Capítulo 51 - Arrancando a verdade

1734 Words
Não estava gostando nem um pouco daquela história. Desconfiava do motivo de Lucian fazer negócios com uma guilda, considerando que ele pouco interagia com o mundo. O fato do oitavo príncipe ser recluso sempre foi conhecido, mas o motivo disso se mantinha desconhecido. Agora, Magnus questionava se era apenas um disfarce, e se estava atrelado ao fato de mercenários estarem sedentos para pôr as mãos nele. Justamente por tal desconfiança que o Grão-duque não deixou aqueles dois sozinhos. Ele os acompanhou até a sala de visitas daquele silencioso e sombrio palácio, e observou Ethera revirar os bolsos de sua calça. Encostado na parede e de braços cruzados, Magnus era apenas uma decoração de parede para aquela misteriosa mulher. — Muito bem, o príncipe sabe que pretendo te interrogar para descobrir a verdade, mas ele não sabe o método. E não se preocupe, eu não pretendo te ferir — Adiantou-se em explicar ao perceber a surpresa no rosto do beta. — Hm… e o que pretende fazer, então? Tirando um frasco do seu bolso, que continha um líquido azulado, ela sorriu levemente. — Isso aqui é como um licor extraído de uma planta. É uma droga, praticamente. Mas dilui ela o suficiente para ter o efeito mínimo em você, apenas o suficiente para que fique consciente e de guarda baixa. Argus torceu os lábios levemente incomodado com o que iria acontecer. — Se ela passar dos limites, cortarei a garganta dela imediatamente — Magnus disse friamente. Surtiu um pouco de efeito, já que o beta respirou fundo e concordou com a cabeça. — Continue, por favor. — Tudo bem. Basta tomar todo o conteúdo e você se sentirá embriagado. Teremos… uma hora e meia de efeito, e você ficará novinho em folha depois de uma boa noite de sono. Argus apenas estendeu a mão para que o frasco lhe fosse entregue. Foi surpreendente assistir aquele criado ser tão descuidado e confiar abertamente naquela mulher que poderia estar mentindo. Por precaução ele se manteria ali, só o fato dela afirmar ter negócios com Lucian o impedia de realmente prendê-la. Assim que o criado bebeu o licor, o efeito surgiu alguns minutos depois. O brilho dos olhos do criado sumiu aos poucos e os seus ombros se curvaram. Ethera o avaliou com cuidado e cruzou os braços. — Muito bem, vamos ver se funcionou mesmo. Me diga, tem a intenção de trair o oitavo príncipe? A pergunta chamou a atenção de Magnus, que apenas demonstrou com um levantar de sobrancelha. O beta meneou a cabeça permanecendo com o olhar vazio antes de sua voz sair como um sussurro. — Sou leal a Sua Alteza, o oitavo príncipe. — Hm… interessante — Sussurrou Ethera. Magnus se pegou aliviado por ouvir aquelas palavras, e logo disfarçou ao mudar o peso do seu corpo para a outra perna e olhar brevemente para a janela. Provavelmente já passava da meia-noite, considerando que ele demorou para cavalgar de volta ao palácio. Sem saber por quanto tempo Magnus ficaria ali, talvez ele voltaria para sua casa no amanhecer. Uma pena, pois ele realmente queria ter uma boa noite de descanso. — Vá direto ao assunto e acabe logo com isso — Disse o ômega para a mulher, que respondeu em uma careta. — Certo, certo, senhor mandão — Ethera voltou-se novamente para Argus — Me diga a verdade, o que se trata os sonhos que o oitavo príncipe tem? O que diabos era aquela pergunta? Argus novamente pendeu a cabeça, como se estivesse cansado demais para se manter em pé. Um estado hipnótico que chegava a ser bizarro dadas as circunstâncias. — A Sua Alteza… tem um dom. — Que dom é esse? Me responda apenas com a verdade. — A Sua Alteza tem um dom… o de ver o futuro em seus sonhos. — Que bobagem é essa?! — Magnus se pegou dizendo alto, em total incredulidade. Desencostando da parede, o ômega marchou até os dois e olhou desconfiado para ambos. Ethera ergueu a mão em um pedido para se manter em silêncio, o que ele respeitou quando viu a seriedade em seu olhar. A mesma seriedade que já viu no olhar de Jesse quando estava prestes a verificar a veracidade de algo. Talvez aqueles dois fossem parecidos, apesar disso não agradar Magnus. — Por acaso o oitavo príncipe nasceu com esse dom? — Argus respondeu com apenas um balançar de cabeça, negando — Então quando ele começou a ter essas "visões"? — Depois da gripe. — Gripe? — Ethera ergueu a sobrancelha. — Alguns meses atrás ele ficou acamado por causa de uma gripe, ou pneumonia, não sei ao certo — Respondeu Magnus, começando a se interessar no assunto estapafúrdio. Talvez ele fosse acompanhar aqueles dois para saberem qual a peça que pretendiam pregar. — Isso coincide com o momento em que se tornou ativo nas festas sociais. Muito bem — Ethera olhou para Argus novamente — Por acaso isso é uma verdade ou uma mentira criada pelo oitavo príncipe? — É a verdade… — Pode provar? Argus se levantou da cadeira, cambaleando como se estivesse sonolento. O criado arrastou os pés lentamente pelo chão, passando pelos dois mercenários nocauteados e amarrados. Ele saiu da sala de visitas e seguiu para o corredor, tendo os outros dois em seu encalço. — O que raios é essa baboseira de visão? Por acaso está tentando enganar alguém? — Estou tão desconfiada quanto você, Grão-duque. Mas o oitavo príncipe disse ter sonhado com algo em relação aos meus homens, e isso de fato aconteceu. Foram mortos. Pelo canto dos olhos, Magnus a avaliou silenciosamente. Parecia uma mulher plebéia com aquelas roupas surradas, e ela tinha uma cicatriz abaixo da sobrancelha. Pelo o que ele conseguiu notar de suas mãos quando segurou o frasco antes, e de ter arrastado dois dos três mercenários, ela deve saber lutar. Até onde Magnus sabia, guildas geralmente procuravam por pessoas fortes o suficiente para trabalharem no perigo constante. Algumas missões pediam que eles entrassem em territórios inimigos e terras longínquas para conseguir algo, seja um objeto de valor, uma pessoa ou apenas uma informação. — Pessoas morrem o tempo todo no seu meio, não deveria acreditar nisso tão facilmente, mesmo vindo da boca de um príncipe. — Independente se for verdade ou não, isso irá acarretar na minha resposta à proposta dele. — E que tipo de negócios você tem com o príncipe? Ethera virou os olhos escuros para Magnus e abriu um sorriso misterioso. — Pergunte ao seu adorável noivo, Grão-duque. Por ele ser o meu cliente, não pretendo vazar informações. Magnus reprimiu o rosnado em desagrado. Eles seguiram Argus pelos corredores do palácio abandonado até chegarem na biblioteca do oitavo príncipe. Magnus reconheceu o lugar, que somente estivera ali uma única vez. As estantes com prateleiras vazias, uma mesa no canto com vários livros e papéis espalhados e na frente, um quadro-n***o cheio de anotações em símbolos estranhos. Lembrava-se muito bem que da outra vez em que esteve ali, aquele criado comentou algo sobre Lucian ser especial. Considerando aqueles desenhos estranhos que pareciam um idioma de outro país, Magnus também recordou de ter visto nas folhas de papéis depois do ataque dos mercenários. Ethera se aproximou e, sem nenhuma hesitação, ela olhou por tudo. Verificou quais livros estavam na mesa, leu o conteúdo dos papéis para no fim se aproximar do quadro-n***o. Magnus se manteve ao lado de Argus apenas encarando aquela escrita desorganizada, com flechas e círculos em volta de palavras. Mas havia algo ali que ele reconheceu. — Por que o meu nome está escrito no quadro? Argus inclinou a cabeça. — Oitavo príncipe… não contou. — Isso aqui é impossível de ler. Como posso saber se é verdade? — Ethera suspirou e pegou os jornais que estavam por perto — Esses jornais parecem relatar apenas os casos mais marcantes… hm? Tem algo escrito aqui. Vamos ver… fim da guerra em… isso é um três? — Oitavo príncipe previu… o fim da guerra… três dias antes. — É mesmo? — Ethera não pareceu surpresa. Magnus começou a andar por ali e observar aquela bagunçada biblioteca, o que era cômico considerando sua falta de livros. Havia ali documentos sobre o mercado clandestino, com papéis repetindo informações. Magnus chegou a pegar um dos papéis, reconhecendo a letra de Lucian. Talvez ele quisesse destacar algo? — Oitavo príncipe… previu a droga…. festa dos… Arregalando os olhos, os pés de Magnus obrigaram as suas falhas pernas a trabalharem para ir até o criado e o olhar intensamente. — O que disse? Que droga? — Oitavo príncipe… previu a droga… na festa dos Baragnon. — Você não sabe? — Ethera o provocou com uma expressão hostil — Fiquei sabendo que ele ainda guarda um pouco daquela droga. De maneira alguma Magnus tinha contado a alguém sobre a droga que comprou para usar na festa dos Baragnon. Estava disposto a se livrar daquele verme do Stephen por se atrever a seduzir Maverick. No entanto, acabou que quem bebeu foi Lucian e tudo isso resultou no seu atual estado. Não tinha como Lucian saber disso. Ninguém sabia sobre a sua compra. Empunhando o facão novamente, contra o pescoço de Ethera, o Grão-duque voltou à sua expressão fria. — É melhor você deixar de brincadeira, e começar a falar. Ethera avaliou a situação silenciosamente antes dela responder. — Antes desse tal baile, o oitavo príncipe me pediu por uma droga que forçasse o cio de uma pessoa. Sim, Lucian havia afirmado aquilo quando eles ainda estavam discutindo sobre a proposta de casamento. Lembrava muito bem do oitavo príncipe dizer algo como "eles saberem o segredo um do outro". Por ele ser um alfa recessivo, nem mesmo a droga seria capaz de deixar Magnus em um estado de cio como a que ficou. Só poderia ter sido uma droga. Assim como ele drogou Lucian, Magnus também foi drogado. Já tinha aceitado esse fato, e achado interessado em ver aquele lado do introvertido oitavo príncipe. — Por acaso você disse a ele algo sobre mim? — Eu nem fazia ideia em quem ele usaria a droga. E ainda não sei, se me permite dizer. — A Sua Alteza disse sobre a morte… do Grão-duque. O seu coração errou uma batida. Virando os olhos carmesins ameaçadora para aquele beta drogado, Magnus parecia prestes a deslizar a sua lâmina naqueles dois. — O que foi que disse?
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