4 - Letícia

1926 Words
Se o coringa queria plantar na minha mente, ele conseguiu. Eu passei o resto do dia martelando o que ele falou do terror, num estresse danado mas se ele tiver fazendo algo eu largo ele na mesma hora, eu sumo daqui e vou pro estado da minha mãe e ficar com meu filho lá. Eu tentei ocupar minha cabeça resolvendo as coisas, fui fazer unha e o cabelo por que hoje é aniversário da Michelle e ela chamou pra gente ir no pagode, eu até disse que não iria, mas elas me perguntam tanto que eu vou um pouco e depois volto pra casa. Quando eu tava saindo do salão o Terror me ligou, eu nem queria atender por que eu tô com a antena acesa e eu sou surtada, eu sou um catiço quando começo a ter cismas, é brabão pra tirar as coisas da minha cabeça depois. Mas eu atendi, eu senti ele tenso acho que ele esqueceu dos 15 anos, eu tava falando com ele mas nem olhava muito, eu andava enquanto falava mas olhava mais a rua do que tudo. Até reclamou do pagode querendo me proibir, mas eu vou assim mesmo. O que ele pode fazer lá de dentro? Só mandar os seguranças me impedir de sair de casa, mas eu resolvo isso em 2 tempos, quero ver algum vagabundo desse me impedir de alguma coisa. Eu entrei em casa e fui direto tomar banho, tomei um banho com direito a hidratação, esfoliação, eu faço tudo pra me sentir bem comigo mesma já que tô a tanto tempo só vivendo sozinha com marido preso, pelo menos tenho que me sentir viva de alguma forma. Então eu me arrumo mesmo, malho mesmo, me cuido mesmo e tô feliz assim. Voltei pro quarto, passei meu creme iluminador no corpo, vesti uma calcinha pequena pra não marcar na minha roupa, e ajeitei o croped no peito vendo a marquinha de biquíni. Fiz uma maquiagem, soltei meu cabelo que já tava lavado, hidratado, e os cachos todos definidos, apertei pra ver se dá mais volume, coloquei meus ouros, calcei uma rasteirinha já que o pagode é aqui no morro fica mais confortável pra mim, pego minha bolsa, coloco um dinheiro dentro e me olho no espelho, faço uma pose empinando minha b***a e coloco a perna pra fora do aberto da saia, abro um sorriso e tiro a foto, postando no status. Puxo a chave saindo de casa e vou de carro com os seguranças pra praça, estaciono e me aproximo das meninas sorrindo e eles ficam na minha segurança em frente ao bar, eu chego perto e elas ficam tudo me zoando que o Terror tinha me proibido de sair de casa, me poupe. Terror não tá mandando nem nele mais. A gente fica ali no pagode dançando juntas, eu bebo minha cerveja geladinha e fico feliz demais assim, eu amo estar no meio do povo sambando. Eu já bebi algumas e fui no banheiro e quando eu voltei dei de cara no Coringa, é nítido a forma que ele me olha, eu tenho que disfarça mas eu duvido que ninguém percebe. Não vou cumprimentar ele não, vai que se eu sentir o toque dele eu caio em tentação né? Mas ele tava ali, com a bermuda branca que marcava muito bem aquele volume entre as pernas dele, uma camisa preta apertadinha nos braços fortes dele, aqueles cordão relógio e anéis de ouro que eu nunca vi ele sem, acho que ele já dorme e acorda com ouro. Eu me aproximei delas e elas começaram a falar do Belote e do coringa, e eu só rindo vendo a vagabunda da Michelle trocando olhares com o Belote. Eu virei de frente pro Coringa e ele mudou até a postura dele, ele parece um armário, ele é enorme demais. A Priscilla não parava de falar do Coringa toda hora, eu nao gostei mas tive que disfarçar pra nao deixar transparecer, então toda vez que ela ficava falando dele eu bebi e ria so pra ela mudar o assunto. Eu vi meu celular acender na mesa e vi a mensagem dele, cara de p*u de frete pra mim me mandando mensagem e ainda saiu andando dizendo que ia na boca me esperar, eu respirei fundo e fiquei pensando se eu ia ou não, isso um dia vai dá merda com a língua desse povo. Avisei que ia resolver um assunto e já voltava pra elas e para os meus seguranças que conversavam com os seguranças deles. Eu andei pra boca e entrei direto pra sala, empurrei a porta e olhei ele sentado, suspirei, andei pra mesa e encostei a b***a nela, cruzei os braços de frente pra ele - pode falar - eu disse olhando ele sentado de perna aberta bebendo o copo de whisky - minha amiga gostou de você, não para de falar de você. Quando você voltar lá, fala com ela. É a loira - eu falo e ele sorri de lado - Avisa pra tua amiga loira que eu gosto de preta, quer dizer, uma preta em especial e você sabe bem, não precisava nem você ter me falado, era só você mesma dizer a ela quem eu quero - ele fala terminando de fumar e colocando o cigarro num cinzeiro que tem ali na mesinha - primeiro, por que você tá desarmada? Sabe que isso é pra sua própria segurança, não importa que você tá dentro do seu morro. - ele fala dando o último gole no copo dele e colocando o copo de lado - Eu tô cheia de segurança, tá tudo bem. - eu suspiro ao ver ele levantar - O que tem o terror? - Ele me ligou hoje pra falar de você - ele anda se aproximando de mim e para exatamente na minha frente, medindo cada parte do meu corpo - É? que que tem? - o cheiro dele é muito bom, eu sinto minha pele arrepiar. - Letícia, você não quer nem pensar nas coisas que te falei pelo celular? tem certeza que tu não vai me dá uma chance nunca? - ele fala me olhando e eu sinto meu corpo bambear, sinto ele mexer no meu cabelo tirando o cacho que tá caído no meu rosto. - para com isso coringa, você sabe muito bem o risco que a gente corre se alguém entrar aqui e ver uma coisa dessa acontecendo. Por favor, se afasta de mim - eu peço e por um descuido eu olho a boca dele e volto o olhar pros seus olhos, eu coloco as mãos do lado da mesa segurando - eu te disse e vou repetir que se você quiser, eu enfrento tudo e todo mundo por causa de você, é só você dizer que sim preta - ele fala se aproximando mais de mim e eu sinto seu hálito de whisky, sinto a perna dele encostar na minha e os dedos dele alisar devagar minha coxa e minha pele arrepia na mesma hora - coringa.. para! Eu sou casada, você conhece ele, eu tenho que continuar respeitando ele. Eu não posso depois de 15 anos juntos fazer uma coisa dessas com ele, ele tá lá dentro. Para com isso, eu já te falei que isso não vai acontecer, desiste - eu levanto a mão colocando no peitoral dele empurrando ele devagar pra se afastar de mim - p***a tu confia mesmo nele ? Tu acha que quando ele sair da cadeia vai ser o mar de rosas que tu tá sonhando ? - ele fala me deixando pensativa e se afastando respirando fundo - eu acho que vai ser difícil, mas p***a já são 7 anos eu indo lá, segurando as pontas aqui, longe do meu filho, tô fazendo de tudo por ele, ele não faria isso comigo - eu falo com o choro entalado, tentando acreditar nas minhas próprias palavras - olha, eu vou te dar o papo reto, não é porque eu tô afim de tu não, não é porque eu tenho desejo por você não, mas é pela tua caminhada no comando - ele fala sério olhando nos meus olhos - faz o teu pé de meia, porque você tá achando que é a rainha num bagulho que não tem só você, eu tô te falando porque acima de tudo eu te respeito e admiro a mulher f**a que tu é e pelo teu corre por ele - ele fala sério perto de mim me deixando nervosa - para de falar em meias palavras, fala logo o que você tem pra me dizer de forma clara - eu falo irritada - tem outra pessoa visitando ele ? É isso ? Me conta coringa por que eu preciso saber a verdade - eu peço a ele já querendo chorar - eu não tenho que te falar nada, ele pediu pra eu vir pra cá pra te sondar, mas eu tô sendo teu parceiro e te dando o aviso, abre a p***a do teu olho, e não perca a tua vida por quem não merece - ele fala e sai me deixando ali sozinha com um monte de merda na cabeça, pior do que já estava. Eu ando pra porta rápido e olho o coringa - Coringa, vem cá - eu chamo ele, vendo ele parar, me olhar e voltar entrando na porta - que foi? - ele suspira - por que o Terror manda eu te dá aquele dinheiro toda semana ? - eu respiro fundo já sentindo meu estômago remexer - pra mim? ele te fala que é pra que ? - ele pergunta sério - p*******o de droga - eu falo segurando o choro - é? mas toda quinta feira chega droga aqui? - ele responde com um sorriso de lado debochado - tem perguntas que você já sabe a resposta, você tá achando que tá vivendo um contos de fadas mesmo? achei que tu fosse mais esperta, pelo menos é o que parece. Você não tá vivendo enganada não, quantas vezes tu já pegou ele no pulo? seja malandra. - então você sabe e tá acobertando ele, não é?- eu pergunto irritada demais - o príncipe do conto de fadas que você criou na cabeça é ele ou eu? - ele pisca pra mim e sai me largando ali mais uma vez e eu começo a chorar sem acreditar que isso tá acontecendo. Eu não posso acreditar que o Terror tá aprontando comigo de dentro da p***a do presídio. Eu sento no sofá e fico ali pensando até me acalmar. Não é possível uma coisa dessas, como que ele tá me traindo dentro de um presídio de segurança máxima c*****o? Eu vou até o inferno, mas se tiver acontecendo alguma coisa eu vou descobrir, se ele tiver fazendo alguma coisa, ele vai me pagar. Eu pego o rádio da boca e passo pros meus seguranças descerem com o carro ate a boca, e vou lá pra frente e olho eles vindo. Eu olho meu celular tocando com terror me ligando e eu nao vou atender mesmo, vai pro inferno. To com a mente cheia so quero deitar pra esse dia acabar. Eu entro no carro com eles indo pra casa, entro trancando tudo, tiro minha roupa jogando no cesto de roupa, ligo o ar no quarto, deitei na cama e so soube chorar imaginando a verdade. Eu nao acredito que to nessa vida a 7 anos de cadeia, abandonei meu filho pra minha mae cuidar pra hoje eu descobrir uma coisa dessas denovo.
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