Depois da festa de casamento de Jesse e Victória, Lucian deu continuidade aos seus planos. Ao repassar a documentação da sua mina para Magnus, o ômega facilmente enviou um dos seus homens para cuidar das negociações com os mineradores da região próxima. Para a sorte de Lucian, havia um vilarejo pequeno por lá.
Enquanto esperava pela resposta, Lucian ficou ocupado também com os preparativos do próprio casamento. Ele passava o dia todo ao lado de Cassander resolvendo questões sobre os trajes formais e ensaiando o ritual que teria de fazer no templo. É claro, Lucian conseguia lidar com tamanha pressão, contudo era exaustivo da mesma forma.
Quando anoitecia, ele recebia a visita de Ethera que lhe contava sobre o andamento do plano.
— Oh, então você escolheu a pessoa que irá ficar responsável pelo título?
— Sim, um dos meus homens já tem trabalhado em construir alguma reputação dentro da alta sociedade, mas é difícil conseguir um título e se manter sem apoio.
Faz sentido. Ethera poderia comprar o título sem problema algum, só que infelizmente sem o devido apoio de alguém ele poderia ser marginalizado. Se até mesmo a família Pendleton, que ganhou o título do próprio Imperador, estava tendo problemas, quem dirá alguém que comprou o seu lugar na alta nobreza.
— E descobriu sobre o leilão?
— Será daqui a dois meses. O proprietário se recusa a deixar a mansão, até tudo ser resolvido e a inspeção do imóvel ser feita, irá demorar dois meses.
— É tempo o suficiente — Lucian sorriu docemente — Até lá já estarei na mansão Grimwood, e espero ter o montante para te patrocinar.
— Fiquei sabendo da mina de diamante.
Lucian deu um risinho baixo, sem se surpreender com a facilidade dela em conseguir informações. Ethera poderia estar passando por problemas por causa da caça aos rebeldes, contudo ela ainda estava no mercado. Contudo, Lucian enxergava ainda a suspeita em seu rosto. Ethera buscava informações dele como forma de garantir que Lucian estava sendo honesto naquela negociação.
Não que ele se importasse, afinal Lucian não tinha nada a esconder.
— Sim, estou esperando uma resposta das negociações. Quero começar a extração o quanto antes, para vender os diamantes.
— Isso leva tempo, Alteza. Até lá o leilão já ocorreu.
— Sim, eu sei — Lucian foi até a mesa de estudos dele, abrindo a gaveta e pegando o cheque em branco. Ele entregou a Ethera logo em seguida — Use o quanto for para comprar aquela mansão.
Surpresa, Ethera hesitou em pegar o cheque e ergueu os olhos selvagens para o príncipe.
— Uma mansão de um nobre falido ainda é cara, mesmo em um leilão. Tem certeza de que poderá comprar?
— Sou um príncipe que não gastou nenhuma moeda de ouro em luxo. Isso justifica o meu palácio ser tão ridículo. Além disso, vou me casar, então não morrerei pobre. E o terceiro ponto é a minha loucura em esperar que a extração de diamante dê certo. Então considere um investimento do príncipe renegado.
— Você realmente é maluco, Vossa Alteza — Ethera riu e pegou o cheque — Mas manterei o seu nome escondido. É melhor evitar que descubram que você está por trás da mansão.
— Ora, muito obrigado.
— Vocês dois juntos definitivamente me causam arrepios.
A voz grossa de Magnus fez Lucian se arrepiar. Encostado na porta com os braços cruzados, o Grão-duque franzia a testa quando Ethera acenou mostrando o cheque.
— Que inconsequente.
— Haha, parece que a Sua Graça não confia em mim.
— Você acha? — Lucian inclinou a cabeça inocentemente — Eu acho que ele está apenas curioso.
— Não falem bobagens.
— Certo, certo. Chegou a minha hora, já peguei o que precisava — Ethera acenou indo para a janela e subindo na mesma — Voltarei quando tiver alguma novidade, Alteza.
— Hm, vá com cuidado — Sorria ele ao assistir Ethera pular e desaparecer na noite.
— Tsk — Magnus estalava a língua ao se aproximar de Lucian — Por que você continua sorrindo desse jeito? É irritante.
— Porque sou um príncipe. E o que devo a honra da sua visita no meio da noite? Amanhã temos que ir para o templo.
— Justamente por isso que vim — Magnus se sentou na janela e olhou para Lucian — Odeio a ideia de ter que ir para aquele lugar?
Lucian inclinou a cabeça levemente sem entender ao certo o motivo de tal rusga entre ele e o templo. Aproximando-se lentamente, Lucian ficou na frente de Magnus.
— Há algum problema com o templo? Você realmente odeia eles?
— Haa, isso tá incrustado na nossa família. Como o anjo e o d***o. Imagino que você saiba qual deles eu sou.
— Definitivamente um demônio, é claro. Mas pensei que existisse algo mais concreto.
— Somos duas armas para o Império, eles usam a fé e nós as armas. Apenas somos dois lados opostos da mesma moeda.
— Interessante — Lucian murmurou quando sutilmente ele deu um passo adiante e seu joelho encostou no de Magnus.
Para a surpresa de Lucian, o ômega abriu as pernas e deixou ele se aproximar entre suas coxas. Mas Magnus não parecia consciente de tal ato. E Lucian continuou fingindo não notar também.
— Então vocês nunca participam dos eventos do templo?
— Pra quê? É perda de tempo.
— Ora, a partir de amanhã você vai ficar preso numa sala orando e orando e orando…
— Pretendo fazer qualquer outra coisa, menos buscar purificação. A sujeira já está impregnada na minha alma.
— Não é justo eu ficar rezando e você se divertindo, Magnus.
Magnus abriu um sorriso arrogante, algo que despontou dos seus lábios com certa malícia que fez Lucian se arrepiar.
— Disse o príncipe que foi beijado no jardim do templo.
Imediatamente a mente de Lucian lembrou do que eles quase fizeram naquele jardim. O jogo sujo que o ômega fez contra ele. Aquele beijo foi tão incrível que Lucian jamais se esqueceu, principalmente de como Magnus se atreveu a usar seus feromônios para deixá-lo e******o. Arrogante e safado, do jeito que Lucian gostava de ser provocado.
O rubor não foi escondido de suas bochechas, apesar de Lucian querer provocar ele um pouco mais. Sorrindo docemente, Lucian inclinou a cabeça e deixou as mãos escondidas em suas costas, para parecer inofensivo aos olhos do ômega.
— Hm? Está se referindo ao dia em que você não resistiu e quis me beijar por vontade própria?
Magnus franziu a testa?
— Como é?
— Sim, devemos concordar que você me beijou por vontade própria naquela tarde.
— Apenas para provar o meu ponto.
— Continua contando como beijo.
— Você é irritante, rato safado.
— Eu sou? — Lucian sorriu docemente.
— E por que está no meio das minhas pernas, sai daí!
Rapidamente Lucian sentou no colo de Magnus.
— Ah, que desastrado, parece que tropecei e caí.
Magnus queria xingar, Lucian percebeu ele mordendo a língua e se contendo. Era tão divertido provocar ele, principalmente quando as suas orelhas ficaram vermelhas escondendo a sua vergonha. Lucian abraçou os ombros dele e sorriu contente por poder ter chegado ao ponto de simplesmente abraçá-lo tão carinhosamente.
— Você carece de vergonha na cara.
— Assim como você, que pretende fazer algo que não orar no templo nos próximos três dias.
O ômega envolveu o braço na cintura do alfa, o abraçou contra si. Lucian prendeu a respiração quando ficou tão perto dele. Relaxando em seus braços, o alfa se permitiu aquele doce momento enquanto conversava e brincava com seu noivo.
— Em breve estaremos casados. Vivendo juntos, dormindo e acordando juntos, comendo juntos, tomando banho juntos…
— Você parece ansioso para isso.
— Mas é claro. Te infernizar o resto da vida será um grande prazer.
— Tsk — Magnus estalou a língua, arrancando um riso de Lucian — De toda forma eu fico contente que você esteja feliz e ansioso para vir à mansão.
— Mas é claro. Estou esperando ansiosamente…
Uma pontada na cabeça de Lucian o pegou desprevenido. Magnus percebeu o rosto dele ficando pálido e o olhar se tornando vazio.
— O que foi? Ei… — Sem receber respostas, Magnus o segurou firmemente — Ei, Lucian!
A cabeça de Lucian ficou enevoada. Ele piscou sutilmente uma vez, jurando ter visto o seu antigo apartamento, na era moderna. Como se estivesse sentado na cama lendo como sempre fazia. Ele lembrava bem daquela noite, foi quando Luciano lia a cena do sequestro durante o festival de caça.
Aquela noite foi marcante porque Luciano teve uma briga com o seu ficante e acabou afogando a sua raiva na leitura. Claro. Mas agora ele lembrava perfeitamente do seu conteúdo, do fato de Magnus ter criado uma armadilha para Stephen se perder no campo de caça e assim Magnus vencer e dar o seu prêmio a Maverick. Contudo, um grupo de rebeldes confunde Stephen com Magnus e o sequestram durante o evento, criando uma comoção.
Luciano lembrava que ele não conseguia se concentrar direito na leitura por estar chateado com o seu ficante. Ele releu aquele capítulo diversas vezes até sua cabeça voltar a funcionar.
— Lucian!
Piscando aturdido, Lucian erguia a cabeça percebendo o olhar surpreso de Magnus.
— Ahn? O que foi?
Magnus o encarou ainda de olhos arregalados, ficando parado por alguns segundos antes de suspirar e abraçar ele apertado. Lucian não entendia o que acontecia, mas percebeu o dedo do ômega sujo de sangue quando ele limpou o seu nariz.
— Eh?
— Merda! O que raios aconteceu com você? De repente você ficou pálido e a tremer, o seu nariz começou a sangrar — Magnus retirou um lenço do bolso e limpou o rosto do príncipe — Tá sentindo alguma coisa?
— Não…. só uma leve tontura… — Ele franziu a testa completamente embasbacado por ter lembrado daquele detalhe na história — Um sequestro? No festival de caça?
O Grão-duque parou o que fazia e encarou Lucian com o cenho franzido.
— O que disse?
— Sequestro durante o festival de caça — Lucian repetiu, mais perdido em pensamentos do que realmente prestando atenção na reação do ômega — Lembro que algo assim acontecia… Os rebeldes se infiltrando.
— Isso é a tal da sua visão?
Lucian acordou do devaneio ao ouvir tal pergunta. É mesmo, ele tinha dito a Magnus sobre ter um dom. Concordando com a cabeça, Lucian então contou ao ômega o que lembrava de ter "visto" sobre o tal evento. Estava tão claro quanto a neve os detalhes, algo que Lucian não conseguia há dias.
Muitas vezes os eventos do original ficavam enevoados e ele tinha problema em relembrar. Quando se forçava demais, a cabeça sempre doía como um inferno.
Contudo, Lucian jamais passou pelo o que acabou de vivenciar. Uma sensação tão estranha que fez o seu nariz sangrar.