Capítulo XVII - Coração Ferido

1696 Words
Gabriela entrou em casa da avó e sentiu o delicioso cheiro de macarrão acabado de fazer. Sorriu pois era um cheiro que sentia desde a sua infância e adolescência. - Vovó! - Gabriela! Meu amor que surpresa. Porque não avisaste que chegavas hoje? - E estragava a surpresa? De jeito nenhum. Gabriela abraçou a avó mas percebeu que ela estava meio nervosa. - Vovó o que se passa? - Bem querida! É que eu tenho uma visita. Ela está na sala. - Visita? Quem é - Boa noite Gabriela. Elena estava de pé na porta da cozinha e olhava para as duas. - Senhora Elena? O que a Senhora faz aqui? Aconteceu alguma coisa em relação ao sorteio? - Não. Tudo correu bem. Eu vim aqui para tratar de outro assunto. - Vovó! Eu ainda não consegui entender. - Vamos sentar está bem? Vai ser uma conversa difícil. Aliás, já está mais do que na hora dela acontecer. - Conversa difícil? Então a senhora já conhecia a Elena? Foram sentar e Ana respirou fundo antes de responder. - Sim. Eu a conheço. Aliás, a conheço desde que era uma bebé. - Como assim? - Elena! A Ana é a minha mãe. Isto significa que você é minha filha. - O Quê?! Vocês são mãe e filha? - Sim. É isso mesma. O meu nome de solteira é Elena Morales. Ana e Pedro Morales são os meus pais. - Porque você está aqui? Me abandonaste á 25 anos? Esperas que te receba de braços abertos e te chame de mãe? Isso não vai acontecer. - Por favor filha. Me deixe explicar. - Eu não sou tua filha Elena. E você não é a minha mãe. - Eu aceito a tua raiva e rejeição. Mas por favor não odeies a tua Avó. - Não se atreva a me dizer como devo me sentir. Vovó! Eu estou muito magoada e decepcionada com a Senhora. A Senhora mentiu na minha cara. - Eu sinto muito meu amor. Por favor me entenda. Eu nunca quis te magoar. - É mesmo?! Como a senhora acha que estou me sentindo agora? Eu não vou perdoar a Senhora Vovó. Não vou. Gabriela levantou - se para ir embora mas Elena a chamou. - Gabriel Medina. - O quê? - Gabriel Medina. Este é o nome do teu pai. Ele nunca soube sobre o teu paradeiro porque eu desapareci da vida dele. - E agora ele sabe? - Sim. Não só sabe como está desesperado para te conhecer. Ele te ama muito e...Bem! Eu espero que você não o rejeite. - Porque o faria? Afinal a mentirosa aqui é você. - Gabriela por favor. A Elena já sofreu demais. - Não a defenda Vovó. A Fátima e a Lúcia sabem disso? - Sim. Contei ontem para elas e agora a Lúcia foi viver com a irmã. Nenhuma delas deseja falar ou olhar para mim. - Pois saiba que eu desejo a mesma coisa. Como eu disse vovó. Estou muito decepcionada. Espero que a Senhora fique bem. Não me procurem nem se atrevam a ligar para mim. Gabriella chamou um táxi e foi embora. Segurou as lágrimas e quando chegou em casa elas surgiram como uma cachoeira. - Doutora Gabriela! Está tudo bem? Por favor não chores....- Joana a abraçou. Vai ficar tudo bem. Por favor não chores. Quando Gabriela acalmou e foi deitar, Joana ligou para Isabella. - Como ela está Joana?...- Isabella entrou e estava com Paula. - Muito triste. Mas eu a convenci a ir deitar um pouco. Isabella e Paula encontraram a amiga deitada na cama. Estava a olhar para o tecto e nem percebeu a chegada delas. As duas abraçaram Gabriela deitando com ela. Uma hora depois, Gabriela contou tudo para as amigas. - Não consigo acreditar. Então havia mesmo um segredo. Só não imaginei que fosse algo assim. - Nem eu amiga. Eu estou arrasada. A minha mãe me abandonou para ter uma vida melhor e durante 25 anos a minha Avó mentiu para mim. - Eu imagino como te sentes amiga. Mas, não tomes nenhuma decisão de cabeça quente está bem? - A Paula está certa. Não decidas nada com raiva. Mas seja qual for a tua decisão, nós estamos do teu lado. - Obrigada as duas. Por favor vamos manter isso só entre nós está bem? - Tudo bem. Não diremos nada a ninguém. Só você deve fazer isso. - Sim. E farei quando estiver pronta. Mas, eu acabei de decidir que quero conhecer o meu pai. Ele também foi uma vítima. - Tens a certeza que estás pronta? - Eu já perdi 25 anos Isabella. Com certeza estou mais do que pronta. Gabriela tomou um banho e desceu para jantar. - Maria! Você sabia da verdade? - Sim. E foram várias as vezes que aconselhei a Ana a contar para você. Mas ela nunca me ouviu. Me desculpe querida. Não era o meu dever fazer essa revelação. - Está tudo bem Maria. Mas, tenho algumas novas regras se quiseres manter o teu emprego. - Claro. Pode falar. - Primeiro: Eu não quero ouvir em hipótese nenhuma o nome da minha Avó ser citado aqui dentro. Segundo: Seja o que for que acontecer aqui, ela não vai saber. Terceiro: A Elena não pode jamais chegar até á minha porta. Não atendam nem mesmo uma ligação. Se isto acontecer, demito vocês por justa causa. Isabella e Paula não disseram nada. Sabiam que o coração de Gabriela estava ferido. Ela apenas queria se cuidar. E a ajudariam a fazer isso. - Então! Vocês entenderam? - Sim Senhora. As suas regras serão cumpridas á risca. Tem a nossa palavra. - Obrigada. Podem ir descansar. - Boa noite Senhoras. Quando ficaram sozinhas Isabella voltou a falar. - Gabriela você foi muito dura com elas. - Sim eu sei. Mas, eu não quero ver nem ouvir falar delas. Não agora. - Tudo bem amiga. Queres que a gente durma aqui com você? Amanhã é sábado e podemos passar juntas o final de semana. - Claro que eu quero. E os teus planos Isabella? - Somos irmãs. Não te vou deixar sozinha. O celular de Isabella tocou e era Ana. - É a tua Avó. - Atende. Mas não vou falar. Diz isso para ela. - Alô Ana! - Isabella! Meu amor que bom que me atendeste. Como está a Gabriela? - Muito magoada e chateada com a Senhora. Eu lamento, ela não quer falar com vocês. - Eu sei. Não imaginas como me arrependo de ter escondido a verdade. Ela nunca mais vai confiar em mim. - Não sei. Mas por favor não faça nada para a pressionar. A Gabriela quer e precisa de tempo. Faça isso por favor. - Tudo bem. A pressionar neste momento será pior. Se ela me quer longe, então farei isso. - Eu lamento dizer isso Ana. Mas, será melhor assim. Tchau. - O que ela queria? - Falar com você. Mas não haverá pressão. Não te preocupes. - Obrigada amiga. Bem! Que tal uma maratona de filmes? O resto da noite passou e não voltaram a falar no assunto. Elena estava sozinha. Ana Lúcia a sua caçula não queria falar com ela e nem respondia as suas mensagens. Ela foi ver Fátima, mas o seu genro a atendeu. - Agora não Elena. Elas precisam de tempo para processar tudo isso. Especialmente a Fátima. - Como assim? Ela está bem? - Sim. Mas, acabamos de saber que seremos pais. Ela não pode mais passar por situações turbulentas. Eu falo com elas está bem? - O que a Senhora quer? Eu vou ficar com a minha irmã. - Lúcia! Meu amor por favor me deixa explicar. - Não. Vai embora. A Senhora é má e mentirosa. Eu conheci a Gabriela. Por isso ela é tão parecida com a gente. Como a Senhora a abandonou ainda bebê? - Lúcia já chega. Vai ver como está a Fátima. Por favor querida. - Tudo bem. Mas ela não vai entrar. Eu odeio a Senhora Mamãe. Odeio. Arrasada pelas palavras da filha, Elena foi embora. Tal como Gabriel tinha dito, estava na hora de aceitar as consequências dos seus erros. Tudo o que estava a acontecer era apenas fruto das suas decisões do passado. Será que ela podia ter de volta o amor de Fátima e Lúcia? Seria capaz de conquistar o amor, confiança e o perdão de Ana Gabriela? Apenas o tempo daria a resposta para as suas perguntas. Elena seguiu com calma. Lúcia estava novamente em casa. Aos poucos a menina se soltava e estava cada vez mais empolgada por estar novamente perto da mãe. E numa noite durante o jantar. Lúcia foi a primeira a falar: - Mamãe! A Senhora está bem? - Não filha! Eu estou triste e só poderei melhorar quando tudo estiver novamente bem. - A Senhora fala das minhas irmãs? - Sim. A Fátima será mãe em breve, ela vai entender que por um filho uma mãe é capaz de fazer absolutamente tudo. Eu anularia a minha existência por vocês. - Oh Mamãe. A senhora pode me desculpar? Eu fiquei zangada e nem percebi que a senhora também estava sofrendo. - Tudo bem meu amor. Eu não me zanguei com vocês. O que eu fiz foi errado, mas...Estou cansafa de ser tão condenada por causa disso. - Eu não te vou julgar mais mamãe. Amo muito a senhora e isso nunca vai mudar. E prometo que vou falar com a Fátima. - O quê? Por favor não faças isso. Sabes como ela é teimosa. - Eu também sou. A Senhora está triste. Eu já estou cansada de tudo isso mamãe. Elena estava orgulhosa da sua filha mais nova. Era realmente uma menina doce e muito mais madura do que parecia. - Obrigada meu amor. Agora vamos comer está bem? Que tal uma maratona de filmes animados? - Com muita pipoca com bacon? - Com certeza. Peça a Laura para fazer e vamos escolher os DVD's. Elena e a filha tiveram uma noite bem divertida. Há muito tempo que ela não se divertia tanto com a sua menina. Agora podiam recuperar os momentos de mãe e filha.
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