Capítulo 15 - Caminhada no jardim

1808 Words
— Eu já disse que não estou grávido! — É apenas uma consulta com o médico. Mesmo que não esteja, seria bom fazer uma checagem. — Considerando que ambos foram descuidados, seria melhor tirarmos a dúvida. Hector, por favor, chame o médico imperial. — Sim, Vossa Majestade. Magnus queria pular da janela o quanto antes. Apesar dele e Lucian estarem drogados e com seus instintos à flor da pele, Magnus se lembrava perfeitamente que o oitavo príncipe não ficou atado em si. Talvez pela quantidade de droga utilizada ter sido pequena ao ponto deles se sentirem saciados com apenas uma transa, ou talvez fosse por seus corpos resistirem fortemente aos efeitos secundários… Independente de qual fosse o motivo, era fato que Magnus se lembrava perfeitamente daquela noite e tinha certeza de que Lucian não ficou atado. Ainda assim o oitavo príncipe era teimoso e habilmente deixou o Imperador preocupado. Claro, a reputação da Família Imperial estaria em jogo. Onde já se viu o oitavo príncipe, reconhecido por ser o tímido que m*l existe, de repente conseguiu engravidar o famoso Grão-duque? Isso seria notícia por todo o Império e traria vergonha para todos. — Haa… que seja. Se estão tão incomodados com isso, farei a consulta com o médico. Mas não digam que não avisei. — Não se preocupe, é apenas uma consulta. Enquanto esperavam pela vinda do médico, o Imperador conversou com Magnus sobre os detalhes daquele compromisso. Tal como estava acostumado a ver quando se tratava de trabalho, o Imperador se mantinha sério e inexpressivo apesar de ser muito detalhista sobre a entrada de Magnus na família imperial. Havia tanta coisa, apesar que muitos outros Magnus já possuía por ser um Grão-duque. Como por exemplo, o fato de Lucian continuar tendo que exercer as suas funções como príncipe. Magnus não fazia a menor ideia do que Lucian fazia no seu dia a dia e muito menos quais seriam as suas responsabilidades, mas mesmo que o oitavo príncipe se mude para a Mansão Grimwood e cumpra as suas novas funções como anfitrião dos Grimwood, ele ainda tinha que cumprir uma agenda imperial. Magnus sentiu um pouco de pena de Lucian, mas ao mesmo tempo ele imaginava o alfa atrás de uma mesa choramingando feito uma criança birrenta enquanto pilhas de documentos se acumulavam… isso parecia uma doce vingança, não? Inconscientemente, Magnus olhou na direção de Lucian, que estava sentado no sofá lendo algum livro que pegou da estante do escritório do Imperador. Era como se nada o afetasse, como se aquela situação não lhe dissesse respeito. "Maldito, enquanto estou ouvindo um sermão do seu pai, você está lendo?… vou te enterrar de trabalho, me aguarde", pensava Magnus. O médico real finalmente chegou no escritório do Imperador. O homem de cabelos brancos avaliou Magnus, checando o seu pulso, verificando sua temperatura, tocando levemente seu abdômen e fazendo demais checagens visuais e perguntas pontuais. O exame em si não demorou muito. — Não há nenhum sinal de gravidez, milorde. No entanto, há casos de ômegas demorarem em demonstrarem os sintomas. Recomendo que fique atento pelos próximos dias para o caso de se sentir indisposto. — Ha… — Obrigado, doutor. Lamento que tenha vindo para uma consulta tão breve. — De maneira alguma, Vossa Alteza. Também passarei nos aposentos de Sua Majestade para fazer o exame de rotina do consorte. Magnus vestiu novamente o seu casaco e não percebeu o semblante estranho que tinha no rosto de Lucian. O Imperador conversou brevemente com o doutor antes dele sair do escritório, e quando Rehael voltou-se para os dois rapazes novamente, ele foi categórico: — Considerando que ainda há chances de você estar grávido, será realmente melhor adiantarmos o casamento de vocês. — Vossa Majestade… — Magnus começou, mas ele soltou um suspiro pesado e apenas balançou a cabeça — Tudo bem, não precisam encontrar motivos para antecipar o casamento. Se estão com tanta pressa assim, que assim o façamos. — Acredito que o baile de inauguração da temporada deva ser o momento ideal para anunciarmos o noivado de vocês. A temporada… era conhecido como o início da primavera onde os nobres realizavam grandes bailes, concertos e demais eventos sociais para que os solteiros pudessem encontrar um bom par. Para Magnus era a temporada dos infernos, já que os alfas não perdiam tempo em tentar cortejá-lo. Apesar de que finalmente poderia se ver livre daquele incômodo. O Imperador logo dispensou os dois rapazes, avisando que os demais cuidados com o preparativo do casamento seria dito a eles mais tarde. Lucian suspirou pesado ao sair do escritório do Imperador, e movimentou o pescoço levemente. — Credo, ele parece animado demais. — Você é o primeiro príncipe a se casar, é esperado que o Imperador esteja ansioso. — Acredito que ele esteja mais sedento para evitar que você escape das minhas mãos, não acha? Magnus revirou os olhos, odiando o fato de Lucian ter razão. No entanto, Magnus era um homem íntegro que jamais fugiria das suas responsabilidades. Independente de como aconteceu, nada mudava o fato de que ele dormiu com Lucian e o “deflorou”. Qualquer homem em seu mais perfeito juízo saberia que a etiqueta nobre pede que a primeira vez seja dentro de um casamento. Se o casal terá amantes durante o matrimônio, ou se aventurar nos bairros boêmios isso já eram outros quinhentos. — Você também parece ansioso para não perder a sua chance de se casar comigo, Vossa Alteza. — Por favor, me chame de Lucian. Somos noivos agora, certo? Lá estava aquele sorriso inocente. Magnus tinha trinta tipos de arrepios diferentes quando via aquele sorriso falso. — Certo, Lucian. — Muito bem. Respondendo a sua pergunta, sim estou ansioso para o nosso casamento. — E posso saber o porquê? — Apenas se você aceitar uma caminhada comigo — Lucian estendeu o braço para Magnus. O ômega estreitou os olhos carmesins e por fim suspirou pesado antes de segurar o braço dele e acompanhá-lo pelo extenso corredor do Palácio do Sol. Longe dos olhares dos criados e guardas, Lucian continuou a conversa em um tom calmo, provavelmente para que apenas o ômega o ouvisse. — Sei que você está sedento para ter mais influência no submundo e admiro isso. — Como você sabe disso? — Ora ora, não me veja com maus olhos, sou um príncipe muito observador, sabe? Você não é muito ativo nas atividades sociais, sendo que Jesse Grimwood cumpre com tal dever. No entanto, os homens nobres te respeitam e te tem em grande estima. Isso não significa que você está fazendo negócio por baixo dos panos? Magnus avaliava a expressão calma de Lucian. Ele dizia aquelas palavras com tamanha certeza que chegava a ser fascinante. Como ele descobriu sobre a sua vontade de ser um lorde do submundo? Quando ele descobriu isso, sendo que esse tempo todo Magnus tem sido cuidadoso para não ser visto por ninguém? Quer dizer, não que fosse um segredo guardado a sete chaves… — Por acaso foi Cadec quem lhe contou? — Não, por incrível que pareça não sou tão próximo aos meus irmãos. — Isso parece uma bela mentira, considerando que tem acompanhado a princesa Raven nos últimos eventos. Os dois passaram pelas portas de vidro e caminharam pelo longo corredor que dava vista para o jardim do Imperador. Finalmente alcançando os cinco degraus, eles puderam seguir o caminho de pedrinhas brancas para adentrar no jardim enquanto continuavam a conversar. — Haha, realmente parece bem contraditório, mas não deixa de ser verdade. Considerando que iremos nos tornar uma grande família, você notará que os meus irmãos ficarão… ansiosos para se aproximarem de mim. — E por que isso? Lucian virou os olhos claros para Magnus e abriu um sorriso enigmático que causou um arrepio no Grão-duque. — Porque sou a marionete perfeita para os ambiciosos. — O que… Por que está dizendo isso? — Magnus se surpreendia e franzia a testa estranhando tal fala. — Não vamos nos fingir de tolos, Magnus. Você só está aceitando se casar comigo para manter a sua honra nobre e também para tirar proveito do meu status de príncipe. Apesar de você apoiar Cadec como herdeiro do trono, eu sou um… vazio. Um vazio que não chama atenção e pode ser usado como desejar. Acessar áreas e regiões que me pertencem e torná-las suas. Magnus se surpreendia cada vez com a astúcia de Lucian. Ele definitivamente tinha lido a sua mente. Os dedos enluvados apertaram o braço do príncipe, e Magnus engoliu em seco ao notar que ele foi desvendado tão facilmente. Sim, Lucian provavelmente detinha posses e territórios que Magnus poderia explorar por ser o seu marido. Se ele precisasse de algo no submundo e que não pudesse buscar por conta própria, poderia utilizar o nome de Lucian. Ele basicamente queria usar o oitavo príncipe como sua máscara para obter maior influência no submundo. — E você não fica com raiva em saber que está se casando comigo para ser usado? — Não me importo com isso. Se não for por você, serei usado por outra pessoa ou até mesmo pelos meus irmãos sedentos por poder. De toda forma, é um risco a correr e na minha visão, você é o que me trará maior segurança. — Segurança? O que? Está dizendo que os seus irmãos poderiam te ferir? — Não ache que a Família Imperial é uma família unida pelo amor. Todos usam máscaras. O mesmo jogo que os nobres jogam nas festas, usando palavras enfeitadas para entregar mensagens escondidas, a hostilidade escondida atrás de um sorriso… esse é um jogo que foi a própria Família Imperial criou e se tornou mestre. Era incrível como ele poderia dizer aquilo sobre o próprio sangue. Magnus não parava de se surpreender com a frieza de Lucian. Naquele exato momento era como se ele estivesse jogando o tal jogo, maldizendo a própria família com um sorriso inocente com uma expressão calma enquanto caminham pelo belo e florido jardim do Imperador. Mas o que realmente impressionou Magnus, foi o fato de Lucian parecer acostumado com aquele jogo. — Eu não pretendo te ferir — Disse o ômega por fim, apertando o braço de Lucian que o olhou levemente curioso — Serei o seu marido, irei te respeitar e te tornar a minha prioridade. Claro, estarei te usando, mas isso não significa que falharei com os meus deveres em cumprir o meu voto conjugal. Lucian o encarou por alguns segundos. O vento soprou o seu rosto, balançando seus cabelos longos e dourados, e ainda foi incapaz de fazê-lo piscar diante da surpresa em ouvir aquelas palavras. Era até um pouco constrangedor vê-lo daquela maneira, no entanto, Magnus viu pela primeira vez o verdadeiro sorriso naquela máscara. A brisa daquele jardim perfumado fez o coração de Magnus se sentir confortável em ver aquele doce sorriso.
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