3 | Pegadinha do João Kleber

1588 Words
Anne Brandt Eu fui em outro mundo e voltei, em questão de segundos. Sabe aquela sensação de quando uma situação inusitada passa de todos os limites? Ainda estou implorando inconscientemente que tudo isso não passe de uma brincadeira de muito m*l gosto, será que é muito torcer que seja uma pegadinha do João Kleber? Preferia mil vezes procurar as câmeras escondidas do que acreditar que ainda existem babacas que cheguem assim nas mulheres. Não é só falta de respeito, como também é escrotice demais para uma situação só. O que me deixa impressionada é com o quanto ele estava cheio de si, com seu maldito sorriso convencido em sua tentativa de flerte. O cara até que era charmoso, rosto bem simétrico com sua barba a fazer dando um toque legal em seu maxilar quadrangular. Sorriso malditamente quente, olhos em tons bem bonitos que davam um contraste a sua pele bronzeada. E vale falar em seu corpo harmônico e musculoso, sinal que ele dava a devida atenção a todos os seus músculos, ao contrário de muitos que malham somente os braços e ficam parecendo o Larry, a lagosta de O Bob Esponja. Mas nada disso altera o fato dele ser um escroto assediador. Usei todo o meu alto controle até onde foi possível, mas a cada frase que ele dizia, só servia para piorar a situação toda. Mas ele tinha que abrir a boca, não é mesmo? Alguém precisa avisá-lo que de boquinha calada ele é poeta, por caridade. Se eu me arrependo de ter despejado todo o suco nele? Vou ser sincera, em partes sim. Mas se eu faria de novo? Obviamente que sim, precisava mostrar para aquele babaca com quem ele estava mexendo. Levo apenas um terço do tempo para vestir minha blusa, ainda com uma raiva descomunal transitando em minhas veias, tentando assimilar tudo que aconteceu. A ficha ainda não caiu? Estou incrédula com essa louca situação, me perguntando se nada cabeça dele passou a hipótese que eu me derreteria toda com suas ações torpes e seu sorrisinho malicioso. Mas se ele estiver pensando que vai ficar apenas no suco e banho de piscina está muito enganado. Ele vai ver o que sou capaz. Chego na bagunça sufocante que está em meu escritório borbulhando de raiva, que até esqueço por alguns instantes que está passando por reforma, eu simplesmente poderia ter ficado em outra sala, mas infelizmente o almoxarifado é interligada a esta, e acho um exagero ter que migrar todos os documentos para outro lugar e depois trazê-los para cá novamente. Acredito que nada pode diminuir minha irritação, mas vou fazer o possível para resolver esse assunto o mais rápido possível. Nem ao menos comecei a administrar e já estou com um problema. Poderia simplesmente lavar minhas mãos para esse assunto e jogar o “pepino” para o tio Alexandre e deixasse que ele resolvesse, mas não farei, ele é brando de mais, na certa deixaria que essa atrocidade seja apenas advertida, podendo acontecer novamente. Meu tio que ainda é dono de metade da propriedade é de longe a pessoa mais incrível que tive o prazer de ter em minha vida. Sua bondade e sua compreensão é de sobremaneira inacreditável. Esses é com certeza um dos grandes motivos do Del Petra ser referência da Elite Carioca, ele conquistou a todos com seu caráter e personalidade. Foram muitos anos de trabalho, então ele tomou a decisão de que estava na hora de descansar, colocando as ações a venda. As comprei de imediato, assim que eu soube. Embora, tio Alexandre por alguma razão me vendeu apenas metade das ações. Mas isso é o de menos, o Del Petra é referência em todo o estado e vai continuar sendo, mesmo que para isso eu tenha que me livrar de todos esses babacões de nossa carteira de associados, terei o maior prazer de tirar um a um. As câmeras. Esse detalhe me veio à mente. Aconselhei meu tio que trocasse as internas para um modelo mais atual após outra situação que aconteceu mês passado, e que estão todas sincronizada com uma plataforma online, onde todas as imagens são salvas em nuvem. Faço o login de usuário e seleciono as câmeras da área da piscina, bem no momento exato em que o tal babaca veio me perturbar. — Clarissa, poderia vir aqui na minha sala? — telefono para a gerente do clube, braço direito do meu tio, que devido sua competência – e a pedido do meu tio, decidi mantê-la na equipe de funcionários. Instantes depois ela está em minha sala. Clarissa Cavalhieri é uma senhora que está na casa dos sessenta, ostentando sempre um terninho feito sobre medida e levando consigo sua maleta de documentos para tudo que é canto. Ela é claramente sinônimo de foco no trabalho, pelo o que entendi sobre ela, trabalha aqui desde o início e também tem mérito no renome e referência do clube — e também no estado de calamidade na administração. — Precisa de alguma coisa Senhorita Anne? — viram que ela é formal a ponto de chamar de “senhorita”, em seu tom posso sentir o desprazer de me ter como “chefe” sei que é isso. Já consigo imaginar o porquê, ouvi por alto pelo rádio “corredor” que meu Tio iria vender o clube para Clarissa, mas como eu me propus a comprar, atravessei no meio do negócio deles me tornando proprietária. Ainda tem uma grande chance que ela se torne minha socia, logo o apaziguamento será mais que necessário. — Como trabalha aqui há muito tempo, deve conhecer a maioria dos membros do clube certo? — Sim, conheço uma boa parte. A maioria dos associados são figuras públicas e grandes empresários que sempre frequentam as festas da alta sociedade. Meu cérebro ativou o gatilho de tedio, já imaginando essas tais figuras públicas e grande empresários a qual ela menciona, quem conhece a “alta sociedade” carioca entende o que quero dizer, são um bando de idiotas soberbos que vivem de suas grandes festa e luxo, soberba define. Mas se eles são os clientes do clube, entrei sabendo de tudo, então o que resta é engoli-los goela abaixo. — Oh, que bom! Então me diga, quem é esse rapaz? — giro o monitor do meu computador em sua direção, mostrando a imagem do vídeo pausada. Ela retira seus óculos do bolso do terninho e ajusta em seu rosto, analisando a imagem em silencio por alguns instantes. — Juan Luís Di Lucca, Engenheiro da construtora Di Lucca. — Tudo bem, irei precisar do contrato de associação do Sr. Di Lucca — giro o monitor para a mesma posição de antes, enquanto ela continua parada, estática. — O mais rápido possível… Só então ela percebe que é uma ordem e sai para cumprir a tarefa ordenada. Alguns momentos depois ela está de volta com uma pasta e me entrega. Fico esperando-a se retirar, mas ela continua de pé ao lado da minha mesa. — Precisa de alguma coisa Clarissa? — Para que você precisa do contrato do Juan Luís? — ela pergunta com um certo tom de prepotência. Seria bem mais fácil ignorar, mas ela vem agindo estranho desde que começamos reformar o antigo escritório do Tio Alexandre, para que eu começasse a trabalhar no clube. Se for verdade mesmo que atrapalhei o negócio dela com meu tio, só posso dizer sinto muito. Mas ela ficar agindo como se eu tivesse que pedir permissão em tudo a ela, e não ao contrário, me deixa desconcertada. — Sou a nova proprietária do clube, certo? — minha pergunta soou arrogante e autoritária propositalmente e isso a fez ficar inquieta. — Sim, Claro! Mas…, mas seu tio não pedia os contratos individuais, isso sempre ficou em meu setor! — ela tenta argumentar. — Quero deixar claro algumas coisas, eu não sou e nem trabalho da mesma forma que meu tio. Se eu precisar olhar todos os contratos individualmente, irei olhar — digo em alto e bom som — Estamos entendidas? — Sim, senhorita Brandt… — Pode voltar aos seus afazeres, obrigada! Ela não gostou nenhum pouco, mas saiu de minha sala sem dizer uma palavra a mais. Clarissa Cavalhieri é conhecida e exaltada no ramo de administração, mas não concordo com o modo em que ela tem carta branca nas finanças e a tudo que se refere ao Del Petra. Após resolver esse probleminha ‘’Di Lucca’’, irei rever suas funções pessoalmente. Ai se ela se torna socia, já será outra história. Mas por enquanto vou limitar seu trabalho apenas para a função de gerente, que é o mais correto a si fazer. Volto a focar minha atenção a pasta do Di Lucca, lendo apenas o que eu considerava importante. Pelo que pude entender, os pais do Juan Luís são um dos primeiros membros do Del Petra, e ele por sinal, sempre visita com muita frequência as nossas instalações. Agora sim consigo entender muita coisa, ele não parece se considerar um associado qualquer, não é apenas presunçoso, como também se comporta como se fosse superior. m*l sabe ele que nesta monarquia, ele se encontra como um reles plebeu. Foi apenas preciso fazer algumas ligações para que tudo saíssem como esperado, seu cartão de acesso acabou de ser cancelado. E por precaução, também dei ordem para que ele fosse escoltado para fora do clube. Não admito que pessoas do seu tipo continuem sendo associadas do Del Petra, agora assim, ele pode procurar um outro local para praticar seu mau-caratismo.
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