Elena seguiu a sua vida.
Passados 25 anos, ela ainda sentia que faltava alguma coisa na sua vida. Após ter deixado a casa da sua mãe e a sua filha com poucos meses de vida, ela não teve uma caminhada fácil.
Conseguiu emprego como camareira num hotel. Mas teve que sair porque o dono a assediava constantemente.
Depois disso, decidiu fazer um curso de designer de moda em meio período, mas o seu talento chamou a atenção do dono do atelier, e ela passou a fazer o curso a tempo integral e gratuitamente.
Aos poucos, a doçura e inteligência de Elena conquistaram Luciano Camargo.
O cavalheirismo dele e excelente educação também a conquistaram e eles começaram uma relação.
Casaram após seis meses e Elena tornou-se sócia do marido.
O negócio foi prosperando. Os desenhos dela eram únicos e nunca repetidos.
As clientes estavam cada vez mais impressionadas e a sua fama se espalhou como rastilho de pólvora.
Elena era uma mulher feliz. Amava o marido, mas nunca revelou a ele a existência da mãe e da sua filha.
Ela mantinha a conta da menina activa e todas as semanas fazia um depósito mas usando o seu nome de solteira.
Ela ia até ao seu bairro e via de longe a mãe e a menina que crescia linda, forte e saudável.
Ela tornou-se mãe novamente e teve Ana de Fátima. Após um tempo teve Ana Lúcia.
Ainda muito feliz mas com o coração em pedaços, ela mantinha os seus segredos á sete chaves.
Luciano então ficou muito doente. Passou tudo o que tinha para Elena e as filhas.
A morte dela foi devastadora, mas Elena teve que se manter firme por suas meninas que também sofriam com a ausência do pai.
O negócio continuou a prosperar.
Elena fez um testamento secreto e a sua parte da fortuna foi passada para o nome de Ana e Gabriela.
Estava decidida a contar para as filhas que tinham uma Avó e irmã mais velha, mas sempre perdia a coragem.
E assim o tempo passou.
Elena estava perdida nos seus pensamentos quando sua filha caçula a chamou.
- Mãe? A Senhora está bem?
- Meu amor! Eu estou bem.
Queres alguma coisa?
- Sim. Sábado será o aniversário da Clara. Eu preciso ir á loja pegar o presente dela que encomendei. Com quem eu devo ir?
- Desculpa meu amor.
Eu terei uma reunião em uma hora. Vou pedir a Vila que vá com você. Pode ser?
- Claro que pode. Obrigada Mãezinha.
- Por nada meu amor. Peça ao Baptista que prepare o carro para levar vocês está bem?
Eu vou dirigir para a empresa.
- Sim Senhora. Até logo mamãe.
- Até logo meu amor.
Elena não queria mais adiar.
Estava na hora de acabar com os segredos. Além das suas filhas, tinha mais alguém do seu passado que devia saber a verdade.
Sabendo que as suas revelações teriam graves consequências, ela estava disposta a aceitar tudo.
Mesmo que isso implicasse perder para sempre o amor e confiança das suas filhas.
Estaria mesmo disposta a correr o risco para se redimir da culpa que a assolava á 25 anos?
Não seria fácil estar ao pé de Gabriela sem uma boa razão.
Ela ficou desconfiada com a situação do sorteio, mas não disse nada apenas para não deixar a avó numa situação constrangedora.
- Mãe!? Eu trouxe um café para a Senhora...- Ana Laura apareceu.
Estava uma linda jovem. Tinha o sorriso como o de seu pai, mas de resto parecia exactamente com Elena.
- Oh meu amor! Obrigada.
E o que vais beber?
- Suco de Laranja com cenoura.
Eu não gosto de café.
- Tudo bem. Senta ao pé de mim.
Vamos conversar.
- Sim Senhora. Ah! Eu quero contar que vai haver um acampamento de férias este ano. Mas a Senhora tem que assinar autorização.
- Tudo bem. Mas, antes eu quero ver as tuas notas. Só assim vou assinar.
- Por mim tudo bem. A Senhora parece triste.
- Estou um pouco. Eu sinto a falta do teu pai meu amor.
- Eu também sinto a falta dele Mamãe. Mas, eu quero que a Senhora seja feliz.
- É mesmo!? Você não se importaria de me ver com outro homem?
- Claro que não Mamãe. Seria egoísmo da minha parte. Em alguns anos vou para a Universidade, e não quero que a Senhora fique sozinha.
- Nossa filha! Quando foi que você cresceu tanto?
- Foi por causa da Senhora que me tornei assim.
- Filha! O que você acharia se tivesses mais uma irmã?
- Eu já tenho uma irmã.
- Eu sei filha, mas é que...
- Licença Senhora Elena. Tem uma ligação urgente para a Senhora.
- Vamos entrar filha.
Depois falamos está bem?
Elena foi ao escritório e atendeu a ligação.
- Alô!
- Elena!? Oi é a Paula.
- Paula!? Minha amiga que bom te ouvir.
- Igualmente amiga. Nós temos que falar. Mas tem que ser pessoalmente.
- Alguma coisa com a minha filha?
- Ela está óptima. Mas, vamos falar pessoalmente está bem?
Vamos nos encontrar no café habitual em meia - hora. Bjos.
Elena desligou. Pegou a bolsa com as chaves do carro e saiu.
- Eu volto em uma hora filha.
- Sim senhora.
Elena entrou no café e viu Paula a esperando.
- Amiga!
- Oi Elena! Que bom te ver.
Peço café para você?
- Não obrigada querida. O que foi?
- Está na hora de acabar com este segredo. A Gabriela esteve na minha casa fazendo perguntas.
Eu não pude nem dizer o teu nome.
- Ela está investigando?
- Sim. E pelo andar das coisas não vai demorar muito para descobrir tudo. E a Ana pode ter problemas.
- Não. Eu preciso evita isso. Mas, não faço ideia de como vou contar para ela que sou a mãe dela. Já nos vimos duas vezes. Paula não sei o que fazer amiga.
- Eu entendo você. E tem mais, após a revelação da verdade prepara o coração porque ela vai te rejeitar.
- Eu sei disso. E ela não será a única a me odiar. Mas, se for esse o preço, então eu o pagarei.
Elena aceitou o café e conversou mais algum tempo com Paula.
Sabia que a amiga estava certa. Ela seria rejeitada, mas para ter a sua filha de volta, estava disposta a fazer qualquer sacrifício.