Prólogo:
[Aviso essa história vai falar da triste realidade que tenho visto nos jornais todos os dias sobre a violência doméstica, e pode trazer alguns gatilhos.]
Brianna Becker:
Minha vida não está sendo nada fácil, pois não consigo me livrar das agressões e ciúmes possessivo do meu marido Vincent, e tudo ficou pior agora que ele se tornou um viciado em drogas, minha mãe e meus dois irmãos nunca aceitaram meu relacionamento com ele, mas eu era apaixonada por Vincent e não sei se um dia eu conseguirei me livrar dele, já que o mesmo já me disse que me matará se eu tentar deixá-lo, por isso não sei o que fazer para sair disso e poder viver outra vida, dessa vez em paz.
Vincent não foi o meu primeiro amor, pois eu sempre gostei do filho mais velho dos patrões da minha mãe, que trabalha na mansão dos Callahan antes mesmo de me ter, meu pai também trabalhou como motorista dele, mas infelizmente já tem uns 8 anos que ele faleceu em decorrência de um infarto, Heitor é 8 anos mais velho que eu, mas toda vez que o via andando pela sua casa, meu coração disparava, mas ele nunca olhou pra mim com outros olhos, sempre me via apenas como a amiga da sua irmã caçula, infelizmente ele foi morar na Austrália quando fez 24 anos, e nunca mais o vi.
Conheci Vincent na mesma época que Heitor se foi, eu tinha 16 anos, e ele 23, mas como sempre gostei de homens mais velhos que eu, eu fiquei encantada por ele quase que imediatamente, ele era de família simples assim como eu.
Eu perdi minha virgindade com ele quando tinha 17 anos, eu queria ter esperado mais, porque não me sentia pronta para me entregar, mas insistiu nisso, e como ele era um cara legal e amoroso acabei cedendo.
Mas depois que transamos pela primeira vez, ele se tornou um homem ainda mais ciumento, eu já não podia nem ter amigos homens que ele já achava que eu estava traindo ele, e sempre que cismava com isso ele me machucava, essa é a parte pior, já perdi as contas das vezes que fiquei marcada por conta do peso da sua mão nos meus braços, vivia usando blusas de mangas compridas, pois como eu sou muito branca, ficava rocha rapidamente.
No começo eu tentei terminar nosso relacionamento, mas não conseguia, ele sempre vinha atrás de mim no colégio para fazer escândalos, como eu estudava na mesma escola que a filha dos patrões da minha mãe, pois eles sempre fizeram questão de bancar os meus estudos, assim como fizeram com os meus irmãos, eu queria evitar que Vincent me fizesse passar vergonha, e da última vez que brigamos, ele me ameaçou caso em terminasse com ele, não tive outra alternativa senão reatar nosso relacionamento.
Vincent já era explosivo, mas ficou pior quando começou a usar drogas, eu o conheci fumando apenas maconha, mas hoje ele é viciado em cocaína também, o que piorou tudo, Algumas vezes eu pensava em me casar com Vincent e juntos formamos uma família, mas eu entreguei meu amor a um homem que não o merecia e infelizmente meu conto de fadas foi desmoronando aos poucos a cada dia que se passava.
Por um tempo, ele melhorou o seu comportamento comigo, tanto que me convenceu a ir morar com ele. E antes que eu completasse 18 anos, nos casamos no civil, na época minha mãe fez de tudo para me fazer desistir dessa ideia, mas eu a convenci que era o que eu queria, ela assinou a autorização, lembro da conversa que tivemos, mas infelizmente eu não dei ouvido pra ela.
Flashback:
-Filha tem certeza que você quer mesmo se casar com esse homem? Brianna, eu sinto que ele não a faz feliz, imagina o que ele fará quando se casar com você. Suas palavras me fizeram chorar.
-Mamãe, eu o amo, e sei que ele vai me fazer feliz. Respondi de cabeça baixa.
-Ele não vai, filha, desde que vocês começaram a namorar, que vi o brilho ser apagado dos seus olhos, você não sorri mais, olha como está se vestido agora, só com roupas que esconde seu corpo, e então notou que você perdeu muito peso, isso não é vida, Brianna, o casamento é coisa séria, você ainda pode se livrar desde traste, eu posso conversar com meus patrões para nos ajudar caso ele te persiga, pense bem, se casar com esse homem não vai resolver seus problemas, pelo contrário, pode aumentar.
-Esse homem já te tirou do colégio, tem te afastado dos seus amigos, até da sua família você se afastou por conta dele, isso não foi a vida que seu pai e eu sonhamos pra você, meu amor, não case, por favor. No fundo eu sabia que minha mãe poderia ter razão.
Mas eu estava cega, além disso eu não achava que Vincent seria um m*l marido, talvez tudo o que ele quer é ter esse compromisso mais sério comigo. Porque eu não ouvi a minha mãe e meus irmãos?
***
Bastou passar apenas alguns meses para eu ver a frieza encher seu olhar e também senti força dos seus punhos, era sempre a mesma coisa, ele vinha pra casa, se drogava, e partia pra cima de mim, tive que largar meus estudos, e por conta disso eu não via mais a minha melhor amiga, só nos falávamos pelo celular, quando Vincent não estava em casa, comprei um celular escondido, já que ele havia quebrado o meu, e eu já estava ficando esgotada emocionalmente, e fisicamente, principalmente porque eu já não via minha família e minha amiga, já que vivia trancada dentro de casa.
Aqui no bairro onde a gente mora, tem muitas garotas que acham ele um homem maravilhoso, só por conta da beleza que ele tem, mas eu também o via dessa maneira quando o conheci, mas a beleza dele escondia a sua verdadeira face, se essas mulheres soubessem o que passo nas mãos dele, provavelmente elas sairiam correndo, coisa que eu deveria ter feito desde o início.
Sei que muitas delas queriam estar no meu lugar, mas elas não sabem o inferno que vivo por ter o título de esposa do Vincent Moses, e desde que ele me bateu pela primeira vez, eu só faço sexo com ele por medo e não por prazer, e não desejo essa vida pra ninguém.
Hoje fui ao supermercado comprar algumas coisas para fazer no jantar, e como o tempo está muito quente, eu voltei pra casa com uma terrível dor de cabeça, minha vontade era de me deitar, mas se eu não fizer o jantar, Vincent vai se zangar e é tudo que eu quero evitar.
Tomei 2 advil, tomei um banho frio para ver se melhorava, vesti uma roupa confortável, depois fiz um coque no cabelo, fui pra cozinha e comecei a guardar as compras, estava temperando a carne moída, quando ouvi barulho de chave na porta, quando virei pra trás, vi Vincent parado na porta da cozinha, e a sua cara está fechada e já senti medo que algo r**m tenha acontecido e ele venha me bater como se eu tivesse culpa, pelo visto ele nem lembrou que estamos completando 5 anos de casados e que além disso é o meu aniversário de 22 anos.
-Deixe isso aí, e vai se arrumar que vamos sair, tenho um aniversário pra ir e vou te levar comigo. Ele diz me dando uma ordem só pra variar um pouco, mas talvez ele tenha preparado uma surpresa, só que não estou no clima.
-Não estou animada para sair, Vincent, eu estou preparando o seu jantar, além do mais estou morrendo de dor de cabeça, que tal ficarmos em casa só nós dois? Ele fechou a cara e os punhos também e já penso no pior, com certeza não tem surpresa alguma e ele nem lembrou que dia é hoje.
-Eu não estou nem aí para sua dor de cabeça, se vista ou você ter algo pior que dor de cabeça hoje, Brianna. Ele me empurrou e eu bati as costas na porta da geladeira, e depois ele subiu para o nosso quarto. Guardei a carne na geladeira, e subi para trocar de roupas.
Tive que mudar de roupas uma 5 vezes, porque ele não gostou de nenhum dos vestidos que vestir, quando finalmente ele aprovou um, saímos de casa e ele me levou para uma boate onde estava alguns dos seus amigos idiotas ao lado de muitas mulheres, no fundo eu torcia para que Vincent ficasse com outra pessoa e me deixasse em paz, mas sei que sou um espécie de troféu por ele ter sido o primeiro e único homem que me levou para a cama.
Ficamos naquele lugar até quase 03:00h e já estava quase dormindo em pé.
Quando finalmente ele decidiu ir embora depois de se drogar muito com seus amigos, fomos pra casa, eu só queria dormir e mais nada, foi quando ouvi Vincent falando algo comigo.
-Me espere no quarto sem roupa que já vou lá comer você, gata. Ele me deu a ordem, e eu tive vontade de me esconder.
Subi para o nosso quarto sem ânimo algum, mas tive que me segurar para não chorar.
Eu não fiquei nua como ele queria, só deitei na cama torcendo para que ele tenha se drogado tanto ao ponto de não conseguir t*****r comigo hoje.
Foi quando ele entrou no quarto um tempo depois com uma lata de cerveja na mão e os olhos vermelhos, provavelmente ele usou mais drogas antes de vir pra cá, ele fica me olhando como um pregador espreitando sua presa, e isso e causa muito medo.
-Vincent, eu ainda estou com dor de cabeça, por favor, me deixe dormir. Supliquei, mas ele não me ouviu.
Eu senti um tapa forte sendo desferido no meu rosto, cai sobre a cama, sentindo o gosto de sangue na minha boca.
-Não se atreva a me negar, o que é meu, sua p*****a, safada, hoje quero usar seu corpo, e se prepare para não dormir hoje. Vincent tirou as suas roupas e caminhou em minha direção sorrindo como um maldito demônio.
Um calafrio subiu pela minha espinha e uma vontade de ir correndo tomou conta de mim, mas simplesmente não podia.
Ele me bateu outra vez,
-Não me veja assim com medo, Brianna, eu sou seu marido, seu corpo é meu.
Ele começou a beijar meu pescoço, enquanto me batia, à medida que eu me afastava, e aquilo começou a me dar nojo, foi aí que percebi que o amor que eu pensei que sentia por ele já não existia, só existia medo. Vincent me jogou em cima da cama, depois de me bater muito, eu pensei que iria morrer, mesmo assim ele se deitou sobre mim.
-Ah, Brianna. Você me excita pra caramba, nenhuma mulher se compara a você, minha p*****a particular. Fechei meus olhos para não ver nada do que vai acontecer entre nós.
E só sentir ele ali tomando aquilo que eu não queria dar mais para ele, nem acredito que um dia eu pensei que Vincent era o amor da minha vida, como me enganei.
Gritei quando ele me penetrou sem eu estar pronta, acabei chorando diante de tamanha brutalidade.
Ele beijava todo o meu rosto com tanta força que tenho certeza que amanhã estarei com a pele toda roxa, ele apertava meus s***s e comecei a sentir raiva de mim mesma por aceitar ficar com ele contra minha vontade.
Vincent começou a se mover dentro de mim com mais força, ele me dizia de forma embolada o quanto eu era linda e gostosa.
E eu cada minuto ficava com mais nojo de tudo isso, principalmente porque ele me obrigou a ficar em várias posições e aquilo foi muito humilhante pra mim, eu me senti violada, e eu só queria voltar pra casa e esquecer tudo isso.
Quando ele finalmente gozou e sai de dentro de mim, eu caí ao lado da cama e sem acreditar no que acabou de acontecer.
Senti quando ele saiu de cima da cama, e foi tomar banho, eu também precisava de um banho, pois precisava de um banho já que o filho da p**a não usou a camisinha e me deixou toda melada, mas eu não tinha força pra nada, minha cabeça estava explodindo, quando passei a mão no meu cabelo, vi que estava sangrando bastante.
Fiquei com tanto medo de morrer ali, que me arrastei pra fora da cama, peguei o celular do Vicent, e com dificuldade liguei para a minha mãe que atendeu no quinto toque.
Não pude falar muito, então desliguei e apaguei o registro, assim que Vincent saiu do banheiro e me viu, ele veio pra cima de mim outra vez, acabei desmaiando.
Eu devia ter ouvido minha amiga, Elena, ela sabia tudo sobre o meu marido violento, nestes dias que estava mais triste, eu havia conseguido falar com ela pelo celular, e ela queria que eu fugisse, mas eu tinha muito medo.
Foi ela que cuidou de mim, nas várias vezes que eu fui ferida pelo meu marido, eu mentia pra ela todas vezes que chegava no hospital bem machucada, lembro de uma das conversas que tive com ela,
-Brianna, meu irmão que é delegado lá na Austrália, e eu posso ligar pra ele e contar sobre o que está acontecendo e o que seu marido covarde faz com você, ele pode dar um jeito de prendê-lo e. . .
-Não. . . Por favor, Elena, não conta nada, pois Vincent pode me matar, ele nunca vai me deixar em paz, além disso tem minha mãe e meus irmãos que ele pode tentar prejudicar. Falei chorando enquanto segurava as suas mãos.
-Eu não concordo com você, amiga, e só vou ficar calada porque você está me pedindo isso, e também porque eu sei que realmente esse homem é muito perigoso, mas vou dar um jeito de te livrar dessa vida.
-Obrigada, Elena. Agradeci chorando ainda mais e ela me abraçou.
-Eu sinto tanto por você Brianna, ninguém merece ter como marido um babaca como esse.. Elena era uma grande amiga e eu confiava muito nela, pois ela era uma irmã que nunca tive, mas nem posso vê-la como antes…
Não sei porque me lembrei disso, afinal faz um tempo que tive essa conversa com ela.
Minha cabeça estava muito dolorida, e eu não sabia onde estava, mas havia um barulho irritante de um bip, além de um cheiro de álcool.
Forcei meus olhos a se abrir, e vi que estava em um quarto todo branco, minha cabeça estava enfaixada, e além disso um acesso em minha mão esquerda.
-Que bom que você acordou. Ouvi uma voz grossa masculina que me assustou, pois por um momento eu pensei que Vincent estava ao meu lado, mas quando virei a cabeça com um pouco de dificuldade, já que eu estava com ela enfaixada, eu vi um homem lindo de cabelos loiros e grandes olhos verdes me olhando com atenção.
-Quem é você? Perguntei tentando me lembrar de onde eu conheço esse homem, mas eu não me lembro de tê-lo visto antes.
-Eu sou o Heitor Callahan. Ele segurou na minha mão e acabei me afastando do seu toque, e você deve ser a senhora Moses… Ele permaneceu em pé ao meu lado, mas ouvi o sobrenome do meu marido fez meu estômago embrulhar…
-Meu sobrenome agora é só Becker, e eu sou a Brianna. Me apresentei, mas ainda não entendia porque ele estava ali, quando pensei em perguntar, a porta se abriu, e eu vi a doutora Elena, uma amiga querida que me socorreu e me trouxe para esse hospital que pertence a sua família.
-Que bom que você acordou, Brianna, já vai que você já reconheceu o meu irmão mais velho. Ela disse aferindo meu pulso, como eu não percebi que ambos têm o mesmo sobrenome e que são tão parecidos.
-E o que seu irmão está fazendo aqui, Elena? Perguntei puxando pela memória, e comecei a lembrar dele, pois minha mãe trabalhava na casa deles como governanta antes mesmo d'eu nascer, ele se mudou para o Canadá quando eu tinha 16 anos, e nunca mais o vi, nem me lembrava da sua fisionomia, mas ele sempre foi muito bonito, e era meu crush desde pequena.
-Ele está aqui, porque já cansei de te ver machucada por ter escorregado no chão, ou por ter esbarrado no vidro do box que quebrou te cortando toda, por cair da escada e até mesmo aparecer com o olho roxo do nada, Heitor é delegado, ele foi transferido para assumir a delegacia daqui e voltará para morar aqui em Seattle, então ele vai dar um jeito para que “acidentes” como você vem sofrendo nos últimos anos não aconteçam mais. Assim que ela diz isso, eu comecei a chorar ao me lembrar da última surra que Vincent me deu há alguns dias, depois que voltou drogado da rua, ele queria t*****r comigo, mas como eu disse não, ele me violentou, depois de me espancar quase até a morte.
Só me lembro de ter me arrastado para o canto do quarto quando ele entrou no banheiro para tomar banho, peguei seu celular e liguei para a minha mãe pedindo ajuda, é só do que me lembro.
Depois disso acordei aqui no hospital, fiquei 5 dias em coma induzido por conta de todos os ferimentos que ele me causou, e Elena me disse que ajudou a minha mãe a me resgatar, mas quando chegou lá na minha casa com a polícia, Vincent já tinha conseguido fugir.
-Eu não posso fazer isso, Elena, e você sabe disso. Respondi sem conseguir encarar os dois, estou morrendo de vergonha.
-Não precisa ficar assim, Brianna, quem teria que ter vergonha é aquele escroto, porque um homem de verdade não bate em mulher, mas eu te juro que farei aquele maldito pagar por tudo que fez contra você, mas vou precisar que você deponha contra ele, só assim poderei colocar aquele crápula atrás das grades. Heitor me fez encarar ele, mas era difícil fazer isso, pois seu olhar era muito intimidador, mas de um jeito bom.
-Desculpe, mas eu não vou conseguir fazer isso, eu tenho medo. Confessei chorando mais.
-Eu sei que é difícil, minha amiga, mas você tem que fazer isso, só assim você conseguirá se livrar desse pesadelo de uma vez por todas, esse homem tem que ir para a cadeia, Brianna, e meu irmão fará isso se você colaborar, inclusive ele como delegado já emitiu a medida protetiva, para que aquele homem não se aproxime de você. Eu sei que Elena e seu irmão tem razão, mas não é fácil fazer isso, afinal mesmo Vincent tendo feito isso várias vezes, ele no fundo é um homem bom, que só faz essas coisas por causa dos seus vícios em drogas, claro que não pretendo voltar pra ele, mas não sei se quero mandar ele pra cadeia.
-Vou embora, mas um policial vai fazer a segurança do quarto, enquanto você estiver internada, Brianna, vou deixar meu cartão com os meus telefones, inclusive meu número de celular, assim você pode me ligar se precisar, mas antes que eu vá, quero que saiba que você não está sozinha, pois se você é a melhor amiga da minha irmã, faço questão de te proteger. Vi a verdade em suas palavras, e fiquei arrepiada com a sua voz rouca e forte ao pé do meu ouvido, ele pegou na minha mão que estava livre, e apertou de leve, ele se foi depois de dar um beijo no rosto da sua irmã.
Fiquei um tempo olhando a porta por onde ele passou, até ouvi um risinho de Elena.
-Pelo visto, você ainda tem uma queda pelo meu irmão, acho que seremos cunhadas além de amigas. Elena faz graça, enquanto me examina.
-Não diga bobagem, Elena, seu irmão é muita areia pro meu caminhão, além disso eu ainda sou uma mulher casada, e com certeza o Vincent não irá me deixar em paz, e nenhum homem merece ser perseguido por ele, por minha causa. Digo com tristeza ao saber que nunca viverei livre, porque tenho certeza que Vincent não vai sossegar até me matar, já vi essa história se repetindo várias vezes no jornal, e homens como Vincent nunca aceita o fim de um relacionamento, a maioria deles matam suas mulheres, e mesmo que eu fuja, sei que ele vai me achar aonde for.
-Em breve você será uma livre, mas dessa vez terá o homem que te dará uma vida de felicidade e paz, Brianna, e vou torcer que esse homem seja meu irmão, mas agora eu queria te dizer uma coisa séria. A cara de Elena ficou séria, e logo percebi que seja o que for, não deve ser uma coisa boa.
-O que foi, Elena, que cara é essa? Não sei se quero saber.
-Fizemos vários exames em você, quando te trouxemos para o hospital, pois você estava muito machucada, e com uma grave contusão na cabeça, por isso te induzir ao coma para que seu corpo se recuperasse, e quando os resultados chegaram, eu li em um que você estava grávida, mas infelizmente devido a violência do estupro e das pancadas que você levou, infelizmente você abortou.
Assim que ouvi as palavras gravidez e aborto na mesma frase, eu me desesperei, pois eu sempre sonhei em ser mãe, mas como Vincent não queria filhos, sempre usamos camisinha, mas das últimas vezes que ele me tomou a força, não usamos proteção nenhuma.
Tive uma crise nervosa terrível, tanto que vi quando Elena chamou uma enfermeira que acabou injetando um sedativo na minha veia, e acabei apagando.
Enquanto permanecia apagada, comecei a imaginar um novo cenário, como se a notícia que eu tivesse recebido fosse outra, era como se eu estivesse numa realidade paralela, e as coisas eram bem diferentes, na verdade era o que eu queria estar vivendo agora.
—Nós iremos fazer um ultrassom transvaginal para ver o quão avançada está a sua gravidez. A julgar por sua expressão de choque com a noticia, suspeito que você tenha pouco tempo de
concepção, entre quatro a cinco semanas de gravidez, você tem sentido algum sintoma? Sacudi a cabeça afirmando que sim
-Estou tendo muitas náuseas, e vômito bastante. Digo para a tal doutora.
-Isso é muito normal, mas deve passar depois do quarto mês de gestação.
Ela colocou uma camisinha num aparelho que parecia um pênis, depois colocou um lubrificante e enfiou na minha i********e, e uns minutos depois a tela ganhou vida, e lá estava ele ou ela, meu potinho, um filho inesperado, mas que mudaria a minha vida, e eu esperava que mudasse a do Vincent também.
A Dra. Morelli apareceu no final da mesa,
puxando a máquina de ultrassom um pouco mais perto da maca para que eu pudesse olhar meu bebê.
Era um amontoado de computadores de alta tecnologia, com certeza essa consulta ficaria muito cara, mas Elena me disse pra eu não me preocupar com a conta, já que o hospital pertence a sua família, além do mais ela ainda me disse que fazia parte do presente de madrinha que ela já estava dando para o seu afilhado ou afilhada.
A doutora sentou perto das minhas pernas, ela posicionou a tela outra vez de modo que ela pudesse ver também e corre o cursor sobre o teclado, e a tela ganhando vida.
— Aqui está, — ela murmura, depois aperta um botão, congelando a
imagem para que eu visse a imagem, ela aponta para um bebê minúsculo no meio de uma imagem acinzentada.
Ele é tão pequeno, há um bebê minúsculo dentro da minha barriga, por um momento eu esqueço de quem é o pai do meu filho e do inferno que vivo ao lado dele, para focar somente neste momento.
— É muito cedo para ouvir os batimentos cardíacos do seu bebê, mas, sim, você
está grávida senhora Moses, mais ou menos quatro ou cinco semanas, eu diria. A médica diz me tirando do transe que eu estava.
Fui tomada de um amor tão grande, assim que o vi na tela, era meu filho ou filha ali dentro de mim, eu queria pular de alegria, mas de repente o cenário mudou, eu já não estava mais no hospital, e sim na minha casa, pra ser mais exata, eu estava de volta ao meu quarto onde Vincent me espancava, enquanto sangue jorrava do meio das minhas coxas, levando meu bebê embora, e eu acordei chorando.
Minha cabeça parecia que iria explodir, estava ouvindo um bip que não parava, minha boca estava tão seca que nem saliva tinha para eu engolir.
Tentei abrir os meus olhos, mas eles estavam pesados demais, tentei mais uma vez e consegui dessa vez, mas o teto era tão branco que fez minhas vistas doer.
Estava prestes a fechar os olhos mais uma vez, quando ouvi uma voz grossa falar comigo.
-Por favor, não feche seus olhos de novo, eu preciso que fique acordada, Brianna.
Quando olhei para o lado, vi que o Heitor estava bem perto de mim, ele não tirava os olhos de cima de mim, eles demonstravam irritação, mas isso só o fez ficar ainda mais lindo.
-Eu estou com sede. Com muito custo consigo dizer pra ele, que agora está segurando minha mão.
-Vou chamar a minha irmã, ela vai ter que te ver primeiro, já o chamei apertando a campainha, logo ele estará aqui para ver se você já pode ingerir líquido, já que faz dois dias que ela te manteve sedada. Ele diz de uma forma carinhosa, mas não sei o porquê dele está aqui outra vez.
-O que você faz aqui de novo, aconteceu mais alguma coisa? Pergunto querendo algumas respostas.
-Desculpa te incomodar, mas precisamos fazer o corpo de delito em você, antes que as marcas da violência que ele deixou em no seu corpo desapareça, precisamos ter provas para jogá-lo na cadeia, sei que você não está vivendo um bom momento, mas eu prometo que vai ser rápido.
-Eu não vou conseguir ficar nua perto de tanta gente. Comecei a chorar de desespero e humilhação.
-Ei, fica calma, eu jamais permitiria que você passasse por qualquer tipo de constrangimento, e só vai ficar no quarto com você, a minha irmã para te dar apoio, e uma médica legista. Suas palavras me deram um pouco de segurança.
Depois que Elena me examinou, uma enfermeira trouxe um enorme copo de água pra mim, tomei em pequeno goles.
Na parte da tarde, era hora do temido exame de corpo de delito, enquanto eu era fotografada de todos os ângulos, eu só chorava.
-Não chora, minha amiga, você não está sozinha, meu amor. Elena me disse, enquanto me ajudava a voltar para a maca, já que a sessão de fotos finalmente terminaram.
Passei o dia todo arrasada, minha mãe e meus irmãos vieram me visitar, e eu chorei nos braços deles outra vez.
Fiquei mais 10 dias no hospital e quando tive alta do hospital fui direto para a casa de praia da família da Elena, pois ela queria que eu descansasse, além disso como Vincent ainda está foragido, se eu fosse pra casa da minha mãe, ele poderia ir até lá.
Uma psicóloga começou a me acompanhar diariamente e nos momentos de crises eu chorava sem parar, principalmente quando me lembrava do bebê que eu perdi.
Continua……
1) A Lei Maria da Penha define cinco formas de violência doméstica e familiar e não pressupõe que só há violência quando a agressão deixa marcas físicas evidentes. Reconhecer a violência psicológica e não subestimar o risco por trás de uma ameaça podem prevenir violências mais graves.
2) Na maioria dos casos, diferentes formas de violência acontecem de modo combinado. É preciso compreender que a violência física é só mais um traço de um contexto muito mais global de violência, que inclui também humilhações, críticas e exposição pública i********e (violência moral), ameaças, intimidações, cerceamento da liberdade de ir e vir, controle dos passos da mulher (violência psicológica), forçar a ter relações sexuais ou a restrição da autodeterminação da mulher quando se trata de decidir quando engravidar ou levar adiante ou não uma gravidez (violência s****l). É fundamental também entender que a tendência, na violência doméstica, é que os episódios de agressões se repitam e fiquem mais graves.
3) É importante compreender que não existem padrões e perfis de vítima ou agressor: a violência doméstica contra mulheres cometida pelo parceiro, atual ou ex, é a mais comum, mas não é a única. E, embora apareçam como maioria nas pesquisas, os agressores não são apenas homens.
4) O uso de álcool, drogas ou o ciúme não são causas e não servem como justificativa para violências. São apenas fatores que podem contribuir para a eclosão do episódio de violência, e muitas vezes são usados como desculpa.
5) A culpa não é dá vítima: ninguém deve ser responsabilizado pela violência que sofreu.
6) A violência na relação íntima tem uma dinâmica complexa que coloca inúmeras dificuldades para o rompimento, como a desestruturação do cotidiano e até mesmo o risco de morte para a mulher. Por isso, é importante não julgar a mulher, nem demonstrar impaciência quando ela n**a a agressão ou denuncia e depois volta atrás.
7) A mulher não está sozinha: embora ela tenha que ser a protagonista na superação do ciclo da violência, leis nacionais e tratados internacionais definem que é responsabilidade do Estado acolher e oferecer suporte para a mulher. A empresa em que ela trabalha também tem responsabilidades nesse sentido: se uma mulher está em situação de violência, por lei, ela tem garantia do emprego.
8) Toda mulher merece ser amada, cuidada e protegida, em qualquer lugar.
9) Violência não é amor.
10) Quem ama, não agride, não fere e nem mata.
*(Disque 190 caso você, mulher, sofre algum tipo de violência, denunciem qualquer abuso)*