Capítulo 30

1002 Words
___* Brenda narrando *___ O silêncio do meu apartamento parecia quase ensurdecedor, eu estava sozinha na sala de estar, a luz suave da lâmpada criando um ambiente que em outros momentos eu acharia acolhedor, mas agora só me causava a sensação de tristeza. Estava observando a luz das estrelas refletindo nas janelas, pensando no relacionamento que, há tempos, parecia não ter mais a mesma cor, eu não reconhecia mais Albert, eu não me reconhecia mais, me sentia mais um cachorrinho que abanava o rabinho a cada chamado de seu dono. As últimas semanas foram uma montanha-russa emocional para mim, o comportamento de Albert sempre variava entre ser atencioso ou ser completamente omisso, mas agora ele havia mudado de maneira repentina, era muito perceptível, ficou uma semana inteira desaparecido e só reapareceu agora quando me viu com Dilan. O carinho, o cuidado e a atenção que antes ele me dispensava e que pareciam genuínos agora não existia mais, ele apenas parecia querer aparecer para marcar território, ou quando queria um brinquedo para usar e descartar, ele era mais frio e distante, não tinha emoção em sua voz, nem em seu gestos, era só raiva, raiva e desejo, tudo era mais bruto até mesmo nossa noite juntos. Havia em meu peito um sentimento que não conseguia explicar, os últimos momentos que passamos juntos eu me sentia muito deslocada, era como se não nos encaixássemos mais, eu estava sempre esperando que a peça se encaixasse sem saber se realmente pertencia ali naquele momento. Quando estávamos vindo para cá fizemos o caminho todo em silêncio, eu não queria falar nada, na verdade não havia nada a ser dito, mas Albert havia ficado de subir para conversarmos, só que no final do percurso ele recebeu uma ligação e saiu em disparada, quase não me deixou fechar a porta do carro direito antes de sair cantando pneu pela rua, e agora eu estava aqui sentada, sozinha com meus pensamentos. Tentei racionalizar a situação quase a noite toda, já era de manhã e haviam enormes bolsas sob meus olhos, não é como se tivéssemos passado uma vida inteira juntos, foram poucos meses, mas poucos meses foram o suficiente para acabar com meu psicológico mais uma vez, me joguei para trás em minha cama, eu havia retornado aquele buraco escuro de onde sai quando Dilan me deixou, e eu sairia dele sozinha dessa vez! Eu era uma boba que escolhia errado e depois ficava sofrendo e sofrendo. Suspirei com meus pensamentos e então a voz da esperança falou lá no fundo da minha mente, como um último suspiro, meu subconsciente não queria aceitar deixá-lo ir, talvez ele estivesse ocupado com as coisas do trabalho, talvez estivesse passando por uma fase difícil. Eu me esforçava para ser compreensiva e paciente, mas a verdade se tornava cada vez mais clara, a lembrança do que Sarah me disse uma vez tomou minha mente, eu seria apenas mais uma, e quando ele de cansasse, eu seria descartada, eu já estava sendo descartada. Eu estava com toda certeza ficando maluca, meus pensamentos eram desconexos, minha mente era um turbilhão, eu variava entre acreditar que tudo ficaria bem e a certeza de que tudo estava muito errado. Eram oito horas da manhã quando o telefone em meu bolso vibrou interrompendo meus pensamentos, olhei para a tela apenas para ver uma mensagem de Albert, a primeira em uma semana, uma das muitas que chegavam de maneira esporádica e sem um tom realmente envolvido. “ Sinto muito por ter que te deixar, tive uma emergência na delegacia, estou com o pessoal, assim que terminar aqui nos falamos. “ Eu me senti uma boba quando li a mensagem, uma pontinha de esperança atingiu meu peito, talvez as coisas realmente só estivessem difíceis para ele, talvez fossem problemas no trabalho. Como um bom domingo hoje não fui trabalhar, eram dez horas e eu estava na cozinha preparando um café quando meu celular tocou, olhei o identificador de chamadas e era Jeremy, que estranho! Por que ele estaria me ligando? Atendi no terceiro toque. - Brenda, é Jeremy! Albert está com você? É urgente! Preciso que ele venha até a delegacia. - Como poucas palavras puderam me impactar tanto? Não sei! Mas deixei escapar um soluço de meus lábios. - O que foi Brenda? O que aconteceu? - Jeremy perguntou exasperado. - Ele não está, disse que estava na delegacia com vocês! Sinto muito não posso ajudar. - Foi a única coisa que consegui dizer antes de encerrar a ligação, ele havia mentido para mim! E eu sabia de alguma forma que Albert vinha fazendo isso a algum tempo. O sentimento de estar sendo usada, a sensação de estar sendo enganada, não era algo que eu podia mais suportar, eu queria gritar e chorar, mas não queria mais ser essa mulher frágil e desamparada. Troquei de roupa, peguei minha bolsa e desci para chamar um táxi, hoje ao invés de chorar amargamente em meu quarto eu acabaria com isso tudo de uma vez. Cheguei ao apartamento de Albert, eles já não me anunciavam mais então apenas subi para o apartamento, assim que toquei a campainha pude ouvir um barulho de passos, alguém se aproximou da porta mas não destravou, os passos eram leves e eu tinha certeza que não era ele! Não era Albert de forma alguma, um nó se formou em minha garganta. - Desculpe, não posso abrir a porta. O que você deseja. - Uma voz feminina veio de dentro do apartamento e eu só queria morrer naquele instante. - Albert… Albert se encontra? - Perguntei em uma voz sufocada. - Ele saiu, vai demorar um pouco para voltar. - Ela respondeu com uma voz menos amigável agora. Não respondi nada, apenas virei e sai de lá, lágrimas escorriam por minhas bochechas enquanto eu levava a mão na boca para conter os soluços. - A senhora está bem? - O porteiro perguntou preocupado, não consegui nem mesmo respondê-lo, apenas corri porta a fora com meu coração em mil pedaços.

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