Não, fui visitar o oitavo. Jesse e Eugene ficaram surpresos e trocaram olhares antes de se virarem no sofá ansiosos para saberem mais. — Como assim? Por que foi visitar o oitavo príncipe? — Presumo que tenha ido agradecê-lo por ter ajudado Eugene na outra noite. Uma veia saltou na testa de Magnus. É claro, ele havia se esquecido daquele incidente. Lucian havia reservado suco de maçã para o seu irmão mais novo, que ainda não havia estreado socialmente. Magnus havia levado Eugene, já que o pobre garoto ficaria sozinho na mansão durante o banquete de celebração. Além disso, Cadec havia dito que não tinha problema em levá-lo, já que muitos nobres também levariam os seus filhos. O problema era que os filhos em questão eram crianças e não um jovem de dezessete anos. — Isso mesmo, eu fui… agradecê-lo pela gentileza. — Espero que também se desculpado sinceramente pelas suas grosseiras palavras. — Acho que me desculpei na ocasião, não é, Jesse? Jesse o encarava inexpressivamente, como sempre fazia. O seu irmão era alguém tão quieto e simples, que chegava ser uma tática: manter em silêncio até o culpado se auto sabotar, um plano que dava certo. — Tudo bem, tudo bem. Eu apenas tinha alguns assuntos a resolver com ele. Não precisa me olhar desse jeito, não o ofendi…. ou pelo menos ele não ficou ofendido. — Seria muita sorte a Sua Alteza não ficar ofendido. Ele me pareceu ser um bom e gentil homem. — Sabe que eu gostei dele? — Eugene disse, mordendo um macaron — Uma vez, na academia, a filha do Visconde Bauhmer disse que foi junto com o pai dela para o Palácio do Sol, e que enquanto o pai dela tinha uma audiência com o Imperador, ela caminhou pelo palácio e acabou se aproximando da parte em que o oitavo príncipe mora. Lembro muito bem dela dizendo que o viu pela janela e jurou que era um fantasma. — As pessoas têm uma ideia estapafúrdia sobre o oitavo príncipe. — Foi o que pensei, Jesse. m*l acreditei quando o vi no banquete. Ele é muito bonito e elegante, não se assemelha em nada a um fantasma. — E pensar que meu adorável irmãozinho foi comprado por um suco de maçã — Murmurava Magnus com um sorriso divertido. As bochechas de Eugene ficaram levemente rosadas, tal como a cor dos seus olhos. — Irmão! Estou apenas sendo sincero. O comportamento dele não condiz nada com o que já ouvi falar a seu respeito. — Nisso eu concordo. Apesar de eu estranhar o fato dele ter acompanhado a princesa Raven nas últimas festas. O primeiro príncipe não comentou nada a respeito? Magnus desistiu de trabalhar, os seus irmãos pareciam muito comunicativos naquela tarde. Deixando a caneta sobre a mesa, o Grão-duque apenas cruzou os braços e se encostou na cadeira, se permitindo descansar um pouco. — Não, Cadec não comentou nada sobre o oitavo príncipe estar apoiando Raven. — Vocês são maldosos demais, eles são irmãos. Ele não pode acompanhá-la apenas por serem próximos? — Tem razão, Eugene, perdoe-nos — Jesse dizia, afagando a cabeça do seu irmão caçula. A inocência do seu irmão mais novo deveria ser mantida o quanto pudesse, imaginava Magnus. Apesar de que em algum momento, principalmente quando ele entrasse na alta sociedade, Eugene fosse descobrir o quão sujos são os nobres, por enquanto não faria m*l preservar aquela inocência. Enquanto ele sorria confortável com aquela conversa, Magnus voltou a reparar na carta do Imperador que estava sobre a sua mesa. Como os seus irmãos reagiriam se soubessem da proposta de casamento? Dificilmente Magnus falava sobre os seus relacionamentos, mas era comum o Grão-duque se intrometer na vida romântica dos seus irmãos, principalmente quando Jesse ainda estava solteiro e recebia várias propostas de ômegas e betas. Levando em conta que ele estava envolvido em um grande problema com Lucian, ele estava curioso para saber o que os dois pensavam sobre uma mera ideia. — Eu recebi uma carta do Imperador, há alguns dias — Começou Magnus, e só de mencionar o Imperador, os seus irmãos o encararam atentos — Ele me fez uma proposta de casamento. — O quê?! Jesse cobriu a boca de Eugene, antes que ele começasse a gritar. Eugene engasgou, precisando de alguns tapas nas costas para recuperar o fôlego. — O Imperador? Por acaso ele está tentando te casar com alguma filha dele? Até onde sei, a segunda princesa é uma alfa. — Todos os seus filhos estão solteiros, então é natural que ele se preocupe com esse assunto. — E o que você respondeu, Mag? — Eu ainda não respondi — Mentia Magnus, apesar de soar muito sincero. Não poderia contar aos seus irmãos que a sua moral e consciência o obrigaram a aceitar o pedido de casamento por ter desonrado o oitavo príncipe. Seria um péssimo exemplo, principalmente para Eugene. Além disso, Magnus sempre fazia… certas coisas longe dos olhos dos seus irmãos. Nenhum deles deveria sujar as mãos para terem uma boa vida, Magnus faria isso por eles. Magnus não se importaria em ser o vilão daquela sociedade, protegeria os seus irmãos e faria com que eles vivessem o conto de fadas em que acreditavam ser protagonistas. Se os seus pais ainda estivessem vivos, eles poderiam cuidar daquele assunto com mais sabedoria e carinho. Seus conselhos valiosos serviriam para proteger os três irmãos, principalmente Magnus não teria que trilhar tal caminho e optar por métodos obscuros para conseguir o que queria. Talvez o seu pai estivesse desapontado consigo por ele ter cometido um crime e ainda ter caído na armadilha do oitavo príncipe. Talvez sua mãe ficaria preocupada se soubesse que ele aceitou se casar com Lucian. Os dois provavelmente o abraçariam calidamente e diria que ele não precisava segurar o peso do mundo sozinho e que ele merecia encontrar alguém digno de estar do seu lado. No entanto… os seus pais não estavam mais com ele. Magnus precisava tomar decisões por ele e por seus irmãos. Para isso, precisava manter alguns segredos deles, como o fato dele ter tentado drogar Stephen Baragnon. Quando anoiteceu, o mordomo bateu no escritório avisando que o jantar estava pronto. Depois que Eugene saiu correndo para ir comer, Jesse se levantou do sofá e parou para olhar o seu irmão mais velho. Estando apenas os dois ali, Jesse lhe comentou. — Um casamento político… você sempre me disse para me casar com alguém que eu ame muito. Sabe que você também merece ouvir tais palavras, não é, Mag? Sem esperar por uma resposta, Jesse deixou o cômodo. Magnus se pegou sorrindo levemente, feliz por seu irmão estar preocupado consigo. Pelo menos uma coisa era certa: os seus irmãos não tiveram uma má impressão sobre o oitavo príncipe.
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