"As coisas não são mais do jeito que eram antes."
→ Linkin Park
Nada permanece igual por muito tempo. Hoje não somos a mesma pessoa de ontem, amanhã não seremos a mesma de hoje. Talvez possamos ter mudado de opinião em relação à algo ou tomando uma decisão que afetará toda a nossa vida e das pessoas a nossa volta. O ser humano é inconstante, possui uma tendência a mudar. E mudamos, as situações que vivemos nos fazem mudar, para o bem ou para o m*l.
Dizem que aprendemos com os nossos erros, nem todos, vos digo. Que amadurecemos ao nos deparar com situações difíceis. Mas nem sempre isso acontece, as vezes mesmo sabendo que é errado persistimos ou achamos que não há outra escolha. Talvez a frase "a ocasião faz o ladrão" seja verdade ou totalmente mentira. Quem sabe? Depende do que você pense hoje, daqui a alguns minutos ou amanhã.
Não é nada mais nada menos que a boa e velha tendência a mudar.
Rota 66 — Trecho da Califórnia — 2:43 am
Berço do primeiro motel e do primeiro McDonald’s do mundo, a Rota 66 acabou perdendo importância com a construção das novas vias interestaduais. O trânsito desviado quebrou o comércio levando a uma imigração massiva, deixando para trás trechos completamente abandonados e cidades fantasmas.
A equipe responsável pelo transporte terrestre do cartel de Sinaloa sabia muito bem se utilizar das armadilhas que o tempo deixou ao longo da rota. Se desviando dos trechos inteiramente destruídos e das estradas sem saída, além de usar um drone para monitorar possíveis ameaças. Naquela madrugada a importância e o destino da carga, Broken Arrow no estado de Oklahoma, obrigou toda a equipe a se reunir.
O caminho era liderado por clássico da década de sessenta, um Mustang Eleanor prata, no interior do veículo a líder da equipe ocupava o banco do passageiro enquanto a mecânica do grupo dirigia. Logo atrás o caminhão com placa americana e carregado de cocaína era pilotado pelo rapaz de olhos esverdeados enquanto ao seu lado o ex-policial recarregava uma pistola Glock G17. Por fim no modelo moderno e esportivo, uma BMW M5, a motorista cantarolava um rock enquanto a mulher ao lado utilizava um notebook para analisar as imagens captadas pelo drone.
Jimena lançou um olhar para o relógio soltando um palavrão aleatório em espanhol ao notar que estavam atrasados graças ao desvio feito algumas horas mais cedo. A polícia estava fechando o cerco e a cada dia que passava era preciso buscar novas rotas alternativas, o que tornavam as viagens cada dia mais perigosas. Aquela carga em especial deveria ser entregue até a meia-noite e precisariam correr se quisessem chegar a tempo. Os pensamentos de Jimena foram interrompidos quando a voz de Belinda soou no seu fone em um tom nada agradável:
— Tem algo a dois quilômetros.
— Alguma chance de ser alarme falso? — indagou se ajeitando no banco enquanto pegava uma arma no porta-luvas.
— Não, está bloqueando todo pista e… — antes que pudesse terminar a frase as imagens sumiram. — Merda! Alguém derrubou o drone.
— Dustin e Veronica, façam o retorno — ordenou antes de lançar um olhar para a mulher ao seu lado que foi rapidamente compreendido.
Veronica diminuiu para que Dustin pudesse fazer a manobra e logo o seguiu, pronta para alguma eventualidade pegou a arma que guardava embaixo do banco e deixou sobre a perna.
Brianna pisou no acelerador enquanto Jimena retirava o cinto e colocava parte do corpo para fora do carro, na mão direita uma pistola Desert Eagle prateada. Quando se aproximaram o suficiente os faróis dificultaram a sua visão, mas o que realmente a preocupou foram as luzes azuis e vermelhas. Esperava um ataque do cartel rival e naquele momento parecia até mesmo preferível, encontrar uma operação como aquela significava que estavam marcados.
Jimena teve tempo para de descarregar a arma antes de entrar no carro poucos segundos antes de Brianna pisar no freio com força enquanto girava o volante para a esquerda o que fez carro girar na pista levantando uma cortina de fumaça para logo em seguida acelerar e sair cantando pneu.
A perseguição começara, atrás do grupo cerca de dez carros de polícia eram levados ao extremo para os alcançarem. As sirenes soavam altas e as luzes lançavam estranhas sombras coloridas em meio ao deserto.
Recarregando a arma Jimena ouviu o som de hélices enquanto uma luz era lançada sobre o carro, puxando uma segunda arma voltou a colocar parte do corpo para fora em uma tentativa de acertar os pneus das viaturas.
— Dustin, pega um desvio — ordenou disparando mais um tiro antes de voltar para o interior do carro.
— Não tem como, o caminhão está muito pesado se eu sair da pista ele tomba.
Resmungando alguns palavrões em espanhol, Jimena acertou um soco no painel notando logo após que camisa de flanela azul tinha uma mancha de sangue na altura do bíceps esquerdo.
O som das hélices se tornou mais alto e ao desviar sua atenção para o helicóptero notou que ele voava baixo impossibilitando que Dustin avançasse com o caminhão. As viaturas estavam perto, ou seja estavam cercados.
Quando viu a BMW de Veronica e o caminhão pararem soube que não havia mais escapatória. Sentiu o carro parar aos poucos e fitou Brianna que fazia uma careta enquanto os agentes com uniforme do DEA cercavam o veículo empunhando armas de alto calibre.
Jimena largou as pistolas e saiu do carro. Era quase um déjà vu exceto pela visão dos amigos sendo revistados e algemados. Sua mente trabalhava em uma rapidez impressionante repassando as imagens dos últimos anos e a respiração logo ficou ofegante. Em um ato instintivo desarmou o agente a sua frente com um chute para logo desferir uma sequência de socos. Apenas precisava descontar a raiva e a frustração em algo, ou alguém.
Demorou para que pudesse ser contida, mas quando se deu conta estava com o tronco colado na lateral do carro e algemada, sangue quente escorria pela lateral direita do rosto e sujava a lataria do Mustang.
A alguns metros de distância duas agentes observavam incrédulas o ataque de Jimena. O agente agredido estava jogado no chão sendo atendido por um colega, enquanto a mulher era conduzida até a viatura.