Devoto ao meu marido

Capítulo 38 - Relógio de bolso

O discurso do Imperador pegou Lucian desprevenido. De certa forma eram palavras genéricas que todo governante usava, só que ele dizia aquilo olhando diretamente para ele e Magnus. Talvez nas entrelinhas tivesse uma espada apontada em seus pescoços, como uma ameaça por serem descuidados a chegarem ao ponto da desonra acontecer.

De toda forma, a pressão de ter aqueles olhos claros e expressão rígida sobre si permanecia. Lucian cerrou os punhos que tremiam levemente por causa daquela pressão.

Por que o oitavo príncipe sempre reagia daquela forma quando estava na frente do Imperador? A sua covardia realmente era um incômodo.

— Você está bem?

A voz sussurrada do ômega chegou ao ouvido de Lucian, que vestiu a sua costumeira máscara e concordou com a cabeça. Agora que o discurso chegou ao fim e os convidados voltaram a aproveitar a festa, Lucian podia se ver livre daquela tensão.

— Perfeitamente bem.

O braço de Magnus foi para a cintura de Lucian, o puxando levemente enquanto ele o olhava seriamente. Francamente, como Lucian conseguiria resistir àquele charmoso homem bem vestido e de cabelos arrumados segurando a sua cintura daquela maneira?

A resposta sempre seria simples: não resista!

— Está tremendo. Por acaso está com frio? Ou tudo isso é medo do seu próprio pai?

— Você não cogitou a chance de eu estar tão feliz que chego a me tremer?

— Seria a resposta mais absurda que já ouvi.

— Vossa Alteza!

A voz suave chamou a atenção dos dois. Virando-se, o casal encontrava Stephen ao lado de Maverick, que se curvaram respeitosamente. Lá se foi a grande felicidade de Lucian em não ter que ver aqueles dois.

— Você veio, sir Sageclaw — Sorria Magnus.

Imediatamente Lucian mordeu a própria bochecha para controlar a sua raiva. Que atrevimento de Magnus sorrir daquele jeito para um bicho musculoso como Maverick quando se tinha uma beleza como Lucian ao seu lado!

— Parabéns pelo noivado, Vossas Altezas. Eu não sabia que vocês estavam envolvidos romanticamente.

— A discrição é sempre essencial para um nobre — Lucian alfinetou docemente, e então ele olhou para Stephen — Guardamos esse segredo justamente por sermos gananciosos em excesso.

— Discrição… — Stephen inclinou a cabeça levemente.

Claro que ele disse palavras com nenhum sentido justamente para confundir Stephen e Maverick, que não tinham tanto interesse na alta nobreza. Eles iriam concordar consigo sem nem mesmo saberem do que estavam falando e isso era hilário.

— Imagino que a distância da guerra tenha feito os sentimentos de vocês se aprofundarem. Apesar que não me lembro de Sua Graça comentar sobre a Sua Alteza durante os acampamentos.

Por que a deusa daquele mundo deu a Maverick voz? Se ele ficasse quieto era muito melhor, não é mesmo?

Não dava para o autor apagar a existência dele?

Francamente…

— Magnus é um homem muito reservado quando se trata de assuntos privados — Lucian respondeu, olhando de canto para Magnus que continuava a encarar Maverick sem se atrever a dar palpites — Além disso, uma guerra sempre nos deixa à margem da preocupação e incertezas do futuro.

— Uau… tem razão, Vossa Alteza. Ainda assim, me parece uma doce história de amor.

— Gosto desse pensamento, por favor continue achando isso.

— Aliás, Vossa Alteza, espero que possa aceitar isso.

Stephen mexeu no bolso de seu paletó preto, tirando um pequeno embrulho. Ao estender para Lucian, o ômega sorria envergonhado esperando que o seu presente fosse aceito. Lucian foi pego de surpresa pelo ato, e aceitou o presente o abrindo no mesmo instante por causa de sua curiosidade.

A surpresa surgiu em seu rosto quando ele encontrou um relógio de bolso com um trabalhado impecável. A sua tampa era dourada com trabalhos delicados em prata. Ao abrir, Lucian percebia o tom esverdeado da moldura, e os ponteiros marrons combinavam com o estilo vintage.

Não esperava por um presente tão bonito justo do protagonista daquela história, e Lucian se sentiu levemente culpado por pensar em Stephen como um ômega chato. Pelo menos naquela noite ele deveria abrir mão do próprio ego para ser grato.

— Não precisava se incomodar com um presente, Sir Stephen.

— A Vossa Alteza me ajudou da outra vez e eu queria retribuir de alguma forma.

— Nesse caso, muito obrigado pelo presente. Farei bom uso deste relógio.

Stephen abriu um sorriso tão meigo e doce, que ele pareceu um rapaz fofo e adorável. Realmente, somente por aquela noite Lucian deixaria o seu ranço pelo protagonista de lado. Não tinha ajudado ele com a intenção de conseguir algo de volta, mas já que estava recebendo…

Em meio aquela atmosfera confortável entre os dois, Maverick soltou um grunhido e se aproximou mais de Stephen. Como um ato defensivo de um alfa possessivo, ele liberou os seus feromônios como ameaça para Lucian, que percebeu imediatamente. A posse de um alfa era irritante, além de que Lucian agora era alvo de um olhar fumegante.

Que protagonista nojento!

—Espero que a Vossa Alteza use bastante e… que cheiro é esse?

Stephen estava completamente alheio à situação que ocorria. Lucian manteve a máscara de bom príncipe com aquele sorriso inocente, contudo ele estava atento a Maverick e seu constante cheiro ameaçador.

Não seria o momento ideal para o seu ômega lhe defender de novo?

— Com certeza usarei, Magnus costuma reclamar da minha falta de pontualidade, não é mesmo?

— Se isso corrigir o seu m*l hábito — Respondeu Magnus sem tirar os olhos do outro casal.

Só pelo tom de voz fez Lucian perceber que Magnus realmente não se importava, e o seu comentário fez o sorriso do príncipe morrer aos poucos por vergonha. A pior coisa que existia era o seu parceiro falar um defeito seu na frente de outras pessoas. Era como se o seu namorado não tivesse superado o ex que estava bem na frente dele e ignorava o fato deles precisarem mostrar que estavam bem.

Argh! Maldito fosse o filho da mãe que convidou Maverick para aquela festa!

— Vossa Graça, não seja assim, acredito que a Sua Alteza se esforça muito para vê-lo.

O Grão-duque estreitou os olhos friamente para Stephen.

— E por que você saberia disso?

— H-Ham… bem é que…

— É apenas uma suposição, meu senhor — Maverick se pronunciou, olhando para Stephen — Ouvi dizer que a Sua Alteza ajudou Stephen a lidar com um possível pervertido antes que a situação fosse mais desagradável.

— Maverick! — Repreendia Stephen.

— Também sou grato à Sua Alteza por ter ajudado o meu ômega.

O braço de Lucian foi apertado, os dedos de Magnus pareciam refletir o seu desgosto por ouvir aquelas palavras. No entanto, o príncipe parecia mais enojado por aquele brutamontes pensar que ele queria se envolver com Stephen.

— Sir Maverick, entendo a sua afeição ao jovem milorde Baragnon, mas você não deveria fazer esse tipo de comentários tão livremente — Repreendia Magnus — A menos que estejam comprometidos, esse tipo de discurso pode manchar a reputação da família do rapaz.

— Foi meu erro, Vossa Graça, me perdoe. De fato, ultrapassei os meus limites.

— Tudo bem — Sorria Magnus levemente.

Que falácia! Ele se atrevia a fazer Magnus sorrir na sua frente? E como Magnus poderia ser tão hipócrita!!! Eles estavam noivos justamente por fazerem indecências antes do casamento, quem era ele na fila do pão para falar sobre reputação?

— Me desculpe, eu apenas queria dar um presente de agradecimento. Não era a minha intenção causar um tumulto desnecessário — Stephen olhou preocupado para Lucian, dando um passo para o lado saindo do alcance de Maverick.

— Tudo bem, tudo bem haha. Nós alfas somos possessivos com nossos parceiros, então às vezes nos descontrolamos. Por favor, aproveitem bem a festa, sim?

— Humpf — Maverick bufou, ainda encarando Lucian ferozmente.

Fala sério!!! Quem trocaria um Grão-duque com olhar maligno e sedutor por Stephen? Lucian propositalmente fez um movimento brusco ao virar a cabeça, para esticar o pescoço o suficiente para mostrar um pouquinho das marcas que tinha na pele.

Ah, mas é claro que ele iria esnobar. Ostentar a marca que Magnus Grimwood deixou em sua pele, mostrando o quão íntimos eles eram. Magnus e Lucian estavam em outro patamar que se diferenciava daqueles outros dois que m*l davam as mãos direito.

— Tá com dor no pescoço? — Magnus questionou o olhando com a sobrancelha erguida.

— Estou um pouco.

Magnus franziu a testa e então revirou os olhos ao perceber as intenções de Lucian.

— Você é tão infantil.

— Hehe.

— Pare de rir e se prepare para a dança.

— Ah não…

— Ah sim.

— Haha, Vossa Alteza, acho que chegou a hora de você ser fortemente pressionado a uma dança — Stephen riu docemente, lembrando-se ainda da última conversa que tiveram no outro jantar.

— É o que parece, não é mesmo? Então, se nos derem licença, irei ao meu suplício — Lucian segurou a mão de Magnus com delicadeza e o guiou para o centro do salão

Sob os olhos vigilantes dos convidados, protagonistas originais e os seus pais… Lucian dançava pela primeira vez com Magnus Grimwood.

Diferente de toda a i********e que eles tiveram até então, Lucian sentiu uma corrente elétrica percorrer o seu corpo quando a sua mão segurou a cintura de Magnus. A proximidade entre eles permitiu que Lucian sentisse o cheiro dos feromônios do ômega, e a sua respiração quente bater em seu rosto.

Lentamente eles dançavam, com Lucian guiando Magnus confortavelmente. Assim como as demais vezes em que ele foi obrigado a pisar no salão, o seu corpo se movia por conta própria confortavelmente. Só que agora ele permitiu tal estranheza, justamente para aproveitar conduzir Magnus Grimwood, o primeiro vilão da sua história preferida.

— Pare de me olhar desse jeito.

— Que jeito, Magnus?

— Como se estivesse apaixonado.

Lucian soltou um riso gracioso ao olhar para o seu noivo, girando-o delicadamente e o segurando novamente fazendo os convidados prenderem o ar.

— O que dizia?

— Rato i****a.

Os dois dançaram graciosamente, surpreendendo a todos pela boa química e elegância deles. Quando a música chegou ao fim, eles foram ovacionados com aplausos e elogios sobre como formavam um belo par. Entre os nobres convidados que os aplaudiam, Lucian a viu!

A mulher de cabelos curtos estava perto da pista de dança. Agora ele só precisava se aproximar dela e…

— Irmãozinho!