Gabriela entrou em casa da avó e sentiu o delicioso cheiro de macarrão acabado de fazer.
Sorriu pois era um cheiro que sentia desde a sua infância e adolescência.
- Vovó!
- Gabriela! Meu amor que surpresa. Porque não avisaste que chegavas hoje?
- E estragava a surpresa?
De jeito nenhum.
Gabriela abraçou a avó mas percebeu que ela estava meio nervosa.
- Vovó o que se passa?
- Bem querida! É que eu tenho uma visita. Ela está na sala.
- Visita? Quem é
- Boa noite Gabriela.
Elena estava de pé na porta da cozinha e olhava para as duas.
- Senhora Elena? O que a Senhora faz aqui? Aconteceu alguma coisa em relação ao sorteio?
- Não. Tudo correu bem. Eu vim aqui para tratar de outro assunto.
- Vovó! Eu ainda não consegui entender.
- Vamos sentar está bem?
Vai ser uma conversa difícil. Aliás, já está mais do que na hora dela acontecer.
- Conversa difícil? Então a senhora já conhecia a Elena?
Foram sentar e Ana respirou fundo antes de responder.
- Sim. Eu a conheço. Aliás, a conheço desde que era uma bebé.
- Como assim?
- Elena! A Ana é a minha mãe.
Isto significa que você é minha filha.
- O Quê?! Vocês são mãe e filha?
- Sim. É isso mesma. O meu nome de solteira é Elena Morales.
Ana e Pedro Morales são os meus pais.
- Porque você está aqui?
Me abandonaste á 25 anos? Esperas que te receba de braços abertos e te chame de mãe?
Isso não vai acontecer.
- Por favor filha. Me deixe explicar.
- Eu não sou tua filha Elena.
E você não é a minha mãe.
- Eu aceito a tua raiva e rejeição.
Mas por favor não odeies a tua Avó.
- Não se atreva a me dizer como devo me sentir. Vovó! Eu estou muito magoada e decepcionada com a Senhora. A Senhora mentiu na minha cara.
- Eu sinto muito meu amor.
Por favor me entenda. Eu nunca quis te magoar.
- É mesmo?! Como a senhora acha que estou me sentindo agora? Eu não vou perdoar a Senhora Vovó. Não vou.
Gabriela levantou - se para ir embora mas Elena a chamou.
- Gabriel Medina.
- O quê?
- Gabriel Medina. Este é o nome do teu pai. Ele nunca soube sobre o teu paradeiro porque eu desapareci da vida dele.
- E agora ele sabe?
- Sim. Não só sabe como está desesperado para te conhecer.
Ele te ama muito e...Bem! Eu espero que você não o rejeite.
- Porque o faria? Afinal a mentirosa aqui é você.
- Gabriela por favor.
A Elena já sofreu demais.
- Não a defenda Vovó. A Fátima e a Lúcia sabem disso?
- Sim. Contei ontem para elas e agora a Lúcia foi viver com a irmã. Nenhuma delas deseja falar ou olhar para mim.
- Pois saiba que eu desejo a mesma coisa. Como eu disse vovó. Estou muito decepcionada.
Espero que a Senhora fique bem. Não me procurem nem se atrevam a ligar para mim.
Gabriella chamou um táxi e foi embora. Segurou as lágrimas e quando chegou em casa elas surgiram como uma cachoeira.
- Doutora Gabriela! Está tudo bem? Por favor não chores....- Joana a abraçou. Vai ficar tudo bem. Por favor não chores.
Quando Gabriela acalmou e foi deitar, Joana ligou para Isabella.
- Como ela está Joana?...- Isabella entrou e estava com Paula.
- Muito triste. Mas eu a convenci a ir deitar um pouco.
Isabella e Paula encontraram a amiga deitada na cama. Estava a olhar para o tecto e nem percebeu a chegada delas.
As duas abraçaram Gabriela deitando com ela.
Uma hora depois, Gabriela contou tudo para as amigas.
- Não consigo acreditar. Então havia mesmo um segredo. Só não imaginei que fosse algo assim.
- Nem eu amiga. Eu estou arrasada. A minha mãe me abandonou para ter uma vida melhor e durante 25 anos a minha Avó mentiu para mim.
- Eu imagino como te sentes amiga. Mas, não tomes nenhuma decisão de cabeça quente está bem?
- A Paula está certa. Não decidas nada com raiva. Mas seja qual for a tua decisão, nós estamos do teu lado.
- Obrigada as duas. Por favor vamos manter isso só entre nós está bem?
- Tudo bem. Não diremos nada a ninguém. Só você deve fazer isso.
- Sim. E farei quando estiver pronta. Mas, eu acabei de decidir que quero conhecer o meu pai.
Ele também foi uma vítima.
- Tens a certeza que estás pronta?
- Eu já perdi 25 anos Isabella.
Com certeza estou mais do que pronta.
Gabriela tomou um banho e desceu para jantar.
- Maria! Você sabia da verdade?
- Sim. E foram várias as vezes que aconselhei a Ana a contar para você. Mas ela nunca me ouviu. Me desculpe querida. Não era o meu dever fazer essa revelação.
- Está tudo bem Maria. Mas, tenho algumas novas regras se quiseres manter o teu emprego.
- Claro. Pode falar.
- Primeiro: Eu não quero ouvir em hipótese nenhuma o nome da minha Avó ser citado aqui dentro. Segundo: Seja o que for que acontecer aqui, ela não vai saber. Terceiro: A Elena não pode jamais chegar até á minha porta. Não atendam nem mesmo uma ligação. Se isto acontecer, demito vocês por justa causa.
Isabella e Paula não disseram nada. Sabiam que o coração de Gabriela estava ferido. Ela apenas queria se cuidar. E a ajudariam a fazer isso.
- Então! Vocês entenderam?
- Sim Senhora. As suas regras serão cumpridas á risca. Tem a nossa palavra.
- Obrigada. Podem ir descansar.
- Boa noite Senhoras.
Quando ficaram sozinhas Isabella voltou a falar.
- Gabriela você foi muito dura com elas.
- Sim eu sei. Mas, eu não quero ver nem ouvir falar delas. Não agora.
- Tudo bem amiga. Queres que a gente durma aqui com você? Amanhã é sábado e podemos passar juntas o final de semana.
- Claro que eu quero. E os teus planos Isabella?
- Somos irmãs. Não te vou deixar sozinha.
O celular de Isabella tocou e era Ana.
- É a tua Avó.
- Atende. Mas não vou falar.
Diz isso para ela.
- Alô Ana!
- Isabella! Meu amor que bom que me atendeste. Como está a Gabriela?
- Muito magoada e chateada com a Senhora. Eu lamento, ela não quer falar com vocês.
- Eu sei. Não imaginas como me arrependo de ter escondido a verdade. Ela nunca mais vai confiar em mim.
- Não sei. Mas por favor não faça nada para a pressionar. A Gabriela quer e precisa de tempo.
Faça isso por favor.
- Tudo bem. A pressionar neste momento será pior.
Se ela me quer longe, então farei isso.
- Eu lamento dizer isso Ana.
Mas, será melhor assim.
Tchau.
- O que ela queria?
- Falar com você. Mas não haverá pressão. Não te preocupes.
- Obrigada amiga. Bem! Que tal uma maratona de filmes?
O resto da noite passou e não voltaram a falar no assunto.
Elena estava sozinha. Ana Lúcia a sua caçula não queria falar com ela e nem respondia as suas mensagens.
Ela foi ver Fátima, mas o seu genro a atendeu.
- Agora não Elena. Elas precisam de tempo para processar tudo isso. Especialmente a Fátima.
- Como assim? Ela está bem?
- Sim. Mas, acabamos de saber que seremos pais. Ela não pode mais passar por situações turbulentas. Eu falo com elas está bem?
- O que a Senhora quer? Eu vou ficar com a minha irmã.
- Lúcia! Meu amor por favor me deixa explicar.
- Não. Vai embora. A Senhora é má e mentirosa. Eu conheci a Gabriela. Por isso ela é tão parecida com a gente. Como a Senhora a abandonou ainda bebê?
- Lúcia já chega. Vai ver como está a Fátima. Por favor querida.
- Tudo bem. Mas ela não vai entrar. Eu odeio a Senhora Mamãe. Odeio.
Arrasada pelas palavras da filha, Elena foi embora. Tal como Gabriel tinha dito, estava na hora de aceitar as consequências dos seus erros. Tudo o que estava a acontecer era apenas fruto das suas decisões do passado.
Será que ela podia ter de volta o amor de Fátima e Lúcia?
Seria capaz de conquistar o amor, confiança e o perdão de Ana Gabriela?
Apenas o tempo daria a resposta para as suas perguntas.
Elena seguiu com calma.
Lúcia estava novamente em casa.
Aos poucos a menina se soltava e estava cada vez mais empolgada por estar novamente perto da mãe.
E numa noite durante o jantar. Lúcia foi a primeira a falar:
- Mamãe! A Senhora está bem?
- Não filha! Eu estou triste e só poderei melhorar quando tudo estiver novamente bem.
- A Senhora fala das minhas irmãs?
- Sim. A Fátima será mãe em breve, ela vai entender que por um filho uma mãe é capaz de fazer absolutamente tudo.
Eu anularia a minha existência por vocês.
- Oh Mamãe. A senhora pode me desculpar? Eu fiquei zangada e nem percebi que a senhora também estava sofrendo.
- Tudo bem meu amor.
Eu não me zanguei com vocês.
O que eu fiz foi errado, mas...Estou cansafa de ser tão condenada por causa disso.
- Eu não te vou julgar mais mamãe. Amo muito a senhora e isso nunca vai mudar. E prometo que vou falar com a Fátima.
- O quê? Por favor não faças isso.
Sabes como ela é teimosa.
- Eu também sou. A Senhora está triste. Eu já estou cansada de tudo isso mamãe.
Elena estava orgulhosa da sua filha mais nova. Era realmente uma menina doce e muito mais madura do que parecia.
- Obrigada meu amor.
Agora vamos comer está bem?
Que tal uma maratona de filmes animados?
- Com muita pipoca com bacon?
- Com certeza. Peça a Laura para fazer e vamos escolher os DVD's.
Elena e a filha tiveram uma noite bem divertida.
Há muito tempo que ela não se divertia tanto com a sua menina.
Agora podiam recuperar os momentos de mãe e filha.