PROLOGO
Manuela
Três Anos Atrás...
— Você tem que contar tudo, mãe. — Eu limpo meus olhos, tentando manter minha visão clara, mas as lágrimas continuam chegando.
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Meu peito parecia pesado, como se um elefante imaginário estivesse sentado em cima de mim, roubando-me a respiração. Só que o pesado elefante não é imaginário, é real. É um verdadeiro segredo que não deveria ser meu.
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Minha mente passa por tantas emoções - emoções que nunca senti antes. Traição. Devastação. Ódio. Claro, minha mãe não é perfeita. Qual mãe é? Mas trair nossa família assim? É imperdoável.
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— Você não tem ideia do que está me pedindo, Manu. Você é jovem demais para entender. — A voz estridente da minha mãe corta meus pensamentos.
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Suas mãos praticamente estrangulam o volante enquanto ela nos leva para casa do museu de arte, a exposição de arte onde eu tive minha primeira exibição.
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— Além disso, você estará na faculdade antes que perceba. Isso não é algo com o qual você precise se preocupar. — Revirando os olhos, viro-me para olhá-la.
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— Besteira! Esta noite deveria ser minha noite. Mas não. Em vez disso, tenho que entrar em...— O braço direito da mamãe dispara para bater-me, interrompendo-me no meio da frase. O rosto dela fica pálido e os olhos se arregalam antes que eu ouça o barulho dos pneus e veja o flash dos faróis iluminando o interior da cabine.
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O barulho alto de metal colidindo contra metal ressoa pelo meu corpo enquanto eu bato no painel central. Antes que eu possa compreender completamente o que aconteceu, o carro começa a rodar na estrada, em direção ao rio. Dentro do carro, meu corpo está sendo empurrado para frente e para trás como uma boneca de pano. Eu tento pegar a mão da mamãe, mas com todo o movimento, é impossível aguentar.
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Memórias aleatórias piscam diante de mim... Mamãe fazendo panquecas na manhã de sábado, papai me ensinando a dirigir, Thiago e Diogo pulando na minha cama...
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O som de metal triturado e vidro quebrando me faz fechar os olhos, tentando evitar que os cacos brilhantes voem direto em minha direção. Meu corpo avança quando minha cabeça bate no airbag. O pó fino flutua pelo ar, queimando minha pele em contato e me fazendo tossir repetidamente. Meu nariz arde e minha garganta queima. A compreensão começa a despontar quando a poeira começa a baixar.
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Fomos atropeladas por outro carro.
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— Mamãe... — Eu chamo, precisando que ela diga que está tudo bem, mas ela não responde.
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Apesar das falhas de minha mãe, ela ainda é a pessoa a quem eu recorro sempre e principalmente quando estou com medo. E neste momento eu estou com muito medo.
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Um grito silencioso me escapa assim que meus olhos caem sobre ela. Eles se concentram dentro e fora, tentando entender a visão diante de mim. Sangue. Muito sangue, um galho está grudando direto em seu torso, perfurando Deus sabe oque, e sua garganta está gerando ruídos borbulhantes enquanto ela tenta falar.
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— Shhhh, mãe. Não diga nada. A ajuda está chegando, alguem deve ter nos visto. — eu sussurro suavemente, tentando confortá-la com minhas palavras, porque tenho muito medo de tocá-la.
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Apresso-me para tirar o cinto de segurança na tentativa de localizar meu telefone celular, apenas para descobrir que a trava está congestionada. Estamos ficando sem tempo. Pense, Manu pense. Preciso de ajuda antes que mamãe sangre, mas todo movimento causa dor insuperável e me drena a pouca energia que me resta.
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Mexendo meu pé esquerdo, sinto algo, que pode ser meu telefone. Com grande esforço, consigo empurrar o objeto para trás, apesar de ter um espaço limitado entre o painel e meu assento. Se eu o empurrar para trás o suficiente, talvez eu consiga colocá-lo ao alcance do braço.
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Inclino minha cabeça para cima na tentativa de mudar meu corpo para mais perto do chão, conseguindo estender a mão e tocar o objeto com as pontas dos dedos.
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— Quase... — Gemo quando empurro meu braço esquerdo para baixo, agarrando com sucesso o telefone, mas recuperando- o sem sucesso.
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Ótimo, estou presa. A parte superior do meu braço agora está presa entre o painel e o meu assento, tornando impossível me soltar.
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Usando a discagem de segurança, desbloqueio o telefone e tento discar cegamente para obter ajuda. A ligação será para quem foi a última pessoa no meu registro de chamadas. Eu acho que era papai. Deus, espero que tenha sido papai.
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Enquanto aguardo esperando a ligação se conectar, a queda pós-adrenalina entra em ação e minha mente começa a entrar e sair da consciência.
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Olhando pela janela, vejo a lua cheia em toda a sua glória e me lembro de tempos mais simples. Tempos na minha infância em que a imaginação era realidade e tudo era possível.
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Eu deitada na cama dos meus pais e olhando para a lua, tentando memorizar todos os cantos e recantos de sua superfície. Às vezes eu conseguia distinguir um rosto e fingir que era uma fada madrinha, enviada para me conceder todos os meus desejos. Se ao menos isso fosse verdade.
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— Se você está ai fora, fada madrinha, por favor, envie ajuda.— clamo antes que minha visão comece a vacilar e tudo desapareça.