POV Lauren Jauregui
Eu acordei atrasada, o que sinceramente não era novidade.
Depois de um banho rápido, coloquei uma roupa simples, calça jeans escura com rasgos nas pernas, camiseta preta estampada com "NIRVANA" e meus inseparáveis coturnos.
Minha mãe diria que ainda me visto como uma adolescente, mesmo já estando com quase 25 anos, mas eu não posso fazer nada se gosto desse estilo meio largado.
Quando saí do quarto soltei um breve gemido, meu apartamento está uma bagunça, e por mais que eu prometa pra mim mesma que vou dar um jeito nele, nunca consigo cumprir minha promessa.
Olho rapidamente no espelho da sala, os cabelos bagunçados artisticamente me davam um ar legal, a maquiagem leve bem feita. Minha cueca aparecia acima da calça jeans que tratei de puxar pra cima.
O grande problema que me fazia ainda morar sozinha e ter poucos relacionamentos era o fato de eu ser intersexual. É, eu tenho corpo de mulher, mas minha genital é masculina, eu tenho uma rola, quero dizer, um pênis.
Você pode achar que é legal, mas acredite, não é. Eu sou assumidamente bissexual, mas é muito difícil um homem aceitar uma mulher que tem um pênis. E pras mulheres também é meio assustador.
Coloco os óculos escuros e pego as chaves do meu querido carrinho, no qual entro e sigo, um pouco rápido demais, em direção a escola onde dou aula.
Essa é uma parte da minha vida que é um tanto complicada. Eu venho de uma família de médicos, cirurgiões pra ser mais exata.
Meus queridos pais, seu Michel e dona Clara se conheceram durante a residência, se apaixonaram, casaram e tiveram três filhos.
Eles sempre esperaram que eu seguisse seus passos, foi um verdadeiro choque quando eu disse que faria letras ao invés de medicina.
Isso quase causou uma ruptura na família, quase, mas graças a Deus, meus pais acabaram entendendo que o amor da minha vida é dar aulas e escrever.
Estacionei meu carro em frente a New York Elementary School, uma das melhores escolas do estado, onde só consegui dar aulas graças a amizade que conservo com a diretora, Normani Kordei.
Eu e Mani fizemos faculdade juntas, mas ela se especializou em pedagogia, era apenas a coordenadora quando me indicou para dar aula para a turma de primeiro ano.
Durante dois anos dei aula pras turmas de primeiro ano, mas como me dei bem demais com a turminha do ano passado, convenci Mani, que agora é diretora, a me deixar acompanhá-los e ser também sua professora de segundo ano.
Também dou aulas no período da tarde pro ensino médio, mas não é tão prazeroso quanto dar aula pra crianças de seis e sete anos.
Entrei na sala dos professores e encontrei Louis Tomlinson, professor de química, era o homem mais gay que conheci na vida. Ele é também muito gentil e engraçado.
-Bom dia Laurita. Como está?
-Bom dia Louis, tô bem e você?
-Um caco. Saí com um bofe ontem... Foi uó... Nem tamanho digno ele tinha.
Dei risada com o jeito de Louis, era tão difícil imaginar como um cara como ele conseguia enfrentar uma turma de adolescentes com aquele jeito tão claramente gay.
Quando o sinal tocou peguei meu material e fui pra sala. A coisa que eu mais odiava era ver aquelas crianças de uniforme, porque na minha opinião, criança tem que usar roupa de criança.
Entrei na sala do segundo ano e esperei minha turminha chegar, sorrindo pra cada um deles quando entrava, em especial pra uma certa menina de traços latinos.
Luna Cabello Estrabao era a aluna mais gentil, inteligente, doce e educada que eu tinha. Eu não demonstrava favoritismo entre meus alunos, mas aquela lindeza era minha favorita.
-Bom dia professora Lauren.
-Bom dia Luna, como você está?
-Estou muito bem professora.
Sorri e observei ela ir se sentar. Quando todos chegaram e se acomodaram eu iniciei a aula.
...
O dia tinha chegado ao fim, eu estava cansada, então fui direto pro meu apartamento.
Tomei uma ducha, pus minha samba canção e minha camisa regata vermelha larga, com um desenho do Pug, com vários furinhos e manchada de cloro em algumas partes, mas eu simplesmente não conseguia me livrar dela.
Amarrei meu cabelo em um coque frouxo, peguei uma lata de coca na geladeira, meu notebook, um sanduíche e fui me sentar no sofá.
Abri minha pasta de e-mails e me decepcionei mais uma vez ao ver que nenhuma das editoras pra quem eu havia mandado meu livro me respondeu.
Bufei e comecei a comer meu sanduíche enquanto olhava minhas redes sociais.
Ser escritora é muito difícil, eu passei dois anos me matando pra escrever um romance. Eu me desdobrei em três tentando encontrar o contato de editoras que poderiam lançar o livro e mandei o manuscrito pra qualquer editora que eu pudesse.
Eu enviei e tornei a enviar esse manuscrito nos últimos dois anos, mas até agora nenhuma editora demonstrou interesse em publicar.
As vezes acho que minha irmã Taylor tem razão, talvez eu devesse ter seguido o caminho da medicina como ela e Chris... Não! Meu amor são as letras.
Saio dos meus devaneios com uma sucessão de batidas na porta.
Levanto e abro.
A mulher parada ali me observa, do coque frouxo aos pés descalços.
-Até que você é gostosa sabia Jauregui? Eu te pegaria se você tivesse b****a.
Encaro aqueles olhos castanhos e solto uma pequena risada antes de virar e caminhar rumo ao meu sofá novamente.
-Qual é Laur, sabe que é verdade.
-Dá última vez que você bebeu disse que queria que eu fosse seu P.A, Vero.
-Eca! Eu disse que queria um p***o Amigo?
-Disse. - Dei risada.
Verônica Iglesias, minha melhor amiga, se jogou no sofá ao meu lado.
-Eu tinha que estar bêbada mesmo, mas acho que sendo você eu até aceitaria...
-Cala a boca Vero.
Minha amiga agora gargalhava enquanto eu lhe tacava uma almofada.
Verônica era a única pessoa de fora da família que sempre soube da minha condição. Devíamos ter uns doze anos quando ela me arrastou até o banheiro pra fazer xixi, sem cerimônia ela havia tirado a calça e a calcinha na minha frente.
O problema é que na época eu ainda não tinha muito controle sobre meu amiguinho, e achava que gostava da minha melhor amiga. Então eu meio que fiquei de p*u duro.
Eu tava de saia e trancada no cubículo com Vero, não tive muitas condições de esconder. Minha melhor amiga percebeu e puxou minha saia pra cima.
Não sei como passei aquela situação sem desmaiar, mas Vero meramente me olhou e perguntou, da maneira mais safada que existia pra uma garota de doze anos:
-Porque tá assim?
-É... Bem... É...
-É porque você me viu pelada?
Eu me senti ficando roxa, não tinha nenhuma experiência ou entendimento daquilo. Confirmei e Vero sorriu.
Digamos que depois disso eu e ela descobrimos muitas coisas juntas.
Seriamente, acho que não perdi a virgindade com Vero porque eu tive medo, mas trocamos beijos, carícias e... Enfim.
Três anos depois nós tivemos um rompimento amigável, quando eu me descobri apaixonada por Amanda Strowt, com quem eu acabei namorando por seis meses.
Verônica e eu no entanto mantivemos a amizade da infância, graças a Deus, porque eu não saberia viver sem essa implicante com quem eu convivo desde o maternal.
-Sabe Lauren, - disse ela me olhando - nunca concluímos as nossas aventuras de adolescente. - Seu pé começou a subir pela minha perna, fazendo uma carícia. - Podemos voltar aquele tempo.
Segurei a perna de Vero.
-Eu não tenho mais doze anos Vero, não vou ficar de p*u duro só por te ver nua e não tenho nenhuma atração por você.
-Ai... Magoou.
Encarei Vero e ela voltou a gargalhar.
-Tudo bem, somos duas idiotas. - Disse rindo.
-Duas nada, você é i****a doutora Verônica Iglesias.
Vero sorriu, amava quando usavam a sua profissão pra se referir a ela.
Diferente de mim, a minha melhor amiga acabou por escolher a medicina, vivia tanto em minha casa que acabou vendo a paixão dos meus pais pela medicina.
Ela também foi arrastada tantas vezes por mim ao consultório que acabou descobrindo seu próprio amor pela profissão.
-Tá bom Laur. Agora me diga, porque ainda não tá pronta?
-Pronta pra quê?
-Como assim pra quê Lauren? É o aniversário da Lucy hoje, temos que ir a festa.
-Droga, me esqueci completamente Vero.
-Como você dá aulas se esquece de tudo?
-Me dá dois minutos vai.
Saí correndo pro quarto e me arrumei.
Um vestido simples preto, soltinho na cintura, um salto baixo azul marinho. Fiz uma maquiagem leve destacando meus olhos e deixei meu cabelo solto em camadas.
-Pronto. - Disse assim que voltei a sala.
-Finalmente.
Vero se levantou, estava muito bonita num vestido vermelho e saltos da mesma cor. Seu cabelo estava arrumado num r**o de cavalo simples e sua maquiagem era bem feita.
Peguei minha bolsa e saímos juntas pra festa da nossa amiga. Minha amiga na verdade, Vero poderia negar o quanto quisesse, mas ela e Lucy com toda certeza tinham um caso.
Vesti meu melhor sorriso ao entrar no carro. A noite prometia.