Cap 4

1270 Words
Cecília O primeiro dia tinha sido bastante confuso para mim, não só por causa de tudo o que eu vi, as pessoas novas que conheci e olha que ali, naquela delegacia, tinha muita e muita gente, tanto homem como mulher, desde perito, a escrivão até recepcionista e estagiários, mas também porque eu ainda não estava familiarizada com toda a rotina e por conta disso, me senti uma verdadeira inútil O delegado Thierry nem pra me pedir um simples café, solicitou a minha presença e olha que o que eu mais queria era que ele me pedisse alguma coisa, mas não, ele ficou o tempo todo fechado dentro de sua sala, só recebendo as pessoas que eram subordinadas a ele, no caso, aquelas que tinham assuntos mais que urgentes para tratar com ele e mais nada, nem na hora de ir embora eu consegui me despedir Fui direto para a universidade. Eu até que achei que daria tempo de voltar pra casa e tomar aquele banho "revigora" e só depois me colocar a disposição da lata de sardinha que eu chamo de ônibus, no horário de pico, pra ficar mais algumas lindas horas contemplando os assuntos relacionados ao direito, mas não, só consegui mesmo substituir minha roupa pela peça reserva que eu sempre levo na minha bolsa, o caso de uma emergência e segui pro ponto de ônibus. Direito Penal, nossa essa era a primeira aula, a única coisa que me dava um pouco de conforto era que aquele monte de códigos e prazos e penas era palestrados por ninguém menos que o doutor Leandro Machado, ou o professor que tinha me indicado o estágio. Tive até a impressão que ele deu a aula olhando só pra mim, o que me atrapalhou um bocadinho de tirar um descanso durante a aula, coisa que eu nunca fazia, nunca mesmo, por mais chata que a aula fosse, eu sempre me esforçava para dar tudo de mim, absolutamente tudo, principalmente porque não teria nem um vintém a mais para pagar uma dependência. É, nem como bolsista eu conseguia fugir desse custo, só da mensalidade normal mesmo Depois da aula a gente tinha o nosso primeiro intervalo e minha barriga já estava roncando horrores, eu não via a hora de pegar um salgado nervoso na cantina e me deliciar com aquilo, mas o professor tinha outros planos e eu só percebi quando ele me chamou de canto no término da sua aula Leandro - Cecília, posso falar contigo um momento? Como eu ia negar um pedido desses justo do professor que estava me ajudando absurdamente, mesmo sem saber Cecília - Claro professor, estou toda ouvidos Leandro - Fiquei sabendo que você começou lá na delegacia, e como foi, o Thierry foi o ogro de sempre? Cecília - Na verdade eu nem tive a oportunidade de conversar muito com o delegado professor, porque ele ficou o tempo todo trancafiado dentro da sua sala e nem pra me mandar levar um papel higiênico lá no fórum ele se dignou Eu acho que era o cansaço falando por mim, eu não estava com a mínima intenção de reclamar do primeiro dia do meu estágio, e na real, nem percebi que naquele momento, era exatamente isso que eu estava fazendo, as palavras só começaram a sair da minha boca, no mesmo momento que o professor Leandro também começou a arregalar aqueles olhos azuis dele Ele era lindo, não tanto quando o Thierry, mas era lindo, bem cuidado, educado, dedicado, chamava a atenção de qualquer mulher e muitas vezes fez isso comigo, mas eu sabia qual era o meu lugar e me reduzia todas as vezes que ousava sonhar com aquele professor e o meu cansaço estava começando a achar alguns defeitos nele naquele dia Leandro - Olha, eu vou ser bem sincero, o Thierry é um homem de poucas palavras e quando fala, Jesus amado, sai de perto, é cada merda que saí daquela privada que ele chama de boca que muitas vezes eu senti vergonha alheia, mas ele não liga, simplesmente não liga em falar a verdade, a qualquer hora, em qualquer lugar e se a pessoa que ele está disponibilizando toda a atenção dele para proferir sua humilhação vai ficar chateada ou não. Então eu vou te dar um conselho, faz o teu melhor, trabalha com gosto, aprenda tudo o que conseguir, porque mesmo ele tendo esta personalidade, ele é o melhor no que faz, então aproveite a oportunidade e releve muita coisa, pelo amor de Deus, e, principalmente, não se apaixone por ele, vai ser uma desilusão descomunal Cecília - Isso o senhor pode ficar despreocupado, eu não estou nem um pouco a fim de cair em lábia de homem, principalmente de um que se acha melhor do que todo mundo Leandro - Sabe o que é o pior? Cecília - O que? Leandro - Ele não se acha, ele é o melhor e isso não é por pura sorte, ele simplesmente dá tudo de si para ser o melhor no que faz, acho que é até por isso que ele evita qualquer tipo de relacionamento, até mesmo com os amigos porque o circulo de amizade dele é muito pequeno, e pensando bem, eu nem conheço outros amigos dele, acho que ele prefere mesmo ficar sozinho. Agora mesmo olha aonde ele está, dentro da sua sala, sozinho, estudando um caso que está tirando o seu sono, de uma criança que foi sequestrada e o principal suspeito é o próprio pai, mas ele não tem como colocar o cara na cadeia porque não tem provas suficiente, mas ele está lá, trabalhando...dando o seu melhor "Então era por isso que ele não tinha me chamado durante todo o dia nem pra me pedir um copo de água, ele está trabalhando em um caso importante...mas bem que ele podia me chamar né, eu sou a estagiária dele poxa, estou muito a fim de aprender as coisas, nossa, seria uma grande oportunidade para mim, acho que amanhã eu vou dar uma sondada melhor, assim, como se não quisesse nada" Eu tinha essa mania, as vezes, a pessoa falava e falava comigo, mas eu conseguia me concentrar apenas em um ponto, no caso, aquele que mais me interessava e deixava o resto pro universo mesmo, ele ia saber o que fazer com aquela informação toda, com certeza ia Leandro - Mais uma coisa Cecília...não insista tá legal, ele não gosta de pessoas assim, que invadam o seu espaço. Para ele, existe uma linha imaginária que delimita os passos de cada um e por causa disso, ele não admite que ninguém invada o seu espaço, correndo o risco até de colocar em ameaça essa oportunidade de estágio que você recebeu, então, não é por m*l não, mas vai por mim tá, me escuta e faça apenas o que ele te pedir para fazer, nada além disso Cecília - Pode ficar tranquilo professor, eu entendi direitinho, "não ser entrona", entendi O sorriso se formou na lateral da boca do professor e eu me lembrei o motivo de eu, por várias e várias vezes, prestar atenção na sua beleza. Ele não era simplesmente charmoso, ele era educado, preocupado com os seus alunos, com o seu bem estar. Não era a obrigação dele vir até mim e me dizer tudo aquilo, mas ele fez questão, não sei se por mim ou por causa do delegado, por conta da amizade deles, mas fez, e eu estava muito grata por aquilo Agora era só tentar acalmar meus ânimos, descansar um pouco, imaginar o delegado como o quasímodo, todo catarrento, e pronto, finalizar o meu estágio com maestria
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