Ana Gabriela passou a semana sem falar muito com a Avó.
Estava magoada demais. Não queria ir longe demais nas suas palavras, então decidiu manter o silêncio.
As suas coisas estavam arrumadas para a mudança.
Ela foi conhecer a sua casa com Isabella e fez várias fotografias.
Queria que a avó as visse, mas não falou nada.
Na sexta-feira após as primeiras consultas, Gabriela foi preparar o seu chá na sala reservada ao pessoal médico.
Estava vazia e ela gosrou disso.
Precisava de silêncio para pensar. Mas, não demorou muito, pois Adriano entrou na sala e a viu.
- Bom dia Gabriela.
- Olá Adriano. Bom dia.
- Você está bem?
- Sim. Estou óptima. E farei a minha mudança amanhã mesmo.
- Que óptima notícia.
E a tua Avó também vai?
- Não. Vou morar sozinha.
A minha Avó prefere ficar na casa dela. A verdade é que... não estamos bem por estes dias.
- Sério? O que houve?
- Ela tem mentido para mim.
E combinamos que não haveria segredos entre nós.
- Eu lamento. Mas, achas que o que ela esconde afecta vocês as duas?
- Tenho a certeza. E esta relacionado com a minha mãe que é filha dela.
- Não conheces a tua mãe?
- Não. Nunca a vi nem mesmo numa fotografia. A avó não fala disso e muito menos sobre o meu pai.
- Nossa! Deve ser bem duro.
Vais mesmo mudar sem que façam as pazes?
- Não sei... É que eu...
- Olá! Achei você Adriano.
Podemos falar por favor?....- Renata estava furiosa e tinha um envelope nas mãos.
Adriano já sabia do que se tratava.
- Eu vou trabalhar.
Até logo. Olá Doutora Renata.
- Olá querida.
Até logo.
- O que você quer Renata?
- Saber o que significam estes papéis. Eu os recebi do RH e dizem que esta é a minha última semana de trabalho.
- Sim. É verdade. Não precisas de aviso previo. Na sexta-feira você deixará de trabalhar aqui.
- Nao faças isso comigo Adriano.
Sabes que amo o meu trabalho. Por favor não o tires de mim.
- Não estou a fazer nada disso.
Sei exatamente que és uma boa profissional. Mas, eu lamento Renata. Não posso te manter na minha equipa.
- É a tua última palavra?
- Sim. Já está decidido. A Ariella e o Lucas também já sabem e claro que estão de acordo.
- Tudo bem. Hoje mesmo eu transfiro tudo sobre os meus pacientes para você.
Deixarei tudo bem organizado, e amanhã já não tens que contar com a minha presença.
- Como você quiser Renata.
Até mais.
Adriano saiu da sala a deixando sozinha. Renata sabia a razão de estar a ser mandada embora.
Tinha visto a forma como era tratada nos últimos dias. E não seria nada bom manter - se num ambiente onde não era bem vista por ninguém.
- Isto não vai ficar assim...- Renata disse para si mesma.
Você vai pagar por isso Adriano.
Vais pagar muito caro.
Gabriela terminou mais cedo o seu trabalho e saiu com Isabella.
A festa da clínica estava a chegar e teriam que ir encomendar os vestidos, pois era uma altura em que toda a elite feminina procurava por Elena para obter o melhor que ela tinha para oferecer.
- Ana Gabriela! Que cara é essa? Está tudo bem?
- Nao amiga. Tive uma briga com a Vovó. Há alguns dias que não falo com ela.
- O quê?! O que aconteceu?
- Ela tem mesmo mentido para mim. Eu a flagrei falando ao telefone com uma mulher.
Pediu para ela desistir de nós porque estávamos bem.
- Que mulher? Achas que era a tua mãe?
- Eu não sei. Mas, ela negou - se a contar quem era. Sabes como ela é.
- Sim eu sei. E o que vais fazer?
- Vou mudar amanhã. Além disso a casa é linda e eu quero aproveitar.
- Não te precipites Gabriela.
- Já está decidido. A Vovó tem mentido para mim. Ela nem se importa com o que sinto.
- Tudo bem. Sabes que estou do teu lado. Chegamos. Preparada para escolher?
- Claro. Vamos á isso.
Entraram na luxuosa loja e era bem maior do que parecia por fora.
- Uau! É linda Isa. Aliás, é maravilhosa.
- Concordo com você.
- Olá Senhoritas! Sejam bem-vindas. Sou a Ana de Fátima Camargo.
- Filha da Elena?...- Isabella perguntou sem esconder a surpresa e percebeu que a jovem tinha semelhancas fisicas com Gabriela. O mesmo tom de cabelo e olhos e até o sorriso subtil mas lindo e encantador.
- Isso mesmo.
- Muito prazer! Sou a Isabella e ela é a Ana Gabriela.
- Bem - vindas novamente.
O que vão querer?
- Vestidos de gala. É para a festa anual dos Botelho.
- Que maravilha. Já fizemos muitas vendas por este motivo.
Vou pegar os modelos acabados de chegar e acompanhados por lindos sapatos e acessórios.
Ana Gabriela também percebeu a semelhança da jovem consigo mesma e não dizia nada.
Ela subiu por trás de uma porta e retornou com as mãos ocupadas.
Aqui estão. São perfeitos para vocês.
Ana Gabriela olhou oa vestidos e a sua atenção recaiu sobre um verde que era a sua cor favorita.

- Uau Gabriela. É lindo.
Tens a certeza sobre este?
- Sim. Eu amei este. Mas levarei também o azul para o caso de mudar de ideias.
- Óptima escolha. Aliás, o azul vai realçar ainda mais os teus olhos.

- Amiga você vai arrasar.
- Obrigada. Quero que fiques com o verde. Afinal, os teus olhos são da mesma cor.
- A sério?!
- Claro. Agora vamos ver os sapatos?
- Claro. Aqui estão.
- Ficarei com os brancos....- Gabriela disse assim que os viu.

- Também já escolhi.
O que achas amiga?

- Maravilhosos.
Após escolherem também os acessórios, as jovens pagaram e Ana Gabriela deu o seu novo endereço para que tudo fosse entregue na segunda-feira.
- Quando estavam de saída, viram entrar uma mulher que só podia ser Elena Camargo.
Ela parecia com a jovem Fátima, e tinha exactamente o mesmo tom de cabelo e olhos que Ana Gabriela e a filha que trabalhava na loja.
- Olá! Senhora Elena?
- Sim. Posso ajudar?
- Nós acabamos de fazer compras. Só quero dizer que a Senhora é muito talentosa.
Não é amiga?
- Sim. O seu trabalho é incrível.
Elena olhou então para Ana Gabriela e soube de quem se tratava. Só a tinha visto de longe ao longo dos anos, mas agora a tinha diante dos seus olhos.
Era ela: Ana Gabriela, a bebê que tinha abandonado com poucos meses, agora estava diante de si após 24 anos a caminho de 25.
- Senhora Elena? Está tudo bem?...- Gabriela percebeu que ela tinha ficado pálida.
- Sim estou bem. Obrigada. Gostei de conhecer vocês. Voltem quando quiserem.
- Claro. Nós voltaremos...- Ana disse e elas foram embora.
- Gabriela você também percebeu?
- A semelhança? Claro que sim.
Mas, deve ser apenas uma coincidência. Eu não poderia ser a única com cabelos tão pretos e olhos azuis imensamente claros.
- Eu sei. Mas a Vovó tinha dito que todas as mulheres da família dela tinham essa genética. Que herdaram da mãe dela.
- Sim. Lembro - me disso.
Mas, não vamos pensar nisso agora está bem?
- Tudo bem. Queres ajuda para arrumar o que falta?
- Sim por favor. E podes dormir lá em casa? Assim o clima não fica tão fechado.
- Conta comigo. Mas tenho que passar em casa para pegar algumas coisas.
Já falaste com a empresa de mudanças?
- Sim. Vão chegar amanhã às 9 horas.
- Perfeito. Amiga! Espero que vocês façam as pazes ainda hoje.
- Isto só vai acontecer se a Vovó decidir ser sincera comigo e contar a verdade.
As duas foram para casa. Ana Gabriela também queria fazer as pazes com a Avó, mas as coisas nem sempre correm como se espera delas.