Capitulo 1

1792 Words
Realmente já estava cansada de andar. Apesar de já ser dia , Alberto esquecera que eu tinha deixado de dormir naquela noite para estar  ali, viajando de madrugada com ele ,para acampar numa  serra longínqua, onde a maioria das pessoas só a visitavam quando queriam estar  longe de tudo e de todos,o que não era o meu caso. Supunha que ele nem dava conta que estava acordada há 24 horas pois  desde que tínhamos chegado  aquela floresta densa, não tínhamos parado de  andar e  já estava quase anoitecendo. Embrenhado em seus pensamentos, com a adrenalina da eventual descoberta  de algo inacreditável,desconfiava até que se lembrasse que o acompanhava. _Alberto!-Depois de sair do automóvel , começo a ficar rodeada de arvores,   sem puder conter minha preocupação, tento ser um pouco  realista._Sei que estou de férias ,mas não achas que seria mais interessante irmos para uma praia tropical? _ Não!-Entusiasmado Alberto sorri avançando entre as árvores sem hesitação._ Se descobrir  aqui o que espero encontrar,vai ser explosivo. _E o que esperas encontrar no meio de árvores?-Suspiro longamente,apreensiva olho ao redor._Andamos há horas ás voltas. _ Tem calma!Ainda agora chegámos.-Alberto analisa um mapa desenhado á mão._ Se eu encontrar essa nova raça ,prometo que não te vais arrepender desta viagem. _ Tens a certeza disso? - Resmunguei cansada e com fome._ Não vimos nada com patas nestas últimas horas. _ O meu amigo me garantiu que viu um   homem se transformando em lobo... – Ele bufou continuando o caminho._Tenho a certeza que os encontrarei. _Aposto que viu um cachorro, não um lobo.-Completamente boquiaberta,o encaro com descrença. _Qualquer um o chamaria de louco, porque confias tanto nas suas palavras? _Ele  é Guarda florestal há anos, não ia inventar algo assim.-Alberto fita a sua mulher  cheio de confiança._Também apareceram alguns animais mortos nestas últimas semanas,com marcas de dentes afiados, isso confirma as nossas suspeitas. _ O QUÊ? –  Naquele momento eu quase gritei , agora já receava por minha vida. _Porque não me contaste isso antes? _ Porque provavelmente não virias!-Ele simplesmente sorri, a ignorando de novo._ Não te preocupes,vim armado. _Como se isso  me deixasse mais  tranquila.- Bufo irritada._ Estou esfomeada,cansada e ainda me dizes com essa tranquilidade que viemos a caça de um homem  peludo que uiva á lua cheia. -Parando abruptamente,cruzo os braços no peito._.Não estás  minimamente preocupado comigo, pois não? _ Claro que estou!-  Alberto olhou-a um pouco arrependido ao observar seu cansaço. _ Se quiseres  podemos parar um pouco. _Claro que quero!- Bufo irritada.Finalmente Alberto começava a cair em si. Suspirando de alívio por poder descansar , me sento no chão coberto de mato fofo.Abrindo a mochila ,tiro uma garrafa de água, bebendo um gole de imediato, enquanto analisava  tudo ao redor. Não estava a gostar da perspectiva de ficar perdida no meio de nenhures sem saber o que poderia existir por ali._ Alberto?Porque me trouxeste ?-Olhei para as minhas pernas arranhadas. A roupa que estava a usar  não era a mais adequada para usar no meio de uma floresta, calções de ganga e tênis, não resultavam._Nao acredito que tenha sido pela companhia,ou  para passar um fim de semana romântico comigo...- Tirei a camisola que tinha por cima do meu top e amarrei-a à cintura. Não estava muito calor, mas mesmo assim estava quente demais. _Desculpa...-ele suspira antes de   declarar as restantes palavras,a  ignorando de novo quando  avança  entre algumas árvores. _Precisava do teu equipamento de recolha de amostras. _Bem que desconfiava.-O observei  um pouco preocupada quando não faz som algum ao se afastar do local onde iríamos descansar. Eu trabalhava num laboratório farmacêutico,e agora de férias pensava  mesmo  que haveria algum interesse  amoroso naquela viagem a dois. Suspirando, procuro por ele,mesmo tendo vontade de aliviar a bexiga não acreditava que ele fosse capaz de me deixar  ali sozinha.Bebi mais um gole de água e guardei a garrafa me levantando . _ Albertooooo!Onde estás? – Grito de novo,mas nada de resposta. Cautelosa de imediato pulo ao ouvir um som estranho. _ Alberto...?-  Sussurro desta vez, em alerta coloco a mochila nas costas, avançando  por onde o tinha visto seguir caminho._ Inferno!-Murmurei entre dentes já com uma onda de pânico a surgir dos pés à cabeça quando ouço de novo um som estranho, mas desta vez atrás de mim.Me preparando para correr desalmadamente sem olhar para trás ,sinto algo no meu ombro.Soltando um grito estridente, me viro com o punho fechado, atirando com toda a minha força preparada para me defender. _ PATRICIA!!!!!-Alberto solta um som abafado quando ela lhe acerto em cheio no rosto. _ Oh! Céus! – Coloquei a mão na boca com o meu coração quase a saltar fora. _ Desc...desculpa !!!! _ Para que foi isso? -Alberto soava  irritado, esfregando a bochecha vermelha e já inchada. _ Maldição...desculpa...-Completamente constrangida, mas não arrependida verifico seu rosto._   Tu é que foste o culpado.-Ele merecia muito mais  por ter me ocultado a verdadeira razão de ali estarmos. ._ Me assustaste de morte! _ EU? – Alberto mostrava perplexidade, como se ela estivesse dizendo uma barbaridade descomunal. _ Sim TU! – Respirei fundo para me acalmar. _ Porque não me respondeste quando te chamei? _ Provavelmente porque não ouvi! – Alberto lhe responde com um tom irónico, ele realmente estava convicto que não tinha qualquer culpa no assunto. _Como não????- Parece que  ele só iria entender o que eu  estava sentindo se soubesse que na minha mente surgia a imagem de um lobisomem horrível atrás de mim, pronto para se servir da minha pessoa como um file de luxo.  Sim, porque eu era entroncada, não era só ossos. Desde pequena que tinha sido mais cheiinha que o ideal feminino da sociedade, apesar disso eu me sentia bem. Tinha uma cintura fina,  com coxas cheias, e uns s***s redondos, volumosos. Alberto no início dizia que adorava os meus decotes, agora com a nossa relação cómoda nem reparava quando os usava. Respirando fundo , coloco as mãos nos quadris o confrontando ._ E como explicas a forma como apareces ? _ O que queres dizer com isso?- Alberto olha desentendido ao redor. __FOSTE EM FRENTE!! – Gritei ainda tremente com o susto._Como surges  atrás de mim? _ Como assim?-Desta vez ele fica pensativo analisando os caminhos._Nao entendo como dei a volta. _ Pois... esta expedição está a ficar cada vez mais confusa. – Mordi o lábio receosa quando um arrepio se faz sentir na minha nuca. _ Parece que não saímos do mesmo lugar. _ Pode até ser!!-Alberto balança a cabeça pensativo,sorrindo eufórico logo em seguida._Mas  encontrei  alguns vestígios de lobos e um sitio bom para passar a noite. _O quê?- Ofegando pulo de novo quando Alberto ,sem aviso ,me pega pela mão. Ele segue pelo mesmo lugar que tinha ido antes, nos levando a um pequeno caminho de terra batida, um caminho que na minha opinião não era totalmente feita pela natureza._ Vamos passar a noite aqui? Ao ar livre? – Ofeguei, olhando para o alto das árvores. _ Não é melhor voltar para trás, essa opção parece ser a mais segura. _ Patrícia !!! -Alberto solta uma risada._Onde está o teu sentido de aventura? _ Devo me ter esquecido de o colocar na mochila desta vez. – Bufei. _ Como o meu coração está, esta aventura ainda me vai custar um transplante. _ Vá lá, quantas vezes já não acampámos?  – Alberto sorriu, beijando o rosto da mulher que ocupava seu coração há mais de um ano._È como das outras vezes. _ Não, não é! Desta vez não conhecemos o local...- Continuei reclamando enquanto o seguia pensando também que antes  estávamos apaixonados._E sabíamos que as únicas criaturas que lá haviam com patas...eram formigas. _ Pensa só o incrível que é, estarmos num local onde pode  habitar uma raça selvagem que mais ninguém sabe que existe. – Alberto continuava eufórico tentando bater meus argumentos, que na minha opinião eram muito validos para ter em conta. _ O meu receio é esse mesmo.-. Parei abruptamente e o encarei _Que ninguém saiba que existe e que nós estamos aqui...sozinhos...perdidos...prontinhos para sermos caçados. Assinalei a vasta floresta, as árvores eram muito altas com muitas folhas. Qualquer criatura que  aqui vivesse nos conseguia observar facilmente como presas fáceis  para um jantar apetitoso. Engoli em seco, não ia dormir toda a noite, tinha a certeza._ Alberto ? Não achas estranho não ver sinal de vida por aqui? Nem um pequeno esquilo?Uma lebre? _ Não! Se houver aqui uma raça de homens lobos , todos os pequenos animais se afastam com receio de serem caçados. – Ele me agarrou pela cintura, depositando um beijo na testa. _ Estamos seguros neste local, não te preocupes. _Me rendo!-Suspiro resignada, não acreditava muito nessa história louco de homens lobos,por isso lhe daria um desconto. Sorrindo espero um abraço carinhoso o que nunca veio.Em vez disso, Alberto se ajoelha, verificando com extremo interesse uma  espécie de marca  na terra húmida. _ Já viste isto? – e******o com os olhos brilhantes, ele continuou sua apreciação._Nunca vi nada igual antes. _ Sim! Já reparei. – Suspiro já sem dar importância. Na verdade, há muito tempo que não me lembrava de o ver assim, tão e******o, era pena que fosse por uma marca de patas,e não por mim. Abanei a cabeça, quem eu queria enganar, sabia que a nossa relação já tinha acabado há um tempinho. Não era o fim do mundo, poucas vezes estávamos juntos neste último ano e isso provavelmente acabara com os sentimentos profundos que tínhamos um pelo outro, no início. Pelo menos uma grande amizade nos unia. Tirei a mochila e estiquei a manta no chão de terra seca, estava exausta, as folhas caídas teriam que servir de colchão no momento. Pego uma barra de cereais , a trincando de imediato enquanto me deitava. Realmente meu corpo pedia por alimento, já ouvia o estômago a roncar há mais de meia hora.  Ajeitando a mochila como uma almofada, tento relaxar, apreciando o céu azul, noto que estava mais limpo, as árvores realmente eram enormes, o ar mais respirável do que eu  estava acostumada na cidade , um mundo diferente realmente. Respirei fundo, vendo Alberto a preparar a pilha de madeira perto de onde  dormiríamos. Apesar de não montarmos a tenda por estar calor, a fogueira era algo sempre necessário ao anoitecer. Além de afastar animais indesejados, o que eu mais receava, também dava margem para ter sempre um bom café pronto. O cansaço do corpo finalmente vence  meu medo, mesmo tendo a sensação de estar a ser observada,  fecho os olhos, relaxando um pouco, pensando na desilusão de Alberto quando tivesse a certeza de que na verdade lobisomens só existiam em ficção. Mesmo assim o constante  arrepio na minha nuca  me deixa apreensiva ,pois isso era algo que nunca me  indicava  ...um bom presságio.
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